Novo Dia escrita por Just a writer


Capítulo 1
Dia 7.136


Notas iniciais do capítulo

Olá!

Essa é a minha primeira Fic, e quis que fosse de um livro que admiro muito, e o escolhido foi Todo Dia, de David Levithan. Tenho alguma experiência em escrever histórias, mas foram todas originais, nunca baseado em algo que já existia. É um terreno totalmente novo para mim, então por favor me ajudem caso esteja tomando algum passo errado. Essa fic se passa alguns anos depois do final do livro, então vai conter alguns spoilers. "A", nosso personagem é algo um tanto complicado e divertido de se escrever, pois ele tem uma visão unica do mundo, e tentei trazer ele de volta o mais fielmente possível. Não sei se esse vai ser um capitulo unico, pois é algo que abre muitas possibilidades que quero aproveitar, mas isso não fica a meu criterio. Deixo que vocês decidam nos comentários se essa história vai continuar ou não.

Dito tantas coisas, desejo a vocês uma boa leitura. Lembrem-se: se quiser que essa historia continue, vá aos comentários e deixe sua mensagem.



“Na minha experiência, desejo é desejo, amor é amor. Nunca me apaixonei por um gênero. Apaixonei-me por indivíduos. Sei que é difícil as pessoas fazerem isso, mas não entendo por que é tão complicado, quando é tão óbvio.”



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Acordo sentindo frio.

Eu nunca me acostumo.

Rhiannon.

Esse é sempre meu primeiro pensamento quando acordo. Sinto que nunca vou esquecê-la, e isso machuca. Eu escolhi seguir em frente. Mas por que isso continua me incomodando? Mesmo sempre pulando de corpo em corpo, isso me afeta. Acho que seja universal, mesmo quando já se passaram três anos desde que eu a deixei e fugi.

Abro os olhos e estranho o ambiente. Hoje eu sou um garoto. Acesso a mente em busca de alguma memória para me localizar, saber o cotidiano deste corpo... mas não encontro nada. Nenhum nome, nenhum rosto conhecido, nenhum tipo de lembrança, apenas as minhas próprias. Olho em volta e percebo que estou numa sala de autopsias. Me sento na mesa, deixando a luz fria percorrer o corpo emprestado. Dou mais uma vasculhada nos arredores, e encontro um balde com algumas roupas, e assumo que sejam as minhas. Faço menção de dar um impulso para sair de cima da mesa, mas uma dor no peito me faz recuar e gemer. Em meu peito há uma incisão de tamanho médio costurado. Sem movimentos bruscos então. Vou até o balde, e visto as roupas. Uma camisa de flanela vermelha quadriculada e uma calça jeans formam o vestuário.

Abro a porta e olho para os lados, vendo se alguém estaria passando no corredor. Ele está vazio, ótimo. Não teria como explicar como um cadáver revivera do nada e estava de saída. Cadáver. Eu estava mesmo ocupando um cadáver. Isso nunca havia acontecido, eu sempre pegava emprestado os corpos dos vivos, sempre da minha idade, independente do sexo. Essas eram as regras que eu aprendi. Hoje eu não era Jordan, Richard, Amanda, não era ninguém. Era apenas eu, A.

Sair do necrotério foi fácil, agora teria que me localizar. Com os pés descalços, corri até uma banca de jornais, e perguntei qual era a cidade para o vendedor.

 – O quê? Que cidade é essa? – ele perguntou levantando uma sobrancelha.

Eu apenas assenti.

— Andou bebendo demais, foi garoto? – perguntou de forma inquisitiva.

— Não, senhor. Apenas não sei aonde eu estou – falo, tentando não ser rude.

Ele bufa e limpa a garganta com um pigarro.

Eu não acredito no que ele me diz.

Rhiannon.

Estou apenas a cinco horas dela, isso se Rhiannon não se mudou. Mas isso não era possível. Eu havia ido para perto da fronteira do país. Quando mudava de corpo, não saia da área num raio de quatro horas no mínimo. Eu havia viajado meio país de volta.

