Redemption escrita por Marimachan, Ginko13, Fujisaki D Nina


Capítulo 16
XVII - Nonexistent Memories


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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— O que você tem aí, Mayume? — Satoshi perguntou, tirando os olhos da partida acirrada de Shogi, que Sayuri e Dango jogavam em uma das varandas enquanto ele e Souichiro esperavam sua vez, quando viu de canto de olho sua irmã mais nova saindo do interior da casa.

Mayume, porém, não pareceu ouvi-lo, pois só continuou a analisar, maravilhada e com os olhinhos brilhando, o leque amarelo florido que tinha em mãos.

Ela continuaria admirando o objeto colorido por mais algum tempo, mas o leve cascudo que sentira no alto de sua cabeça a chamou atenção. A pequena levantou o olhar para reclamar com quem havia feito aquilo, mas assim que encontrara seu irmão mais velho, a empolgação foi mais alta que a vontade de achar ruim.

— Olha, nii-san! — Levantou o leque na altura dos olhos do albino, com os olhos voltando a brilhar. — Olha que lindo! Parece o que a mamãe usou pra dançar no aniversário da cidade, não parece? — Sorriu empolgada.

Por um momento Satoshi encarou o objeto, admirado em como coisas tão pequenas eram o bastante para empolgar sua irmã caçula. Assim que a ideia surgiu, porém, em sua cabeça, ele tomou o leque das mãos pequeninas e em um movimento excessivamente afeminado deu uma volta e o pôs a frente da boca.

— E era assim que ela dançava, não era? — Desastrosamente tentando imitar a mãe, passou a fazer alguns passos de dança, que talvez a intenção fosse serem misteriosos e sensuais, embora o resultado fosse bem diferente do que se propusera.

Por isso mesmo, não demorou a arrancar grandes e longas gargalhadas da pequena. Gargalhadas essas que chamaram a atenção das outras três crianças.

— O que é que cê tá fazendo? — Dango questionou, com uma cara de quem não sabia se ria ou revirava os olhos.

Sayuri optou pelo revirar de olhos.

Nenhuma das duas, porém, pareceu notar Souichiro saindo de cena e dando a volta no prédio, mais concentradas em esperar uma resposta de Satoshi.

— Estou dançando graciosamente, com meu lindo leque amarelo — respondeu ainda executando seus passos descabeçados.

— Hihihihihi...

As crianças ouviram uma risadinha forçadamente feminina se aproximando, ecoando desde o corredor.

— Hihihi, nenhuma dança se compara à minha, Satoshi-kuuun — Souichiro cantarolou sob o leque rosado de Otae, piscando como se uma pá de areia tivesse sido jogada em seus olhos.

— Meu Deus... — Sayuri levou a mão direita ao rosto, não conseguindo decidir qual dos dois estava mais ridículo. Mayume, por sua vez, apenas continuava a gargalhar com vontade, agora pela diversão em dobro.

— Souichiro-kuuun, você jamais se equiparará a mim — devolveu, com a voz excessivamente melosa. — Minha antecessora, Mayah-sama, a mais talentosa dançarina de nossa companhia, a qual dançou para todas as autoridades que imaginar, passou-me o seu precioso legado: a dança das infinitas pétalas de Sakura!

— Hihi, isso não é nada — Souichiro afirmou solene. — Eu percorri todo o país em treinamento, aprendi os mais bem guardados segredos da dança, do norte ao sul, e nada pode superar minha dança dos sete ventos de inverno!

Dango agora se juntava à Mayume, gargalhando com vontade, embora não conseguisse definir quem parecia mais idiota enquanto tentava dançar. Sayuri continuou observando estupefata, embora agora o desejo de também rir dos dois começava a crescer.

Por mais alguns minutos os meninos continuaram a fazer seus primorosos passos, competindo entre eles qual tinha a melhor dança — ou talvez a mais ridícula, não saberiam dizer. Depois de algum tempo, entretanto, Shouyou interrompeu-os trazendo uma enorme bandeja repleta de frutas, alguns biscoitos caseiros e leite, distraindo-os completamente da brincadeira.

