Traços do Destino escrita por Miss Daydream, LadyNightmare


Capítulo 8
Constrangedor


Notas iniciais do capítulo

[Miss Daydream]: ...............
O que a gente pode dizer? Desculpa mesmo pelo sumiço, infelizmente os últimos meses tem sido um pouco turbulentos, e só temos a agradecer todo o apoio e maravilhoso feedback que vocês têm nos dado!!! Recebemos a recomendação mais linda do mundo da Hyunah, e realmente ficamos extremamente felizes! Obrigada por gostar e acompanhar a nossa história, esse capítulo é inteiramente dedicado a você!
Sem mais, bom capítulo pessoal! Nos vemos lá embaixo!
 
[LadyNightmare]: F I N A L M E N T E! ALELUIA IRMÃOS E IRMÃS HSUAHSUHASU
Eu sei que essa demora horrorosa de cinco meses é imperdoável, mas nós sentimos muito. Ambas estamos sempre lotadas de trabalhos para fazer, visto que ainda estudamos. Nós demos nosso sangue, suor e lágrimas nesse capítulo e esperamos que a tensão que há nele recompense toda essa espera u.u
Se tudo der certo, em dezembro estaremos de férias e livres para escrever o quanto quisermos. Vamos tentar voltar para o ritmo de antes e se preparem para novas fanfics vindo aí u.u
Muuuito obrigada a Hyunah pela linda recomendação, que encheu nossos corações de felicidade ♥
Sem mais delongas, deixo vocês com o capítulo ♥
Beijinhos :*



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/725371/chapter/8

Castiel e Nathaniel andavam em silêncio.

Haviam pego o ônibus para a faculdade do loiro e Castiel sentia-se cansado e estranho por estar ali agora. Não parecia a ordem natural das coisas... E estava tarde. Havia sido uma das maiores burrices de todas ter ido de madrugada até a universidade de Nathaniel.

Eles iam fazer o que? Esperar sentados na frente da porta do reitor até que ele chegasse? Era muito tempo para passarem sozinhos um ao lado do outro... Isso o estava enlouquecendo.

O silêncio o estava enlouquecendo. Já Nathaniel preferia o silêncio do que besteiras saindo da boca do leonino. Por mais "gente boa" que o ruivo estivesse sendo com o loiro, ele ainda sim continuava sendo Castiel.

Quando desceram no ponto de ônibus que tinha em frente a faculdade do aquariano, o mesmo se deu de conta da burrada que haviam feito. Agora teriam que esperar algumas boas horas até que o reitor chegasse.

Nathaniel só esperava que a fase de adolescente rebelde de Castiel já tivesse passado e que o mesmo jamais pensasse em sair por aí explorando cada canto da faculdade do loiro.

O loiro fez cara de cu quando finalmente chegaram a seu destino, e Castiel pela primeira vez sentiu-se irritado por estar certo sobre algo. O garoto ao seu lado realmente não tinha pensado que ainda era madrugada.

Sinceramente...

Suspirou alto, tentando deixar claro o seu descontentamento. Não abriria a boca para falar nada, mas precisava de um cigarro para aliviar a tensão, o frio e a raiva que estava sentindo.

Pegou o maço de cigarros em seu bolso direito e logo acendeu um com um isqueiro, na primeira tragada já percebeu que Nathaniel o olhava feio.

— O que é? — perguntou, se irritando antecipadamente.

— Eu não falei nada, você é quem tá todo nervosinho aí. — o aquariano deu de ombros.

Se o ruivo queria fumar, que fumasse o quanto quisesse. Mas isso não queria dizer que Nathaniel era obrigado a aprovar esse tipo de coisa só porque Castiel estava lhe ajudando.

Suspirou profundamente, enquanto um bico se formava em seus lábios. Como havia sido tão burro á ponto de esquecer que ainda era cedo demais para ir para faculdade?

— Foi mal. — Nathaniel murmurou, esperando que o leonino entendesse a que ele se referia.

