Meus Olhos Enxergam escrita por phmmoura


Capítulo 15
Meus Olhos 2 - Capítulo 04




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Eliza sentiu seu corpo inteiro ficar dormente.

Ela não soube se o homem dissera qualquer outra coisa; havia um zumbido em seu ouvido.

Sua respiração ficou rasa. Não importa o quanto tentasse, não conseguia controlá-la.

Ele sabe… esse policial sabe sobre “meus olhos enxergam” … ele sabe… sobre mim…

Bianca apertou a mão dela e deu um passo para frente, ficando entre o homem e sua namorada como um escudo.

— Quem você é?

— Como disse, meu nome é João Paulo. — Ele pegou um distintivo de seu bolso interno do paletó e mostrou para as meninas. — Sou do departamento de Casos Não Resolvidos.

— O distintivo parece de verdade… mas esse departamento… — A ruiva encarou o distintivo por um tempo.

— F-Fiquei sabendo pelo meu pai — murmurou Eliza, a garganta seca. — Às vezes eles pegam casos em andamento, mas nunca resolveram nada…

— Não é bem assim… mas acho que vamos ficar para sempre com essa fama. — O policial mostrou um amarelo sorriso enquanto guardava o distintivo.

— Olha, não ligo pra quem seja, mas não sabemos nada sobre “meus olhos enxergam” — disse Bianca, sua voz prestes a deixar toda a educação de lado.

— Na verdade, temos provas de que as duas estão envolvidas com “Meus olhos” — disse o policial com um tom amigável.

— Nos recusamos a dizer qualquer coisa sem um mandado. Agora, vá embora, por favor. — A ruiva semicerrou os olhos.

Eu avisei que elas não iam falar se você aparecesse assim, uma voz alegre ecoou em volta de Eliza. A voz riu. Eu avisei, mas, não, você não me ouviu. Não importa qual seja a situação, você parece suspeito demais!

A garota colocou as duas mãos na cabeça e olhou em volta. De onde vem essa voz?

Bianca olhou em volta também. Então não tô imaginando coisas, pensou Eliza.

Mostre pra elas. É a única forma de fazê-las ao menos te ouvir. Ah, vai, não tem ninguém perto dos três agora, disse a voz, animada demais, por algum motivo.

O policial respirou fundo e suspirou, colocando ambas as mãos nos bolsos. No instante seguinte, ele desapareceu em pleno ar com um som estranho.

Antes que Eliza piscasse e tentasse entender o que aconteceu, houve outro som estranho atrás das meninas.

Quando se viraram, o policial estava lá.

Como ele…? Antes que Eliza tivesse tempo de terminar a pergunta em sua mente, ele desapareceu de novo.

No instante seguinte, estava de volta à sua posição inicial.

Ele tem uma habilidade sobrenatural que nem eu, percebeu a garota, engolindo em seco.

— Poderiam me ouvir agora? — ele perguntou em voz baixa.

Bianca pressionou os lábios e se virou para Eliza.

Apesar do seu nervosismo, ela assentiu, apertando a mão da ruiva para reunir coragem.

Bianca gesticulou para que o homem sentasse. Ele sentou na poltrona enquanto as meninas sentaram no sofá, a ruiva entre a namorada e o policial.

Apesar da situação, Eliza não conseguiu se impedir de sorrir ao se sentir protegida. Embora esteja tão preocupada quanto eu, ela me protege assim, pensou, acariciando a mão da namorada.

Bianca apertou a mão, em retribuição, sem tirar os olhos do policial o tempo todo.

Ah, ela te ama mesmo, a mesma voz de antes ecoou em sua cabeça. É tão fofo. Eu queria ter uma namorada como a sua.

Eliza se virou de novo. Não havia ninguém na sala além do policial e as duas. Será que tem alguém invisível aqui com a gente…? Mas essa voz não parece estar falando comigo… tá mais como se estivesse ecoando dentro da minha cabeça…

Certa resposta! Pode escolher seu prêmio agora, disse a voz sem esconder sua felicidade. As pessoas demoram mais pra entender. Normalmente elas fingem que não podem ouvir. É bem triste. Especialmente quando fico agindo feito fantasma.

Eliza não fazia ideia de como reagir. Ela só piscou, surpresa.

O homem soltou um suspiro cansado.

— Ele está falando com você agora?

— S-Sim…

O policial fechou os olhos e soltou um suspiro cansado.

— Peço desculpas por ele. É um novato e não sabe que precisa ficar calado por um instante — murmurou ele, especialmente no final, pressionando a têmpora.

