Redemption escrita por Marimachan, Ginko13, Fujisaki D Nina


Capítulo 25
XXII - Deep Memories




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Depois da conversa com seu pai, Sayuri foi até seu quarto com a intenção de trocar-se para descer e fazer seu desjejum. Ao entrar no cômodo, logo se direcionou ao imenso roupeiro que ela dividia com seus irmãos, para poder pegar um de seus kimonos. Assim que abriu a porta à direita, porém, outra porta fora aberta; essa, contudo, foi a do banheiro, por onde ela viu Dango sair.

Dango também a viu e congelou no lugar no mesmo instante. As duas apenas ficaram lá, se encarando sem saberem o que dizer, por quase um minuto.

— Etto... — Até que Sayuri resolveu quebrar o contato e o silêncio, abaixando a cabeça. — Dango... será que... podíamos conversar antes de descermos? — Tornou a olhar para a mais velha.

—  ... Claro — Dango concordou calmamente, dando a deixa para a mais nova continuar. Fosse porque ela queria ouvir o que Sayuri tinha a dizer ou porque ela mesma não sabia o que falar, não importava realmente naquele momento.

— Eu... eu... — Ela inspirou fundo. Tinha que parar de enrolar, sempre fora uma garota decidida e focada, não ia deixar a vergonha fazê-la gaguejar. — Eu queria te pedir desculpas pelo que aconteceu ontem. Fui muito infantil e injusta, e você não tinha que ouvir aquelas besteiras... — Embora seu ar fosse firme, era visível em seus olhos o remorso que sentia por ter agido de tal maneira.

E Dango conseguiu perceber isso. Nunca tivera a intenção de não perdoar Sayuri, ainda mais depois da conversa que teve com Gintoki, e agora com o pedido de desculpas da irmã; mas saber que ela estava sendo sincera fazia a albina sentir-se bem melhor quanto a tudo o que ouvira na noite passada.

— Tudo bem — ela enfim respondeu. — Me desculpe também por ter gritado. Eu... Não é que eu odeie estar aqui, e eu gosto de estar com vocês, — Ela mirou os olhos verdes de Sayuri e sorriu um pouco. — Com todos vocês.

A moreninha, por sua vez, sorriu de volta, sentindo suas bochechas ficarem rosadas.

— E eu quero também que você saiba que tudo o que eu falei foi no momento da confusão, mas que eu não me sinto daquele jeito de verdade... — Queria deixar tudo bem claro para a outra, sem mais desentendimentos. — Você é minha irmã mais velha e eu jamais deveria ter falado daquela maneira com você. Me desculpe, mais uma vez...

Dango mentiria se dissesse que seu primeiro impulso não foi o de andar a distância entre ela e a irmã para abraçá-la, a alegria que sentia por um momento a tomando, mas a albina se segurou. O impulso do abraço, não seu sorriso, no entanto. Ela então aproximou-se alguns passos até ficar frente a frente com Sayuri.

— Desculpas aceitas, — Estendeu uma mão. — Nee-chan.

Por um momento, Sayuri sentiu seu rosto esquentar, ao ruborizar mais uma vez. Ninguém além de Satoshi a chamava daquela maneira, ainda assim, o que pareceu sentir não foi desconforto ou qualquer coisa parecida. Era alguma coisa que ela não sabia definir, mas com certeza algo bom.

Sorrindo de volta, apertou a mão da mais velha, selando assim as pazes e o novo relacionamento que estava começando a ser construído entre as duas Sakata.

Após a conversa que tiveram, Dango esperou Sayuri terminar de se aprontar para que descessem juntas para o café da manhã. Ao alcançarem a mesa de jantar, já com todos presentes nela, as pequenas conversavam animadamente. Aparentemente Sayuri falava sobre seus avós maternos, tios e primos, todos os quais pareciam empolgá-la ao extremo.

Ao ver tal cena, todos esboçaram sorrisos próprios, inclusive e principalmente os pais, aliviados pelo fato das duas parecerem ter se acertado.

Souichiro também sorria ao ver a amiga se aproximar. Esse sorriso, porém, murchou aos poucos quando ela simplesmente passou reto por ele, sem sequer distrair-se de sua conversa com Sayuri, indo em direção à Mayah e os outros habitantes de Aokigahara, como se aquilo já fosse algo natural para ela.

— Espero que isso signifique que vocês se resolveram — Mayah comentou assim que ambas sentaram ao lado de Satoshi e Mayume, de frente para a morena.

