Redemption escrita por Marimachan, Ginko13, Fujisaki D Nina


Capítulo 3
III - Faraway Eyes


Notas iniciais do capítulo

Oi, oi, oi, oi! E aê? Tudo tranquilo que nem grilo? Aqui estamos nós com mais um capítulo! Esperamos que gostem. ♥ Boa leitura! ;)
PS: um recadinho IMPORTANTE: pra quem não sabe, as palavras em azul contém os links para as imagens descritivas daquele trecho, geralmente são as imagens com as mudanças descritas. É só clicar em cima da palavra e vê-las, pra que possam imaginar melhor. ^^
~Marima
*~*~*~*
Olá senhoras e senhores, meus cumprimentos!
Capítulozinho de início de semana pra começar bem!
E como primeiro capítulo da Nina como autora de Redemption, darei meu BEM VINDA NINA!! (apesar de q ela já tá envolvida com a fic há tempos KKKKK)
Boa leitura pessoal ♡
~Ginko
*~*~*~*
Olá todo mundo! Para os que não me conhecem, sou a Nina, a autora que se de algum jeito se meteu nessa fanfic incrível com essas duas autoras que tanto amo. Para os que já me conheciam: como vocês estão? É bom estar de volta.
A todos, desejo uma boa leitura!
~Nina



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A urbanização já começava a dominar novamente, enquanto o trem seguia sem nada para impedi-lo. Sinceramente, não se sentia feliz de forma alguma por estar voltando à sua terra natal. Tinha de confessar, contudo, que estava louco para chegar de uma vez. Suas nádegas já reclamavam dolorosamente por ficar tantas horas sentado. Eram 6 horas totais de viagem, tendo poucas trocas de trem. Deu graças a Deus quando a voz masculina anunciou que chegariam à estação de Aokigahara em dez minutos.

A viagem havia sido realmente entediante e um verdadeiro inferno para o ex-yorozuya. Primeiro por conta da distância; segundo porque não tinha nada pra fazer além de ficar observando a paisagem externa passando diante de seus olhos, pelas amplas janelas de vidro, enquanto pedia os diferentes tipos de doces que a primeira classe oferecia — essa parte pelo menos compensava —, já que seu companheiro de viagem dificilmente dava ou puxava alguma conversa; e terceiro porque durante toda a viagem, sua mente simplesmente não conseguiu parar de pensar.

Uma mistura de todas as lembranças que possuía em Edo, boas e ruins, com a ideia de que talvez nunca mais os veria e outras lembranças, muito mais antigas, formavam um verdadeiro tsunami de diversos sentimentos controversos, os quais lutavam entre si. Naquele momento em especial, enquanto sentia a parte urbana de Aokigahara se aproximar cada vez mais, uma mescla de angústia, preocupação e medo o invadiam sem pedir permissão.

Aos poucos seu corpo parecia ir tomando consciência de que realmente estava voltando para aquele lugar — suas mãos úmidas e levemente tremidas demonstravam isso.  Lugar do qual fugira sua vida toda; lugar no qual não vivera qualquer boa lembrança. E ainda assim, ali estava ele, prestes a finalmente enfrentar seu passado, assumir uma vida completamente diferente da qual havia se adaptado nos últimos 20 anos. Muito perto de encarar o homem com o qual evitou todo e qualquer contato; de encarar seus pecados nos olhos de outra pessoa.

― Você pode apreciar a vista quando estivermos lá fora. — Sua atenção fora chamada por Kasai, que já esperava por ele, de pé no corredor.

Só então percebera que o trem havia parado e que já tinham chegado. Observando pela última vez a janela, levantou-se, seguindo o antigo mentor pelos corredores do transporte e em seguida pela estação.

Dali mesmo, da entrada do local público, já se podia observar ao longe a mansão da família que possuía Aokigahara sob seu domínio. O castelo, amplo e bem desenhado, se destacava dentre todas as construções espalhadas pela cidade. Os muitos andares interrompiam o céu, que àquela hora brilhava com o azul límpido e puro, enquanto a área verde que circundava a casa se contrastava com o ambiente, embora mais tranquilo que Edo, altamente urbanizado.

