Vollfeit - Diellors e ihenes escrita por Kaonashi


Capítulo 4
Capítulo 4


Notas iniciais do capítulo

Olá, galera, como estão? O capítulo de hoje é (um pouuquinho) maior, então se acharem que ficou cansativo, avisem-me, por favor c:



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Capítulo 4

Cuide-se


Era a segunda reunião em menos de uma semana desde que Neri voltara para casa. A quantia não era comum, mostrando que todo o reino se encontrava em estado de alerta. Fazia três dias desde que a defesa de Diellor, com a ajuda dos dominadores de ar de Ihene, capturaram um trio de invasores. Poderiam ser os mesmos que andaram levando crianças anteriormente, mas talvez nunca tivessem certeza - assim como o primeiro prisioneiro, estes também apresentaram a capacidade de drenar suas próprias memórias.

Neri sabia que os chefes das patrulhas de soldados, guardas e até caçadores debatiam fervorosamente com os reis, todos ocupando um comprido cômodo no castelo de Ihene, já que não queriam discutir coisas daquele nível num edifício com seus inimigos - por mais que estivessem presos metros abaixo do solo. Todavia sua mente vagueava por pensamentos incômodos, que se direcionavam, quase sempre, ao estranho de capuz que descobrira naquela noite. A presença do rapaz, que revelou apenas parte de seu rosto, era diferente de todas que já sentira - até mesmo das várias que entrara em contato durante suas missões. Despertava na garota, ao mesmo tempo, curiosidade e temor. Ela que era, provavelmente, a estranha da história.

— Neri, você disse que tinha algo a nos contar - Battle, o chefe dos espiões, chamou-a.

A garota subiu o olhar para encarar as faces viradas em sua direção. Encostada na parede dos fundos, de frente para os reis na ponta da mesa, respirou profundamente antes de narrar, pelo seu ponto de vista, a noite da invasão. Contou sobre como o mensageiro desaparecera rapidamente, sem dar tempo a uma perseguição, e expôs tudo sobre o morador, mas não citou sobre a aura incomum que o primeiro emanava. Por algum motivo, queria manter aquele detalhe para si.

Os presentes ficaram em silêncio por um tempo. Não era inesperado - ao contrário da notícia de que existiam traidores em Vollfeit. Seus olhos demonstravam de choque e tristeza a raiva e angústia.

— Meus senhores - Battle finalmente quebrou o silêncio. - Se concordarem, deixarei Neri para cuidar disso caso esse jovem volte outra vez.

— É claro, faça isso - o rei Anorus respondeu, tendo Joseff, o anfitrião, assentindo ao seu lado.

— Pode fazer isso, Neri? - questionou sua capacidade.

— Sim, senhor - concordou com a cabeça brevemente.

— Deixe que venham, confio em nossos soldados para proteger nosso povo outra vez - Anorus deu a última palavra e dispensou todos.

O barulho das pessoas se movimentando logo ecoou pelo corredor principal do castelo. Neri foi uma das últimas a sair, observando o falatório dos chefes dando ordens aos seus subordinados mais competentes, que costumavam acompanhá-los em certas reuniões. Desceu as escadas até a entrada brilhante do castelo e andou sem rumo, passando pelos jardins do fundo até o campo de treinamento, no fim dos arbustos em forma de cavalo.

Lá, sob a luz já quente daquela manhã, mais pessoas que o normal batalhavam energeticamente contra companheiros a fim de ganharem mais força. Neri pensou, mais uma vez, no mensageiro inimigo. Desde que sentira sua presença, uma fome de adrenalina percorria seu corpo como se tentasse despertar todo o poder que a garota poderia ter dentro de si. Como se a convidasse silenciosamente para uma luta excepcional. 

Decidiu-se, adentrando o campo, por aumentar suas horas lá, seguindo o objetivo dos guardas e soldados ali presentes. Despiu seu manto marrom, colocando-o em uma parte inclinada do gramado, e movimentou os olhos pelas figuras agitadas do local. Guardas corpulentos, soldados com corpo definido, caçadores com olhos ferozes. Ainda não pareciam boas opções. Então começou a caminhar pelo local, assistindo como uma criança encantada as lutas que ocorriam simultaneamente em diversos pontos ali. Estava estudando cada um dos lutadores. Estava fazendo o que sabia.

