Vítimas Das Circunstâncias escrita por Leonardo Souza


Capítulo 18
Segundo ato




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22:45

A Cidade

Os policiais acharam que os ataques iriam diminuir, mas a cada minuto uma chamada era feita, nenhum caso de assassinato foi confirmado, apenas pessoas usando máscaras, quebrando coisas e aterrorizando moradores.

22:45

O Site

Mais de duas mil pessoas estavam acessando o site com a live dos assassinatos, eles torciam como se estivessem assistindo uma partida de futebol, a parte de comentários estava divida entre pessoas que torciam para alguém sobreviver e pessoas que apostavam quem seria o próximo a morrer. Os espectadores foram a loucura quando Thainara conseguiu escapar das balas. Eles queriam um bom entretenimento e era isso que estavam recebendo.

22:45

Marcelo

O endereço da mensagem era a minha antiga escola em que estudei no ensino médio, ficava a alguns quarteirões dali.

— Temos que ir. — Falei.

— Espera. — Detetive Kauan começou a falar — Temos que pensar.

— Pensar em que?

— Quem é o assassino, podemos morrer hoje e não temos nenhuma pista.

— Precisamos fazer isso agora?

— Sim.

— Mike. — Alecsandra falou.

— O que? — Perguntei.

— Faz sentido que seja o Mike, ele é o único que confirmou que sabia atirar, tirando ele só sobraria o Detetive com alguma espécie de habilidade em armas, mas ele estava com você quando eu fui atacada.

— Qualquer um pode aprender a usar uma arma. — Falei.

— Verdade, mas em situações assim o mais obvio pode ser o culpado. — Detetive Kauan respondeu.

— E fazemos o que quando encontrarmos ele?

— Não o deixamos sair da nossa vista, se estivermos certos nós impedimos mais pessoas de morrer.

— E se estivermos errados?

— Então não teremos nenhum suspeito e que Deus nos ajude caso isso aconteça.

23:03

Mike

A mensagem que havia recebido mais cedo do assassino era bem clara: “Vá para sua casa, não converse com ninguém, siga as instruções.”, quando cheguei em casa havia uma caixa com apenas um celular e algumas instruções mandando eu deixar o meu celular em casa e as onze horas estar no local marcado no GPS do celular. O lugar era uma escola, na entrada ficava o estacionamento e por um corredor estreito dava acesso ao prédio de três andares, cada andar tinha um portão de ferro, a escola ficava em um bairro perigoso e por isso os portões estavam ali, dificultar as tentativas de roubo, antes de subir as escadas vi que você podia virar a direita que iria chegar na quadra, parecia ter algumas salas lá em baixo e também vi outra escadaria que dava acesso para os três andares, a mensagem mandava eu esperar no primeiro andar. E foi isso que fiz.

22:50

Fernanda

Não me lembro como consegui ficar o dia todo em casa, só me lembro de ter recebido a mensagem, achar a caixa com as instruções e de ter chegado na escola, conhecia a escola de vista, não tinha estudado ali, mas meus primos estudaram, a mensagem falava para esperar em qualquer sala do segundo andar, não queria ficar perto das escadas, mas como haviam duas escadas de acesso resolvi ficar em uma sala que parecia estar no meio das duas, me sentei na mesa do professor encarando a porta. Estava tremendo.

23:00

Giovane

A mensagem dele, além das instruções, continham um chave, não sabia o que ela abria, mas sabia que era importante, as instruções falavam para entrar na escola pelo portão dos fundos que ficava na rua atrás do portão principal e o único caminho até lá não era o mesmo que o do portão principal, ninguém iria me ver chegando, quando estacionei o carro percebi que outro já estava estacionado, por um segundo fiquei aliviado, mas poderia ser o assassino e o sentimento passou. As salas ali eram bem simples, no total eram oito, em cima uma de frente para a outra, mais para baixo, duas uma do lado da outra, um banheiro no meio e mais duas uma do lado da outra e perto do portão ficavam as duas, uma de frente para a outra, por ser uma espécie de laboratório, sala da direita tinha um muro especial feito para que um pequeno portão de barras fosse colocado ali. A escola era cheia de arvores, nenhuma luz estava acesa o que deixa tudo mais assustador, corri até a sala que ele mandou, a primeira a direita mais próxima do portão, e esperei.