Sentando-se em fileira, com os pés pendurados pra fora da varanda, os cinco passaram a comer alegremente, fazendo um comentário aleatório ou outro. A cena fez Shouyou sorrir satisfeito; eles eram uma gracinha todos juntos, e sua vontade era de apertá-los até sentirem o ar faltando. Forçando-se a ignorar esse desejo, contudo, resolveu voltar à sala, para a presença dos adultos, deixando-os ali para aproveitarem a própria companhia.

Enquanto isso, Gintoki, sua esposa, seu caçula e Rose estavam na sala, junto de todos os outros moradores e mais alguns outros visitantes.

Após o interrogatório de Okomura naquela manhã, o comandante se retirou para seu quarto no hotel, para poder descansar algumas horas, bem como todos os outros que participaram da operação noturna. Ele preferiu almoçar no local mesmo e então seguiu para o dojô, onde sua esposa e seus filhos já se encontravam desde cedo.

Naquele momento específico, ele seguia em direção ao banheiro, abandonando por alguns instantes o grande grupo que jogava conversa fora e fazia algazarra, como sempre. Estava na metade do caminho quando um vulto da altura de sua cintura passou por ele, fazendo-o parar. O grande felino branco também parou, devolvendo-o o olhar com seus orbes amarelados.

Normalmente, ser encarado por uma tigresa albina faria qualquer um tremer na base, mesmo essa sendo ainda um filhote, mas não só Gintoki não era qualquer um, como ele também sabia muito bem que Hime, o bichinho de estimação de Dango, não o faria mal nenhum. Francamente, como se Sadaharu já não fosse bizarro o suficiente...

A tigresa, por sua vez, o encarou por mais uns dois segundos antes de piscar, miar e continuar seu caminho até uma porta entreaberta no final do corredor. Se não fosse pelos anos com seu próprio monstro de estimação, ficaria realmente assustado ao vê-la pôr uma pata no puxador da porta de correr e abri-la de forma tão natural. Ela não se incomodou em fechar depois, no entanto. Deixando aquela pequena curiosidade o guiar, Gintoki não pensou muito antes de entrar logo em seguida.

 A grande felina já havia se aninhado sobre um futon cuidadosamente dobrado num canto, formando uma grande bola branca. Ele olhou dela para a escrivaninha em estilo japonês ao lado, cheia de papéis organizados em uma pequena pilha. Tinta e pincel estavam entre a pilha e um caderno de capa verde feito à mão. Não precisou de mais para o albino se aproximar.

A folha de cima da pilha estava totalmente preenchida com uma série de kanjis, todos iguais. Gintoki sempre foi péssimo com caligrafia, mas dava para ver que quem escreveu aquilo não era tão ruim. Ele se atreveu então a abrir o caderno, e o que viu não o impressionou realmente — a letra, as lições e os exercícios eram todos muito familiares, quase iguais às que ele era obrigado a ler em sua infância. Shouyou conseguia ser previsível às vezes.

Então este era o quarto de Dango. E de mais alguém, pelo visto, já que o futon de Hime não era o único.

A bisbilhotagem então continuou naturalmente, com ele inconscientemente achando que aquilo era justificado, já que era de sua filha que se tratava. No entanto, não havia mais muita coisa à vista além das que já havia observado. A exceção era a porta à sua direita, que ele confirmou ser um armário simples, com duas prateleiras o dividindo em três espaços. A parte de cima continha alguns futon; a do centro era dividida no meio, com o lado esquerdo com roupas de menino e o direito com roupas de menina; a de baixo continha duas caixas de madeira à esquerda e à direita, com "Souichiro" e "Dango" escrito em cima, respectivamente. Havia cartas de algum jogo que ele desconhecia espalhadas no fundo daquele espaço, e sobre a caixa de Dango haviam bichinhos de pelúcia de diferentes cores.

Gintoki iria ainda mais longe, quase entrando no armário a fim de pegar a caixa de Dango, mas se interrompeu ao olhar para o lado, enxergando os desenhos na parte interior da porta. Vários e vários pequenos desenhos a tinta de mini pessoas de palito em uma árvore, uma menina de cabelos alvos e um menino montados em um bicho branco meio deformado, os mesmos menino e menina correndo de outras crianças, menino e menina ao lado de uma figura de cabelo longo amarelo... Eram praticamente pinturas rupestres, mas eram sobre a sua menina, sobre dez anos em que esteve ausente de sua vida. Dez anos de momentos perdidos, de lembranças que ele nunca pôde guardar.