Deu uma longa tragada no cigarro, e se segurou para não soltar toda a fumaça na cara de Nathaniel. Sabia que o outro tinha várias complicações alérgicas e não queria ser responsável por... Bem... Seja lá o que acontecesse caso ele tivesse algum ataque epilético ou algo assim.

Tentava pensar em coisas tranquilas enquanto a fumaça se esvaia de seus pulmões, levando consigo a ansiedade constantemente presente no ruivo de farmácia. Nunca fora muito chegado a acreditar nessas baboseiras de destino e seus derivados. Sua mãe sempre lhe dissera que nada acontecia por acaso. Se você estiver em algum lugar, em certa hora, vivenciando certo acontecimento, tudo aquilo já havia sido premeditado antes.

Castiel não gostava da ideia de não poder mudar seu futuro. Gostava de ter poder sobre suas ações e sobre o que poderia acontecer caso ele desejasse.

Olhou para Nathaniel com o canto do olho, e sabia que o dia do aquariano (quem sabe a vida dele) estava sendo absolutamente péssimo. Deu mais uma tragada. Sentou-se no meio fio, coberto pelo teto do corredor do local para proteger-se da neve, e começou a remexer os rasgos da calça preta.

— O que será que te trouxe até mim...? — resmungou repentinamente, depois de um bom tempo em silêncio, estalando a língua — O que será que fez com que nos encontrássemos novamente...?

O loiro ouviu Castiel resmungar algumas coisas de forma baixa e o olhou como se estivesse vendo um extraterrestre, mas resolveu não perguntar nada.

Subiu os três degraus que haviam em frente a porta do prédio da faculdade e parou perante a mesma, onde abaixou-se um tanto e tentou olhar para dentro do local pelo buraco da fechadura. Estava tudo escuro, nenhum sinal de vida ali.

Nathaniel rolou os olhos, impaciente. Havia um guarda noturno na universidade, mas o ex-representante de turma duvidava muito que ele fosse deixá-los entrar. Ninguém podia entrar durante a noite, a não ser os que ocupavam os dormitórios da faculdade.

Bufou quando chegou a tal constatação e foi deslizando pela madeira da porta até estar sentado no chão. O aquariano estava exausto, de todas as formas, e mal percebeu quando, sem querer, acabou cochilando.

Olhou Nathaniel depois de mais um tempo em silêncio, e constatou que ele não o tinha ouvido. Se irritou novamente por não ter sido ouvido, e só aí percebeu o quanto precisava de uma resposta.

Odiava ficar no escuro. Odiava aquela situação que estava acontecendo com o loiro. Não eram amigos, nunca haviam sido, mas não queria que nada daquilo estivesse realmente se concretizando.

Por quanto tempo ele aguentara? Quanto tempo mais teria de aguentar? Ali, cochilando serenamente, ele parecia não ter muitas preocupações.

Seu rosto sem a carranca era tão bem esculpido que Castiel chegava a achá-lo bonito. Parecia realmente que cada pedacinho de sua face tinha sido feito a dedo, e não havia em si uma falha se quer.

Bem, isso quando não estava de olhos abertos e ombros retesados, enquanto brigava com alguém por aí.

Suspirou e sentou-se ao lado do loirinho. Realmente, não havia mais nada para se fazer. Acabou descansando um pouco ali mesmo também, e levemente inconsciente deixou que sua cabeça repousasse no ombro de Nathaniel.

O loiro remexeu-se levemente, um tanto incomodado com o peso em seu ombro, mas ao invés de livrar-se dele, acabou com a cabeça encostada na de Castiel sem querer.

O sono de ambos era pesado, denotando o quão cansados eles estavam. Não que a porta da Universidade fosse um lugar muito confortável para dormir, mas serviu para um bom cochilo.

Nathaniel só acordou quando a luz do Sol (ainda nascendo) começou a lhe incomodar. A contragosto, ele abriu os olhos e suspirou baixo. Seria um longo dia.

Pronto para levantar-se, o ex-representante finalmente notou a câimbra em seu braço direito e ao olhar para o lado, encontrou a causa dela. Prendendo um grito surpreso na garganta, Nathaniel empurrou a cabeça do ruivo para o lado oposto levemente, sem a intenção de acorda-lo e, enfim, levantou-se.

