A Melodia da Sereia escrita por Pilar


Capítulo 4
Lendas


Notas iniciais do capítulo

Se gostar, me deixe saber. Esse capítulo é essencial para a história.



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Se eu acredito em sereias? Definitivamente não

— Não senhor, meu pai foi marinheiro, passou a vida toda no mar e sequer viu uma, acho que se realmente existissem, se fariam visíveis a nós.

— E aí que você se engana senhor Carter. – ele se inclinou para frente, como se fosse confidenciar um segredo - Apenas é preciso saber onde procura-las, e você achará. – De Graaf acomodou-se novamente na poltrona, o ar divertido ainda pairava em suas feições. Ele me dá arrepios— Seu pai era marujo da marinha britânica?

— Sim senhor.

— É provável que ele já tenha conhecido minha espada? - ele perguntou erguendo uma sobrancelha. Sério que ele quer saber se matou meu pai?

— Sinto que não senhor, mas é provável que ele tenha conhecido a de um de seus marujos – seu rosto se iluminou de interesse e fez um gesto com a mão para que eu continuasse – Há dez anos, houve um ataque similar a esse último no vilarejo, um ataque pirata. E na tentativa de nos salvar, ele se sacrificou, um dos marujos o matou. Dizem que o senhor que orquestrou o ataque.

— Dez anos? Possivelmente tenha sido eu. Tenho uma... Necessidade a ser cumprida a cada dez anos. – ele cruzou os dedos sobre o mapa, sorrindo. E que dentes horríveis.— Imagine Richard, você ser prisioneiro de algo maligno apenas por ter desejado viver. – É exatamente como estou me sentido, pensar é uma coisa, e é totalmente livre, desde que ninguém saiba o que penso, então apenas assenti esperando que ele continuasse. – É horrível, e eu e minha tripulação vivemos isso, incluindo os novos tripulantes, que acabam adquirindo essa... maldição – De Graaf me analisou, esperando que eu me abalasse, mas sinceramente aquilo parecia como uma das histórias bobas de um dos livros de Rebecca. – Cerca de cinquenta anos atrás, estávamos navegando por águas até então desconhecidas para nós, uma pequena ilha no centro do Atlântico. Já ouviu falar de Atlântida, meu jovem?

— Sim, capitão, uma cidade que misteriosamente foi naufragada, certo?

— Sim, e até hoje é um território incrivelmente perigoso para homens. Mas sabe o que realmente aconteceu? – neguei, um pouco intrigado – Os moradores de Atlântida eram amantes do mar, filho do deus dos rios, Aqueloo com a musa Melpôneme, até então, décadas se passaram na mais pura paz. Eram um povo bom e próspero, além de amante das artes, em especial, a música.

“Até que um dia a costa da ilha foi presenteada com uma menina, com cabelos castanhos e lisos, uma pele morena clara, similar ao queimado de sol, e os olhos mais negros já vistos, que se assemelha ao seu coração sombrio. O povo lhe adotou e deram a pequena o nome de Anfitrite. A garota cresceu, porém diferente de todos os atlântis, sentia aversão pelas artes.

“Poseidon, o deus dos Mares era apaixonado pela jovem, e a mesma fazia suas vontades, porém não o amava. O fato de ele ser um deus bastava para que ela fingisse afeto. E um dia, ele a obrigou a cantar.

“Assim que formou melodiosas palavras, o caos se instaurou: a ilha começou a afundar, mas nem todos se apavoravam. As mulheres corriam para todos os lados, mas os homens estavam hipnotizados e se lançaram ao mar sem sequer tomar consciência do que estava acontecendo.

“Anfitrite não parou. Adorou a sensação que o poder lhe proporcionava. Poseidon tentou impedi-la, mas não resistiu aos encantos de sua voz, assim como os outros homens e acabou caindo aos seus pés. Anfitrite forçou Poseidon a salvar as mulheres atlantis, tornando-as meio peixe, e assim como ela, tivessem o poder de hipnotizar homens, afinal não há maior destruição do que a de uma mulher.

