Vollfeit - Diellors e ihenes escrita por Kaonashi


Capítulo 14
Capítulo 14




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Capítulo 14

Monte Ulugh

O céu estava limpo e o grupo que acompanhava Idris comemorava com saltos curtos e assobios alegres. O homem, no entanto, só gostaria que aquilo terminasse logo - embora adorasse astronomia tanto quanto os outros - para voltar ao seu quarto silencioso. Vigiados de longe por seis soldados, subiram o monte Rosalia, localizado na floresta mais próxima do limite oeste de Ihene, até o topo vazio de grama escura. Lá a verdejante visão se descortinava planície abaixo, mostrando toda a extensão dos reinos.

Idris olhou, pela décima vez, o céu enfeitado por diversas estrelas prateadas. Era como se fosse hipnotizado a cada olhar e só despertasse com alguém o chamando.

— Idris, me empresta seu astrolábio? - um rapaz menor e mais jovem se aproximou. - Esqueci o meu.

Encarou brevemente Tommy, um recém-chegado no grupo de astronomia, ciente de que ele não havia esquecido a ferramenta - só ficara com preguiça de carregá-la até ali. Tirou seu astrolábio de uma mochila na lateral do corpo e a passou sem falar nada. Depois se sentou em um canto, mais afastado do grupo ainda agitado, e organizou alguns maços de papel bege ao seu redor. Puxou alguns objetos retos e pontiagudos guardados e os posicionou na grama, decidindo o que faria primeiro. Já participara daquele “passeio” inúmeras vezes, mas não sabia exatamente qual a graça que, aparentemente, os outros astrônomos viam nele - mesmo com vinte e seis anos, às vezes se sentia mais velho por seus pensamentos diferentes dos outros, achando bem melhor estudar sozinho, só ele e o céu numa noite calma.

Escolheu um objeto relativamente extenso e apontou para um grupo de estrelas ao leste, posicionando-a entre duas delas. Fez rapidamente os cálculos em sua cabeça para medir a distância entre elas, e depois repetiu a conta com as restantes. Foi anotando todos os números num dos papéis beges, revisando-os uma vez após finalizar. No canto oposto da colina os funcionários de Ihene cantarolavam alegremente, demorando mais do que costumavam para terminar seus próprios cálculos. Não os observou, tentando voltar sua mente para o azul escuro em cima de suas cabeças e fechando os ouvidos para aquela algazarra. Se não fosse um passeio de pesquisa obrigatório do castelo, Idris certamente não estaria ali.

Enfiou a mão na mochila outra vez, agarrando um volume redondo e levando-a até sua boca. Mordeu a maçã com prazer, tão vermelha e brilhante quanto uma rubi, sentindo o suco doce e refrescante da fruta. Depois voltou ao trabalho, usando outras ferramentas de prata para suas frações repletas de números.

— Idris, você pode voltar caso tenha terminado - uma mulher esguia e de olhos que pareciam o de um tigre, amarelados e esticados, falou após um tempo.

O astrônomo assentiu, naquele momento já com suas coisas guardadas, e, apoiando a alça da mochila em seu ombro, colocou-se a descer a colina. Um guarda prontamente o seguiu em silêncio, dando passos fortes e longos. Idris começava a levantar a cabeça para aproveitar mais um pouco aquela vista quando o ruído de um galho se quebrando, e depois mais um, chegou até eles. O guarda parou e colocou a mão na bainha em sua cintura, olhando atentamente - e um tanto assustado - ao redor. Idris o imitou, mas com calma; não via motivos para ficar com medo - o que era medo além de algo criado pelo desconhecido? Não fazia sentido. O homem ao seu lado começou a dar passos relutantes para frente, descendo o resto da inclinação até a área plana da floresta. Acompanhou-o da forma mais silenciosa que seus pés pouco treinados permitiam e parou quando o outro sinalizou e adentrou os arbustos, sumindo.

