Redemption escrita por Marimachan, Ginko13, Fujisaki D Nina


Capítulo 26
XXIII - Mortal Enemies




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Os dois amigos caminhavam atentos pelas ruas da cidade. Ainda não a conheciam o bastante para se aventurarem sozinhos por ela, mas não tinham escolha. Precisavam chegar a seus destinos sem a companhia de ninguém além deles mesmos.

Tinham combinado de encontrar outra pessoa na feira que ocorria naquela sexta, a qual descobriram ficar à quase 40 minutos à pé da casa de Gintoki — pegaram um táxi para encurtar esse tempo —, e agora andavam por entre as barracas, procurando as referências que lhes deram do desconhecido que os esperava.

Após cerca de 10 minutos procurando o dito cujo, finalmente avistaram, de frente para uma barraca de Okonomiyaki, aquele que acreditavam ser o homem que os levaria até Iwasaki. Vestido em um kimono típico de cor acinzentada escura, sua expressão era entediada, embora ele apreciasse a iguaria japonesa enquanto esperava encostado no poste de frente à barraca simples. Os cabelos negros estavam arrumados desleixadamente em um coque de samurai, e alguns fios da franja, na altura da boca, caíam por cima de seus olhos também negros. A barbicha no queixo e a espada em sua cintura esquerda completavam a aparência um tanto desleixada, mas também que trazia certa imponência.

— Com licença? — Shinpachi chamou a atenção do homem, se aproximando ao lado de Kagura.

O sujeito levantou os olhos, encarando-os. Por alguns segundos analisou-os sem mudar sua expressão, até que jogou o resto da comida e sua embalagem no latão de lixo queimável que tinha por ali.

— Até que enfim — comentou desinteressado, já se pondo a caminhar na direção contrária da qual eles vieram.

— Perdoe-nos pelo atraso — pediu o yorozuya, sem graça. — Demoramos a chegar aqui, porque não conhecemos bem a cidade.

O outro respondeu com um resmungo confirmativo, ainda continuando a andar.

— Apenas me acompanhem, não podemos conversar sobre absolutamente qualquer coisa — alertou. — Não é por nada que aquele desgraçado sabe de tudo o que acontece no feudo. O maldito tem ouvidos e olhos espalhados por toda Seikigahara.

Não precisou de muito para que os dois jovens compreendessem que ele falava de seu ex-chefe, por isso apenas concordaram com a cabeça e o seguiram.

Depois de mais 20 minutos caminhando, em um bairro afastado eles finalmente chegaram a um portão de madeira, ladeado por uma grande árvore podada em estilo japonês. O desconhecido abriu-o, permitindo que os três fossem admitidos na propriedade privada. O jardim não era muito maior que o da casa dos Shimura, mas a construção compensava isso. Era consideravelmente grande.

Ainda em silêncio, acompanharam o homem até uma das portas de correr que dava para o jardim. Assim que adentraram o cômodo encontraram Iwasaki sentado em uma almofada, na outra extremidade, que lhes sorriu.

Olharam em volta. Além do senhor que conheceram dias antes em Edo, no lugar haviam mais três pessoas que desconheciam.

A garota sentada encostada à parede direita parecia ter por volta dos 25 anos, com um rosto delicado emoldurado com longos e ondulados cabelos negros. Algumas tranças caíam do penteado, constituído por dois pequenos coques no alto da cabeça, enfeitados por um laço branco. Seus olhos eram tão claros que eles quase não conseguiam identificar a cor, mas eram definitivamente bonitos. Sua expressão era tranquila, embora eles sentissem que existia certo pesar em seu olhar longínquo.

Já o rapaz ao lado dela também possuía longos cabelos, embora loiros. Seu sorriso e seu olhar verde água, porém, traziam serenidade. A cicatriz que cortava na diagonal sua face esquerda em nada tirava a gentileza que ele exalava. O leve sorriso constante em seus lábios talvez ajudasse com isso.

