Daniel tinha passado dois meses viajando pela Europa, ele e os dois irmãos, Eduardo e Filipe. Foram dois meses bastante divertidos e ele preferia que aquelas férias não acabassem tão cedo, principalmente por que os pais queriam obrigá-lo a ir para “aquela escola estúpida”.

— Para de fazer drama, Daniel.

— Não me enche o saco, Filipe.

— Olha, você deveria ver o lado bom da coisa.

— Não existe um lado bom em ficar trancafiado num lugar cheio de gente que eu não conheço.

— Aí é que você se engana, maninho; o internato não é assim tão ruim como você imagina, não é Eduardo?

— Ah com certeza, se você for esperto, irmãozinho, você acaba até se divertindo.

— E com a vantagem de não ter papai e mamãe te controlando o tempo inteiro.

— Tá legal, quanto o papai tá pagando a vocês dois para me convencerem?

— Essa vai ser uma grande chance de você perder a virgindade, Daniel, então não faz drama, garoto!

— o que você quer dizer com isso?

— Ora, só Deus sabe o que acontece naquela escola! Foi lá que eu deflorei a Luminha — disse Eduardo com uma risada sonora.

— Você é um cara muito vulgar, Eduardo.

— Sit, Legolas! — Filipe disse quando o cachorro de Daniel entrou na sala; o cão labrador se encostou no sofá e Daniel afagou a cabeça do animal.

— Vem com o papai, vem! Ah moleque! — o cachorro pulou no sofá e deitou-se docilmente ao lado do dono.

— Sabe de uma coisa, Daniel, é por isso que você não pega ninguém.

Durante o jantar Daniel ainda tentou convencer os pais a não mandá-lo para outra escola, mas foi inútil e no fim ele teve que ceder. No dia seguinte estava de malas prontas. Despediu-se da mãe com um abraço frio e magoado, esperava que pelo menos ela ficasse do seu lado; e chorou ao se despedir de Legolas, com certeza ele sentiria sua falta.

— Você está fazendo parecer que isso é uma coisa negativa, Daniel — dizia Alberto, o pai do garoto, enquanto acompanhava o filho até a escola; os dois estavam sentados no avião, e Daniel virou a cara pra não encarar o pai. — Você sabe que eu e sua mãe só queremos o melhor para você, não sabe? — Daniel respirou fundo.

— Com licença — ele se levantou para ir ao banheiro e quando voltou sentou numa poltrona longe do pai. Será que ele não podia entender que a única coisa que eu queria era ficar em casa? E desde quando ele sabe o que é melhor pra mim? pensava. Passou o resto da viagem em silêncio, e fingiu que dormia quando Alberto tentou voltar a conversar.

Mesmo acostumado a riqueza — já que pertence a uma família de classe média alta — Daniel ficou surpreso com o colégio. Ele nunca esteve lá antes, embora os dois irmãos tenham estudado no Instituto Vidal antes dele.

O pai foi conversar com o diretor — Daniel achava que não poderia haver nada mais terrível no mundo do que o pai ser amigo do diretor. E Alberto era mesmo amigo de Cristóvão, desde quando eram jovens; os dois tinham servido juntos no exército, e foi em nome dessa amizade que Alberto tinha mandado os filhos estudar naquela escola.

Daniel não esperou para se despedir do pai e foi direto para o dormitório. Felizmente não tinha quase ninguém na escola ainda e ele pôde ficar sozinho. Não se preocupou em ler as regras da escola, nem mesmo saiu do quarto nos dois dias seguintes, exceto para ir ao refeitório comer alguma coisa. Quando os colegas de quarto — ou de cela — chegaram, ele não fez questão de ao menos parecer simpático.

Duvidava bastante que pudesse ser feliz naquela escola, para dizer a verdade, Daniel duvidava se seria feliz algum dia.