Era melhor que Castiel não ficasse sabendo sobre aquilo. Ou então, ele provavelmente faria alguma piadinha sobre Nathaniel gostar tanto de si ao ponto de ficar sonhando consigo deitado em seu ombro.

Ele nunca mudava, afinal.

Castiel acordou bruscamente, apesar da leveza do outro, e assim que abriu os olhos não sabia quem era, onde e em que dia estava.

Odiava acordar desnorteado, sem saber o que fazer e o motivo de estar ali. Por isso ficou um tempinho sentado no chão, com as mãos apoiando o corpo para não cair e olhando fixamente para o chão.

Os olhos entreabertos e cansados mostravam que ele não tinha tido uma noite de sono descente, e pouco a pouco o ruivo começou a se localizar no mundo.

Nathaniel percebeu que Castiel havia acordado e quase, quase, se permitiu rir do rosto "amassado" do outro. Não que o próprio Nathaniel estivesse muito melhor, mas ver o ruivo daquela forma era cômico.

O aquariano conferiu as horas em seu celular e suspirou aliviado ao ver que faltava menos de meia hora para as portas da Universidade abrirem. Em partes, era realmente um alívio, mas tinha a parte ruim também. A parte em que ele mal havia dormido e que com certeza não teria um desempenho tão bom quanto nos dias anteriores durante a aula.

— Bom dia. — o ex-representante virou-se para Castiel, seu tom de voz era ameno — Faltam vinte minutos para podermos entrar.

Castiel ignorou a educação de Nathaniel, se sentindo um pouco irritadiço. Até agora não havia entendido o porquê de ter oferecido ajuda ao loiro, afinal ele era bem grandinho e poderia fazer as coisas sozinho. Agh, suas costas doíam tanto...

Mas então lembrou-se da situação complicada em que o outro se encontrava, e colocou a cabeça finalmente no lugar. Olhou para Nathaniel, e mesmo com os olhos praticamente fechados pelo cansaço e por causa do sol que acabava de nascer, ele parecia um tanto etéreo. Talvez não fosse real, Castiel desejou que ele não fosse.

Se não fosse, aquela situação terrível em que estava metido não estaria acontecendo. Se não fosse mundano, a dor não seria tão palpável.

Castiel deixou que um longo suspiro escapasse por seus lábios.

— Onde fica o banheiro? — perguntou cansado e com a voz rouca de sono.

Nathaniel estalou a língua, com um sorrisinho no rosto, como se já esperasse que Castiel não fosse responder seu "bom dia", afinal, ele não conseguia ser educado o bastante para isso.

— Como ainda faltavam alguns minutos para as portas da Universidade se abrirem, você terá que usar o banheiro dos funcionários. — apontou para uma pequena peça, que parecia isolada do resto do campus e não muito agradável — Boa sorte.

Castiel bufou irritado ao constatar que naquele momento nada estava ao seu favor. Ir até aquele local hostil e nojento só para urinar? Mas nunquinha mesmo, nem morto.

Olhou irritado para Nathaniel.

— Eu passo.

O loiro apenas deu de ombros, afinal, não era culpa sua e ele nada poderia fazer.

Em poucos minutos, o campus já estava com milhares de universitários andando para lá e para cá. Não demorou muito para que as portas fossem abertas também.

Nathaniel fez um sinal com a cabeça, indicando para o ruivo segui-lo. Ambos andaram pelos corredores, desviando dos demais estudantes, até o loiro parar em frente ao banheiro masculino.

— Você tem dez minutos antes da minha primeira aula começar. — o ex-representante de turma informou, mesmo sabendo que Castiel não gostava de receber ordens.

Castiel andou rapidamente até os banheiros, bufando de raiva. Ao chegar ao local se permitiu explodir um pouco, tudo que não podia explodir com o loiro. Estava tentando ser empático e compreensivo, mas Nathaniel mantinha um escudo de superioridade insuportável ao seu redor.

O ruivo já estava começando a se irritar.

Depois de ir devidamente ao banheiro, lavou o rosto e as mãos, e finalmente se olhou no espelho.

