Tudo É Cinza escrita por Fanatic


Capítulo 1
O Resto É Passado


Notas iniciais do capítulo

Bem, quero que saibam que o primeiro capítulo será contado na visão de George, mas será apenas esse.

Todos os capítulos serão mantidos na média de 3800 palavras, mas por favor não desistam de mim. Eu imploro.



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Há pessoas que dizem que a vida é algo para ser positivo, que felicidade é uma questão de apenas ser e não se deixar abalar pelas coisas que o cerca. Existem também aqueles que dizem que a vida é uma montanha-russa, cheia de altos e baixos e que no fim ninguém sabe onde vai parar. Apenas se deixam guiar e esperam que seja em algum lugar bom. George pensava que a vida podia ser programada, até ser surpreendido pela notícia de que sua mãe adoeceu gravemente. Então ele percebeu a verdadeira face da vida, sua forma selvagem e imprevisível.

Era um dia primaveril e ensolarado quando George estava sentado em sua mesa, organizando seus pertences do trabalho. Com um suspiro desanimado, levou sua mão até sua cabeça e apoiou-se em seu braço. A sala escura parecia ainda mais triste devido a notícia que ele recebera naquela tarde. O quadro ainda havia suas anotações sobre a Segunda Guerra Mundial e suas consequências.

Suspirou, levantando da cadeira e indo até a janela. O lado de fora estava escurecendo e parecia que ia cair uma chuva forte em breve. Ele se sentia tão preocupado com sua mãe que nem consiga demostrar algum sentimento.

— George! —  Alguém o chamou no corredor e bateu na porta.

— Está aberta, entre, por favor. — Disse sem se virar.

— Você tem nosso total apoio, mas não demore, por favor. Tem um grande valor para nós, os alunos gostam de você. — Disse a diretora, sentando numa cadeira próxima a ele.

— Não passarei de dois meses, não quero abusar de sua amizade. — George se virou.

— Vai dar tudo certo, ela vai ficar boa. É apenas uma baixa imunológica. Com certeza Anne ainda tem alguns bons anos de vida.

— Espero que sim. Vou ter que falar com meu irmão, faz quanto tempo que não falo com ele? Sete anos, eu acho. — Ele lembrou de sua infância, quando brincava de super-herói com seu irmão mais novo, e não evitou um pequeno sorriso. — Não sei por que parei de falar com ele.

— Tome seu tempo para avisá-lo. Só... se cuida, ok? — Ela ocultou o sentimento verdadeiro da frase, mas ele entendeu que talvez seria bom esperar o pior.

~'~'~'

Depois de quase meia hora, já estava em casa. Foi até o banheiro e lavou o rosto. Tudo isso acontecendo fazia-o pensar que a vida é algo tão efêmero e limitado, como um trem-bala em que ele apenas estivesse observando a paisagem.

Depois de enrolar por alguns minutos, George pegou o celular e resolveu ligar para seu irmão e dar as más notícias.

— Theo. Desculpa chegar depois de tanto tempo com uma notícia dessa, mas a nossa mãe não está bem. — Contou, não deixando de hesitar durante as últimas palavras.

— Eu sei que ela ainda pode melhorar, mas é sempre bom se preparar. Você sabe como foi com o pai. — Ao lembrar de seu pai, um nervosismo surgiu dentro dele novamente.

— Sim, eu continuo odiando ele. Mesmo morto. Você sabe que ele me odiava também. — Ele olhou seu reflexo. — Eu sei que ele era meu pai e você sabe o que ele fez comigo! — George começou a aumentar o tom de voz.

— Me desculpe. Eu sei. Eu sei. A gente devia se falar mais, também sinto falta de você. Amanhã vou visitar nossa mãe. Ficarei lá por dois meses. Se algo acontecer, eu te ligo. Até mais. — Desligando o telefone, voltou para a sala e sentou no sofá.

