Redemption escrita por Marimachan, Ginko13, Fujisaki D Nina


Capítulo 11
XI - Deep Emotions


Notas iniciais do capítulo

Boa noite! Então, né... resolvi voltar a postar essa fic aqui no Nyah também. Eu havia parado, pq tinha desanimado do site, mas continuei escrevendo a fic lá no Spirit. No entanto, contudo, todavia, resolvi voltar a postar aqui também! Voltei as origens XD
Então segue o capítulo 10 de Redemption. Até mais! =*



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/725154/chapter/11

 

A lua brilhante e redonda pairava no céu, permitindo que ele pudesse enxergar uma fraca sombra sob seus pés. As árvores acompanhavam a brisa, dançando ritmadas e sem pressa. Do mesmo modo, Shouyou seguia seu caminho, observando atentamente qualquer sinal de onde poderia estar a pessoa que ele procurava. Distraído enquanto caminhava, observou que era uma noite muito parecida com essa aquela em que encontrou Dango à sua porta, por mais que fossem estações diferentes.

Aquela também era uma noite clara e fresca. Uma excelente noite de primavera aos olhos dele, que naquela época voltava para o lugar o qual havia aprendido a chamar de casa.

Não era tão tarde, mas também já não era mais tão cedo; ele voltava de uma caminhada noturna àquela hora. Gostava da sensação de caminhar por aí apenas para observar as coisas à sua volta, e o fazia tanto de dia quanto à noite; nesse último caso em particular ele preferia o fazer por volta daquele horário, quando as ruas já não estavam mais tão movimentadas e a maioria das pessoas já haviam se recolhido em suas casas.

Gostava de ir aos parques e lagos, observar as coisas tranquilas e pensar sobre tudo: do que faria no café da manhã seguinte até seus questionamentos e constatações mais filosóficas e profundas. Era um hábito que sempre apreciara cultivar, independente da época ou da situação. E era um hábito que lhe fora muito útil naqueles meses, porque o ajudara a colocar alguns pensamentos em ordem. Pensamentos esses que convergiam em constatações e sentimentos bastante conflituosos.

Desde que voltara a vida mais uma vez, compreendeu o sentimento daquela personalidade em especial de querer destruir aquele planeta para que sua maldição chegasse ao fim; por isso ele precisava encontrá-los, para então poder reviver o momento único de sua vida infinda em que desejara mais que qualquer outra coisa continuar vivendo. Quando chegou a Edo, procurou por aqueles que precisava encontrar. Qual sua surpresa quando chegara ao lugar e descobrira que ele, a quem mais precisava ver, não estava mais na cidade; abandonara tudo novamente, mas daquela vez sem qualquer aviso prévio ou despedida. Além disso, a felicidade de ter Takasugi de volta algum tempo depois debatia-se com a perda trágica de sua discípula mais caçula em janeiro daquele ano, e todos aqueles sentimentos conflitavam-se entre si, o fazendo experimentar muitas coisas diferentes ao mesmo tempo.

Suspirou, inspirando o ar fresco da rua deserta.

Aproximava-se da propriedade que era seu destino. Passeou com os olhos pelas árvores além dos muros, já no jardim de Otae. Sorriu. Fazia cerca de seis meses que o acolheram ali, e sem dúvidas sentia toda a hospitalidade da casa e de seus moradores. Podia-se dizer que se acostumara rápido ao fato de também poder chamar aquele ambiente de lar. Caminhando mais um pouco, finalmente chegou ao portão, baixando seu olhar pela primeira vez desde que entrara na rua. E, céus! Qual não fora a sua imensa surpresa ao enxergar o que ali se encontrava.

Ainda com os olhos bem abertos em surpresa, Shouyou abaixou-se até a cesta em frente ao portão de madeira, dentro da qual se encontrava uma pequena criaturinha, embrulhada em vários cobertores. Sorriu docemente, embora o sorriso carregasse também um leve pesar.

― Hey ― chamou baixinho, abrindo um pouco das mantas para ver melhor o rostinho, que logo reconheceu como feminino. ― Acreditava ser impossível serem capaz de abandonar uma pequenina com um rosto tão adorável ― comentou para a recém-nascida, que mesmo que não estivesse dormindo e o ouvisse, não entenderia coisa alguma.

Analisando melhor a cesta, percebera que tinha uma carta em um canto, aonde provavelmente responderiam algumas perguntas. Pegando então a bebê nos braços, com cuidado para não acordá-la, Shouyou empurrou o portão com o corpo, enquanto com a outra mão carregava também a cesta para dentro. Não demorou muito a entrar na casa e na sala principal, na qual todos se encontravam, como sempre, numa conversa animada.

― Tadaima ― anunciou chamando a atenção de Otae, Shinpachi e Kagura, que tão logo responderam o cumprimento já se levantaram, admirados e surpresos com a companhia do professor.

― Hooo ― Kagura fora a primeira a se pronunciar. ― O que está fazendo com esse bebê, sensei?? Você teve um filho e nunca contou pra gente??! ― escandalizou-se, mas não demorou a receber um riso contido como resposta.