Sua cara não era das melhores, e o rosto demonstrava um cansaço enorme. Fazia alguns dias desde sua última noite de sono descente. Os lábios estavam levemente arroxeados devido ao frio, o que lhe garantia uma aparência de cadáver, para ser generoso.

Tirou a touca e a colocou dentro do bolso do casaco, afim de prender os cabelos bagunçados.

Se sentiu melhor depois de um tempo e finalmente saiu do banheiro.

Nathaniel aguardou Castiel pacientemente. Ele sabia que aquele dia não estava sendo fácil para ambos, por isso, tentava manter a calma e tranquilidade. Tudo o que ele menos precisava agora era de uma briga com o ruivo. Justo quem mais estava lhe ajudando em toda essa catástrofe que se instalou em sua vida.

Seu estômago doía e implorava por comida, mas agora ele não tinha tempo para ir até o refeitório. O que contribuía para que o loiro ficasse de mau-humor.

Quando Castiel saiu do banheiro, Nathaniel notou seus fios de cabelo presos e prendeu um suspiro na garganta. Aquela era uma visão realmente muito bonita, não negaria. Mas também não admitiria isso em voz alta. Jamais. O leonino não era do tipo que sabia lidar bem com elogios sem soltar uma resposta arrogante ou debochada. E isso incomodava o ex-representante de turma.

— Eu só preciso pegar meu material no meu armário e aí poderemos seguir para a aula. — Nathaniel comentou distraidamente, enquanto andava com Castiel ao seu lado — Tudo bem?

— Claro. — respondeu com a voz rouca e meteu as mãos nos bolsos.

Enquanto caminhavam até os tais armários em silêncio, Castiel observava o movimento dos alunos que chegavam para seus afazeres. Sentiu-se um tanto deslocado ali, talvez não fosse seu lugar... O ruivo sempre fora um espírito muito livre e independente, tinha decidido por si não cursar nada na universidade, ser independente e construir a vida pouco a pouco, vivendo à sua maneira.

Mas não dava para negar que, ali naquele local, se sentia intimidado de maneira instigante. Enquanto passavam pelas incontáveis salas fechadas, Castiel se imaginou fazendo alguma coisa. E sentiu muita vontade de fazer alguma coisa.

Suspirou pesadamente e desviou o olhar para o lado de fora, percebendo que o sol já estava um pouco mais quente. Os alunos corriam para lá e para cá, de cachecol e pesadas botas de neve. Olhou para as suas surradas e geladas, e se sentiu muito pequeno e deslocado novamente.

Ali não era lugar para gente como ele. Era lugar para gente feito Nathaniel, com um futuro bonito e brilhante pela frente...

O silêncio entre os dois não era incomodo, pelo contrário. Era melhor que ficassem quietos para não acabarem discutindo.

Nathaniel andava um pouco à frente do ruivo, com as mãos enterradas no bolso do casaco emprestado, que exalava um aroma forte de perfume masculino, provavelmente o que Castiel costumava usar.

Quando chegaram ao corredor lotado de armários, o loiro foi rápido ao colocar sua senha e retirar dali o material necessário. Depois, encaminharam-se até a sala de aula do aquariano, onde a maioria de seus colegas já estavam esperando a professora chegar.

Nathaniel pode ver, pela sua visão periférica, Armin lhe encarar com o cenho franzido, balançando as mãos no ar e fazendo movimentos desconexos com as mesmas, como se perguntasse "Que porra é essa?”

O ex-representante de turma apenas levantou a mão, com o polegar para cima, sinalizando que estava tudo bem por enquanto. Armin pareceu entender, mas aquilo não significava que ele estava menos desconfiado.

Desta vez, Nathaniel se viu obrigado a sentar longe do amigo de olhos azuis, por isso, ajeitou-se em uma classe no fundo da sala e perto de uma das janelas, com Castiel ao seu lado. Cruzou os dedos e rezou mentalmente para que as aulas daquele dia não fossem um caos.

— Eu não estou acreditando que vou ter que assistir aula com você... — reclamou irritado e de maneira grosseira — E ainda por cima estou com fome!