O último estranho era também o que mais parecia relaxado no ambiente. Ele estava deitado apoiando sua cabeça no braço direito, firmado pelo cotovelo, enquanto a mão livre se escondia dentro do kimono amarelado. Sua expressão era entediada, mas não tirava a profundidade dos olhos azuis celestes, emoldurados pelos cabelos curtos castanhos claros, um tanto quanto ondulados. Possuía uma pequena argola prateada em cada orelha, e a espada, que julgaram ser dele, estava encostada em sua cintura. Surpreenderam-se ao constatar que a cena os remetia a certa pessoa, embora essa parecesse não existir há mais de uma década.

— Shinpachi-kun, Kagura-san, fico feliz que tenham chegado bem — Iwasaki finalmente os cumprimentou simpático, após o guia deles se sentar pelo chão como os outros, e eles fazerem o mesmo por convenção. Ele virou-se para o dito cujo, numa expressão mais séria. — Tudo certo até aqui, Kawazaki?

— Sim — o moreno confirmou tranquilamente. — Ninguém suspeito até aqui.

— Ótimo! — O senhor animou-se, tornando a encarar os visitantes. — Antes de mais nada, preciso terminar de contar alguns pontos importantes a vocês. — Os jovens acenaram positivamente e então ele deu continuidade. — Primeiro de tudo, sinto muito por não ter dito isso antes, porque era perigoso demais esclarecer-lhes isso em outro lugar que não este em que estamos. Kawazaki deve ter comentando sobre como o Comandante se mantém informado por aqui. Ele possui soldados, espiões e cidadãos comuns, e até mesmo alguns não tão comuns assim, sob suas ordens, espalhados por toda a parte. Então é realmente difícil ele não ficar sabendo de qualquer coisa que seja. Por isso tomamos todo o cuidado possível e impossível para nos manter seguros.

— É, ele comentou sobre isso — Kagura confirmou; sua expressão trazia certa desconfiança, entretanto. — Mas por que é que vocês precisam de tudo isso?

Iwasaki pegou fôlego, receoso com o resultado do que tinha de contar.

— Porque somos os líderes do Novo Exército Revolucionário — respondeu seriamente, apenas esperando a reação dos dois companheiros, que não demorou a vir.

Os olhos de ambos arregalaram-se com a informação e o primeiro pensamento que veio na cabeça deles fora aonde diabos eles tinham se metido.

Entreolharam-se tensos, parecendo partilhar dos mesmos pensamentos. Ainda dava tempo de negar o trabalho e simplesmente saírem correndo dali, certo?

Eles já tinham consciência de que estariam se colocando contra Gintoki e seu clã a partir do momento em que decidiram ajudar àquele homem a resgatar seu filho. No entanto, ajudar àqueles que pareciam ser os maiores inimigos de seu ex-chefe, nas condições atuais, era uma traição grande demais até para Gintoki os perdoar. Se fossem descobertos, com certeza estariam com a vida sentenciada à morte.

— Por favor, não fujam ainda — pediu o senhor, suspirando num misto de preocupação e tristeza, mas após alguns segundos encarando os olhos dos jovens sabia o que tinha que fazer. — Esses — Apontou para o moreno que os trouxera ali e para a única garota da sala. — são Kawazaki Tomura e Tomoe, enquanto eles pegavam água, os pais e os irmãos mais novos morreram em um incêndio causado pela Shinikayou nove anos atrás, na aldeia em que viviam; esse é Himura Gyuu, — Indicou o loiro ao lado de Tomoe. — 5 anos atrás sua irmã foi presa e torturada por uma noite inteira, por informações pelo marido dela, que fazia parte do Exército Revolucionário, mesmo que ela jurasse pelos filhos que não o via há meses e não sabia aonde ele estava, as crianças e ela ainda estão sob a tutela da organização, no Instituto; e, por último, — Apontou o homem deitado. — Suzuku Rinmaru, dez anos atrás assistiu seus pais e sua irmã mais velha serem assassinados pelas mãos do próprio demônio que comanda a Tenshouin Shinikayou. Nenhum de nós se revoltou contra esse maldito clã e essa maldita organização à toa, Shinpachi-kun, Kagura-san — concluiu em um tom pesado, que combinava com o clima que ali se instaurara.