As coisas estavam um pouco bagunçadas, mas ao menos suas malas estavam prontas. A casa estava um pouco escura, pois nunca foi de deixar várias lâmpadas acesas. Depois de assistir um filme, ele acabou dormindo no sofá. Acordou com seu gato miando no chão, mas não deu atenção. Depois de uns minutos, o gato saltou em seu rosto, fazendo-o levantar com o susto.

— Mas a ração está ali, maluco. — George andou, sonolento, até a vasilha cheia de ração e a sacudiu. O gato foi até sua comida, mas apenas cheirou e foi embora.

— Que idiota. — Reclamou, voltou e sentou no sofá. Só agora parou para pensar que sua mãe estava realmente mal. Um aperto surgiu em seu coração e ele abaixou a cabeça. No fundo, pedia a qualquer coisa para que ela vivesse, mas nunca foi do tipo religioso.

Novamente o gato começou a miar. — Nossa, o que você quer? — ele foi e abriu a porta de casa e o gato saiu para a rua.

~'~'~'

George já estava em seu carro, voltando para sua cidade natal. Deixou o gato com sua vizinha, pois não tinha como levá-lo no carro. Sempre teve esse pressentimento de que retornaria um dia para seu passado, mas não pensou que fosse ser de uma forma tão angustiante: pensando em sua mãe e se preocupando com o futuro. No fundo, sabia que ela poderia ficar bem, porém nunca soube lidar com esse ambiente triste que as doenças deixam. Porém, arrependia-se amargamente por ter se afastado tanto dela. Parando para pensar, foi uma burrice, pois a vida passa muito rápido para depender do “se”. Também se perguntava se havia alguém lá que não via faz tempo, talvez seu amigo de infância ainda estivesse lá. A cidade é grande.

A paisagem montanhosa atingia as nuvens mais baixas e as faziam arrastar pelo topo do relevo. A estrada estreita era bem cuidada e não havia problemas para dirigir. A vegetação era um pouco escassa, dando a sensação de que não chovia há algum tempo. Tudo isso era bom para se distrair um pouco, às vezes George perguntava-se como era morar num lugar como este. De fato, era um local tranquilo, mas tremendamente isolado, ele pensava. Depois de algumas horas, ele entrou na autoestrada.

A cidade foi surgindo no horizonte, seus prédios mais altos foram as primeiras coisas que ele avistou.  Apesar dele ter passado por várias outras pelo caminho, essa era tão familiar que se tornava fácil de discernir. Um sorriso surgiu brevemente em seu rosto, debaixo de sua barba. Foram tantas coisas vividas neste lugar, mas ele estava voltando com uma história totalmente nova. Nova, mas não boa.

A autoestrada acabou dando na avenida principal do centro, o comércio havia crescido ainda mais. Porém, o ambiente ainda era o mesmo. A maioria das mães querem criar seus filhos na tranquilidade do subúrbio, sem muito tráfego e com mais espaço para eles correrem, mas Joanne resolveu criá-lo no meio dessa bagunça com seu irmão. As pessoas andavam ocupadas de um lado ao outro, indo para seus respectivos trabalhos. Devia ser por volta de 13 horas.

Depois de dirigir mais um pouco, estacionou na frente de sua antiga casa. Era moderna, sua mãe nunca foi próxima a coisas antigas. Sua mãe cuidou muito bem da casa, ainda parecia que fora construída recentemente. A primeira pessoa que ele encontrou foi sua antiga vizinha. Ela ainda estava morando lá e o reconheceu imediatamente.

— Como você cresceu! A última vez que te vi você ainda tinha vinte anos e estava preocupado com o que ia fazer do futuro, mas veja só você agora! — Ela sorriu, abraçando-o.

— Como vai, sra. Katia? — Perguntou, retribuindo o abraço.

— Estou ótima, querido. Ainda se lembra de Ted? — Ela desvencilhou-se de George.

— Claro que lembro de meu melhor amigo. Apesar de estarmos um pouco distante, continuamos nos falando pela internet. — Ele respondeu, percebendo que não falava pessoalmente com seus antigos amigos há um bom tempo.