— Oh, garota - alguém a chamou. Então viu que era um homem magricelo, apesar de consideravelmente alto, de cabelos raspados e olhos miúdos ao lado de um outro mais baixo e carrancudo. - Você é uma criada? Venha aqui, deve precisar de ajuda! - continuou tagarelando mesmo sem resposta. - É uma injustiça colocarem até jovens moças para lutar, não é? Já deve ser melancólico o suficiente ter que cuidar dos príncipes e princesas.

Neri sorriu. Apesar da aparência, sentia uma porcentagem de habilidade naquele homem.

— Aceitarei sua ajuda, senhor, e agradeço com o coração por isso.

— Ah, temos que ajudar as senhoras, não é? - sorriu com a resposta. - Bom, nós precisamos treinar sua agilidade, resistência, reflexo… Acha que aguenta?

— Farei o possível, senhor - falou gentilmente.

— Ah, me chame de Oro! Apesar de sempre me chamarem de Ogro. E qual o seu nome?

A espiã riu internamente, imaginando os motivos existentes para aquele apelido.

— Neri. Muito prazer. Você é um soldado, senhor?

— Pareço, não pareço? É um bom trabalho - sorriu, aparentemente satisfeito por estar ali. Então pegou uma vara de madeira que descansava no chão. - Agora vamos te ensinar tudo - e olhou para o homem de antes.

— O quê? - com expressão ainda fechada, questionou.

— Ajudar essa pequena e delicada criada, Afael - disse decepcionado.

— Hm, Oro… E se batalharmos um pouco? Só para me mostrar como seria uma luta real e estar preparada.

— Bom, tem certeza…? - pareceu pensativo. - Certo então! Pegarei leve com você no início, mas que sirva de treino para seus reflexos.

Neri assentiu e recuou, dando espaço para o início da luta. Oro flexionava as pernas para correr quando Neri sentiu uma redoma leve de ar rodear seus pulsos. Alguém a chamava. Olhou para o céu e deu um tapa leve em sua própria cabeça.

— Esqueci de que preciso acompanhar a princesa hoje! Os senhores me perdoariam se eu voltasse para o treinamento outro dia? - disse chateada.

— Oh, é mesmo? - Oro se surpreendeu. - Bom, então vá cumprir sua função, garotinha, e treinaremos em breve! - sorriu.

Neri agradeceu e saiu, acenando infantilmente. Enquanto voltava para o castelo, controlou o ar para que o som vindo do campo chegasse até ela.

— Viu, a pobre garota acabou desistindo perante meu poder - Oro dizia.

— É, claro…— Afael provavelmente o ignorava.

A jovem sorriu e terminou a subida até os jardins. Lá um homem de estatura mediana e cabelos metade preto, metade branco, parecia aguardá-la. Assim como Neri vestia um manto de couro, porém de tom azulado.

— Deixarei você o tempo todo em Diellor - Battle começou. - Aqui podemos pressentir mais fácil as invasões, então precisarão de você lá.

— Sim, senhor - cumprimentou-o com a cabeça. - Algum progresso com o trio? - referia-se aos capturados.

— Não, e acham que continuará assim - apertou os olhos, encarando com seriedade parte do campo lá embaixo. Então se voltou a Neri, sua sobrancelha se arqueando - E não brinque com esses homens, eles estão se esforçando.

— Desculpe, sou apenas uma jovem treinando - sorriu.

Battle bufou, mas não estava nervoso - conhecia bem as traquinagens de sua espiã.

— Vá agora para Diellor. E pegue aquele mensageiro quando o encontrar, cuidaremos do morador após o usarmos como isca.

Neri assentiu enquanto Battle dava as costas e saía em direção ao castelo. A ordem recebida lhe chateava um tanto, pois queria treinar com aqueles soldados, mas precisava cumprir o que era dito. Encaminhou-se para as pontes que ligavam os dois reinos de Vollfeit, pensando em passar pela cozinha real e roubar alguns doces de Aldith antes de vaguear pela vila, procurando por qualquer movimento estranho.

Procurando por aquela interessante aura.

 

(...)

 

Neri nunca sustentara um olhar profundo como aquele antes. Os olhos castanhos esverdeados, irônicos e levemente caídos, marcados por sobrancelhas um tanto arqueadas, fitavam-na com uma mistura de animação, curiosidade e, talvez, provocação.