Castiel só sabia reclamar e se sentir incomodado. Sentia como se fosse um alienígena e como se todos o estivessem observando. Aquilo era um pesadelo do qual ele não conseguia despertar. Quase nunca se sentia ansioso daquela maneira, deslocado e como um idiota. Sentiu um olhar em especial queimando sobre si, e avistou Armin. Aquilo o fez erguer as sobrancelhas e olhar para Nathaniel, que se comportava como se sentasse ali sempre, sendo que agora estava em claro que seu lugar era ao lado do (surpreendentemente) amigo gamer.

— Aquele ali é o Armin? — se fez de desentendido.

Não que quisesse sentar-se com o antigo colega de sala, mas gostava de confrontar as atitudes fora do padrão de Nathaniel. Eles pareciam mais parecidos quando o loiro se comportava diferente do que era normalmente.

O aquariano, por sua vez, apenas rolou os olhos. Estava demorando para que Castiel começasse a reclamar, já estava até desconfiando.

Talvez agora o ruivo sentisse na pele o que ele passava todo os dias enfurnado naquela sala de aula, junto com várias outras pessoas, que ele nem sequer conversava.

— Eu também estou com fome, ranzinza. Mas teremos que esperar. — Nathaniel mostrou-lhe a língua, sentindo-se extremamente infantil depois — E sim, é o Armin. Ele foi o único com quem mantive contato depois do ensino médio. — deu de ombros.

Castiel segurou a risada perante a atitude nada esperada do loiro. Nathaniel era realmente uma caixinha de surpresas inesperadamente fofa. Era tão estranho pensar nisso que deu arrepios ao ruivo.

— Ok, isso é realmente esquisito. — se referiu aos dois acontecimentos, mas falou de modo que o loiro entendesse apenas sobre Armin — Tipo... Vocês dois não tem nada a ver um com o outro. Porque o Armin...?

— Armin é uma boa pessoa, é alguém espontâneo e divertido. Apesar de sermos bem diferentes, nos damos bem e nos entendemos. A companhia dele me deixa mais relaxado e eu esqueço um pouco do mundo real. — explicou pacientemente, olhando para Armin sem que o mesmo percebesse.

O moreno de olhos azuis realmente era um bom amigo. Apesar de ser distraído e zoar com praticamente tudo, ele sabia a hora certa de parar e falar sério. Nathaniel quase não acreditou quando ele disse que cursaria Letras também. Achou que Armin faria Design, ou algo do tipo, já que era fissurado em vídeo games.

O geminiano havia crescido bastante e apesar de não parecer, amadureceu também. O loiro não negaria que Armin era um homem bonito. Mas não conseguia se ver tendo algo com ele e Armin pensava o mesmo. Eram apenas bons amigos.

Castiel olhou-o um pouco desconfiado. Se via Armin com tão bons olhos, porque nunca conseguia vê-lo assim também? Era difícil entender certas coisas, principalmente se a pessoa de quem elas partiam era Nathaniel.

O ruivo ficava tão confuso...!

O burburinho dentro da sala parou num repente, e Castiel avistou uma professora de altura mediana e cabelos muito loiros adentrá-la. Ela possuía uma face agradável e olhos cansados. Sorria de uma maneira certamente confortante e trajava roupas elegantes e coloridas, além de uma bolsa de couro marrom da qual tirara vários e pesados livros.

Ela parecia muito serena e essencialmente boa, apesar de ter uma postura rigorosa. Combinava bastante com Nathaniel. Por falar no loiro, Castiel espiou-o pelo canto do olho e o observou se endireitar na mesa, com os olhos brilhando em expectativa. Ele escreveu no topo do caderno "Estudos Literários", e Castiel encostou-se na cadeira com certo tédio, já esperando uma aula chata e de dar sono. Pelo menos ali era confortável para dormir, isso lembrava-o dos tempos da escola.

Certamente nostálgico.

— Caros... Como passaram a semana? — ela sorriu engraçado e juntou as mãos — Espero que consigam aguentar a aula de hoje, preparei muito para vocês.

