Nova Iorque, 2017.

— Você só pode estar brincando. – Kate solta uma risada abafada.

Aquilo tudo mais parecia uma piada do que a vida real. Não podia está acontecendo.

— Não. – Richard lhe lança um sorriso charmoso. – mudei meu nome quando me desvencilhei da empresa da minha mãe.

— Você sabia que eu vinha. – Kate retruca.

Richard apenas dá os ombros ao mesmo tempo que dá mais um passo à frente, ficando mais perto da mulher. Kate ignora seus movimentos, olhando firme para o homem. Ele não a intimidava mais.

— Não posso negar que eu estava ansioso em te ver novamente. – a arrogância em suas palavras não disfarçava a sinceridade. Ele realmente queria vê-la. — não te vejo desde que você me abandonou para fugir com outro.

Kate o encara. Os olhos azuis ainda pareciam os mesmos, mas a magoa por trás deles os deixavam diferente. Ela tentou decifrar cada uma das suas expressões, mas não conseguiu. Aquele não era mais o Richard de antes.

Tudo tinha mudado a muito tempo, mas se ela parasse de pensar um segundo, era como voltar no tempo. Um tempo bom. Sem magoas. Sem brigas.

— Você quer mesmo falar disso agora? – ela pergunta firme, sem retirar seus olhos dos dele.

Richard estava perto demais, e quando se tratava deles, isso era perigoso. A atração sempre falava mais alto. Kate conseguia sentir o perfume dele, que parecia o mesmo de antes. Ela inspirou uma fragrância sutilmente amadeirada, que tomou conta de seu corpo por inteiro, quase fazendo-a perder o equilíbrio momentaneamente.

Como ela amava aquele cheiro.

Amava.

Passado.

— Não. – Richard responde ríspido depois de um tempo. Com um balançar de cabeça ele se afasta, dando um passo para trás. Internamente Kate lamenta, queria sentir um pouco mais de seu cheiro. – eu queria ter falado sobre isso sete anos atrás. – ele joga as palavras calmamente, mas com a mágoa sempre presente. – antes de você ter ido embora.

Kate sentiu seu coração se apertar.

Se ele soubesse de toda a verdade...

Mas a culpa não foi dela. Ela fugiu, admitia isso, mas ele também teve sua parcela de culpa. Ele disse coisas sobre ela que eram difíceis de se ouvir, principalmente de esquecer, ainda mais quando se ama tanto uma pessoa quanto ela o amava.

Richard a encarou por longos e torturantes minutos. Kate se sentiu incomodada com aquele par de olhos azuis brilhantes a encarando, mas mesmo assim manteve sua posição firme diante ao homem.

Os dois permaneceram parados no meio da sala espaçosa de Richard. Ao mesmo tempo que era grande, o lugar parecia pequeno para tanto ressentimento entre eles. Firmes, mantiveram o contato visual, demonstrando todo o controle que tinham, ou que pareciam ter.

Richard imaginou Kate em um tribunal. Ela daria rasteira em qualquer advogado ou testemunha durante um julgamento. O olhar firme dela lhe causava medo as vezes, imagina nos outros. Teve que esconder o sorriso em seus lábios ao lembrar do quanto ela poderia ser teimosa.

— Porque você foi embora, Kate? – ele perguntou calmo.

Kate congelou. Seus olhos ficaram vermelhos de raiva. Ele estava mesmo querendo falar sobre isso? Ele sabia muito bem porque ela foi embora! Apertou forte a alça de sua bolsa que segurava em suas mãos.

— Você sabe perfeitamente porque eu fui! – ela joga as palavras nele, perdendo totalmente o controle.

Esse era um assunto que nenhum dos dois precisava voltar. Era doloroso demais para relembrar.

— Não, eu não sei. – ele altera a voz. – eu quero que você me responda! Porque você foi embora, Kate?

Seu tom autoritário estava novamente ali. Kate rir e balança a cabeça negativamente, olhando para baixo. Seus olhos já começavam a entregar sua fraqueza de tão cheio d’água que estavam. Ela fungou e o encarou novamente, se negando e demonstrar sua fraqueza diante o homem que tanto a magoou.

Novamente eles permaneceram calados enquanto se encaravam. O duelo de olhares era nítido, e não precisavam de palavras para ter vencedor. Na verdade nem tinha vencedor. Richard tentava entende-la. Durante o tempo que estiveram juntos ele não conseguia entende-la, e agora não era muito diferente.