As pessoas andavam apressadas pra lá e pra cá, enquanto se ocupavam em conversas entusiasmadas, contrariando totalmente seu interior. Naquele instante, seu desejo era voltar para o trem dali mesmo e fugir daquele lugar, como fizera por todos aqueles anos. Seus sentimentos mais profundos e complexos, porém, não o permitiam.

Bastava de se esconder de sua própria história. Bastava de enganar a si mesmo. Bastava de fugir.

(...)

Após passarem pelo imenso jardim que rodeava o castelo e pedir que anunciassem sua chegada, Kasai, junto de Gintoki, finalmente adentrava o interior da construção feudal. Pelo caminho os servos o cumprimentavam respeitosamente, ao mesmo tempo em que percebiam, imensamente surpresos, de quem se tratava o samurai que o acompanhava. Preferiam não se pronunciar quanto ao assunto, contudo, provavelmente esperando que o mestre deles viesse anunciar qualquer coisa num futuro próximo.

Gintoki, por sua vez, não sabia se controlava a vontade de sair correndo daqueles cômodos sofisticadamente decorados ou se controlava o desejo de revirar os olhos cada vez que via uma expressão de absurda surpresa no rosto das pessoas que encontrava pelos corredores. Não se deu ao trabalho de observar de forma mais atenta os ambientes pelo qual passava, sabendo que teria tempo o suficiente para gravá-los em sua mente a partir daquele dia — o que não o animava em nada. Estivera, na realidade, no máximo duas ou três vezes naquela casa e ainda assim sentia como se o último lugar no mundo no qual desejava estar fosse aquele.

Depois de caminharem um bocado, chegaram a um cômodo amplo e iluminado, onde encontraram a primeira senhoria da casa. O corpo esguio era coberto pelo kimono feminino escuro, estampado em desenhos curvilíneos negros como seus cabelos, cortados retos, próximo à cintura, enquanto os olhos esmeraldas, puxados, sustentavam o olhar afiado e sóbrio. O rosto sem imperfeições não dizia jus aos 45 anos que carregava de vida; pelo contrário, pareciam demonstrar não mais que 30.

― Boa tarde, Karien—sama — Kasai cumprimentou se reverenciando educadamente.

― Boa tarde, Kasai — a voz leve, embora rígida e firme, respondeu também de forma educada. — Souichirou está lá em cima, no salão. Está a sua espera — informou já passando a seguir em direção às escadas em caracol, à sua direita, para guiá-los até o objetivo final.

Enquanto subiam, Gintoki deixou-se distrair por alguns instantes, observando os quadros e os objetos decorativos das paredes, que acompanhavam os corrimões pintados de forma que pareciam estar cobertos de ouro. Algumas das artes contavam breves histórias ou a jornada do clã, enquanto vários outros artefatos exibiam premiações, documentos e afins; tudo para deixar bem claro o poder e a importância da família para o território Komogaru.

Seikigahara era, assim como Edo até pouco tempo, um feudo, que se encontrava há muitas gerações sob domínio do Clã Komogaru, do qual o atual Xogum era Komogaru Yasaki. Mesmo com a invasão dos Amantos e a guerra Joui, o feudo não se deixara ser dominado pelo amplo desenvolvimento que os estrangeiros haviam trago para a Terra. Embora tivesse adquirido parte da tecnologia proporcionada pelos extraterrestres, jamais permitiram que lhes tomasse a característica fundamental do território: os costumes e o modo de vida antigo, milenar. Isso era tão evidente, que dentre os cidadãos que habitavam Seikigahara, menos de 20% eram constituídos de Amantos. Dessa forma, a cultura mudara em muito pouco no decorrer dos anos, assim como o modo que as pessoas levavam suas vidas. Ainda assim, Seikigahara era uma potência econômica de grande peso.

Quase um século antes, o território Komogaru fora dividido em diversas capitanias pelo próprio Xogum em exercício na época. A ideia era exatamente aumentar o desenvolvimento do território, tendo diversos aliados para auxiliá-lo no comando de seu povo. O clã permaneceu sediando Seikigahara em Kunnobi e então distribuiu o território em capitanias governadas por outros clãs que copunham seu Bakufu. Famílias de confiança, com quem o grande governador sabia que podia contar. Aokigahara, por sua vez, sempre se destacara no âmbito econômico do feudo, sendo que foi entregue aos cuidados do líder mais próximo de Kusaki — Xogum em exercício na época da divisão: Sakata Iori.