23:10

Mike

O silêncio foi quebrado pelos passos de alguém subindo a escada, meu primeiro pensamento foi gritar um alô, mas lembrei que poderia ser o assassino, precisava me esconder, as salas estavam com as portas fechadas, abrir uma poderia fazer barulho e isso não era uma opção, por sorte uma das ultimas salas estava com a porta aberta, entrei  na sala, parecia ser algum tipo de estúdio para pintura, as carteiras normais agrupadas em quatro para ter uma superfície maior, alguns tripés e pinturas de frutas, casas e rostos, potes de tinta nas mesas e um armário. Escutei o barulho de uma porta se abrindo. O armário era de ferro, estava vazio, entrei dentro dele e com muito cuidado fechei a porta.

23:12

Marcelo

Chegamos na escola, havíamos parado para Alecsandra dar uma olhada na perna do Detetive Kauan e movemos o corpo de Vinicius e do Guarda para um dos banheiros, pareceu a coisa certa a se fazer, nenhuma mensagem nova chegou, então decidimos entrar.

— Vamos procurar o Mike. — Kauan falou. — Se encontrar um dos outros, repasse a informação, ele é o único suspeito.

— Você fala como se fossemos nos separar ali. — Alecsandra observou.

— E vamos. — Ele respondeu.

— O que? — Perguntamos juntos.

— Temos que cobrir uma área maior, vocês me falaram que esse prédio tem mais de vinte salas.

— Se separar nunca funciona nos filmes.

— Como você mesmo disse, isso aqui não é um filme.

23:12

Mike

O som das portas se abrindo continuou e estavam ficando mais próximos, estava prendendo a respiração sem perceber. A porta da sala foi aberta, o armário não tinha nenhuma abertura, não conseguia ver o que estava acontecendo do lado de fora, conseguia escutar os passos dele na sala, depois de alguns segundos os passos se afastaram e o som das portas sendo abertas começaram novamente, respirei aliviado e iria começar a rir se fosse possível. Esperei um pouco e não escutei nenhum som, será que ele tinha subido para o segundo lugar, pensei em sair dali o mais rápido possível, mas antes de me decidir o celular tocou.

— Merda! — Joguei o celular no chão e pisei nele.

A porta da sala foi aberta, estava indefeso, ele ia me matar ali mesmo, respirei fundo, não ia cair sem uma briga. Assim que ele chegou perto do armário chutei a porta que acertou o braço, me joguei em cima dele, mas no ultimo segundo ele se afastou, corri para a porta, saltei por cima de uma junção de carteiras, a porta explodiu com pequenos pedaços no momento que o tiro disparado acertou a madeira, com o meu treinamento me abaixei para que ele não tivesse um bom tiro, o corredor estava vazio, ali eu era um alvo fácil, fui em direção ao segundo andar.

— Mike? — Era a voz de Marcelo. — Não me virei para olhar, apenas corri.

23:13

Marcelo

Detetive Kauan decidiu ficar com as salas na parte de baixo da escola, subimos a escada com muita cautela, assim que chegamos no primeiro andar a primeira coisa que vi foi alguém correndo, parecia ser o Mike.

— Mike? — Gritei. — Mas ele me ignorou.

Logo em seguida o assassino saiu pela porta, peguei Alecsandra pelo braço e corremos escada abaixo.

— Ache que ele nos viu? — Ela perguntou.

— Espero que não.

23:14

Mike

Quase cai na escada enquanto tentava subir e olhar para trás, todo andar tinha um portão que dava acesso, quando cheguei no segundo andar ele estava fechado, tentei abrir e ele não se moveu, minhas pernas fraquejaram, mas percebei que você precisava virar a maçaneta para ele abrir, a arquitetura dos andares era igual, não ia encontrar nenhum tipo de arma ali, e então me lembrei da outra escada de acesso, iria escapar por ela, sai correndo e uma porta de uma das salas foi aberta, alguém estava saindo, tentei parar minha corrida e consegui por muito pouco não esbarrar na pessoa.

23:14

Fernanda

Escutei o portão sendo aberto, não iria ficar sentado esperando o assassino então decidi sair e encarar o que fosse, mal passei da porta uma figura voou na minha direção, era Mike.

— Fernanda? — Ele perguntou como se estivesse confirmando que eu não era uma miragem.

— O que está acontecendo?

— Temos que ir, ele está vindo, com uma arma, quase explodiu minha cabeça.

— Não escutei nenhum tiro.

— Silenciador, agora vamos.

— Onde? Não podemos voltar.

— A outra escada de acesso.