“Aguentar...? É impossível desviar os olhos de você enquanto fala...”

Ela era muito modesta, apesar de firme e elegante, e Nathaniel a adorava de uma maneira que ninguém mais entendia. Era a dona de seus trabalhos mais queridos e promissores, e uma das pessoas que mais o inspiravam.

Ela era praticamente uma deusa!

— Hoje vamos trabalhar som e signo na poesia... Talvez tenham visto bastante sobre isso em outras matérias do curso, mas como ele ganha significado na literatura? — seu sorriso aumentou e ela riu — Significado... Muitas vezes um signo não possuí significado.

Nathaniel riu com a piadinha e observou um Castiel muito confuso ao seu lado. Sua cara era impagável.

— Essa doida por algum acaso tá falando de astrologia na aula? — perguntou embasbacado, o que arrancou uma risada estrangulada e um suspiro do loiro.

— O signo aqui é diferente, ela está falando sobre o símbolo que você usa para identificar e escrever certa palavra... São tipo as letras e o que sai da sua boca quando você produz uma palavra. — explicou com certa didática — Ela vai explicar como isso funciona na poesia, que é algo mais abstrato.

Castiel olhou-o confuso e direcionou o olhar novamente à professora que falava.

— Vamos tratar de como o signo funciona na poesia, e como o poeta utiliza-se dele para criar certos efeitos desejados... Como quando lemos um poema e ouvimos um certo cantar em nossos ouvidos. Os signos compõem a musicalidade do poema. — ela explicou, anotando algumas palavras aleatórias na lousa — O ritmo só existe porque o poeta o compôs. Vimos isso lendo o poema "O Corvo" de Poe, e vocês compararam as traduções para o francês e perceberam a mudança que ela tem para o inglês.

Todos assentiram, e Castiel começou a tentar absorver o conteúdo. Estava se sentindo mais confuso e deslocado do que nunca, e ficou com certo receio quando a professora rabiscou na lousa duas figuras distintas e esquisitas.

A primeira era toda ondulada, cheia de voltas. Rabiscos levemente circulares e embaralhados na lousa branca da universidade. Já a segunda eram linhas retas quase que picotadas, que viravam bruscamente umas nas outras e se interrompiam também de maneira brusca e retilínea.

— Meleuma. — a professora encheu a boca para falar, e tornou a repetir — Meleuma. A qual figura vocês associariam essa palavra?

— A curvilínea. — Nathaniel respondeu, enquanto anotava — Porque a palavra é um tanto redonda, o movimento feito com a boca para falá-la me lembra esse desenho.

— Corretíssimo. — ela apontou para o loiro — E quando a Pictot? Pictot. A qual desenho ela te remete?

— Ao reto. — o loiro sorriu — É picotado. Pictot. Duro como linhas retas.

Castiel nunca achou que isso aconteceria, mas de repente as palavras de Nathaniel fizeram muito sentido em sua cabeça. Era confuso, certamente. Afinal, remeter palavras a desenhos e formas aleatórias...

Peraí... Já não fazia nenhum sentido...

— Para entender melhor, vamos fazer um experimento linguístico simples. — ela ajeitou os cabelos lisos e fez um movimento um tanto teatral — Olhem para o colega que se encontra ao lado de vocês... Vamos, olhem! Não tenham medo, me ajudem com isso!

Os dois se viraram um pouco desajeitados na cadeira, já que estavam sobrando um pouco na sala de aula. Olharam-se rapidamente e se perguntaram sobre o que viria em seguida.

— Agora, vamos observar o movimento dos lábios ao falar as palavras "meleuma" e "pictot". Isso vai clarificar as coisas nas cabecinhas um tanto confusas de vocês. — ela reforçou os desenhos na lousa — Vamos lá! Comecem com meleuma.

Nathaniel respirou fundo, contando mentalmente até três e se virando por completo para Castiel. Suas mãos tremiam um pouco devido ao nervosismo pelo que fariam a seguir, mas tentou ignorá-las da melhor maneira possível.

Se soubesse que fariam aquilo na aula de hoje, jamais traria o ruivo consigo. Agora já não havia mais volta.