— Sim! — ambas responderam juntas.

Mayah sorriu mais uma vez.

— Ótimo! Porque assim não preciso tomar atitudes mais drásticas — comentou enquanto passava manteiga em seu pão, num tom de quem não queria nada.

Um arrepio perpassou as duas irmãs. É, que bom que elas tinham se resolvido por elas mesmas.

(...)

Gintoki entrara em contato com Kornors naquela manhã de sexta e esse explanou a situação das operações em Edo. Eles chegaram à conclusão de que não seria necessária sua presença na megalópole, já que as buscas ainda não tinham alcançado grandes resultados. Por esse motivo, preferiu permanecer em Aokigahara e deixar as coisas por conta de seu vice-comandante, no qual confiava cegamente sem nenhum remorso quanto a isso. Sua única preocupação era Miyuki acabar tendo mais contato do que deveria com Ayanara, mas direcionara Kornors especificamente sobre isso, aconselhando-o que as deixassem o mais distante possível.

Sendo assim, sentia até certo alívio por poder continuar em casa. Poderia se concentrar um pouco mais em Dango, assim como também conseguiria colocar as coisas em dia na sede. Por isso, naquele momento, ele se encontrava junto da família na casa de seus sogros, apreciando um almoço bastante agitado. Ficara intimamente feliz por ver que Dango se dera bem com os avós maternos logo de cara, facilitava ainda mais as coisas ao seu favor.

Àquela altura, todos já haviam terminado de comer e agora se encontravam sentados na grande varanda dos fundos da mansão dos Kouzuki. A conversa fluía naturalmente, tanto entre os adultos presentes quanto entre as crianças.

Os filhos de Gintoki, mais Souichiro, se distraíam com alguns jogos de tabuleiros, acompanhados dos primos; enquanto os adultos, mais Takasugi que estava entre as duas fases, concentravam-se em conversar banalidades, com direito ao povo de Edo ficar cada vez mais impressionado com a amizade entre Souichirou e Kazumi. Eles, definitivamente, eram quase que completamente opostos e ainda assim se davam tão bem quanto dois velhos amigos podiam se dar.

Kazumi era extravagante, Souichirou o mais simples e conciso possível; o líder Kouzuki era risonho e não hesitava em dar altas gargalhadas, o líder Sakata tinha que achar muita graça de algo para sequer rir contidamente; o pai de Mayah demonstrava escancaradamente suas emoções, o de Gintoki mantinha-se neutro na maior parte das vezes, embora sempre muito educado.

Observar essas diferenças gritantes, de fato, faziam os visitantes refletirem mais do que deveriam sobre como os dois tinham se tornado tão amigos ao ponto de quererem entrelaçar as duas famílias casando seus primogênitos — porque era visível que aquela não era uma aliança unicamente econômica, eles realmente se sentiam satisfeitos de constituírem uma família só.

— Como se conheceram, Souichirou-san? Kazumi-san? — Pensar sobre tudo isso fez Shinpachi querer tirar essa dúvida, afinal de contas, qualquer informação que conseguisse sobre os Sakata e suas alianças era importante para ele e sua companheira. Souichirou e Kazumi olharam relativamente surpresos pela pergunta vinda do jovem, e ele tentou ignorar o olhar de seu ex-chefe sobre si. — Desculpe — pediu, disfarçando bem o nervosismo. —, é só que os dois são bem...

— Diferentes — Karien, madrasta de Gintoki, completou o rapaz, que parecia hesitante em concluir.

Kazumi gargalhou com vontade.

— Realmente — concordou com o termo usado. — Mas, na verdade, não temos nenhuma história empolgante de como nos conhecemos — brincou. — Apenas somos amigos desde que nos conhecemos por gente. A história interessante foi a de nossos pais — comentou animado. — Resumidamente, Hashirou-sama, ainda jovem na época, conheceu meu velho e meu avô, e viu neles um enorme potencial como ferreiros. Falou isso ao pai dele, e acabou que decidiram propor à minha família produzir as armas da Shinikayou. Meu avô e meu pai aceitaram e construíram tudo o que hoje somos e temos. — Sorriu nostálgico, parecendo exalar gratidão. — Devemos muito aos Sakata.

— Devem apenas à habilidade de vocês — Souichirou retrucou calmamente, fazendo o sorriso de Kazumi aumentar. — Mas, de fato, nós crescemos juntos, então foi algo curiosamente natural. Além disso, nossos clãs já viveram e passaram por muita coisa como aliados — o albino concluiu com um sorriso mínimo, que os jovens não conseguiram definir muito bem o que significava.