Corremos até ela, descemos o primeiro lance e quando chegamos na base o portão estava trancado.

— Merda!

— E agora? — Fernanda perguntou e segurou meu braço, ela estava tremendo.

— Vai ficar tudo bem. — Falei.

— Vai. — A voz distorcida do assassino falou, ele estava alguns degraus a cima.

Tudo o que tive tempo de fazer foi usar meu corpo para proteger Fernanda e então senti os disparos atingindo me nas costas, ela gritou de medo, e então começou a chorar.

23:16

Fernanda

Mike se jogou sobre mim, não era a primeira vez que ele me protegia, mas algo me dizia que aquela seria a última, o corpo dele estava frio e então ficou quente, sabia que era por causa do sangue, gritei, não por medo e sim pela situação que estava, no começo do ano jamais imaginaria que iria morrer em um lugar desses, depois de alguns disparos, Mike caiu e eu fiquei presa debaixo dele, não sabia se algum tiro havia me acertado, fechei os olhos e comecei a rezar. Quando o assassino estava se aproximando de nós, escutei Marcelo chamar o nome do Mike e ele subiu as escadas. Com muito esforço consegui sair de baixo dele, ele estava de bruços em uma poça de sangue, conseguia ver sua respiração.

— Mike. — Comecei a chorar — Mike, vai ficar tudo bem, vou buscar ajuda.

Me levantei, passei a mão no rosto para tirar um pouco do sangue que estava ali e subi as escadas.

Mike

Hora da morte: 23:18

23:15

Marcelo

Esperamos um pouco na escada, torcendo para que ele tivesse saído.

— Tem certeza que era o Mike? — Alecsandra perguntou enquanto subíamos as escadas.

— Tenho, mais importante, se ele estava correndo do assassino então não pode ser ele.

Quer dizer que não temos nenhum suspeito.

Isso quer dizer que precisamos salva-lo.

Mike! — Gritei.

— O que você está fazendo? — Alecsandra sussurrou.

— Procurando nosso amigo. — Mike!

— Marcelo? — Era a voz da Fernanda, ela estava vindo do outro lado do corredor.

— Fernanda? — Alecsandra correu na direção dela.

Quando me aproximei dela vi que estava suja de sangue.

— De quem é esse sangue? — Perguntei, com medo da resposta, depois de alguns segundos ela respondeu.

— Mike, ele morreu me protegendo.

Fiquei abalado por um segundo, até um sentimento de raiva tomar conta, se não tivesse me escondido ele ainda poderia estar vivo.

— Cadê o assassino? — Fernanda perguntou.

— Não sabemos.

— Se ele não apareceu aqui dever ter subido de andar ou deu a volta e saiu do prédio.

— Saímos ou vamos verificar os outros andares? — Perguntei.

Escutamos passos na escada.

23:21

Lucas

Assim que desci a escada encontrei Marcelo, Alecsandra e Fernanda, ele está sujo e com um corte na testa, Alecsandra também estava suja e Fernanda estava com a camiseta cheia de sangue.

— Vocês estão bem? — Me aproximei.

— Não se mexa! — Fernanda gritou e os dois olharam para ela com espanto.

— O que?

— Pode ser ele.

— Ele quem?

— O assassino.

— Isso é loucura. — Marcelo falou.

— É? — Ele pode ter percebido que estava em menor número, foi até o segundo andar, trocou de roupa e voltou para fingir que estava preso aqui.

— Não, recebi uma mensagem com instruções para vir nesse lugar e esperar no terceiro andar. — Respondi.

— E porque desceu? — Também recebi uma mensagem e as instruções eram claras, principalmente a de ficar no lugar.

— Me desculpe se não quis ficar parado esperando minha morte, além disso, alguém pode me explicar porque você está suja de sangue, mas não tem nenhum machucado.

— Mike morreu para me proteger.

— E mais alguém viu isso?

— Não.

— Muito conveniente não acha? Você ser a única que viu o Mike morrer quando pode muito bem ter matado ele e agora está jogando a culpa em mim.

— Parem com isso. — Marcelo entrou na discussão. — Não podemos confirmar nenhuma dessas coisas, então temos que ficar juntos e sair daqui vivos. Certo?

— Mas eu posso provar, — Falei — Detetive Kauan passou pelo estacionamento e me viu pela janela, só o encontrarmos que ele vai confirmar.

— Quando foi isso? — Marcelo perguntou.

— Agora mesmo, por isso desci.