Com o coração se apertando um pouco mais, deu uma volta completa de 360°, devagar, a fim de observar os detalhes restantes. Aquele quarto tinha traços do que ela gostava, de sua rotina, de sua personalidade, de coisas que não eram tão familiares a ele quanto deveriam ser. E isso parecia fora do lugar. Não só parecia, como ele tinha a certeza de que estava.

— Se vier comigo, tenho um álbum enorme no meu quarto. — Uma voz suave o fez virar-se para a porta, aonde encontrou seu mestre, olhando-o gentilmente.

— É um tipo de castigo por eu ter desaparecido? — comentou em tom tranquilo. — Me obrigar a encarar tudo o que perdi? — Fechou o armário, caminhando em direção ao homem.

Shouyou sorriu ao fechar os olhos.

— Apenas achei que gostaria de ver — respondeu ainda gentil. Sem falar mais nada, pôs-se a caminhar em direção ao seu próprio quarto.

Gintoki colocou-se logo atrás dele. Não demoraram muito para chegarem ao cômodo simples, que era ao lado do de casal de amigos. Enquanto o sensei ia até o armário, no canto direito à porta, ele observou distraidamente o ambiente pouco mobiliado, mas absolutamente organizado. Dois futons estavam dobrados na parede oposta, evidenciando que o professor dividia o quarto com alguém, que ele tinha certeza de ser Takasugi. Amaldiçoou-se por sua criança interior sentir uma pontada ao lembrar-se que era ele próprio quem o fazia em uma época passada.

— Aqui está. — Shouyou levantou-se já com o álbum em mãos, realmente grande. Fechou a porta do armário e sentou-se no tapete próximo, convidando implicitamente ao discípulo a fazer o mesmo.

Gintoki aproximou-se, analisando por um instante a capa branca do álbum antes de, calmamente, abri-lo em sua primeira página. O coração do samurai apenas apertou mais quando viu a miúda e com quase nada de cabelo recém-nascida que Shouyou segurava em seus braços. Ele havia testemunhado o nascimento de seus quatro filhos, então podia afirmar que, apesar de nada alarmante, Dango realmente fora um bebê pequeno. Era impressionante pensar que aquela coisinha havia crescido ao ponto de estar alguns centímetros mais alta que os gêmeos hoje em dia.

— Tem mais virando a página. — Shouyou lembrou-o, divertido.

Com um rápido gesto, Gintoki virou para a próxima página do álbum, onde a partir daí já haviam duas fotos por página. Durante mais algumas eles contemplaram mais fotos da menina como bebê de colo, até que a viram sentada, engatinhando, aprendendo a andar e uma em específico onde ela estava com o bocão aberto e Shouyou escrevera logo abaixo: "primeira palavra". Gintoki quase soltou uma risada imaginando qual fora.

A partir daí já haviam fotos dela maior, no quintal com Kagura ou algum outro, até que Souichiro começou a aparecer também e a partir daí havia várias deles no parque ou pelas ruas do distrito. A última que havia, na metade do álbum, era justamente uma imagem das duas crianças chegando enlameados da rua, mas com grandes sorrisos nos rostinhos infantis.

A cada página que virava e a cada foto que via, a insatisfação de não ter podido presenciar cada um daqueles momentos crescia em seu peito. Por mais que sua vida fosse absurdamente corrida, que ele quase não tivesse o tempo que ele desejava ter para desfrutar com seus filhos, ele estava lá; nos primeiros passos, nas primeiras palavras, a cada novidade na vida de suas crianças ele estava presente, senão de corpo, mas por meio de uma ligação repentina de sua esposa contando-o ou através de uma conversa com eles próprios após chegar em casa. Pensar que com Dango ele jamais pôde viver isso o fazia querer ter aparecido antes em Edo, descoberto antes sobre sua existência. Mas infelizmente aquele não era o caso e não era algo que ele poderia mudar, assim sendo, outro sentimento que o preenchia interiormente era gratidão. Gratidão porque por mais que não tenha estado presente naqueles momentos que assistia por meio das fotos, não tinha dúvida alguma de que sua filha fora amada e cuidada como se ele mesmo e sua esposa o tivessem feito, talvez até melhor.

O prateado levantou os olhos para encarar o mestre que o encarava com afeição, obviamente já sabendo de tudo o que se passava em sua cabeça.