Seus olhos ainda diziam muita coisa, mas nada que ele conseguisse decifrar. Suas atitudes pareciam uma coisa, mas ela sempre estava querendo dizer outra. Kate era complicada, mas extraordinária.

E ainda assim, ele nunca a entenderia.

— Eu vou embora. – ela simplesmente e se virou, andando em direção a porta.

Inesperadamente, e a pegando totalmente desprevenida, Richard anda a passos largos e decididos em sua direção e a impedindo de sair. O baque da porta sendo batida com força a assustou. Ele permaneceu com sua mão espalmada na porta de madeira a segurando firme, sem dar chance de Kate sair.

As costas de Kate batem contra o peito de Richard quando ela recua. Sua respiração acelera mais do que ela queria. A respiração pesada de Richard atravessam seus fios cacheados e batem contra sua pele sensível. Seu corpo inteiro se arrepia. Ela tenta dar mais um passo para frente, mas suas pernas não obedecem.

Elas nunca obedecem quando eu preciso. Kate xinga em pensamento.

Richard inclina seu rosto e roça seu nariz nos cabelos castanhos. O cheiro ainda era o mesmo. Não importa quantos anos se passem, Kate sempre vai ter o cheiro de cereja em seus cabelos. Ele se permite fechar os olhos e viajar no tempo por alguns segundos, enquanto suas respirações pesadas se controlavam.

— Você não vai a lugar nenhum. – ele avisa com a voz rouca.

O sussurro autoritário no pé do ouvido de Kate a fez lembrar das noites de amor que tiveram. Sempre autoritário, Richard gostava de dar suas ordens enquanto faziam amor. Kate sentiu seu corpo se arrepiar ainda mais. Sua respiração entrecortada a entregou. Ele a conhecia o bastante para deixa-la excitada.

— Richard. – Kate o alerta em um sussurro quase inaudível quando a mão grande dele segurou firme sua cintura.

— Eu quero que você me conte o que eu fiz. – ele diz acariciando seus cabelos sedosos com o nariz. Ele estava embriagado com seu cheiro. Foi muito tempo longe do cheiro doce que só ela tinha.

Kate fecha os olhos e morde forte o lábio. Os toques dele ainda mexiam com ela da mesma maneira de sete anos a trás. Como isso pode acontecer depois de tantos anos? Ela ainda era atraída por ele da mesma forma. Era como se os anos não tivessem passado. Eles ainda pareciam o mesmo casal apaixonado e cheio de desejos de anos atrás.

Mas o tempo passou.

E tudo mudou.

— Você saber muito bem o que fez. – sem paciência para aquele papo de quem sabe o que, Richard segura firme sua cintura e a vira para ele. O corpo de Kate é jogado contra a porta enquanto ele a prendia entre seus braços. Suas mãos espalmada contra a porta de madeira.

Seus olhares se cruzaram tão intensamente que não era preciso ser dito mais nada. Os tinham suas respirações pesadas. O ar quente que saia de ambos batia um contra o rosto do outro. Todos os músculos do corpo de Kate estavam contraídos, entregues aos toques e provocações de Richard.

Ali tinha desejo e tesão reprimido por todos esses anos. Richard se inclinou para beijar os lábios entreabertos da morena, mas ela virou o rosto com o pouco de sanidade que ainda lhe restava.

Kate fechou os olhos ao escutar um pequeno gemido de lamento que ele fez. Engoliu seco, tentando controlar seu próprio instinto beija-lo.

— Não precisamos voltar a isso. – murmura.

— Kate... – ele roça seus lábios no rosto dela. Sua pele ainda era tão macia e desejosa como antes. Sua voz parecia um choramingo, e isso fez Kate se sentir péssima por dentro, mas manteve sua postura firme. – eu quero que você me lembre o que eu fiz. – ele quase implora.

Ela balança a cabeça negativamente, fechando seus olhos com força e se forçando para não deixar as lágrimas presas escaparem. Porque isso tudo?

— Porque você quer me fazer reviver tudo isso? – ela abre os olhos, mas permanecia de rosto virado para ele, evitando qualquer contato visual. – eu sofri, Rick.

Ao escutar ela lhe chamando pela forma carinhosa que sempre lhe chamava, Richard sentiu seu coração explodir em ressentimentos. Se ela sofreu, ele também sofreu. Foi ela quem o deixou. Foi ela quem decidiu tudo isso. Foi ela quem trilhou o caminho dos dois sem ao menos pedir a opinião dele. A culpa é toda dela. Assim ele pensava.