― Não, Kagura-chan. Os únicos filhos que eu tive já se tornaram bons adultos bons-em-nada. ― Sorriu fechando os olhos, enquanto abandonava a cesta vazia sobre a mesinha de centro. — Embora um deles tenha voltado a ser um pirralho. — Divertiu-se ao lembrar-se de Takasugi. Logo o sorriso entristeceu-se um pouco, porém. ― Encontrei essa pequena preciosidade deixada em frente ao nosso portão.

― Mooh, abandonaram essa pobre criança à nossa porta? ― Otae repreendera a atitude, se aproximando do mais velho e da menininha.

― É o que parece... ― Shinpachi também se aproximou.

A Shimura mais velha pediu então para segurar a miúda em seus braços, para observá-la melhor. Não podia deixar de sorrir, mesmo que não soubesse nada sobre aquele bebê, ele era tão fofo quanto qualquer outro. Aquelas bochechinhas rosadas davam vontade de morder e aqueles ralos fios de cabelos prateados, que apareceram por a manta ter escorregado, eram-

― “Prateados?” ― O semblante de Otae ficou sério no mesmo instante, sua linha de raciocínio mudando totalmente.

De fato, ela podia perceber que os poucos cabelos que cobriam a pequena cabeça eram de um tom meio branco prateado; um fio ou outro mais comprido já fazendo uma leve onda. Aquilo não poderia remetê-la à lembrança de outra pessoa que não...

― Anego? ― O chamado de Kagura a fez pular de surpresa, arrancando-a de seus pensamentos. ― Está tudo bem?

— A-ah... Sim, sim, Kagura-chan. ― Fez questão de voltar a sorrir. ― Só estava pensando no quanto este bebê é bonitinho.

— Bebê bonitinho? ― Entrando na sala naquele momento, Kondou só teve tempo de processar essas duas palavras. ― Claro, Otae-san, teremos quantos você qui- Pow!! ― Um soco bem dado de sua amada interrompeu-o.

— Que isso já sirva para você parar de falar bobagens, estou com as mãos ocupadas aqui ― alertou.

Recuperando-se do golpe, Kondou aproximou-se mais lentamente agora, um tanto surpreso ao ver a criaturinha que Otae segurava.

— Olha, tem um bebê mesmo. ― Piscou, analisando o rosto da criança. ― Não se parece com nenhum que eu tenha visto com as vizinhas daqui. De onde veio?

— Uma pessoa misteriosa deixou aí na porta. ― Kagura foi quem explicou mais uma vez.

— Heim? ― Kondou olhou para ela, para o bebê e de volta para a ruiva. ― Como assim deixou? Alguém simplesmente abandonou essa criança aqui? Sem mais nem menos?

— Parece que sim ― Otae murmurou pesarosa, mirando com pena o rostinho adormecido.

— Mas por quê? ― Voltou a questionar o policial.

— Não sabemos ― Shinpachi declarou pensativo.

— De quem é esse bebê? ― Kagura repetiu a dúvida de todos.

Parecia que o silêncio iria reinar, com os quatro procurando alguma resposta, mas uma das portas sendo aberta de supetão acabou com essa possibilidade.

— Elementar, meus caros. ― Zura adentrou a sala calmamente, segurando um cachimbo e usando um chapéu de detetive. ― A resposta para esse caso do bebê é a mais simples que poderia haver.

— Você estava ouvindo tudo?! ― Shinpachi esbravejou.

— Pensem bem: um bebê desconhecido é abandonado, no meio da noite, por uma pessoa também desconhecida ― falava como um professor explicando o raciocínio do exercício. ― Mas o mínimo que essa pessoa tem de oferecer às pessoas com quem deixou o bebê, é uma carta dando as mínimas explicações. ― Olhou para Shinpachi e Kagura. ― Por acaso ele estava numa cesta ou algo assim?

― Sim ― a voz suave de Shouyou voltara a ecoar, com ele já com a carta em mãos. ― Você está certo.

— Ahá! ― o ex-Joui exclamou, surrupiando a carta e erguendo-a como um troféu. ― Aqui está a prova do crime!

— Não deveria ser uma pista? ― corrigiu Shinpachi, que novamente foi ignorado.

― Pode ler para que todos possamos ouvir, por favor, Kotarou? ― pediu, ao mesmo tempo em que se divertia com a situação.

Katsura não demorou a atender ao pedido de seu mestre.

— “Ouvi falar que Sakata Gintoki está”... ― E parou por aí.

Ao ler o nome de Gintoki, não só os ânimos de Katsura, mas os de praticamente todos naquela sala, pareceram morrer imediatamente.

Fazia muito tempo que sequer ouviam falar do samurai.

Todos sentiam por aquela partida repentina, mas ninguém sentia mais do que os membros restantes do Yorozuya. E era por isso que os três adultos não faziam nada além de mirar os rostos depressivos de Kagura e Shinpachi; já sabiam não poder fazerem nada para animá-los nesse caso. E mesmo que algum deles fosse adquirir coragem para se pronunciar, não tiveram essa chance após Shouyou fazê-lo.