— Acredite — Shouyou pronunciou-se o olhando docemente —, eu sou muito mais grato a você por me ter presenteado com Dango, do que você a mim por ter simplesmente feito o que qualquer um de nós nesta casa faríamos.

Algo sem dúvida se aqueceu em seu interior, ao mesmo tempo em que fechava o livro ilustrado.

— Então parece que nós dois temos muito o que agradecer aqui. — Sorriu simples, entregando o álbum nas mãos do sensei, que apenas voltou a sorrir fechando os olhos.

(...)

A música alta e frenética tomou os ouvidos do grupo assim que adentraram o recinto. Entre os corredores das mesas, mulheres vestindo quase nada circulavam e serviam os clientes, muitos deles sentados confortavelmente nos sofás beges, cercados de outras tantas mulheres; essas, porém, vestidas esplendorosamente, como boas cortesãs que eram. Em algumas mesas e no palco ao fundo do amplo salão, dançarinas seminuas executavam seus passos eficientemente.

Gintoki olhou ao redor, ignorando os assovios de surpresa e satisfação atrás de si — alguns poucos soldados das duas organizações o acompanharam, juntos de seus superiores e dos dois jovens yorozuya, que após muito baterem o pé foram atrás do ex-chefe. Procurava por alguém em específico.

— Não estou vendo-a — Miyuki fora quem comentara primeiro, também olhando em volta. — Estamos no lugar certo?

Não teve resposta imediata, entretanto. Ao invés disso, Gintoki caminhou em direção ao balcão, onde uma senhora muito bem vestida sugava um kiseru sofisticado. Os outros o acompanharam com o olhar.

— Boa noite — cumprimentou a mulher, que o olhou.

Embora ela provavelmente passasse dos 50 e tantos anos, sua aparência era de não mais que 40. Parando o kiseru à caminho da boca vermelha, ela o encarou de cima à baixo, em uma análise bastante detalhista, concentrando-se principalmente no símbolo bordado em sua manga, e só então respondeu.

— Boa noite. — Sorriu relativamente sugestiva. — O que traz alguém dessa importância em meu humilde estabelecimento? — Sugou devagar, logo soltando a fumaça inalada.

— Procuro por uma de suas garotas — prontamente informou.

Ela sorriu levemente irônica.

— Todos vêm aqui com a mesma intenção, meu senhor.

— Ayanara. — Ignorou o comentário, indo direto ao ponto.

— Hoo — Bateu kiseru sobre o cinzeiro, fazendo cair algumas cinzas. — Está disposto a pagar o preço pela minha garota mais cara?

— Não tenha dúvidas de que sim. — Sorriu sugestivo.

Ela o encarou mais uma vez e então finalmente levantou-se.

— Aguarde um minuto. Vou chamá-la.

Após sumir pelo portal que dividia os ambientes, não demorou muito para que a dona do estabelecimento viesse à frente de um rosto que ele reconheceria em qualquer lugar. Os longos cabelos negros¹ e ondulados caíam em cascata de um coque alto e bem preso por diferentes e exuberantes adereços. Os olhos igualmente negros brilhavam com as luzes locais, acompanhados dos lábios cheios e cor de vinho. Ela acompanhava a chefe de bom grado até enxergá-lo. Assim que o fez, parou seus passos, encarando-o num misto de surpresa e receio.

— Sinto muito, não posso atender esse senhor, Yana-san — imediatamente pronunciou-se, já virando as costas. — Chame outra garota — pediu, fazendo a senhora levantar as sobrancelhas em surpresa.

Ele, porém, foi mais rápido, alcançando-a e segurando-a pelo pulso. Aproximou-se ao ponto de estar muito perto do ouvido feminino.

— Por que não quer me atender, Ayanara-san? Eu posso pagar muito bem pelo serviço. — Seu tom era baixo, quase um sussurro, mas ainda assim carregado de ironia. — Faço questão de que seja você.

Tornando a virar-se para encará-lo, o fez por alguns segundos, até que puxando o braço suavemente, livrou-se das mãos masculinas, que não a impediram de fazê-lo. Sua resposta fora dada com um sorriso, também carregado de ironia.

— Certo então, Comandante. Vamos a uma sala só nossa — convidou sugestivamente, logo pondo-se a caminhar novamente.

