Eu havia acabado de voltar para o acampamento, não sabia o que queria fazer, me sentia desesperado por ir embora, ao mesmo tempo em que alguma coisa me impedia de fazê-lo. Odiava quando ficava indeciso, era frustrante.

     Fiquei deitado decidindo o que fazer, optei por passar mais alguns dias no acampamento, afinal eu tinha acabado de trazer uma amiga pra cá, e se ela não se adaptasse bem - o que eu achava praticamente impossível – precisava pelo menos não deixá-la sozinha nas primeiras semanas.

     Olhei no relógio de novo e vi que já eram quase sete horas, o jantar já iria começar. Troquei meu uniforme do colégio, por uma blusa preta e calça jeans escura. Sai em direção ao refeitório, o acampamento estava quase vazio, presumi que já estavam todos lá. E estava certo.

     Passei por entre as mesas e todos ficaram me olhando, ninguém ainda sabia que eu estava de volta, nem mesmo Quiron, acenei para ele e ele acenou de volta. Continuei seguindo para minha mesa excluída.

     Peguei parte do meu jantar e joguei na fogueira pensando em meu pai. Voltei para minha mesa e comecei a comer o que sobrará no meu prato.

     De onde eu estava, conseguia ver a mesa de Apolo, e Anna sentada conversando com umas meninas e com um menino que estava sentado ao seu lado. Alguma coisa – que não era ciúmes – me fez não gostar daquela cena. Se eu pudesse, me levantava e ia sentar ao seu lado, mas eu não podia. Terminei meu jantar emburrado.

     A única coisa que me impediu de voltar direto para o meu chalé, foi que o chalé de Apolo, como sempre, iria cantar no Anfiteatro. Esta noite, eles contaram com mais uma integrante, Anna que tinha uma voz maravilhosa.

     Sentei o mais distante possível do grupo de campistas que estavam próximos ao palco, estava observando e escutando distraído quando percebi que ela não estava mais no palco.

     -Gostou?

     Eu tomei um susto enorme quase caindo da arquibancada, Anna estava sentada ao meu lado rindo por causa do meu susto.

     -Ei! Você não deveria assustar uma pessoa desse jeito.

     -Pode ser, mas foi engraçado. Então, gostou?

     -Do que? –Que pergunta idiota, falou uma voz na minha cabeça.

     -Do show. Eu cantei bem?

     -Você estava ótima.

     -Obrigada. E você estava certo, já fiz vários amigos.

     -Que bom. –Disse e dei um sorriso fraco pra ela. Eu estava feliz por Anna, mas aquilo significava que eu iria ficar menos tempo no acampamento. –Escuta, eu não vou mais ficar aqui.

     -Como assim?

     -Eu vou embora do acampamento...

     -E podemos fazer isso?

     -Eu posso. –Nós ficamos mais alguns minutos sem nos falar. Então ela disse.

     -E quando você vai?

     -Em uma ou duas semanas.

     -E vai para onde?

     -Não faço ideia. –Ela sorriu para mim e depois me abraçou. Eu gostei.

     -Te vejo amanhã. –Ela disse, e foi embora se juntar aos seus irmãos que já estavam indo embora.

     Eu não tinha mais o que fazer, voltei para meu chalé, coloquei um short e fui dormir.

***

   P.O.V. Anna.

     Chegamos ao nosso chalé e eu coloquei um pijama e deitei na minha nova cama. Minhas novas amigas Lisa e Helena vieram falar comigo.

     -O que você estava fazendo? –Perguntou Helena.

     -Quando?

     -Ainda a pouco, falando com o filho de Hades.

     -Nico? Ele é meu amigo.

     -Amigo? –Perguntou Lisa como se estivesse com nojo.

     -É, meu amigo Nico. Por quê? Tem problema falar com ele? –Perguntei como se não tivesse entendido o que elas falaram.

     -É que ele é esquisito. Só anda de preto, vive sozinho, gosta daquele cão infernal que vive nos bosques e eu soube por Hector, o loiro que eu te mostrei do chalé de Hefesto, que ele tem um criado esqueleto. E você o abraçou.

     Parti em defesa do meu amigo excluído.