Os dois yorozuyas, porém, não conseguiam exprimir qualquer palavra. A surpresa cada vez maior e os sentimentos de repulsa e revolta que afloravam em seus corações a cada história contada os tomavam de maneira avassaladora e cruel.

Eles simplesmente não queriam acreditar naquelas palavras, não queriam acreditar que o homem ao qual costumavam seguir e amar tivesse se tornado aquilo contra o que lutaram vida toda.

— Sei que parece irreal que alguém que vocês acreditam conhecer tão bem tenha feito coisas tão hediondas, mas nós somos a prova viva de que Sakata Gintoki e seus soldados não são conhecidos por Anjos da Morte por nada. — Encarou o casal de amigos nos olhos. — Então, por favor, Shinpachi-kun, Kagura-san, nos ajudem a acabar com toda essa justiça falsa. Ajude-nos a destruir aquele lugar tenebroso e a salvar a vida daquelas pessoas.

Cerrando os punhos e tentando conter as lágrimas que queriam deixar seus olhos, os jovens yorozuyas encararam firmemente o olhar suplicante do senhor à frente deles.

— Estamos a seu dispor, Iwasaki-san — ambos responderam juntos, unidos por todos os sentimentos devastadores que os afligia no momento, mas que os dava a certeza de que deveriam seguir em frente.

Afinal de contas, aquele era um dos lemas do Yorozuya Gin-chan. Se qualquer um deles se perdesse por caminhos sombrios, era dever dos outros dois salvá-lo, mesmo que pra isso precisassem se tornar seus inimigos mortais.

(...)

— Boa tarde, Kaoru-chan. — Manaki sorriu ao ver a garota aproximar-se, com alguns pacotes nos braços, parecia estar voltando da feira.

— Boa tarde, Manaki-san — devolveu o cumprimento, em meio ao doce sorriso. — Poderia, por favor, informar a Rose-san que estou aqui? Estou com as mãos ocupadas, como pode ver.

— Claro — concordou também sorrindo gentil, enquanto já interfonava para a casa, de onde a senhora atendeu e após ouvir o chamado desligou. — Ãh... Kaoru-chan. — Coçou a nuca, um tanto quanto envergonhado, enquanto esperavam a governanta vir abrir o portão. — Domingo é sua folga novamente, não é?

— Sim — confirmou. — O jovem mestre e a família passarão o dia no castelo, junto com os hóspedes, então não haverá muito o que fazer na casa. Por isso ele dispensou a maior parte dos empregados. Mas... por que a pergunta, Manaki-san? — O rubor surgiu em suas faces, levando o jovem a mesma situação.

Tentavam ignorar a presença do outro soldado, que segurava o riso com a cena.

— É que também será minha folga, então... eu estava pensando, sabe... em sairmos pra tomar um café na nova cafeteria que abriu no centro... — concluiu ainda mais vermelho.

A menor sorriu acanhada, mas não hesitou em responder.

— Claro que aceito, dizem que ela é ótima — comentou com doçura, o rubor aumentando.

Manaki sorriu grande e iria responder, mas fora interrompido pelo som dos portões se abrindo. Do outro lado encontrava-se Rose à espera da garota, que logo se despediu do soldado, dizendo que depois eles combinavam um horário.

— Vão sair, hum? — Rose comentou provocativa já pegando um dos pacotes que a moça carregava, enquanto elas seguiam pelo caminho ladrilhado.

— S-sim — confirmou tímida.

— Estava mais do que na hora! — a mais velha comentou animada. — Mayah-sama ficará radiante.

— M-Mayah-sama? — Olhou para a governanta, atônita por saber que outras pessoas haviam percebido o clima entre os dois.

— Sim! Ela já estava quase planejando ser o cupido de vocês dois, pra ver se deixavam de ser tão enrolados — ela brincou rindo, deixando a outra ainda mais sem jeito.

Logo, contudo, seu nome fora chamado por Zuku, um dos jardineiros da casa, que parecia precisar de uma opinião sobre o formato da poda que faria. A senhora disse à Kaoru que levasse as compras para a cozinha, e logo deixou-a seguir caminho sozinha.