Gintoki seguiu-a sem dizer mais qualquer outra coisa. Aqueles que o acompanhavam duvidaram por alguns instantes se deveriam ir também ou não, mas não demoraram a também seguir os dois após Miyuki tomar a frente do grupo.

Após atravessarem o portal que dividia o salão principal das salas individuais. A mulher parou em frente a uma das portas espalhadas pelo corredor, e ao virar-se se deparou com o pequeno grupo a encarando. Levantando a sobrancelha esquerda soltou ironicamente o comentário.

— Vamos todos participar de uma grande festa? Achei que fôssemos apenas eu e você, Comandante. — Mais uma vez sorriu sugestiva.

— Eu preferiria que ficássemos a sós, — Apontou pra trás com a expressão intencionalmente entediada. — mas eles estão bastante interessados em compartilhar o momento — debochou.

— Então podemos pedir mais entretenimento. — Virou-se mais uma vez, agora para o lado, aonde encontrou duas das cortesãs locais. — Chamem mais algumas meninas; vamos precisar de várias aparentemente. — Observou novamente o grupo, no que as garotas saíram em busca de outras companheiras.

— G-gin-san! Você não está aqui pra trabalhar?! — indignou-se Shinpachi, que agora já era abraçado por uma das várias meninas que apareceram junto das outras duas anteriores. — E-eu s-sou um homem comprometido, moça! — Tentou afastar-se, mas a garota parecia, além de forte, ser insistente.

— Vamos lá, Shinpachi-kun. Se está na chuva é pra se molhar — zombou, já aproximando-se da porta que dividia a sala do corredor.

— Ótimo — a morena declarou ao observar os homens sendo tomados pelas colegas (alguns bem desesperados com o resultado que aquilo traria), ao mesmo tempo que Kagura assistia entediada e Miyuki fulminava o chefe com o olhar, o qual naquele momento já adentrava a sala particular calmamente e distraidamente, ignorando todos os outros.

Assim que adentraram a sala, os rapazes carregados pelas cortesãs que o agarravam, Ayanara fechou a porta, logo encaminhando-se diretamente à mesinha de centro que os sofás circundavam. Pegou um dos copos e o encheu, de costas, entregando em seguida ao prateado, o qual sentava-se num dos cantos do estofado. A morena sentou-se ao seu lado, voltando a sorrir sugestivamente.

— E então, Comandante, como posso servi-lo melhor?

— Ah, eu posso pensar em muitas maneiras. — Devolveu o sorriso.

— Mas nenhuma delas nos ajudará com o que nos trouxe aqui — Miyuki fora quem cortara, mal-humorada, fazendo a outra olhá-la com olhos afiados.

— Essa áurea arisca que eu sinto seria ciúme, Capitã-san? — debochou, fazendo uma pequena veia saltar na testa da ex-gladiadora. — Eu ouvi muitas coisas interessantes quando vivia em Aokigahara sobre você, mas jamais imaginei que estariam certas.

Miyuki rolou os olhos, agora muito mais entediada do que irritada.

— Mas, sabe — a outra continuou, ainda debochada. — eu e o seu chefe temos uma história, e...

— E se formos falar de história com o meu chefe, eu e você perdemos feio pra mulher dele — alfinetou. — Então é melhor voltarmos pro assunto que nos trouxe aqui — concluiu expressivamente irônica.

— Oh, então vocês têm mesmo uma história! — Colocando a mão sobre a boca fingiu imensa surpresa, o que fez Miyuki rolar os olhos novamente, enquanto todos os outros presentes assistiam pasmos a “discussão” das duas morenas.

Ao fim dessa troca de farpas, todos voltaram seus olhares para Gintoki, talvez esperando qualquer palavra dele ou mesmo alguma reação. Esse, entretanto, sequer parecia ter ouvido alguma coisa, pois encarava fixamente a tela de seu celular, com a testa franzida e a expressão concentrada. Após alguns segundos com o grupo o observando em silêncio, porém, ele levantou o olhar, e em seguida as sobrancelhas ao perceber que era encarado com tal intensidade.

— O quê? — questionou assim que viu que iriam continuar sem falar nada.

— Esquece — Kagura quem respondera, também rolando os olhos de tédio.

— Bem, de qualquer forma... — Ayanara voltou a se pronunciar. — De todas as maneiras que você imaginou, de qual delas você quer que eu o sirva agora, Comandante? — Jogando-se levemente sobre o homem, brincava com os botões dourados da farda branca, sorrindo excessivamente sensual, enquanto ele guardava o celular no bolso interno.