Era tão raro vê-lo sorrir que quando o fazia acabava por ser difícil desvendar os sentimentos por trás disso. Mas acreditaram enxergar cumplicidade no olhar dos líderes, inevitavelmente fazendo-os refletir sobre o que sabiam sobre os Sakata e os levando a pensar em até que ponto essa cumplicidade ia.

Kazumi saberia alguma coisa sobre os segredos deles?

— Creio que ainda queira saber o resultado disso. — Uma voz serena chamou a atenção do líder Sakata, que naquele momento observava seus netos mais novos procurando por pedrinhas coloridas à beira do lago.

Souchirou se virou e encontrou Yoshida Shouyou atrás de si. Ele tinha uma expressão tranquila, mas trazia um envelope clínico nas mãos. Não demorou muito para supor o que seria.

Após tomar o envelope para si, abriu-o, logo vendo o resultado positivo. Dango era, de fato, sua neta.

— Parece aliviado — divertiu-se o professor, mirando as feições do outro.

Embora elas não dissessem muita coisa para qualquer um que se propusesse a observá-las — porque o homem parecia tão neutro quanto sempre —, para Shouyou não era difícil ler as pessoas, inclusive alguém tão curiosamente “frio” quanto Sakata Souichirou — que de frio não tinha nada, ele já tinha concluído.

O albino ergueu levemente suas sobrancelhas, aparentemente admirado por alguém conseguir lê-lo. Era raro isso acontecer; tanto que atribuía aquele dom apenas à sua esposa — ao menos dentre as pessoas que o conheciam e estavam vivas.

— Bem — respondeu assim que a surpresa passou —, devo confessar que, de fato, estou. Isso me poupa muitos desgastes e preocupações. — Guardou os papeis em um bolso interno do Kimono.

— Gintoki pode ser bem teimoso quando quer. — Sorriu divertido, compreendendo exatamente do que o líder falava.

— Até muito além do que deveria na maior parte das vezes — ele concordou, segurando um suspiro, o que fez Shouyou rir contidamente.

— Devo concordar. — Virou-se para a direção em que Mayume e Soujirou brincavam.

Por alguns instantes ficaram em silêncio, apenas observando os pequenos do outro lado da margem. Souichirou ainda se admirava em como Mayume conseguia enxergar magia em tudo que via, mesmo que fosse uma mínima pedrinha colorida nas mãos de seu irmão caçula; não conseguiu conter um sorriso ao vê-la empolgada com a próxima encontrada. Aqueles momentos observando sua neta o remetiam a tantas lembranças que ele comumente se perdia por entre elas por incontáveis minutos, toda vez que se propunha a observar a pequena. Até que, ao mesmo tempo em que se sentia grato pela oportunidade de ter a pequena fada em sua vida, como todos concordaram em chamá-la, também lembrava-se do motivo daquelas lembranças serem apenas aquilo. Lembranças.

— O que o fez tomar essa decisão? — Seu tom era neutro como sempre, embora seu interior trouxesse muitos outros tipos de sentimentos. Shouyou o olhou indagador. — Por que decidiu acolher Gintoki e guiá-lo como seu pupilo? — explicou a questão feita, calmamente. — Você não me parece o tipo de mestre que enxerga apenas o potencial poder de seus discípulos. O que me leva a ficar curioso sobre o motivo de admitir sob sua tutela uma criança tão encharcada em sangue alheio como ele fora.

Por alguns instantes o mais velho apenas continuou a observar as crianças, parecendo refletir sobre a melhor resposta, embora o próprio soubesse que a tinha pronta sem muita dificuldade.

— Provavelmente porque enxerguei nele o que eu enxergava no espelho. Os mesmos olhos, inclusive — respondeu. Seu tom ainda era tranquilo, embora trouxesse algo mais que o albino ainda tentava decifrar.

— O que eu deveria pensar sobre isso?

Shouyou sorriu. Um sorriso carregado de pesar.

— Me diga você, Souichirou-san. — Após encará-lo por alguns segundos, resolveu voltar para junto dos outros, que ainda estavam na varanda, deixando para trás o Sakata.

Esse ainda tentava compreender o que tinha acabado de acontecer, mas não demorou muito a ser trago de volta pela voz empolgada de sua neta, que sorria de lado a lado, trazendo as mãos cheias, exigindo — porque ela tinha esse poder sobre ele — que o mais velho se sentasse com ela na grama.