— Ele foi para Califórnia, o chamaram para um emprego bem remunerado lá. Alguma coisa com engenharia, nunca entendi direito. — Ela sorriu, parecia ter muito orgulho dele. Depois de alguns segundos de silêncio, ela puxou uma chave do bolso. — Te vi chegando, provavelmente está procurando por isso. Sua mãe costumava esquecer a chave, então me deixou uma reserva para esses momentos.

— Obrigado, Sra. Katia. Preciso ir agora, depois nos falamos mais. — Sorriu pegou a chave, indo até a porta da frente.

Tudo estava limpo, mas havia algumas coisas bagunçadas. Ela não teve tempo para limpar, não quando adoeceu tão subitamente. George resolveu fazer uma refeição, estava um bom tempo sem comer. A geladeira também estava cheia, indicando que a situação financeira de sua mãe estava boa. Depois de comer, levantou-se e foi até o hospital.

As coisas mudaram um pouco. Tem mais outdoors na rua e as luzes estão mais brilhantes. As pessoas ainda agem igual, apressadas e sem se comunicar uma com as outras. Mesmo assim ainda é possível ver alguns se cumprimentando, uns sorrisos nos rostos e também risadas dos mais novos. Era um pouco triste pensar que para alguns a vida não tem tanta importância além de trabalhar.

George passou pela grande porta do hospital e foi direto na recepção, levando o guarda-chuva que estava no banco de trás do carro. O céu estava nublando e provavelmente iria chover em breve.

— Onde fica o quarto 312? Ainda está aberto para visitas? Sou o filho dela. — Ele perguntou, colocando as duas mãos no balcão.

— Sim, preciso de identificação. — A recepcionista falou, olhando para suas mãos com desaprovação.

— Aqui está. — Ele tirou as mãos do balcão e entregou seu documento de identidade para ela.

— Terceiro andar, vire à direita e siga até achar a numeração. É bem fácil. — Ela devolveu a identificação a ele.

George subiu o elevador, inquieto e pensando em como as coisas estão. Pensava que deveria ter ficado mais tempo com sua mãe, pois não a via há 3 anos.

Virou à direita e vendo a numeração das portas.

— 310... 311... 312. Aqui. — Abriu a porta e viu sua mãe deitada na cama, dormindo. O quarto claro e sereno contrastava com o peso da cena. Ele não disse nada, apenas trouxe uma cadeira de plástico que estava encostada na parede e a trouxe para perto da cama e deixou o guarda-chuva encostado na parede. Sentando nela, ele segurou sua mão.

— Eu sei que devia estar perto de você, mas eu não podia. Agora eu posso. Eu não quero ficar sozinho. — O fato dele ser solteiro com 33 anos era um pouco estranho para ele, principalmente se levar em conta que todos seus amigos de infância estavam construindo uma família.

Ele pegou um livro numa pequena estante que ficava próxima à janela e começou a ler. Na verdade, o que ele queria era apenas passar um momento com sua mãe, mesmo que isso não fosse possível em breve. Mesmo odiando pensar isso, era possível que Anne fosse partir em breve. Com esse pensamento, ele abaixou sua cabeça na cama e acabou adormecendo de tanto cansaço.

Acordando subitamente, a primeira coisa que fez foi olhar o relógio. Dormiu por apenas trinta minutos, mas já era hora de ir.

~’~’~’~’~’~’

Uma garoa estava caindo, o chão então liberou um odor familiar de asfalto molhado. Era um cheiro que causava nostalgia, mas George não sabia exatamente do quê.

Andando até seu carro, ele percebeu que um homem mais novo que ele estava vindo apressado e sem guarda-chuva. Seus óculos embaçados pelas gotas de água dificultavam sua percepção.

— Para onde você está indo? — Perguntou George para o desconhecido.