Livre de qualquer pessoa à sua volta, ela suspirou entediada. Agora teria que aguentar o infeliz também fora da mansão. Não podia dar-se ao luxo de negar qualquer investida de Manaki, pois ainda precisavam dele. Ser tão boa atriz às vezes era um pé no saco, porque a obrigava a lidar com aquele tipo de imbecís apaixonados. Ainda assim, espanou os pensamentos sobre como enfrentar um encontro com o soldado para o canto da mente, passando a concentrar-se no que assistira quando ainda estava na feira.

Os planos de seu líder estavam caminhando, mesmo que por caminhos um tanto diferentes do que planejavam inicialmente. Usar os idiotas do Exército Revolucionário realmente fora um trunfo acertado de seu chefe. Agora, além de terem ela própria dentro do covil do Comandante, também tinham aqueles dois jovens, que sequer faziam ideia de no que estavam se metendo. Perguntava-se como reagiriam ao descobrir que Iwasaki era líder do Novo Exército Revolucionário; se iriam querer desistir ao saberem disso. Logo, porém, constatou que era improvável. Eles eram exatamente o tipo de idiotas que se condoeriam pelo que ouviriam da boca daquelas pessoas, tinham compaixão o suficiente para isso.

Involuntariamente sorriu antes de alcançar a porta da cozinha, nos fundos. O Demônio de Aokigahara estava cercado de traidores e sequer estava perto de se dar conta disso.

Ou ao menos assim todos pensavam.

Encarando o nada já há alguns minutos, Gintoki tentava chegar a alguma conclusão, embora não conseguisse alcançar nenhuma.

Estava estranho. Estranho demais pro gosto dele.

Já era muita coincidência, na opinião dele, Shinpachi e Kagura pegarem um trabalho na cidade justo naqueles dias. A forma como os dois vinham se comportando e as perguntas que andaram fazendo, apenas aumentavam mais a probabilidade de estarem se metendo em alguma coisa que não deveriam.

A pergunta curiosa sobre Souichirou e Kazumi apenas o alertaram mais.

Preocupante. Conhecia os dois o suficiente para saber que quando colocavam alguma coisa na cabeça, dificilmente alguém tirava. Mas o que seria? O que estava rondando as mentes idiotas de seus dois ex-companheiros de trabalho? Quem havia implantado na cabeça deles seja lá o que fosse que tivessem implantado?

Batucando sobre a mesa de sua sala, moveu seus olhos do nada para a porta do cômodo. Seu cérebro trabalhava rapidamente, tentando conectar as pontas soltas que encontrara. Sua experiência lhe dizendo que tinha algo errado naquela história, algo que não se encaixava, algo que estava o deixando puto.

Num ímpeto de inspiração levantou-se de sua confortável cadeira, não demorando a abandonar sua sala e seguir pelos corredores do Bloco 4 da sede da Shinikayou, repleto de salas.

Informação. Era o que lhe faltava, e também aquilo que ele não admitia ficar sem. Estava acostumado demais a ter todas elas durante aqueles 11 anos para se conformar com o fato de que estavam ausentes naquela situação.

Depois de alguns poucos minutos caminhando pela imensa construção, alcançou a sala de seu capitão do 7º esquadrão. Sem bater na porta abriu-a sem cerimônia, fazendo o homem que aparentava a mesma idade que ele sobressaltar-se na cadeira em que estava sentado.

Os olhos negros acinzentados sob a franja repicada encararam o visitante inesperado, levando seu dono a levantar-se de imediato e então ajoelhar-se perante o superior, o que fazia os cabelos na altura dos ombros cobrirem seu rosto.

— Comandante — cumprimentou reverenciando, logo tendo sua permissão para erguer-se. — Quais suas ordens? — perguntou de forma respeitosa, embora ainda sob efeito da surpresa.

— Preciso que investigue algo para mim, Urochi — declarou de maneira calma, mas com um certo brilho no olhar que o aposto reconheceu. — Você vai encontrar as respostas das quais eu preciso.


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