(...)

— Pensei que havia esquecido do fato de ter que se reportar. — O dono da voz grave entrou pela sala, na qual a ruiva aguardava no centro, de pé.

— Não havia nada que fosse importante o suficiente para que me fosse necessário vir até aqui — a jovem respondeu tranquilamente, sem se abalar pela repreenda.

Ela observou em silêncio o homem¹ dar a volta e sentar-se à mesa para qual estava de frente. Alguns fios dos cabelos negros, que chegavam à altura do ombro, bem penteados para trás tocavam o brinco único que caía de sua orelha direita ao que ele se acomodava na cadeira almofadada. Os olhos negros, constantemente carregados de malícia, analisaram-na, como se buscasse quaisquer sinais de insolência; observaram atentamente cada traço do rosto² de porcelana salpicado de sardas e emoldurado pelos cabelos em chanel, bem como os olhos verdes vivos. Não os encontrando, porém, um sorriso de canto esgueirou-se pelos lábios masculinos, enquanto ele recostava-se relaxadamente no móvel em que descansava.

— Estou ouvindo — incentivou para que ela finalmente se reportasse devidamente.

— A segurança e a dinâmica básica da mansão continuam as mesmas — ela começou, em um tom neutro, quase entediado. — Mas receio que tenhamos que mudar alguns pontos de nossos planos com a recente chegada do Comandante e suas visitas.

— E por que diz isso? — questionou, vagamente interessado.

— Porque embora seja fato que não devamos nos preocupar muito com os outros, tem um deles em específico com o qual deveríamos tomar cuidado.

— E esse seria...?

— Yoshida Shouyou — respondeu mais uma vez, trazendo leve interesse aos olhos do homem.

— O mestre do Comandante, pelo que ouvi dizer. — Ela acenou positivamente. — E por que deveríamos prestar mais atenção nele?

— Porque as crianças são apegadas a ele. Inclusive e principalmente a bastarda recém-descoberta. Ela foi criada por ele.

— Isso não é motivo suficiente.

— Ele por si só já é motivo suficiente para nos precavermos — insistiu, fazendo o mais velho levantar as sobrancelhas. — Ele é gentil e pode parecer amigável, mas nunca conheci alguém mais perspicaz e observador. Ele me conheceu ontem, e sequer trocamos uma palavra, mas já parece saber que não deve confiar em mim.

O ouvinte olhou-a em meio a imensa surpresa.

— Está falando sério? — questionou significativamente admirado. — Você conseguiu conquistar a confiança do próprio Comandante, ou ao menos parte dela — corrigiu antes de continuar, já que ele duvidava que aquele cara confiasse completamente em alguém que não fosse ele mesmo —, e esse cara já desconfia de você? O que você fez para levantar essa suspeita? — Encarou-a, agora mais sério.

— Esse é o ponto. Não fiz absolutamente nada.

Ele olhou-a desconfiado, mas logo ignorou, contudo. Se ela tivesse feito qualquer coisa que pudesse colocar os planos em risco, de fato, o contaria. Porque Kaoru era aquele tipo de subordinada.

— Tudo bem, fique de olho nele e tente captar algum padrão de comportamento que nos facilite as coisas — ordenou pondo-se de forma mais ereta na cadeira. — Por enquanto vamos manter apenas as mudanças já feitas.

— Mudanças já feitas? — A ruiva franziu levemente a testa.

— Sim, você não apareceu, então não tive como te avisar. — Aproveitou pra repreendê-la pelo “sumiço” mais uma vez; seu tom era tranquilo, entretanto. — Com os últimos acontecimentos acabamos por decidir que era melhor executarmos todos os nossos planos com o Comandante longe daqui. Ele sabia sobre Ayanara, e devo confessar que me surpreendi em como ele consegue ser onisciente a tal ponto — expressou a contragosto. — Enquanto aquele desgraçado estiver por aqui, não vamos conseguir os resultados que esperamos. Por isso me aproveitarei do fato dele estar com Ayanara e de estarem me caçando em Edo, para que consigamos tirá-lo da cidade.

— E então pretende executar tudo enquanto ele estiver em Edo — constatou simples.

— Exatamente. — Sorriu com a malícia característica, logo em seguida dispensando a subordinada.

Tinha uma visita a fazer.


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Notas finais do capítulo

1 - Kikuchi Inori: https://i.imgur.com/p7wwMt8.jpg
2 - Kaoru: https://i.imgur.com/5gPWG4u.png



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