Iori foi um dos grandes responsáveis pelo crescimento exponencial da cidade. Governou a capitania com uma liderança impecável, bem como garantiu que as próximas gerações que ali nascessem tivessem certo padrão de vida que não era encontrado em qualquer lugar. Embora o clã Sakata sempre tivesse sido conhecido por governar aquelas terras à mãos de ferro, jamais deixaram de estabelecer qualidade de vida à seus cidadãos. Isso geralmente causava controversos sentimentos com relação à família: os Sakata eram respeitados e admirados, mas também temidos e intocáveis aos olhos dos que ali habitavam. Iori então, após alcançar a velhice, passou o posto para seu filho mais velho, Sakata Hashirou, que por sua vez passou para Sakata Souichirou, atual líder do clã e pai biológico de Gintoki.

O fato é que a influência econômica do território Komogaru era tão grande que, unido ao fato de Yasaki manter boas relações com todo o país — inclusive com o Imperador —, esse território permaneceu existindo da maneira que existia há séculos, sem sofrer qualquer tipo de mudança após a reforma política do Japão. O comércio entre o feudo e o restante do país, bem como suas relações diplomáticas eram livres e muito fomentados por ambas as partes, mas uma não se intrometia na política da outra. Dessa maneira, conseguiram manter a união do país e seu crescimento econômico exponencial — principalmente após a guerra, que quase o levou a falência.

― Abra a porta — Karien pediu firme aos dois soldados que zelavam pela entrada de um dos salões imensos.

A ordem foi imediatamente obedecida, não dando tempo à Gintoki para nem mesmo respirar melhor antes de encarar o grande cômodo levemente circular, no qual, ao fundo, se encontrava o líder dos Sakata, sentado em sua confortável cadeira.

O corpo magro, embora com músculos bem definidos, era escondido pelos trajes simples, ainda que elegantes, onde a parte superior em tons claros e o Hakama¹ cinza azulado, levemente escuro, carregando um tom leitoso, entravam em harmonia com os cabelos prateados-azulados, curtos, lisos, mas levemente desarrumados de forma natural. Os olhos castanhos escuros acompanhavam a neutralidade de suas linhas de expressão, adquiridas pela idade e, ainda que a diferença entre a postura de ambos fosse grandiosa, ninguém poderia negar que aquele homem era o doador dos genes de Sakata Gintoki.

Kasai entrou assim que lhe foi permitido, caminhando sobre o tapete escuro e comprido, logo em seguida apoiando-se sobre seu joelho direito, em uma reverência respeitosa.

― Aqui está o que me pediu, Souichirou-sama — começou tranquilamente, embora subordinado ao homem à sua frente. — Trouxe-o de volta.

E no instante seguinte, Gintoki finalmente encarara os olhos do pai pela primeira vez em seus quase 30 anos de vida. O que enxergara, entretanto, apenas confirmou o que já suspeitava desde sempre.

Ele vira tudo naqueles olhos. Tudo, exceto empatia.

Por mais que a expressão do líder sequer vacilasse, mantida sempre com neutralidade e tranquilidade, durante o tempo em que encarara o fundo daqueles olhos castanhos escuros, Gintoki pôde enxergar todos os sentimentos que contradiziam o ar neutro e impecável que o homem exalava. Assim como pôde enxergar a cobrança que eles traziam junto de toda a indiferença.

O contato entre os olhares só fora cortado depois de alguns instantes, por parte do mais velho, que direcionou-se à Kasai, ainda ajoelhado diante de si.

— Obrigado, Kasai — agradeceu pelo serviço, gesticulando de forma simples para que o outro se levantasse, o que foi obedecido imediatamente.

Com o caminho livre, o samurai caminhou sobre o tapete até alcançar o local antes ocupado pelo comandante, que àquela altura já se posicionava ao lado direito do tecido, observando a conversa que se seguiria a partir dali.