Olhando-a com intensidade, embora, diferente dela, seu tom estivesse muito longe da sensualidade, ele segurou os dedos travessos (que já tentavam adentrar a farda) e respondeu a pergunta.

— Aonde ele está? Seu chefe — respondeu a pergunta muda da morena. — Aonde está o Banken? — preferiu referenciá-lo pelo apelido que o próprio Okomura o entregou.

A expressão da cortesã vacilou por um momento, mas ela logo tomou a garrafa em mãos, afastando-se do prateado e servindo à Kondou, imediatamente ao lado deles, tranquilamente.

— Sinto muito, mas não sei do que está falando, Comandante. Talvez a bebida já esteja fazendo algum efeito indesejado.

— Nem mesmo o que você colocou aqui dentro me faria delirar a tal ponto, Ayanara-san. — Sorriu após balançar o líquido no vidro.

Ela o encarou. Sorriu desafiante.

— E o que eu coloquei aí dentro, Comandante? — Encarou o líquido âmbar, e em seguida voltou a face masculina. — Se não quiser beber diretamente, posso beber por você e fazê-lo experimentar por aqui. — Tocou os lábios vinhos de maneira sensual.

— Ou eu posso levar isso direto para o meu laboratório e relacioná-lo a você — contrapôs, colocando o copo sobre a mesa. — O que me diz? — Olhou-a nos olhos.

Ela suspirou conformada.

— Eu não posso ajudá-lo. — Pôs a garrafa também sobre a mesa e cruzou as pernas com classe, expressando bastante frieza em sua calma. — Faz meses que não o vejo. Não faço ideia de onde ele esteja agora. Mas ainda posso te oferecer outros serviços para não perder a noite aqui em vão. — Voltou a aproximar-se do homem, mas o que veio em seguida a surpreendeu tanto quanto era possível se ver nos olhos esbugalhados dos espectadores de Edo.

Pegando-a pelos maxilares e bochechas, Gintoki trouxe o rosto maquiado para perto do seu; mas ao invés de beijá-la (o que parecia que seria feito), aproximou-se ainda mais do ouvido alheio e em um tom baixo, embora audível a todos por conta do silêncio pleno no cômodo, deixou explícito suas intenções.

— Eu sei exatamente aonde seus pais e sua filha moram, e tenho soldados apostos lá agora mesmo — começou calmamente, embora a ameaça fosse muito clara por meio do tom perigoso. — Então, o que me diz de falar um pouco mais sobre o seu irmão, Ayanara-san?

A expressão no belo rosto não poderia ser de maior pânico, embora logo ele tenha se tornado fogo em seus olhos. Fogo esse que direcionou todo ao ex-samurai, assim que livrou-se bruscamente das mãos masculinas e o encarou.

— Você sabia sobre eles o tempo todo — pronunciou-se carregada em rancor. — Você sabe sobre eles, e sabe o que acontecerá com ela se eu abrir minha boca. E você não se importa. Você é um demônio, Comandante — declarou em meio a um sorriso que não trazia nada além de sarcasmo e ressentimento.

— E esse demônio quer apenas uma pequena informação sua. — Ignorando as expressões dos presentes e da própria cortesã, ele pegou um copo limpo e encheu até a metade. — E então? Aonde ele está agora? — Levou o líquido a boca, encarando-a tranquilo.

— Ele está aqui em Edo. Posso te informar a casa da família que o está hospedando aqui, mas a altura que vocês chegarem lá, ele já estará longe. Com certeza já sabe que me procurou aqui.

— Ainda estaremos mais perto de alcança-lo do que estivemos antes. — Levantou-se. — Tragam-na — ordenou aos soldados que àquela altura já haviam se desvencilhado das mulheres que os cercavam e estavam de pé, apostos para receberem ordens. Assim que a receberam, colocaram-na em prática. — Ficará em custódia por enquanto, — Bebeu todo o líquido restante em um único gole, em seguida pondo a vidraria sobre a mesinha. — até eu não precisar mais dos seus serviços — ao fim ironizou, para então deixar a sala sem olhar para trás.


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Notas finais do capítulo

1 - Ayanara: https://i.imgur.com/JFlBQyJ.png



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