Meu primeiro pensamento foi de contatar Rhiannon, mas logo o afastei. Mesmo que, eu estava em um corpo que não havia dono, não havia garantias de que eu iria ficar. Eu nunca ficava, nunca repetia a posse de um corpo. Sempre foi assim.

Encostado numa esquina, vasculhei os bolsos da calça, em busca de algo que me ajudasse. Uma carteira e um papel de bala. Na carteira, nenhuma identificação, apenas 20 doláres. Uma pequena sorte. Eu nunca precisei furtar, a menos que fosse um fator determinante do comportamento do dono do corpo. Se fosse estranho que o dono não cometesse pequenos furtos, eu teria problemas. Então durante essas raras ocasiões, eu acabei pegando o jeito.

 Fazia dez minutos que eu encarava uma pequena loja de calçados. Não poderia andar pelas ruas descalço. Não houve problema ao afanar um par de tênis. Andei por dez minutos na cidade, para me familiarizar com os arredores. Cinco horas de distancia da cidade onde me apaixonei por ela. Esse fato ainda estava em minha cabeça. Em certas vezes, ainda me perguntava como estavam Rhiannon e Nathan. Duas das três pessoas que sabiam quem eu realmente era, o que eu era. Não sabia se o reverendo Poole ainda tentava me achar, mas por precaução, nunca parei de correr. Eu deveria considerar ele como um igual, mas não o faço. Ficar em um corpo de alguém, seria o mesmo que assassinato. E ele fez essa escolha de ficar. Nós dois não somos diferentes daqueles em que nos hospedam. Fazemos escolhas todos os dias e mesmo que possamos nos safar das conseqüências de nossos atos, fica o peso moral em nossa consciência. Conviveríamos com esse fardo o resto de nossas vidas. Não que eu saiba o quanto que vivemos. Depois que fugi, Nathan não tentou me encontrar mais. Ele parou de dar entrevistas e se negava a responder a qualquer questão que envolvesse sua “possessão”. Queria achar um modo de agradecer a ele por isso, mas era muito arriscado. E eu já havia me envolvido demais na vida dele. Viver o dia como a pessoa viveria, sem interferir muito. Sempre fui bom nisso.

O sol já estava se pondo quando parei para descansar num parque. Fechei meus olhos e senti o calor vespertino em minha pele, e o vento entre os cabelos. Fora um dia maluco. Nenhuma rotina, nenhum encontro com algum conhecido, sem acessar nenhuma lembrança alheia. Naquele momento, apenas eu existia. Recordo-me daquele dia na praia com Rhiannon, enquanto estávamos no cobertor da pegação, trocando historias e pertencendo um ao outro, num momento só nosso. Sinto falta dela, as lágrimas percorrem o meu rosto, mas continuo encarando o sol. Espero que ela tenha encontrado um futuro sem mim. Sei que ela é capaz disso. Torço para que Rhiannon esteja feliz, numa boa faculdade, com bons amigos, com um bom namorado. Esse ultimo pensamento me faz estremecer. Era o melhor a se fazer. Não haveria uma vida para nós dois. Sabíamos disso. Eu nunca poderia dormir e acordar ao lado dela como a mesma pessoa. Nunca poderia me apresentar aos pais dela como a pessoa que sempre cuidaria dela. Não envelheceríamos juntos. Não existia um futuro. Ela pode fazer planos, eu não. Tenho apenas o dia presente. Ela tem o futuro.

Não tenho uma casa para ir ao final do dia. Bom, eu mesmo não tenho, nem mesmo esse corpo, seja lá a quem ele pertença. Eu já fui um sem-teto. Não me lembro do nome dele, não era algo a se guardar. Encontro uma pequena ponte e arranjo para mim alguns pedaços de papelão e isopor. O corpo está esgotado, assim como eu. Estrelas já brilham no céu. Apenas espero o sono me encontrar para amanhã, continuar minha caminhada. Quero ficar. Não por causa de minha situação, mas por que nunca habitei um corpo sem vida. Quero ficar pela simples possibilidade de ser meu ponto de parada e ter o que nunca tive. Futuro.


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