Ele tá brabo mesmo com essa voz, pensou Eliza.

— Do que ele tá falando? — perguntou Bianca, em voz baixa. — Tem alguém falando com você?

— É… espera… você não ouviu uma voz… na sua cabeça…?

— Sim, lá na porta. Você ouviu também? — A ruiva arregalou os olhos.

— A mesma voz estava falando comigo agorinha. — Eliza assentiu.

Bianca ficou quieta por um instante, pressionando os lábios.

— Um telepata — murmurou.

Pin pon, resposta certa! A voz soltou uma risada jovial. Eu sabia que as duas iam entender, mas nunca pensei que seria tão rápido! Vocês são arretadas, meninas.

Eliza encarou Bianca, que assentiu logo. Então ela ouviu também…

O policial tossiu ruidosamente para chamar a atenção de volta a si.

Desculpa… É que não consigo me conter quando falo com alguém da minha idade e com poderes também, disse a voz. Eu meio que perco a noção…

— Você nunca teve noção… — O policial fechou os olhos e respirou fundo. — Agora, de volta ao que interessa…

— O que você sabe sobre “Meus olhos enxergam”? — perguntou Bianca antes que ele continuasse.

Ele encarou a ruiva por um instante.

— Sabemos que é a senhorita Eliza e, mais importante, como ela obteve toda aquela informação.

Também sabemos o motivo pelo qual ela passou por tudo aquilo. A Eliza te ama muito, Bianca, a voz do telepata ecoou ao redor deles, novamente, toda alegre.

Eliza corou e sorriu enquanto as maçãs do rosto da ruiva ficaram vermelhas. Apesar da vergonha, ela entrelaçou seus dedos com os de Bianca.

— Mesmo com o telepata, não teria como conseguir essa informação a menos que lesse a mente dela… então foi alguém com outro poder — disse Bianca em voz baixa, mais para si do que para os outros. — Alguém com psicometria…

O policial sorriu e assentiu, levemente surpreso.

— Isso mesmo. Tem uma associada do departamento com psicometria. Graças a ela, descobrimos a verdade sobre “Meus olhos enxergam”.

Apesar de saber da situação em que estavam, Eliza se sentia orgulhosa por sua namorada. Essa sim é a minha nerd. É incrível como saiba de todas essas coisas de poderes… Eu nem fazia ideia…

Bianca ficou quieta.

— Eu entendi como você descobriu. Mas por que veio? O que quer de “Meus olhos”?

Eu falei que ela iria direto ao ponto! Você me deve uma agora, a voz do telepata ecoou na mente de Eliza.

Enquanto olhava em volta, a garota logo soube, ela não foi a única a ouvir a voz.

Bianca parecia estar contendo um sorriso orgulhoso.

O policial parecia estar contendo a sua raiva, por outro lado.

É incrível o quanto você o irrita, pensou Eliza.

Ele age assim, mas eu sei o que está pensando. Se não fosse por mim, a conversa não teria andado.

É… o rosto dele não entrega isso.

Mas é o que ele está pensando. Pode confiar, projetou o telepata na mente dela.

— Indo direto ao ponto, então. Nós precisamos da ajuda de “Meus olhos” — disse o policial assim que controlou sua raiva. — Acreditamos que exista um artefato perigoso que está sendo transportado às escondidas neste estado. — Ele fechou a mão por um instante, respirando fundo. — Acreditamos, também, que já descobrimos o local da troca, mas, se qualquer evidência física, seria perigoso se atacássemos.

— Como assim, evidência física? — perguntou Eliza. — Se já sabe o local…

— As pessoas que estamos atrás não deixaram qualquer evidência. Temos essa informação, mas pode ser falsa. Precisamos que alguém confira antes que possamos agir.

— Vocês não tem um telepata? Ele deve conseguir qualquer prova — interrompeu Bianca. — Não vejo o motivo para envolverem a Eliza nisso.

— Infelizmente, eles já se preparam para isso. Estão com pessoas e artefatos que podem bloquear o poder dele em uma determinada distância. E, até o momento, não conseguimos pegá-los em flagrante.

— Vocês querem o poder da Eliza para o que, exatamente?

— Precisamos que ela observe e nos informe se o artefato que estamos procurando vai estar mesmo no local de troca. Com ela para confirmar, podemos saber se não estamos caindo em uma armadilha.