— Não, nós nos separamos quando chegamos aqui, não faz sentido ele passar pelo estacionamento agora.

— Só se ele estivesse no prédio. — Alecsandra falou.

— Quer dizer que é ele? — Perguntei.

23:24

Marcelo

— Não pode ser ele, — Falei. — Ele estava comigo quando a Alecsandra foi atacada e quando chegamos no refeitório, vocês acham que ele matou a Ana e foi para a escola se acorrentar?

— Ana está morta? — Lucas perguntou. — Sabia que eles tinham desenvolvido uma amizade.

— Está. — Respondi e todos ficamos em silêncio.

— Porra! — Ele respondeu. — Temos que acabar com isso, mas como pegamos um policial treinado?

— Já falei que não é ele.

— Espera, — Alecsandra entrou na conversa. — Eu li uma noticia de que quando o assassino atacou o hospital ele contratou dois meninos pela internet para se passar por ele.

— No evento foi a mesma coisa. — Fernanda comentou.

— Então ele pode ter contratado alguém para atacar a Alecsandra enquanto criava um álibi. — Lucas falou.

— Tudo isso é uma teoria valida, mas não temos como provar. Só vai valer se ele confessar e isso não acontece tão fácil.

— Só no final, — Lucas começou a falar. — O momento dramático onde ele tira a mascara e todos ficam surpresos, o problema é que nós precisamos morrer antes.

— Tudo bem, vamos achar ele primeiro, depois a gente decide o que fazer.

— Parece que temos um plano. — Lucas falou. — Não vejo a hora dele ir pelos ares.

23:20

Thainara

Depois que sai do refeitório não fui muito longe, corri em direção ao parquinho com os brinquedos e me escondi em uma casinha de madeira, sabia que devia continuar correndo, mas não tinha certeza se minhas pernas iam obedecer, fiquei lá, imóvel, se não fosse o relógio do celular jamais ia descobrir quanto tempo tinha passado. No fundo da minha mente sabia que os outros estavam por aqui, ou que no mínimo estavam em perigo, só que tudo isso parecia outra realidade. A adrenalina estava deixando meu corpo e sentia meu corpo ficar mais pesado de sono, não era hora de dormir, mas não conseguia evitar, então uma mensagem chegou. Era ele.

“Estou aqui, venha conseguir sua vingança, ou morrer tentando.”

E junto uma localização, minha antiga escola do ensino médio, me levantar e comecei a caminhar, sem nem pensar.

23:00

Guilherme

As notícias nos jornais eram aterrorizantes, pessoas vestidas como o assassino estavam andando pelas ruas, nas redes sociais haviam vários relatos, vídeos e fotos desses ataques, algumas pessoas estavam fazendo piadas sobre os ataques, mas a pior parte de tudo aquilo era que ninguém respondia minhas mensagens ou atendiam minhas ligações, o que só podia significar que algo grande estava acontecendo e eu estava preso no hospital. Então uma mensagem chegou, era Mateus;

“Gui preciso de ajuda estamos presos na nossa antiga escola do ensino médio fui ferido e me escondi no terceiro andar.”

“Não se mexa, estou indo.” Respondi.

Falei para o policial que precisava ir ao banheiro e quando ele não estava olhando, sai escondido.

23:25

Marcelo

Saímos pela escada próximo ao estacionamento, seguimos pelo pátio que dava acesso as salas de aula na parte dos fundos, todas as luzes estavam apagadas, os celulares que nós recebemos estavam com 5% de bateria então ninguém quis arriscar usar a lanterna, andávamos um do lado do outro, ninguém queria tomar a frente.

— Devíamos gritar por ele? — Lucas perguntou.

— Não vamos fazer nenhum barulho desnecessário. — Fernanda respondeu.

Quando chegamos mais perto das salas percebemos que elas não ofereciam nenhum tipo de cobertura, o tempo de todos entrarem na sala deixaria qualquer um exposto, estávamos em quatro, não queria, mas precisei falar.

— Temos que nos separar.

— O que! — Todos reagiram ao mesmo tempo.

— Não vamos fazer isso. — Alecsandra protestou.

— Isso é o básico de qualquer filme de terror. Não se separe. — Lucas respondeu.

— Eu não gosto da ideia. — Comecei a falar. — Mas não podemos ficar juntos, somos um alvo fácil desse jeito.

Fernanda ia falar alguma coisa, mas na hora uma luz se ascendeu no estacionamento, era uma lanterna, todos nós trocamos olhares para decidir se iriamos nos esconder ou ir até a luz.