O loiro notou que Castiel não lhe olhava diretamente e rolou os olhos, enquanto segurava o rosto um tanto (surpreendentemente) vermelho do outro e o virava em sua direção.

— Preciso que olhe para a minha boca. — repetiu o que a professora dissera — Sem gracinhas. — advertiu.

Somente quando o olhar do leonino desceu até seus lábios, foi que Nathaniel coçou a garganta, tomando coragem. Aquele olhar sobre si era constrangedor. Muito constrangedor.

— Meleuma. — disse calmamente, querendo que Castiel compreende-se — Meleuma. — repetiu apenas para ter certeza.

Castiel apenas se sentia... Argh...

Tão envergonhado.

Aquela era uma aula idiota, com propósitos idiotas e desnecessários. Se sentia tão acanhado e não acreditava que aquilo era realmente um exercício. Era ridículo.

Ridículo!

Já havia tomado um susto com aquela idiotice, não conseguia impedir que seu sangue fervesse. Era exatamente constrangedor.

Agora encarava os lábios finos e vermelhinhos de Nathaniel. Percebeu que eles estavam um pouco rachados, provavelmente porque ele os mordia demais. Também tinha uma pequena ferida no canto inferior direito, fruto do soco de seu pai.

Ficou mais vermelho ainda, de raiva.

Observava a maneira como se mexiam seus lábios, e se surpreendeu ao constatar que fazia sentido sim o que a tal professora falara. Eles tinham certo movimento ondulado e um tanto mole... Pareciam macios...

Mas que porra estava pensando?!

Sacudiu levemente a cabeça e não conseguiu se livrar do leve estado hipnótico em que se encontrava, acabando por repetir a palavra igual ao loiro, entretido com o fato de que este estava concentrado em sua boca também.

Tentou não ficar nervoso e lambeu levemente os lábios, repetindo mais uma vez, de maneira um tanto lasciva, a palavra proposta.

— Meleuma.

Nathaniel observou o ruivo repetir a palavra atentamente, prestando atenção em cada movimento que a boca dele fazia. Afinal, o loiro também precisava compreender (apesar de isso já ter acontecido).

Os lábios de Castiel eram finos assim como os seus, no entanto, o que os diferenciava era o fato de que o leonino possuía um coração perfeito no lábio superior. Era quase invisível, já que os lábios dele eram de cor nude, mas só quem chegava perto podia notar. Era um tanto engraçado até, porque era algo delicado em meio à toda aquela face constantemente emburrada de Castiel.

Instintivamente, o ex-representante de turma umedeceu sua boca também, sentindo a pequena ferida arder um pouco.

— Pictot. — deu continuação à atividade, mordendo o lábio inferior (do lado em que não estava machucado) ao fim da pronuncia.

As bochechas de Nathaniel eram um misto de coradas por causa do frio e por causa do que estavam fazendo também. E foi naquele momento que ele desejou ter seu cachecol ali, para encolher-se dentro dele e espantar aquele rubor.

Castiel tentou não grunhir perante aquela mordidinha que Nathaniel deu nos próprios lábios. Ele tentou, de verdade. Com todas as suas forças.

Mas foi inevitável.

Estava se sentido muito esquisito. Uma vontade gigantesca se apossou dele naquele momento, e ele nunca foi muito de controlar as suas vontades. Ele só ia lá e fazia. Fim de papo.

Mas ele simplesmente não podia...

Era o Nathaniel ali, passando necessidades, sozinho e machucado, no meio de uma aula de estudos literários em sua faculdade de Letras. Era absolutamente ridículo cogitar tocar aquele machucadinho na boca dele com seus próprios lábios.

Castiel se sentiu envergonhado, mas não desviou os olhos, e agora Nathaniel reproduzia formatos quase retos com a boca e ele se perdeu novamente, imaginando o quanto o loiro ficaria repudiado se soubesse de seus pensamentos.

Nathaniel notou que o ruivo parecia perdido em seus próprios pensamentos e franziu o cenho, observando como ele ficava aéreo.