— Obrigado, mas dá para ir sozinho. — Ele não parou para falar, pois estava apressado. Apenas virou o olhar e acenou para George. De repente, uma chuva forte começou a cair. Entrando no carro, ele dirigiu até chegar ao lado do outro.

— A chuva está forte, entre! — George abriu a porta do carro e o desconhecido ficou parado na porta. — Entra logo! — Fez sinal com a mão para que entrasse e ele obedeceu.

— Estou molhando seu banco, me desculpe. — Sorriu aliviado.

— Qual o seu nome? — George virou e o cumprimentou.

— Adam. — Ele riu, um pouco desconcertado. — Não costumo entrar em carros de desconhecido.

— Coincidência, não costumo dar carona para desconhecidos, mas você parece uma boa pessoa. — George tentou aliviar um pouco a tensão. Adam ainda não havia dito muita coisa. — Olha, estou dirigindo em linha reta, mas não tenho ideia de onde você quer ir.

— Desculpa! Me leva para o centro, por favor. — Ele pediu, olhando George nos olhos pelo retrovisor por um curto tempo.

— Eu moro um pouco antes do centro, mas te levo até lá.

— Não precisa, eu dou um jeito. Você vai acabar gastando gasolina à toa.

— Não tem problema. Estou aqui só de passagem e não usarei muito o carro.

— Entendo, e então, conhecendo a cidade?

— Visitando um parente. — George não se sentia confortável falando que sua mãe estava no hospital para um desconhecido, então ele resolveu omitir. Ele achou que Adam realmente parecia uma boa pessoa, mesmo que a primeira impressão às vezes enganasse, ele tinha um jeito pacífico que George gostava. O resto do caminho foi mais silencioso, ele apenas dirigiu. O outro estava no fundo. Adam apenas deu mais instruções do caminho para sua casa e George comentou algumas coisas que percebeu de novo na cidade.

— É aqui, obrigado. — George estacionou e destravou as portas.

— Obrigado. Sério mesmo, você salvou meus documentos. — Só agora ele percebeu que Adam estava com uma mala em suas mãos. Bem, ele devia estar voltando de seu escritório. Ele simplesmente abriu a porta e saiu. George começou a dirigir novamente, a porta fechou sozinha. Depois de alguns minutos ele percebeu que o banco traseiro estava um pouco molhado. — Droga. — Murmurou para si mesmo.

Depois de chegar em casa, escovou os dentes e foi direto para a cama. O único pensamento que o ocupava era que no dia seguinte iria ficar sem nada o que fazer. Tentava não pensar muito em sua mãe, apenas em coisas vagas para cair no sono rapidamente.

~’~’~’~’~’~’

George estava olhando a rua pela janela, entediado. Os programas da TV não o satisfaziam, ele era do tipo que se afogava nas séries que assistia. Todas estavam em hiatos. Decidiu ir dar uma volta, pegou seu guarda-chuva e saiu.

A rua estava um pouco vazia, depois do horário de pico as ruas se acalmavam novamente. Algumas pessoas andavam com sacolas pela rua molhada, cheia de prédios e sinaleiras. Virando para o lado, ele viu parque principal da cidade e resolveu ir até lá.

O parque estava um pouco vazio, era solitário, mas também tranquilo. Um ótimo lugar para organizar os pensamentos. George levou consigo um livro de fantasia para ler lá. Não ficou em casa pois acha que ler ao ar livre é melhor que ficar num lugar sozinho. Ainda mais agora, que ficaria pensando no que aconteceu com sua mãe. Todos os seus pensamentos giravam em torno dela agora.

O livro era interessante, apesar do seu jeito de pessoa intelectual, ele estava lendo Maze Runner. Não que apenas ignorantes lessem esse tipo de livro, mas o que esperam de gente como ele sempre é algo clássico e pesquisas científicas. Porém, nesse momento, tudo o que ele queria era relaxar e ler uma boa aventura.