Por um tempo nada aconteceu, fazendo Idris desejar que não tivessem ouvido nada e retornando logo para o castelo. Porém o silêncio daquela área, tirando pios de corujas hora ou outra, fora quebrado com a colisão de espadas ali perto. Idris se pôs a andar, voltando colina acima para avisar os outros guardas. O som das lâminas dançando ficavam cada vez mais frenéticas e baixas a medida que ele se afastava. Pensou nas possibilidades de um inimigo estar ali, à espreita para pegá-los há horas. Era uma área relativamente difícil de sair caso não conhecesse bem a floresta, diminuindo a primeira chance. Então pensou no número de fugitivos ainda não encontrados; era uma possibilidade mais aceitável. Mas como aquele, ali no bosque, conseguira uma espada? Idris imaginou que, no máximo, teriam usado de seus próprios punhos e habilidades para fugirem, sem tempo de roubarem nada, nem mesmo do povo, enquanto se escondiam. Então… Seu raciocínio o levou para uma ideia que não seria muito agradável para seu reino: os inimigos tinham armado os prisioneiros.

Como se fosse uma resposta para seu novo pensamento, uma bola de fogo veio em sua direção, nascido de um ponto escuro da floresta. Quase sem tempo de reação, convocou a água que levava em uma garrafa, em sua mochila, criando uma coluna fina na lateral de seu corpo. Vapor deu lugar ao elemento vermelho quando este se chocou com a barreira de Idris, mas outras vieram em seguida. Jogou-se no chão, sentindo o calor violento raspar em seu antebraço. Quando os ataques pareceram parar, sentou-se, concentrando-se em todo o cenário e procurando ouvir algo que sinalizasse seus adversários. Tudo parecia quieto, as espadas tinham descansado e as corujas deveriam ter fugido para longe após a agitação. Porém, antes que pudesse se levantar completamente, braços fortes o prenderam no chão, deixando seu rosto voltado para a terra dura e granulada. Sem ver muito acima, enxergou dois pares de pés passando ao seu lado, em direção ao topo da colina, e depois mais três. Com aquele que ainda o prendia, totalizava seis inimigos. Não poderia ir contra eles, ainda mais sem o guarda de antes, provavelmente desmaiado ou morto.

A pessoa que o segurava começou a assobiar uma melodia monótona enquanto seus parceiros desapareciam na subida. Demoraram-se lá por mais de cinco minutos, criando os sons de mais espadas, gritos e trovões. Com aquele barulho, o castelo poderia ser alertado e logo enviariam reforços. Idris esperou até que a luta lá em cima terminasse, ouvindo e sentindo o tremor causado pelos passos que desciam até ele.

— Acho que são só esses - uma voz rouca e indiferente disse.

— Agora que eu ajudei, posso me juntar a vocês? - outro falou com expectativa.

— Sim, é claro…

E um grito encheu os ouvidos de Idris. O astrônomo levou os olhos ao canto direito, no extremo, e viu a terra se colorir de vermelho. O cheiro forte de ferro chegou até ele junto com o choramingo das astrólogas capturadas - os homens deveriam estar espantados demais para produzir qualquer som. Então Idris começou a se debater, tentando sair do controle de seu inimigo. Este apertou mais o joelho e as mãos em suas costas e pescoço, reclamando em voz baixa.

— Se ele der trabalho, acabe com ele - o primeiro homem mandou. - O objetivo dessa vez não é em número.

Idris ignorou, ele também tinha um objetivo e iria cumpri-lo. Seu agressor o colocou de pé, dando chutes e cotoveladas para tentar ganhar a briga que ele iniciara. No entanto Idris aguentava, dando o máximo de trabalho que conseguia causar. Começou a ser arrastado, fazendo-o fincar os pés e pernas no chão. Os outros invasores continuavam prendendo o grupo de Ihene, descendo até a floresta como se ele não estivesse lutando. As dores logo apareceram em suas pernas, barriga e rosto, ainda levando golpes fortes. Esperava, no entanto, que elas não fossem em vão.


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