     -Não acho nada de mais ele só se vestir de preto, o cão infernal até eu já vi e ele não é tão mal, -eu não havia visto um cão infernal, muito menos sabia o que era, mas acho que um cão de três cabeças pode bem parecido com um cão infernal. –Eu mesma queria ter um criado que fizesse tudo por mim, mesmo que fosse um esqueleto, e por ultimo ele só vive sozinho porque ninguém dá uma chance a ele. E geralmente eu gosto de abraçar os meus amigos.

     Minhas novas amigas ficaram me olhando como se eu fosse uma maluca, provável mente eu havia perdido duas amigas, mas aquelas eram dispensáveis se fosse para defender um amigo de verdade, pelo menos era o que eu achava, mas eu gostei de defendê-lo, algo me disse que seria bom.

     -E agora se me dão licença, o dia foi muito cansativo quero descansar.

      As duas me deixaram sozinhas eu peguei meu iPod, liguei e comecei a escutá-lo. Pensei em minha mãe, como o centauro havia dito, ela seria informada de que eu já estava aqui e certamente ficaria feliz por isso, onde quer que eu estivesse longe ou perto dela, se fosse o mais seguro para mim ela ficaria contente. Além dela, pensei em Justin, aposto que em uma semana ele já estaria namorando outra garota que me substituiria, sem nem pensar.

     Demorei bastante para pegar no sono, mas consegui (muito mal) dormir um pouco, quando eram quase quatro e trinta da manhã eu acordei.

     Levantei-me, de pijama mesmo, e sai do chalé, eu não sabia ainda que era proibido, fiquei vagando alguns minutos sem rumo, até que me encontrei em uma praia. Fiquei surpresa, pois não sabia que tinha uma praia ali no acampamento. Tirei minhas pantufas e comecei a caminhar próximo a água.

     -Buuuuuu!

     -Ahhhhhhh! –Eu gritei e cai na areia, por pouco não me molhando. –Você não deveria assustar uma pessoa desse jeito.

     -Desculpe o que esta fazendo aqui? –Disse Nico, me ajudando a levantar.

     -Nada, eu gosto de ir à praia as três da manhã de pijama. –Nós dois rimos. –Eu estava sem sono e resolvi dar um passeio à luz do luar.

     -Sabe que eu também. Tive um sonho ruim e acabei parando aqui. –Olhei para ele, tive a leve impressão de que meu coração falhou uma batida, ele estava só de short e pela primeira vez eu pude perceber que ele era... lindo e gostoso?

     -Ei, você tem mesmo um criado? –Perguntei andando e tentando mudar de assunto, antes que eu começasse a ficar vermelha.

     -Tenho, quer dizer, tinha, o dispensei alguns meses atrás. Antes de ir para a Petrel atrás de você.

     -Atrás de mim?

     -É, eu fiquei aqui algum tempo depois da batalha no Empire States, e quando Quiron ficou sabendo que eu estava pensando em fugir, ele me mandou em uma missão, vigiar você e te trazer pra cá se algum monstro te atacasse. –Ele falou, mas “batalha no Empire States”, essa me interessou.

     -Que batalha?

     -Resumidamente, Cronos, o titã do tempo, reuniu um exercito de pessoas que estavam furiosas com os deuses e os fez lutar contra os deuses, nós os bonzinhos lutamos com nossos pais contra Cronos e seu exercito, nós ganhamos a luta e fim.

     -Você fala como se tivesse sido fácil pra vocês vencerem a batalha.

     -Na verdade a minha parte foi realmente bem fácil, já estavam todos os do mal posicionados em frente ao Empire States, foi só eu e meu pai chegarmos e acabarmos com a maioria.

     -Fácil. –Disse sarcasticamente. Olhei para o horizonte e vi que já estava bem claro. –Precisamos voltar

     -Rápido? –Perguntou ele com um pequeno sorriso.

     -Pode ser...

     -É isso ai. –Ele segurou a minha mão e começamos a correr, de repente vi todas as luzes se apagarem, e quando elas voltaram, não estávamos mais na praia, estávamos em frente a um chalé de mármore preto com uma tocha de fogo verde na frente.

     -Anna, esse é o meu chalé. Agora vai correndo sem fazer barulho naquela direção, antes que alguém acorde e te veja de pijama.

     -Você esta me vendo de pijama... –Me senti corar, me virei e fui à direção que ele apontou.

     -Eu também estou de pijama, então não conta

     -Até mais tarde. –Eu disse, enquanto corria.

     -Até.