Algum tempo passou e o sol estava forte, devia ser meio dia. As ruas começaram a encher e algumas pessoas chegavam no parque, maioria com algum lanche nas mãos. Outras apenas passavam para tomar um ar, mas George estava entretido em seu livro. Com o tempo a fome chegou e ele teve que se levantar para ir comer algo.

Foi até uma barraca que vendia cachorro-quente e resolveu comprar um. Ele sentou, colocou seu livro ao seu lado no banco e começou a comer. Estava bom, na opinião dele faltava apenas um pouco mais de molho.

Depois de comer, ele levantou e começou a se distanciar do banco. Indo em direção ao seu carro. Depois de entrar e fechar a porta do veículo, lembrou-se do livro.

— Merda! — George abriu a porta do carro e saiu correndo em direção ao banco. Havia uma pessoa sentada ao lado, segurando o livro e olhando a capa. Seu rosto estava coberto devido ao ângulo que ele o olhava.

— Creio que esse livro é seu... ah, é você! — Adam sorriu, devolvendo o livro para George.

— Que cidade pequena! Como foi sua noite? — George perguntou, sentando ao seu lado.

— O de sempre, eu dormi. — Ele sorriu com o canto da boca e evitou o contato visual com George.

— Eu devia ter perguntado se você está bem. — George respondeu, um pouco envergonhado.

— Estou ótimo, e você? — Adam olhou a capa do livro mais uma vez.

— Estou bem. É um bom livro, 'tô começando por agora, mas já está entretendo bastante.

— Gosto bastante dessa trilogia. — Falou, olhando rapidamente para o corpo do outro e voltando a olhar para o livro.

— Posso te perguntar uma coisa? — George o olhou diretamente, percebendo que ele tinha o olhado.

— Sim... eu acho. — Adam desconfiou que a pergunta o deixaria o clima embaraçoso.

— Não é por nada não, juro que não sei como não deixar isso estranho... Você está afim de mim, não é? — George perguntou, não conseguindo evitar rir diante da frase estranha que falou. Adam travou e demorou uns segundos para responder.

— Sim. — Respondeu um pouco alto, gaguejando.

— É que você não é meu tipo.

— Você é hétero?

— Na verdade eu não tenho tipo, sou assexual. Acho que você sabe o que é isso.

— Claro que sei. Que bom que você falou logo. Fica mais fácil conversar sabendo se vai rolar ou não. Nossa... o que é que eu falei? Me desculpa. — Adam colocou a mão no rosto e levantando.

— Acho que você precisa praticar mais sua abordagem. — George caçoou dele, rindo um pouco. — Bem, você trabalha onde?

— Programando numa empresa perto daqui do centro. —  Respondeu, tirando a mão do rosto e olhando para um restaurante que ficava em frente ao parque. — 'Tô morto de fome, vou ter que me despedir agora.

— Sim, preciso ir também. — George acenou para ele, que já estava andando até o estabelecimento. — Adam, aceita meu contato, caso queira conversar?  — Levantou e foi até ele.

— Sim. — Ele sorriu e entregou o celular, já desbloqueado, para George.

Depois de anotar seu número nos contatos, devolveu o celular. Adam sorriu e foi embora.

~’~’~’~’~’~’

George estava na banheira há 30 minutos, ele percebeu que não tinha muita coisa para fazer neste lugar. A única coisa que fazia o tempo passar era pensar em sua mãe e falar com ela quando podia visitá-la. Seus dedos estavam enrugados, era hora de sair da banheira.

Levantou-se e se enxugou. Foi até a sala e procurou alguma programação na televisão. Havia um filme de ação que iria passar 30 minutos depois. Resolveu ir se vestir, levantou e olhou para a janela. Uma mulher estava no prédio da frente, não dava para ver se ela estava o observando ou apenas passando. George foi, apressadamente, até a janela e a fechou. Perguntava a si mesmo quanto tempo passou procurando um filme. Do ângulo da janela, era possível ver toda a sala.