“Porém houve um castigo inesperado, que a própria natureza causou: apesar de poderem manipular sua forma para se tornarem esbeltas damas, as sereias na realidade eram mulheres horríveis que viveriam como assassinas sugando a força vital de homens.

— Já está assustado senhor Carter – talvez eu estivesse um pouco, e por mais que meu rosto talvez transparece meu assombro, eu não confirmaria suas suspeitas.

— De modo algum, senhor.

— Em todo lugar, em todas as lendas e crenças de nosso mundo, as mulheres são e sempre serão a ruína dos homens sãos. Com um simples sorriso e seus encantos carnais são capaz de ferir e destruir qualquer homem que ultrapasse seu caminho. São seres sem escrúpulos, senhor Carter – ele realmente estava convicto disso e tentava me convencer disso. Porém eu convivi com mulheres toda a minha vida, e talvez as que piratas se envolvessem e que as lendas contavam fossem seres indecentes, mas nem todas são assim. E no fim de tudo, todas tem um bom coração, apenas por vezes, revolto em amargura. – Oh sim, - ele continuou – na primeira oportunidade que tiverem, lhe farão refém. Assim como fizeram comigo e meus homens - ele baixou seu olhar de modo... Triste? Um desconforto recaiu sobre a sala e eu me endireitei na poltrona. – Sereias são reais, senhor. Navegamos por águas desconhecidas, muitas vezes sem saber quando avistaremos o litoral novamente e em uma dessas viagens, após uma forte tempestade que pareceu durar dias, acabamos em um território amaldiçoado.

“O ar por si só arrepia e amedrontava meus homens, e até um pouco a mim. Havia algo de podre no ar. E de repente uma música doce começou a soar. “Venha a mim, doce marujo/Venha para onde nada morre/E a vida prevalece/Nos braços de sua dama”, e aos poucos, os homens foram se jogando um a um ao mar. Havia um rapaz, um padre ou pregador, prisioneiro nosso há alguns dias, e ele começou a orar à seu Deus, e algo estranho aconteceu: Os que ainda estavam no navio foram acordados do transe – inclusive eu, e as criaturas que cantavam, se calaram.

“O céu, antes azul, tornou-se escuridão. O navio começou a balançar ferozmente, como se tivesse sido pego por algo enorme. Então ela surgiu. Reverenciada pelas sereias a sua volta. Cabelos negros, olhos mais negros ainda, a pele morena, o olhar cruel, o rosto retorcido em fúria e os seios amostra. Sim, era Anfitrite, a deusa dos mares.

“- Capitão! Como resiste aos nossos encantos? – sua voz... Ela estava nos tentando meu jovem. Anfitrite era a mulher mais linda que meus olhos já puseram os olhos.

“- Um religioso, nos salvou. Não pode nos ferir, senhora.

“- Vocês são diferentes de outros cavalheiros, deixarei você viverem e até mesmo lhes darei um bônus: O que acha da vida eterna? – eu e minha tripulação nos animados, e ela sorriu astuta – A cada dez anos, traga no mínimo, dez homens para nosso território, para nos alimentar. E ainda lhe peço mais, atenderá a todos os meus chamados e vontades.

“Aquela era minha chance, garoto. E eu a agarrei. Zarpei o mais rápido que pude.

— Sou um cara amaldiçoado, congelado no tempo. A principio, pareceu uma boa ideia, mas cansamos disso, queremos de volta o ciclo natural das coisas. E é nesse momento que o senhor se mostra importante para nós!

— Como, capitão? – meu estômago estava começando a revirar e o medo a se instaurar em minhas entranhas.

— Você é corajoso, senhor Richard, provou isso matando Alvi. Então preciso que enfrente esses seres horríveis que são as sereias e capture uma, para que a mesma sirva de moeda de troca para Anfitrite nos liberar do acordo.


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Notas finais do capítulo

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