— Eu também sofri! – ele fala entre os dentes, tentando controlar suas emoções. – você foi embora, Kate. Você foi e me deixou... a gente tinha um plano, lembra? – segurando o queiro fino dela com força, ele a obriga a olha-lo. – foi você quem caiu fora.

— Eu era apenas um prostituta! – ela não conseguiu se conter e repetiu as palavras dele com desprezo.

Os olhos de Kate queimavam de tanta raiva. O brilho que vinha dele era apenas as lágrimas presas, que ela se recusava a deixar cair. Richard a encarou e, aos poucos, a força com que a segurava foi diminuindo. A suavidade em seu olhar era como voltar ao passado para Kate, mas ela estava com raiva demais para cair em suas armadilhas de sedução.

Sem que ele vinha com seu olhar culpado e pedia desculpas, ela desculpava. Mas agora era diferente. Ele já a magoou demais para merecer perdão agora.

— Você não era prostituta. – ele avisa sutil. Richard sabia que tinha falado aquelas palavras em algum momento do passado, mas não queria realmente dizer aquilo.  Agora ele se sentia culpado. Mas esse não era o único motivo para ela ter ido embora. Havia mais. Muito mais. E ele descobriria tudo.

Richard balança negativamente sua cabeça diante o olhar que Kate lhe transmitia. Ele não sabia muito bem o que aquilo significava, mas se fosse o que ele estava pensando, ele não queria que acontecesse.

Kate se mexe, tentando se afastar dele, mas Richard não deixa.

— Eu...

— Não... – ele pede, colando suas testas e fechando os olhos.

Silenciosamente, ele balança a cabeça, pedindo mais uma vez que ela não faça isso. Sua mão ainda acariciava o rosto de Kate. Ele não queria mais nada, apenas ficar com ela naquela mesma posição para o resto da vida. Não queria deixar ela sair novamente.

E se ela não voltasse?

E se ela o odiasse para sempre?

Antes ele só queria explicações. Agora ele só queria mantê-la ali, segura. Com ele. Ele sabia o que tinha acontecido na última vez em que a deixou vulnerável.

Ela se foi.

— Fica... – murmurou. – vamos conversar. – seu coração se apertava ao dizer aquelas palavras. Medo. E se ela não ficasse?

— Não. – Kate coloca a mão no peito dele e o afasta quando ele tenta tocar seus lábios com os dele novamente. – Rick, não... – ela deixa escapar mais uma vez o apelido carinhoso. – eu tenho que ir. Preciso ir visitar uma pessoa.

Ela espera, mas Richard não se move.

— Por favor... – pede da forma mais sutil possível.

Richard cerra os punhos com força e, contrariado, se afasta dela.

— Vai ver seu namoradinho? – ele joga abrido os olhos, que já não estavam tão doces quanto antes. Kate rir fraco.

— Um homem poderoso como você sabe que eu sou casada. – ela avisa e mostra sua mão com a aliança grossa de ouro.

Richard encara o objeto. Aquele era o símbolo proibido. Kate não o ama mais, se é que um dia amou. Ela agora é de outro.

— Porque você voltou, Kate? – ele pergunta firme, encarando a mulher.

Ela não sabia o que dizer. Ficou encarando os olhos azuis lhe intimidarem como antigamente, mas não disse nada.

— Você sabia que ia me encontrar aqui, então a pergunta certa é: você queria me ver ou não?

— Não. – ela responde baixo. – hoje não.

— Tem razão. – ele fala alto e se afasta dela. – um homem poderoso como eu sabe de muitas coisas. – ele arruma sua postura e ajeita sua gravata que estava torta. – mas saber não significar que eu me importe. Pelo contrário, eu não dou a mínima.

— Rick... – ela começa, mas para. Parecia involuntário essa palavra sair de sua boca.

Ele se vira imediatamente para ela.

— Para você é Castle. – diz firme.

Kate sorrir e assente. Pega sua bolsa no chão e para de frente a ele. Richard a encara. Sua mandíbula trincada. Era fácil para Kate reconhecer quando ele estava com ciúmes ou com raiva, a primeira coisa que ele fazia era erguer uma armadura a sua volta.

Mas isso não importa mais.

— Senhor Castle. – ela dá um leve aceno com a cabeça antes de sair.