— Bem, acredito que Kasai já deva ter lhe informado tudo o que precisava saber até aqui. Basta-me então apenas dizer-lhe que assumirá seu posto aqui mesmo e será apresentado ao restante dos membros da organização amanhã — iniciou, utilizando-se do mesmo tom que expressava em sua face. — Lembra-se d-

— Esperava mais do líder de um dos clãs mais importantes de Seikigahara — interrompeu o mais novo, usando seu tom mais sarcástico, o que fez com que Souichirou levantasse suas sobrancelhas, levemente surpreso pela interrupção e esperando a explicação da afirmação. — Sabe, eu sei quem você é, mas não custa se apresentar. É etiqueta básica não acha? — explicou ironizando.

— Não vejo porque nos apresentarmos se já nos conhecemos — contrapôs muito calmamente.

— Eu não te conheço. — Sorriu irônico.

— Sabe quem eu sou.

— Sei, mas a única vez que te vi foi por foto. Há mais de vinte anos — quase exasperou-se, embora ainda carregasse o sarcasmo na voz.

— Sakata Souichirou, líder do Clã Sakata e doador de 50% de seus genes. Prazer, Gintoki — resumiu, ainda sem alterar qualquer linha de sua expressão tranquila e neutra.

— Que pena, não consegui te irritar — lamentou entediado. — O prazer é todo meu, Souichirou-sama. — Reverenciou de forma que deveria ser cortês, se não se tratasse de Gintoki debochadamente a fazendo.

— Ainda lembra-se do juramento que deve fazer? — continuou o assunto de antes, como se não tivesse sido interrompido, levantando-se e esperando pelo jovem soldado que caminhava em sua direção e fazendo a expressão irônica desaparecer quase que instantaneamente da face do Sakata mais novo.

O rapaz que se aproximava, assim como Kasai, vestia a túnica cinza claro, sobreposta pelo tecido preso ao ombro esquerdo, em tom mais escuro, contendo o símbolo da Tenshouin Shinikayou — no qual as espirais eram azul royal e as asas do corvo pretas — exposto sobre grande parte de sua área. A única diferença entre o jovem e seu comandante era a cor da faixa amarrada na altura da cintura, sendo que a de Miyamoto era também em azul royal e a do soldado no mesmo tom de cinza da túnica. Os trajes apenas evidenciavam ainda mais a relação da organização com a Tenshouin Naraku, muitos anos antes, em sua fundação. Em suas mãos, trazia uma almofada adornada, sobre a qual repousava uma espécie de metal cilíndrico, não mais comprido que a área da almofada, o qual continha um pequeno círculo na ponta, onde se encontrava desenhado o mesmo símbolo exposto nas vestimentas dos membros da Shinikayou.

Assim que o rapaz alcançou o líder, ajoelhou-se sobre um de seus joelhos, elevando a almofada acima de sua cabeça reverenciada, para que então Souichirou tomasse o marcador em mãos e se aproximasse de Gintoki.

Esse, por sua vez, já se ajoelhava sobre o tapete, apoiando seu peso no joelho direito, enquanto o esquerdo permanecia flexionado. Já sabendo o que se sucederia a partir dali, levantou a manga esquerda de seu kimono, expondo a parte anterior de seu antebraço.

— Recite-o — ordenou Souichirou, agora diante do samurai prostrado.

— Eu, Sakata Gintoki, juro, tendo minha vida como cobrança de minha desobediência, servir ao Clã Sakata, assumindo meu posto na Tenshouin Shinikayou. Juro também dispor de toda minha responsabilidade, no compromisso para com o Clã, no cumprimento de suas ordens e desejos — recitou o juramento decorado ainda em sua infância, sem hesitação, embora no mais profundo de seu íntimo, algo gritasse e clamasse incessantemente para que se negasse a isso.

— Jura fidelidade total ao Clã e à Tenshouin Shinikayou, tendo como garantia sua vida?

— Juro.

— Jura, por sua vida, conduzir a organização de forma que sempre estará buscando servir ao bem da população e dos interesses do Clã?

— Juro.

— Eu, Sakata Souichirou, líder do Clã Sakata, com a autoridade e poder competentes a mim, te nomeio Comandante Geral da Tenshouin Shinikayou — finalmente nomeou o mais novo, encostando o metal no epitélio do pulso exposto, deixando ali o símbolo da organização marcado pela eternidade.