Depois de vestir-se, voltou para a sala e abriu a janela. Ninguém estava no prédio da frente, ele suspirou de alívio. O filme já estava começando, ele resolveu deitar e assistir. Tudo era tão clichê que ele se divertiu adivinhando as cenas seguintes ao invés de assistir.

Seu celular começou a tocar, só podia ser Adam. George se perguntou por que ele estava ligando meia-noite. Ao pegar o celular, percebeu que era seu irmão.

— Quem liga para alguém meia-noite sabendo que o Facebook existe? — George brincou, sentando novamente no sofá.

O tempo foi passando e os dois acabaram botando o papo em dia. Fazia um bom tempo que ele não fala com o irmão por mais de vinte minutos. Era irônico como tragédias aproximam pessoas. Na verdade, Theo ligou apenas para dizer que estaria chegando na cidade dois meses depois. Justificando que não dava para ir mais cedo por causa do trabalho.

— Vou ter que ir dormir agora, creio que já está tarde aí também. — George falou e esperou ele se despedir. Desligou o celular e a TV. Foi até o banheiro e percebeu que estava na hora de raspar sua barba, mas estava muito cansado para fazer isso naquela noite.

~’~’~’~’~’

Já se passou dois dias e Adam ainda não tinha ligado. Não era um problema para George, afinal, se ele não queria ligar, não tinha motivo para ligar. Mas falar com alguém mais seria bom, pois a única pessoa que mantinha uma conversa era a amiga de sua mãe, que morava no prédio da frente.

George aproveitou esse tempo para passar um momento a mais com Anne, toda manhã ele ia até lá e conversava um pouco com ela. Na maioria das vezes ele apenas falava. Uma enfermeira explicou para ele que sua mãe tinha câncer no estômago, daqueles realmente ruins. Sua mãe também o pedia para não se preocupar, pois em breve ela estaria voltando para casa.

Já era hora do almoço e ele resolveu ir ao mercado, pois tinha que repor algumas coisas na geladeira e aproveitou para comprar material para fazer sua sobremesa favorita, pudim.

O mercado mudou, estava mais tecnológico. Por estar no centro, continuava movimentado como sempre. Principalmente porque era um final de semana, onde as pessoas que trabalhavam a semana toda aproveitavam seu dia de descanso para repor seus mantimentos.

— Oi, George. — Adam pegou uma caixa de sabão da prateleira.

— Adam? Nossa, a gente se encontra demais! Onde é que você mora? — George riu com a coincidência e estendeu a mão para cumprimentá-lo.

— Uns dois quarteirões daqui. E você? — Adam apertou sua mão.

— É perto daqui, próximo ao parque central.

— Me desculpe por não ter ligado, é que quebrei meu celular. — Explicou-se, olhando para o caixa. — Preciso ir agora.

— O que acha de nos encontrarmos na cafeteria daqui do lado? De noite, se estiver livre.

— Claro, não estou ocupado. Te encontro lá às sete, ok?

— Certo. Até mais! — George acenou e voltou a colocar coisas em seu carrinho, mas primeiro olhou Adam ir até o caixa e pagar sua caixa de sabão. O olhar dos dois se cruzaram e ele sorriu antes de sair do estabelecimento.

~’~’~’~’~’~’

Apesar de ter olhado a cafeteria por fora, George não entrou. Ela continuava a mesma por dentro. As pessoas estavam comendo tranquilamente e o ambiente era acolhedor. Lembrava quando ele era adolescente e ia até lá apenas para se encontrar com seus amigos ou com sua namorada. Ele nunca quis namorar com ela, mas a pressão que seus amigos colocaram acabou influenciando para que aceitasse. Perguntava-se se isso era comum, mas provável que sim.

Não foi um relacionamento ruim, os dois se entendiam bastante. Até o término foi saudável e os dois mantiveram contato até que ela foi fazer faculdade no outro lado do país.

— Me atrasei, mas cheguei. — Adam sentou na cadeira à frente de George, despertando-o de seus pensamentos.