A professora rabiscava algumas coisas na lousa e o aquariano sabia que elas eram importantes. Assim abriu o caderno, folheando-o até encontrar uma folha em branco. 

Antes de começar a copiar, o loiro sacudiu Castiel pelos ombros levemente, chamando sua atenção.

— Está tudo bem? — perguntou, encarando-o.

Não, está tudo na mais absoluta merda. Obrigado por perguntar, sempre atencioso.

Nathaniel que fosse tomar no cu.

Castiel apenas balançou a cabeça, juntou suas coisas e levantou-se discretamente para sair da sala. Precisava arejar um pouco a cabeça, porque estava com certeza ficando maluco.

Quando finalmente atingiu o ar gelado dos corredores, respirou bem fundo e começou a andar sem rumo pela universidade. Passeou pelos banheiros, entrou em salas vazias e por fim se deparou com o que parecia ser o gabinete do reitor.

Ao lado da porta imponente e gigantesca de carvalho (imponência essa que ele achou absolutamente desnecessária), ele se deparou com um quadro com todos os cursos da universidade.

Passou os dedos pelo curso de música e suspirou chateado. Não sabia porque insistia.

Lugares como aquele não eram lugares para ele.

***

Nathaniel só pôde arregalar os olhos e observar com surpresa quando Castiel ergueu-se da cadeira ao seu lado e retirou-se da sala sem ao menos pedir permissão. Ele havia feito ou dito algo errado? Provavelmente não, mas qualquer coisa já era o suficiente para tirar o ruivo do seu eixo.

O loiro rezou mentalmente para que ele não fizesse alguma besteira pelos corredores. Enquanto estivessem ali dentro, Nathaniel era responsável por Castiel.

A aula se seguiu tranquila, exatamente como nos outros dias. De vez em quando, o ex-representante podia sentir o olhar de Armin sobre si. Já podia imaginar que ele devia estar cheio de pontos de interrogação flutuando sobre sua cabeça e Nathaniel pretendia explicar tudo ao amigo. Assim que tivesse tempo.

Quando o intervalo chegou, o loiro andou apressado pelos corredores, ás vezes tropeçando nos pés de alguns alunos pelo caminho e desculpando-se rapidamente, até chegar em frente ao gabinete do reitor, onde encontrou Castiel observando o quadro de cursos. O último lhe olhou assim que notou sua presença. Os olhos cinzentos queimando em Nathaniel e o fazendo sentir-se intimidado, como na maioria das vezes em que estava na companhia do ruivo.

Bem, era agora ou nunca. Era questão de segundos até o reitor chegar ao seu gabinete e então Nathaniel finalmente poderia ter o seu lugar nos alojamentos. Ao menos era o que esperava.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

[Miss Daydream]: Recompensamos a demora com esse capítulo grandinho e essa cena de tensão MARAVILHOSA hein? O Castiel ficou mexido... Agora só falta Nath se ligar, porque um não quer dois não fazem né? Nath nota o Castiel pfvr
Meninas que ensinam Introdução aos Estudos Literários pela fanfic me add. Essa ideia veio no meio da minha aula (já que curso letras igual ao Nath hehe) e eu simplesmente não pude deixar de fora! Falei pra Night, conversamos e decidimos colocar, depois nos digam o que acharam, se ficou confuso ou algo assim, pra que alterações sejam feitas se necessário!
Um beijão e até o próximo, que se Deus quiser sai logo logo!

[LadyNightmare]: Castiel para Nathaniel: ME NOTA SENPAI!
Sim, Nathaniel está se fazendo de difícil. Não pode dar bobeira não u.u
Apesar do Castiel já ter mostrado que é uma boa pessoa e que sabe agir com maturidade quando preciso, o Nath ainda sim tem um pouco de receio com ele. Vai que o ruivo só tá sendo legal agora? Ele precisa sentir mais confiança com o Cast :v
Maaass, daqui em diante, a relação deles é dessa pra melhor u.u
Hmmm... Será que o reitor vai ceder um quartinho ao Nath? Serááá?

Obrigada a todos que leram, nos vemos nos comentários e um beijão!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Traços do Destino" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.