Gintoki sentira a leve queimação sobre sua pele, logo passando a encarar a marca, sem saber o que sentir ou pensar naquele momento. Menos de 24 horas antes era apenas um freelancer, preguiçoso o bastante para raramente pegar algum trabalho, cercado de pessoas estranhas e baderneiras; agora era um comandante, o qual provavelmente seria o indivíduo com mais responsabilidades em Aokigahara, com exceção, talvez, do próprio líder do Clã. Mesmo que já estivesse processando seu destino há algumas horas, ainda era difícil o assimilar por completo.

Em um gesto igual ao direcionado para Kasai minutos antes, Souichirou deu permissão para que o samurai se levantasse, entregando o marcador ao soldado que o trouxera e voltando a sentar-se em sua cadeira.

— Como já disse, você será apresentado aos seus apostos de Aokigahara amanhã. No próximo final de semana, ou seja, em três dias, haverá a apresentação para os comandantes dos outros batalhões, que também são sua responsabilidade — avisou, ajeitando-se de forma mais confortável no móvel. — Espero que tenha plena consciência de toda a responsabilidade que possui a partir de agora, Gintoki. Não é pouca — lembrou-o, consideravelmente mais sério do que ficara até ali.

— Não se preocupe, tenho plena consciência de onde estou me metendo — concordou, agora também portando a expressão mais neutra que provavelmente havia feito em toda a sua vida, mesmo que carregasse um tom de desafio em sua voz.

— Karien — chamou a esposa, que permanecia em silêncio, ao canto da porta; assim que ouviu seu nome, porém, pôs-se à frente. — Chame Masuyo e a peça que o leve até o quarto preparado.

Em um aceno afirmativo apenas deixou o salão, encaminhando-se para o corredor e então desapareceu escada abaixo. Poucos minutos depois, entretanto, voltou acompanhada.

Masuyo era uma jovem senhora de 35 anos, embora seu sorriso alegre e gentil a rejuvenescesse. Os cabelos castanhos amarrados em um coque firme e os olhos de mesma cor, só tornavam sua aparência ainda mais simpática. O kimono estampado em tons de azul marinho a davam um ar um pouco mais firme, embora não sobrepusesse a simpatia.

— Basta me seguir, jovem mestre — anunciou, sorrindo, enquanto já se colocava a andar, seguindo para o corredor novamente.

 Ao chegar na escada reluzente em cor de ouro, se puseram a subir, com a governanta à frente. Havia passado por mais três andares, de acordo com a conta do ex-yorozuya, o que contabilizavam cinco andares — já estava cansado só de pensar que teria que subir e descer todos aqueles degraus todos os dias. Ao alcançarem o quinto andar, viraram à esquerda, por onde se alongava um corredor de comprimento mediano e, pondo-se a caminhar, chegaram à última porta à direita, a qual a mulher, com chaves em mãos, destrancou, em seguida abrindo caminho para o mestre passar.

— Este é o quarto do senhor — anunciou já abrindo as cortinas em tons dourados e beges, que harmonizavam com o restante do quarto, expondo uma vista ampla para os grandes jardins da propriedade e, póstuma a eles, a cidade.

A arquitetura do quarto era, como todo o resto do castelo, uma mistura perfeita entre os estilos oriental e ocidental. Os móveis em marrom envernizados entravam em sintonia com os tecidos e objetos decorativos, geralmente detentores de detalhes diversos também em cor de ouro, espalhados pela ampla área. Havia duas portas além da de entrada: uma posta na parede direita, que dava acesso ao banheiro da suíte e a outra na parede oposta à entrada, posta do lado direito da cama, que abria-se para o closet.

Bem, ao menos quanto a conforto ele não poderia reclamar, embora ele preferisse encontrar um quarto em uma pensão qualquer a permanecer naquela mansão por muito tempo. Iria pensar seriamente sobre isso depois.

— Está entregue — comentou animada. — Qualquer coisa que precisar é só procurar por mim ou por algum dos outros empregados do castelo. Será um prazer serví-lo, jovem mestre. — Reverenciou-se rapidamente.

— Poderíamos talvez esquecer o “jovem mestre”? — sugeriu realmente desconfortável em ser tratado de tal forma, o que fez a outra rir.

— Bem, podemos até tentar encontrar outra forma de tratamento, embora não ache que vá dar grandes resultados, considerando que chamamos todos os filhos de Souichirou-sama dessa forma. E mesmo que consigamos acertar isso aqui, o senhor terá que fazer o mesmo pedido a mais outros 35 empregados no total e aos cidadãos de Aokigahara. — Sorriu divertida, arrancando um suspiro derrotado do mais jovem.