— Nós vamos até a luz misteriosa, não vamos? — Lucas perguntou enquanto olhava para mim, como se fosse algum tipo de líder.

— Vamos.

Começamos a caminhar em direção ao estacionamento, a aquela altura eu estava esperando que qualquer coisa fosse acontecer, acho que os outros também, todos estavam prontos para brigar, por suas vidas ou pela vida dos outros, quando chegamos no estacionamento quase não acreditei no que vi, Thainara parada ali, ela correu até nós, me abraçou chorando, Alecsandra entrou no abraço, perguntei se estava tudo bem, o que tinha acontecido e ela respondeu que iriamos ter tempo para conversar depois de acabar com o assassino. O tom dela era frio.

23:20

Mateus

A mensagem mandava eu chegar na escola as dez da noite, fui para casa, mas não conseguia ficar parado sem fazer nada, então comecei a beber e não parei, mal me lembrava de como consegui chegar até escola, acabei chegando mais cedo e acabei dormindo, sonhei que estava sendo perseguido e acordei assustado, olhei para o relógio do carro, 23:20.

— Merda. — Sai do carro com muita dificuldade, tentando não cair.

Antes de conseguir dar dois passos, tudo girou, ia cair e bater forte no chão, mas alguém me segurou no último segundo.

— Obrigado. — Foi tudo o que consegui falar antes de uma onda de dor me acertar no estômago, me sentei no chão e quando olhei para minha mão vi que estava suja de sangue, olhei para cima e lá estava ele, parado com a faca na mão, pensei que iria morrer, um bêbado fracassado que só iria ter o corpo achado no outro dia, mas ele foi em direção a escola e sumiu assim que passou pelo portão. Tentei me levantar, estar bêbado e a dor não facilitavam, então fiz a única coisa possível. Comecei a me arrastar em direção a escola.

23:27

Fernanda

Esperei eles terminarem a pequena conversa, parecia que algo muito ruim havia acontecido antes deles chegarem na escola.

— Bem, — Comecei a falar, mas fui interrompida, dessa vez por um som de disparo, a bala acertou a pequena grade de metal que delimitava o perímetro.

— Se abaixem. — Lucas falou.

Outro tiro, mais perto da gente.

— Não podemos ficar aqui, — Falei.

Mais faíscas.

— Vamos correr. — Marcelo falou.

Corri em direção ao prédio, Alecsandra foi comigo, o outros três correram para o que parecia um balcão, não podia mudar de direção sem correr o risco de ser ferida, nós duas corremos até a escada próxima ao corredor e paramos ali, nós duas sabíamos que voltar para prédio significava morrer.

— A biblioteca. — Alecsandra falou.

— O que?

— Me segue.

Passando o bebedouro que ficava de frente para a escada, havia um pequeno portão e uma escada que descia para o subterrâneo, se ela não tivesse me mostrado aquele lugar, não iria perceber, descemos correndo, no fim ficava as mesas do refeitório e a cozinha do lado, passamos direto e chegamos em uma porta dupla de madeira, quando ela abriu, varias estantes, cheias de livro, acho que o tamanho da biblioteca era metade do comprimento de um dos andares.

— Vamos nos esconder. — Falei.

23:28

Marcelo

Corremos para o salão, a porta estava aberta, como ela não trancava por dentro, arrastamos uma fileira de cadeiras até ela, só percebi que Fernanda e Alecsandra não estavam ali quando me sentei no chão ofegante.

— Cadê elas? — Perguntei já me levantando.

— Elas correram para o prédio. — Thainara respondeu.

— Merda, e agora? — Perguntei.

— Esperamos um pouco e torcemos para ele ter ido atrás delas. — Lucas respondeu.

— Qual é o seu problema? — Me levantei.

— Me desculpa, mas se vamos sair daqui ele precisa ter ido pegar elas senão quando abrirmos a porta vamos receber uma facada ou um tiro.

Ninguém falou mais nada.

23:29

Fernanda

Nos escondemos em meio as estantes, tentamos empurrar uma para testar meu plano de jogar uma em cima dele, mas elas estavam parafusadas no chão, escolhemos o meio, era nossa melhor chance de escapar sorrateiramente por ele e tranca-lo ali. o silêncio foi quebrado pelo som da porta se abrindo, me lembrei de respirar, os passos deles eram pesados.