— É tudo que precisam? — perguntou Eliza, pressionando os lábios. Se for só isso, eu dou conta… mas meu poderes agora…

Temos ciência de que seus poderes não voltaram por completo ainda. Eu li a sua mente no instante em que você entrou no alcance dos meus poderes e informei ao JP, disse o telepata.

Ei, isso não é rude? Invadir os pensamentos pessoais dos outros, reclamou Eliza em sua mente.

Que nem você fazia antes de encontrar a Bianca? Você é pior do que eu, já que eu não posso controlar meus poderes tanto quanto você.

A garota ficou quieta. Droga… ele me pegou…

— Sim. É tudo que precisamos — disse o policial, sem saber da conversa que ela tinha com o telepata. — Poderia nos emprestar os seus poderes, por favor?

— Espera um pouco. Tem muito que precisamos saber antes disso — disse Bianca. — Ela vai estar a salvo? Pode se certificar de que não vão descobrir a identidade dela?

— Vamos nos certificar de que nada aconteça com ela. — Ele acalmou a ruiva. — Tudo que precisamos é que ela confirme que o artefato está lá.

— Eh… o telepata já avisou, mas vocês sabem da situação dos meus poderes, né?

— Não estão em condição plena ainda, de fato. Mesmo assim, se puder ver em uma área de três quilômetros, será o bastante para nós.

Três quilômetros… preciso confirmar, mas acho que está dentro do meu limite atual…

Com tudo desde a descoberta da corrupção do governo e sendo internada no hospital, Eliza não tinha conseguido usar muito seus poderes. Só para dar umas espiadas na Bianca… Mas minha visão não tá embaçada mais…

— Poderiam me deixar pensar nisso primeiro? — disse ela após um tempo.

Bianca se virou para ela. Embora parecesse ter muito a dizer, ela ficou quieta.

— Claro. A troca acontecerá nesta sexta à tarde. Por favor, me diga até quinta-feira à noite para podermos fazer todas as preparações necessárias. Aqui está o meu número. — Ele entregou um cartão a ela antes de se levantar. — Obrigado por sua atenção.

Foi bom conhecer vocês, disse o telepata. Depois ele riu. Embora não tenhamos nos encontrado de fato. Mas a gente vai, caso decida nos ajudar.

O policial acenou a cabeça para as duas e abotoou seu casaco. Depois ele desapareceu com aquele estranho barulho.

Bianca arregalou os olhos e se virou para Eliza.

A garota soube de uma vez o que a namorada queria. Ela encarou a parede na direção da rua e se concentrou.

A parede tremeu e depois ficou transparente. Eliza manteve o foco, sua visão passou o cenário perante ela enquanto olhava a parede.

— Lá… posso vê-lo…

Em um discreto carro cinza, a garota viu o policial negro que estava na frente delas segundos atrás sentado no assento do motorista. Ao lado dele estava um garoto de cabelo castanho, falando animado. Então ele se virou na direção de Eliza, sorriu e acenou.

E aí.

— Então você é o telepata — disse ela em voz alta.

O garoto assentiu e fez joinha para ela.

No instante seguinte, o policial virou sua cabeça também. Ele olhou para onde a garota estava, embora não tivesse acertado a direção. Quando assentiu com uma expressão séria, o telepata não pôde parar de rir.

Eliza não conteve sua própria risada. Tais fazendo ele olhar pra a direção errada de propósito?

Sim… Ele fica bravo com tanta facilidade que é difícil parar.

Eliza assistiu enquanto o policial respirava fundo e se afastava.

— Eles foram embora.

— Vamos mesmo fazer isso? — perguntou Bianca, sem esconder o quão preocupada estava.

Eliza olhou nos olhos dela.

— Sendo sincera, não sei… Entendo que pode ser perigoso… mas…

— Mas o quê…? — apressou a ruiva quando ela ficou quieta.

— É uma forma de usar meus poderes para o bem novamente…

Bianca pressionou os lábios, ficando quieta.

Ela quer falar muita coisa…

— Não é como se eu tivesse decidido… Vou pensar nisso com calma…

— Tá bom…

— Ei, e se eu decidir ajudá-los, prometo que não vou exagerar e desmaiar de novo. Não consigo imaginar o que ia acontecer se minha mãe nos pegasse juntas no hospital de novo — brincou Eliza, forçando um sorriso.

Bianca sorriu também, embora fosse seu sorriso menor que o de sua namorada.

Eliza segurou a mão da namorada.

— Em vez disso, vamos comer algo. Estou faminta.

 — Tudo bem…


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