— É, parece que vou ter que me acostumar com isso — admitiu contrariado. — Ainda assim, obrigada, Masuyo — agradeceu pelo tratamento até ali.

— Não por onde. — Sorriu simpática. — O almoço é servido ao meio-dia, o jantar às oito horas e o desjejum começa a ser posto às sete, que é o horário que Souichirou-sama e Karien-sama costumam descer, embora os outros três não tenham exatamente um horário para levantarem — informou e por último referiu-se aos meios-irmãos de Gintoki.

— Ok — concordou, já repetindo os horários mentalmente.

— Bem, se não tiver mais nada que eu possa fazer pelo senhor, vou me retirar.

— Ah, só uma pergunta — lembrou-se de repente. — Rose ainda trabalha aqui?

— Sim! — confirmou sorrindo animada, ainda que levemente surpresa pela pergunta. — Na verdade, a governanta-chefe é ela. Eu apenas a auxilio, já que é uma quantidade considerável de responsabilidades que ela possui na casa. Agora ela deve estar supervisionando os estudos da Keiko-chan, mas se quiser, posso avisá-la que quer vê-la — sugeriu prestativa.

— Agradeceria se fizesse isso — pediu um pouco mais animado com a informação positiva.

— Claro. Bem, com sua licença. — Reverenciou-se mais uma vez, em seguida deixando o quarto e fechando a porta.

Ali agora, sozinho, observou novamente o ambiente à sua volta por alguns instantes. Talvez a ficha estivesse começando a cair, por mais que parte de seu cérebro ainda relutasse em assimilar parte de toda aquela reviravolta.

(...)

Saiu do banheiro, já encarando o relógio, que marcava 12:00. Vestido com o roupão branco-azulado e ainda enxugando os fios prateados, caminhou até à sacada do quarto, que oferecia a vista grandiosa a qual minutos antes tinha sido o maior foco de sua atenção, após ter se jogado na cama, passando a refletir sobre os acontecimentos dos últimos meses.

Com claro cobrindo a cidade, as construções e as ruas ao longe pareciam bem menores do que realmente eram. Sem perceber, ficou encarando fixamente aquela paisagem por alguns minutos, sem um pensamento em específico; apenas tentando absorver a ideia de que a partir do dia seguinte seria sua responsabilidade manter aquela cidade segura, bem como seus habitantes.

Riu-se interiormente.

Geralmente ele sempre fora o criminoso da história e não o cara que os prendiam. Pensar que era exatamente o que faria da vida dali em diante não só o deixava perplexo consigo mesmo por realmente ter aceitado seguir com aquilo, como também o fazia se questionar, lá no fundo, o que diabos estava fazendo ali. A resposta que sempre obtia após fazer essa mesma pergunta repetidas vezes, entretanto, o transtornava mais do que gostaria de admitir, assim como o obrigava a compreender que não havia outra forma de dar fim a tudo aquilo sem que fosse da forma como estava fazendo.

Uma coisa era certa: sua vida fora feita de escolhas. Extremas, na maior parte das vezes, mas todas as quais ele sabia que não possuía mais retorno. E havia decidido, assim que escolheu voltar para aquele lugar, assumir para si mesmo aquela verdade. Os pecados que havia cometido até ali não deixariam de existir, nem mesmo tinham redenção. Tudo o que ele podia fazer era tentar ao menos pagar parte das manchas em suas mãos e sua alma.

Dessa forma, não havia possibilidade dele continuar naquela situação. Não podia simplesmente decidir estar ali e permitir que aqueles sentimentos de desejo de fuga voltassem a preenchê-lo. Prometera não permitir, e para que conseguisse seguir com essa promessa, teria que se obrigar a mudar algumas coisas a partir dali. Quando fora embora de Edo, dissera adeus para tudo o que lá deixara, inclusive para ele próprio na forma como lá se conhecia.

Ergueu levemente a cabeça, ainda observando a cidade iluminada pelo Sol, mas agora como se estivesse desafiando-a.

Se era para voltar a viver no inferno, que agora fosse como o diabo.


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Notas finais do capítulo

Até o próximo, minha gente! ^^



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