— Vamos brincar de gato e rato? — Ele perguntou usando a voz do Mike.

Pelo pequeno espaço entre os livros e as estantes conseguia ver onde ele estava, precisávamos esperar o momento certo para fugir, ele estava a seis estantes de distância, Alecsandra não se moveu desde o momento que ele entrou na biblioteca. Cinco estantes. Toquei no ombro dela e ela precisou colocar as mãos sobre a boca para impedir um grito, aquilo não era bom. Quatro estantes.

— Você precisa levantar. — Sussurrei.

Três estantes.

— Não sei se consigo. — Ela respondeu.

Duas estantes.

— Você precisa.

Aquele era o momento. Peguei ela pelo o braço e guiei até o lado da estante, estava tão focada nela que não percebi um livro maior na prateleira, bati meu ombro na lombada e ele caiu.

— Achei vocês! — O assassino falou.

Corri para o fundo da biblioteca e Alecsandra ficou parada no mesmo lugar, com uma expressão de terror no rosto, ele estava me acompanhando do outro lado da prateleira, no fim da biblioteca haviam mesas para os estudos, e a área era aberta, ele era mais rápido, chegou no fim das estantes antes de mim, demorei alguns segundos para perceber isso e foi fatal, ele se jogou em cima de mim, desviei no ultimo segundo, mas ele agarrou meu braço e me jogou contra a estante, uma chuva de livros caiu sobre mim, tentei me levantar e então senti a dor na minha perna, ele fez um corte nela, não gritei de dor, não iria dar essa satisfação, ele pegou minha outra perna, comecei a chutar e ele se afastou, engatinhei em direção as mesas, me apoiei em uma cadeira e antes que conseguisse me levantar meu cabelo foi puxado para trás, gritei, não de medo ou de dor, um grito animal, como se meu subconsciente soubesse o que ia acontecer. Senti a facada nas costas, uma, duas, três vezes e então a lâmina, que estava quente com meu sangue, tocou meu pescoço.

Fernanda

Hora da morte: 23:33

23:31

Alecsandra

Eu corri, sabia que devia ter tentado ajudar, mas não conseguia me mover em direção a eles, eu apenas corri, tinha que achar o Marcelo, ele iria ajudar, eu não consigo sozinha.

23:35

Marcelo

Socorro! — Escutamos Alecsandra gritar.

— Leh! — Gritei.

Tiramos o obstáculo da porta e saímos correndo, ela parecia perdida, quebrada.

— Marcelo. — Ela falou chorando. — Fernanda está na biblioteca, você precisa salvar ela.

— Tudo bem, vamos até lá.

— Eu não consigo, me desculpe, mas eu não aguento mais.

— Você fica aqui com o Lucas, eu e Thainara vamos atrás dela.

— Ótimo. — Lucas ajudou Alecsandra a se levantar e estavam indo em direção ao salão.

— Marcelo? — Era o Detetive Kauan, vindo da direção do prédio principal.

— Não se aproxime. — Thainara alertou.

— O que? — Ele perguntou. — Vocês estão bem?

— Onde você estava? — Perguntei. — Achei que tinha ido averiguar as salas.

— Eu fui, mas recebi uma mensagem dele mandando ir para a diretoria, sai assim que escutei Alecsandra gritar.

— Quando a gente se viu pela janela ele estava indo em direção ao salão, não a diretoria. — Lucas falou.

— Não, eu recebi a mensagem da diretoria, falando que havia uma pista para acabar com isso, quando cheguei lá encontrei um papel escrito para checar o salão. Fui até o salão e não encontrei nada, voltei para a diretoria e tentei achar alguma outra pista.

— Me mostre a mensagem, o papel, qualquer coisa que me faça acreditar que não matou meus amigos.

— O celular descarregou.

— Conveniente, não? — Lucas perguntou.

— Não temos tempo para isso. — Falei. — Preciso que você fique aqui com eles, eu vou para a biblioteca, sozinho.

— Você está doido? — Thainara protestou.

— Por favor, façam isso por mim, pela Fernanda que está lá sozinha.

— Vai, vamos te esperar aqui. — Lucas respondeu.

Não queria demonstrar, mas não saber se podia confiar na única pessoa que esteve ali em todos os momentos era difícil e estava me deixando louco, não podia pensar naquilo agora, tinha que achar Fernanda, quando cheguei a cinquenta metros, pensei ter visto uma silhueta na janela. E então o segundo e terceiro andares explodiram. Fui jogado para longe.


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