— Vinte minutos, mas ‘tá tudo bem. Vai pedir o quê? — Perguntou, vendo que o atendente já estava vindo até a mesa.

— Waffles, por favor. — Pediu para o atendente.

— Para mim também. E um café sem açúcar, por favor.

— Então são dois waffles e um café sem açúcar? — O atendente repassou o pedido.

— Exato. — George confirmou e ele saiu.

— E então, como é que uma pessoa chega do nada e quer conversar com um desconhecido? Nem um pouco suspeito. — Adam perguntou despretensiosamente, sorrindo com o canto da boca.

— Como é que um cara aceita sair com uma pessoa desconhecida? — George perguntou também, quase como se o desafiasse a continuar um jogo besta.

— Bem, você me pegou. Resolvi te dar uma chance. E você?

— Eu simplesmente não tenho amigos por aqui, resolvi criar uma nova amizade ao invés de ficar sozinho.

— Parece legal. Olha lá nossa comida. — Adam sorriu, mas George tinha quase certeza de que ele estava um pouco envergonhado.

— Parece estar ótimo. Aqui a gorjeta. — George entregou uma nota de 50 dólares para o atendente.

— Nossa, obrigado. — Ele foi embora.

— Você acabou de dar 50 dólares como gorjeta? Isso tudo não custou nem 25. — Adam falou, impressionado.

— Não tinha uma nota menor. Enfim, me fale um pouco de você.

— Não tem nada demais sobre mim, sou só uma pessoa normal que faz coisas normais. — Adam passou a mão na cabeça

— Histórias todos nós temos. — George sorriu e bebeu um pouco do café quente.

— Teve um dia que eu fui numa feira de cosplay com a minha amiga e tinha um garoto me olhando por um bom tempo. Eu estava fantasiado de uma personagem feminina. Com um cabelo grande e resolvi colocar algo para dar volume nos seios que nem tenho. Acontece que o garoto pensou que eu era menina e quase nos pegamos naquela convenção. — Adam riu um pouco.

— Nunca fui nessas coisas, sempre fui do tipo que ia para festas e acabava voltando depois dos amigos passarem vergonha depois de beber muito.

— Então você era paizão da turma? — Adam perguntou. — Realmente você tem cara dessas pessoas responsáveis que ficam cuidando dos outros.

— Tá me chamando de velho? — George riu, brincando. — Aposto que não sou nem 10 anos mais velho que você.

— Tenho 25, e você?

— 33. Nem 10 anos.

— Provavelmente a combinação da barba com a sua barriguinha te deixa mais velho. — Adam fez uma observação.

— Seus óculos te deixam mais velho também, te daria uns 27 anos fácil.

Os dois continuaram conversando por um bom tempo, mesmo depois de acabarem de comer. George percebeu que Adam era uma pessoa interessante e seria bom manter contato com ele.

Depois de duas horas, a cafeteria fechou e os dois foram para suas casas. George tomou banho e foi até a varanda do seu apartamento. Dava para ver toda a rua do andar que ele morava. Não havia estrelas no céu, a iluminação artificial ofuscava todas.

A mesma mulher de antes apareceu numa varanda do outro prédio e George acenou para ela. Ela acenou de volta e deu um gole na xícara que estava em sua outra mão.

Perguntava-se sobre o futuro, o que aconteceria se sua mãe morresse? Como é que as coisas ficariam? Ele não podia fazer nada, apenas esperar. Não sabia o que estava esperando, mas mesmo assim o fazia. Tudo o que queria era poder voltar no tempo e a ver sorrindo novamente mais uma vez.


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Notas finais do capítulo

Bem, esse foi o primeiro capítulo. O próximo estará disponível sábado, provavelmente meio dia. Espero que tenham gostado do capítulo e apreciado a leitura.

Por favor, comentem e digam o que acharam do capítulo, é de extrema importância para a evolução do escritor. E também é muito motivador receber comentários. ♥



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