— É um alívio poder te encontrar - o rapaz de manto preto deu um meio sorriso. - Vai me dizer o nome de meu caro oponente desta noite?

A espiã continuou apenas observando. O rosto inimigo estava desprotegido pelo capuz dessa vez. Neri ficou um tanto surpresa com a aparência jovem do inimigo, que não conseguira distinguir adequadamente naquela outra noite. Seu rosto era quase por inteiro oval, apresentando um maxilar levemente quadrado. Seus lábios eram finos e cor de pêssego, enquanto seu nariz descia em uma reta e terminava arredondado.

— Queria ter voltado no mesmo dia em que vim aqui - continuou mesmo sem resposta. - Mas algumas coisas me impediram - deu de ombros. - Então…

A aura do jovem se intensificou. Automaticamente Neri também fortificou a barreira de ar ao seu redor, esperando que um ataque viesse. E veio. O mensageiro se jogou para frente com uma velocidade incrível, mas não o suficiente para atordoar Neri. Os braços masculinos se moviam freneticamente tentando acertá-la enquanto sua capa dançava ao redor, mas ela apresentava igual agilidade em cada desvio. Não tentou contra-atacar por um longo período, deixando-se analisar o estilo de luta adversário. Como esperava, era bem treinado e sólido, como se não tivesse pontos fracos. Mas, com o tempo, Neri enxergou uma pequena brecha temporária nos intervalos dos golpes, na barreira inimiga de ar perto dos joelhos. Calculou o próximo ataque e esperou até que pudesse enviar uma esfera pequena, mas potente, de ar nas pernas do jovem. Mas então Neri sentiu o ar próximo a ela ser sugado. Uma pequena espiral surgiu em sua frente antes de levar o mensageiro para dentro. Por instantes a presença incomum sumiu, preenchendo a mente feminina com confusão.

Não teve tempo de reação quando o inimigo surgiu a poucos metros de sua cabeça, lançando um mini tornado. Neri só conseguiu amortecer o impacto com uma fina camada de ar, sentindo seu corpo ser lançado para fora do telhado onde estavam. Antes que entrasse em contato com o chão duro, criou uma espécie de colchão com seu elemento, podendo se colocar de pé rapidamente.

O que tinha acabado de acontecer? Como era possível alguém desaparecer e aparecer em segundos? Ficou ali, encarando-o internamente perplexa enquanto tentava manter sua expressão neutra.

— Nunca viu isso? - os lábios masculinos se contorceram como se julgasse aquilo uma injustiça. - É teleporte.

Então desceu até a rua num salto leve e ligeiro. Seus cabelos claros flutuaram, sua franja parecendo se esticar energeticamente para cima. De frente outra vez para Neri, parecia tentar enxergá-la através do capuz marrom.

— É bom lutar outra vez com alguém assim - deu um sorriso de lado.

Então a batalha ganhou sequência. Os dois corpos se deslocavam com graciosidade no meio das ruas e edifícios inacabados. A lua direcionava um brilho estranho aos dois em meio a pesada escuridão. Os movimentos eram precisos e silenciosos, como se não houvesse uma batalha fluindo ali. Apesar de não acertar qualquer ataque - e defender todos -, Neri estava se divertindo. Não tinha uma sucessão de golpes tão frenética e duradoura desde que treinara com Battle, há tempos atrás. Todavia algo a preocupava: seu adversário parecia ter mais conhecimento que ela, mais habilidade do que ela imaginava antes existir. O que era aquele teleporte?

Não sabia mais quanto tempo ficariam ali até que o garoto resolveu aumentar sua força. Espinhos invisíveis criados por ele só eram capazes de ser percebidos pela barreira que Neri criara, além de uma facilidade maior que tinha devido ao seu oponente compartilhar o mesmo elemento. Era como se adagas misteriosas e afiadas tentassem atravessar a camada de ar para acertar os órgãos mais importantes do corpo feminino. Era como uma guerra entre quem comandava melhor o ar.

Neri começou a devolver aquela força, lançando esferas pequenas ao redor do rapaz, que parecia não se importar. Enquanto isso, tentava acertá-lo com os punhos protegidos por uma grossa camada de ar a fim de distraí-lo das esferas. Após o que pareceu um minuto, Neri pensou: finalmente. Suas esferas tinham cercado o adversário em trezentos e sessenta graus, posicionados a poucos centímetros dos pontos vitais. O mensageiro percebeu a armadilha e usou o ar para se teletransportar outra vez, como Neri já esperava. O jovem sumiu pela segunda vez, mas conseguia sentir onde ele apareceria graças ao filete de ar comandado pela espiã, posto entre as esferas que serviram como isca. Com a nova localização do inimigo, prendeu uma grande massa de ar entre suas mãos, tornando-a grande gradativamente. Então, em milésimos de segundos, jogou-a num aparente espaço vazio, onde o corpo masculino apareceu logo depois. Era a vez dele ficar sem reação.

A figura de manto nem chegou a aterrissar no telhado, voando para longe e saindo do campo de visão de Neri. Esta escalou as construções com dois pulos, o ar apoiando-a, e pôde enxergar seu adversário caído no chão, preso por estacas invisíveis - que Neri sabia não durar muito - em cada ponta do tecido grande. Um sorriso brincava nos lábios masculinos.

— Eu não poderia encontrar adversário melhor - dizia como se estivesse alegre. - Não imaginava que teria alguém pra me perceber naquela noite, mesmo ouvindo coisas como mestres do ar nesse reino. Você me notou assim que criou aquela barreira, não foi? Me pegou desprevenido. É por isso que voltei aqui - sorriu.

Neri queria responder. Queria perguntar sobre aquelas habilidades que nunca vira, sobre a outra noite e sobre ele. O inimigo viera para encontrá-la? Aquilo não fazia sentido. Sabia que, numa grande distância dali, os soldados de Diellor batalhavam novamente contra um novo grupo de invasores. Talvez ele fosse apenas uma isca agora também. Mas, como espiã, não poderia saciar suas dúvidas sem entregar sua identidade - mesmo sua voz, que poderia alterar com o ar, daria uma pista ao inimigo.  

Então uma presença incômoda chegou até eles. Força emanava do que quer que estivesse se aproximando, atravessando velozmente o reino até eles.

— Acho que é minha hora de ir - uma voz clara e afinada veio de baixo.

Neri encarou o mensageiro, que começava a se soltar das estacas com um pouco de esforço.

— Espero poder vê-lo novamente um dia - colocou-se de pé e começou a vestir o capuz.

Antes que pudesse correr dali, Neri o atacou outra vez. Era verdade que gostaria de repetir a luta em breve, mas sua vontade não importava enquanto Vollfeit estivesse sob algum perigo. Sentiu uma mínima alteração no ar e, após duas vezes vendo aquela habilidade, sabia que ele se teletransportaria novamente. Sem saber o limite de distância para aquele poder, jogou-se no adversário. O volume de ar se fechou, sugando os dois. Seu estômago embrulhou e sua visão ficou desfocada, enxergando nada além de milhares de pontos luminosos correndo de um lado para o outro em sua frente. Até que seus ouvidos, antes parecendo inúteis, voltaram a captar ruídos. Ouviu uma coruja piando tristemente ali perto antes de abrir os olhos e enxergar copas de árvores iluminadas pela lua. Levantou-se rapidamente, causando uma leve tontura, e sentiu seu alvo indo para longe dali. Então essa é a distância que ele alcança…, pensou assim que se localizou. Estavam a quilômetros do centro de Diellor, na Floresta de Garoa. Provavelmente tinha usado aquela habilidade para sumir tão rapidamente na noite anterior.

Antes que pudesse começar a perseguição, a presença de antes apareceu próxima e mais forte. Parecia emparelhado ao mensageiro. Neri sentiu um frio percorrer sua espinha. Com a adrenalina aumentando dentro de suas veias, começou a correr. Neri sabia que as duas presenças estavam agora paradas próximas a um riacho de água calma, com algumas pedras circundando-o na superfície.

A espiã diminuiu a velocidade ao se aproximar e se colocou atrás de um tronco grosso, sem perder a visão da cena que se seguia ali: um homem de roupas cinzas, quase brancas, estava parado em frente ao inimigo - seu rosto não podia ser visto dali. Os cabelos do mesmo tom iam até o meio das costas e balançavam levemente, mesmo não sendo uma noite de brisa refrescante.

— Bem, parece que o senhor me pegou - o mensageiro disse, falsamente chateado e dando de ombros.

— Voltou para ser pego, imundo? - a voz do homem era forte e rouca. Era quase mais desconfortável que o tom de repugnância e ódio nela.

— Isso não fazia parte do plano, admito - sorriu torto. - Só queria visitar vocês, nada além.

— E as informações que os traidores te passam? Quais foram dessa vez?

— Bem, descobri que vocês têm pessoas interessantes aqui - respondeu lentamente. Naquele momento, Neri sentiu ser encarada de longe pelos olhos claros do invasor.

O homem não rebateu. Ao invés disso, cortou o ar com o corpo até chegar no adversário e lançar-lhe um soco na barriga. O mensageiro, todavia, concentrou uma massa de ar na região, criando um escudo temporário.

— O que vai fazer agora que não tem forças para se teletransportar? - dizia enquanto o forçava a recuar.

— Ah, senhor, não está se divertindo? Aproveite a vida!

— Insolente!

Então uma chuva de meteoritos caiu ali, em cima do homem e do invasor. Terra e grama pularam para cima com o grande impacto, impedindo a visão de qualquer espectador. O bosque ficou em silêncio por poucos segundos até que a voz rouca voltasse.

— Prefere ser torturado por mim ou por algum débil guarda?

Dessa vez, porém, não houve resposta. Neri estranhou, a personalidade do mensageiro se mostrara debochada demais para não rebater.

— Sua energia já se esgotou, não tente fazer mais nenhuma magia ridícula.

A poeira levantada se dissipou e Neri pôde ver o invasor sentado, com as costas apoiadas numa árvore mais longe, e o corpo largo de seu oponente logo em cima. A cabeça estava cercada por uma espécie de redemoinho, com faixas de ar dando voltas com pressa. Os cabelos claros e curtos estavam estáticos, como se não houvesse qualquer indício de ar ali. O coração de Neri acelerou. O homem estava sufocando-o lentamente.

— Uma hora você irá acordar e ser levado até que te tirem tudo o que sabe. Facilite isso e passe-me suas informações.

Por que está falando se o outro está preso? Era estranho, mas talvez só fosse falta de bom senso do homem.

— Se é assim, então prepare-se.

A redoma ao redor do pescoço do mensageiro pareceu diminuir e se intensificar. O corpo jovem começou a se debater, criando um peso inexplicável no peito de Neri. Queria ir até lá e parar o homem, mas não seria certo - era a segurança do reino em questão. Reclamou mentalmente. Era uma vida em questão também, por mais que fosse uma adversária. E, no fundo, sentia como se o garoto não fosse realmente um inimigo.

Não confie neles… Cuide-se. A voz agradável do invasor ecoou limpa em sua mente. Os batimentos cardíacos da espiã aumentaram outra vez, já não sabia se tinham parado ou se estavam a ponto de explodir seu corpo. Aquilo era realmente possível? Lembrava-se de ler, há anos atrás, sobre uma habilidade capaz de enviar mensagens através do ar sem usar os lábios. Pulou uma respiração. Então era desse jeito que o homem tentava conversar com o rapaz.

O invasor parou de se mexer. Suas mãos caíram na grama escura e o homem finalmente se levantou e virou. Neri viu a face fechada e pálida dele, com sobrancelhas tão grossas e extensas que pareciam se juntar no meio. Na testa, um símbolo de besouro pegava uma pequena parte da pele. Naquele momento, soube que seu nome era Aurel, o mestre do ar de Vollfeit.

— Você - virou-se para as árvores ao sudeste, onde Neri se ocultava. - Volte para Diellor, chegarei antes de qualquer maneira.

Então recolheu o corpo inerte no solo e sumiu, teletransportando-se ali mesmo. Neri ainda estava atordoada pelas palavras de seu adversário. Não confiar em quem? Não poderia estar falando de Vollfeit, não naquele sentido. Correu até o outro lado do bosque e encarou a grama amassada, antes suportando o peso de dois corpos. A sensação ruim em seu peito crescera nos últimos minutos e parecia que nunca a deixaria, não até toda aquela história - a dos invasores, a dos novos poderes, que apenas Auren parecia entender, e a de seu novo oponente - terminar. Suspirou, tentando acalmar sua mente.

Após todos aqueles anos acostumada a reunir informações, o fato de não conseguir lidar com aquela noite a incomodava.


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Notas finais do capítulo

Esse e o próximo capítulo já estavam escritos, então não demorarei para atualizar aqui. Anyway, até mais, c:



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