― Katsura ― chamou com calma, parecendo tirar os outros do transe ―, poderia continuar, por favor?

O de cabelos cumpridos acenou positivamente, pigarreando e então voltando a ler.

― “Ouvi falar que Sakata Gintoki vivia nesse dojô. A quem possa interessar peço que, por favor, entregue este bebê a ele. Não tenho condições de criá-la e já quase fui demitida por não conseguir trabalhar direito nesses últimos meses. Ela nasceu há menos de uma semana, no dia 16 de abril. Digam o nome Bar Kanaoka e ele talvez se lembre de nosso encontro há nove meses. Agora está nas mãos de vocês entregá-la, e nas dele criar a própria filha.”.

Era fato que enquanto ouviam as palavras lidas por Katsura, a expressão da maioria dos presentes na sala ia tomando proporções gigantescas de surpresa. O silêncio voltou a reinar após o fim da leitura, num momento aonde todos encaravam a garotinha, que agora estava acordada e de volta aos braços de Shouyou, sem saberem o que dizer ou mesmo o que pensar.

― Abandonada pela mãe e, acidentalmente, pelo pai... ― Kondou comentou com grande pesar.

― Parece que o destino não foi generoso com você, não é mesmo, pequena? ― Shouyou foi quem falou, olhando para a bebê em seu colo e expressando também pesar em seu sorriso.

― Shouyou-sensei... ― O chamado de Shinpachi foi quase um sussurro desesperado. ― O que vamos fazer agora?

O professor observou a menina por mais alguns instantes antes de responder, depois dela se mexer em seus braços e finalmente abrir os olhinhos, passando a encará-lo curiosa. Seu sorriso voltou a se tornar terno e gentil.

Desde que naquele lugar chegara, não sabia de fato como as coisas seriam dali em diante; vivia um dia de cada vez, mas sem conseguir enxergar o que o aguardava ou por quais caminhos deveria voltar a caminhar. Curioso como suas respostas sempre eram encontradas nele. Naquela época, tantos anos atrás, encontrara seu caminho naquele pequeno demônio fofo, que lhe devolveu seus anseios e sua esperança, mostrando que talvez ele realmente pudesse ter a oportunidade de aprender com os humanos e de amá-los de uma forma única. Agora, quando mais uma vez se encontrava perdido, sem saber por onde recomeçar aquela vida infinda, ali estava ele lhe mostrando a resposta novamente. E, finalmente, poderia retribuir ao seu pequeno samurai um pouco de tudo o que ele já fizera por ele até ali.

― Parece que sendo não tão feliz para esse pequeno ser adorável, o destino está sendo generoso comigo. ― Levantou seus olhos para encarar os presentes, mas logo voltou a olhar a garotinha. ― O que me diz, pequena? Permite que eu cuide de você no lugar do seu pai? ― questionou a bebê, como se ela pudesse entendê-lo.

E assim que terminou a pergunta, sentiu a pequena mãozinha enluvada agarrando uma mecha de seus longos cabelos, externando ruídos fofos, naturais de bebês recém-nascidos. Sorriu animado a seu modo, de olhos fechados.

― Vou entender isso como um sim!

― Então vamos ficar com ela? ― Kagura ajoelhou-se em frente ao mais velho, permitindo que a menina agarrasse seu dedo indicador.

― Sim ― respondeu, mas logo olhou para Otae. ― Caso ache que não seja possível criar a ela e Takasugi aqui, Otae-san, gostaria que me dissesse. Não tenho problema algum em procurar um lugar para nós três. ― Sorriu gentilmente.

― Oh! Jamais, sensei! ― Ela sorriu também. ― Claro que podem ficar conosco. E nós podemos ajudá-lo a cuidar deles. Até porque, dois bebês dão bastante trabalho ― ofereceu, também gentil.

― Obrigado ― agradeceu ainda sorrindo.

― Está tudo muito bom, mas ainda temos uma questão a ser resolvida! ― Katsura voltou a se pronunciar, com Kondou ao seu lado; ambos de braços cruzados e ar de importantes.

Todos os olharam curiosos, indagando silenciosamente o que seria.

― O nome! ― responderam em uníssono.

― É verdade! Não tem nome na carta... ― Shinpachi tomou o papel em mãos, para confirmar.

― Hum... Vejamos... ― Shouyou pôs-se a pensar, enquanto sentia os leves puxões em seu cabelo.

Olhou mais uma vez para o rostinho miúdo, analisando cada detalhe dele e então parou alguns instantes nos olhos abertos e aparentemente espertos. Eram de um amável castanho, tranquilo e doce. Sim, muito doce. Sorriu abertamente, novamente a seu modo, de olhos fechados.

― Ela se chamará Dango!

Mais uma vez sorriu enquanto se pegava relembrando tais momentos, mais de dez anos antes. Desde então ele decidiu reabrir a escola, acolher novamente as crianças que podia, ensinando-as e educando-as. Dango e Takasugi eram seus pequenos sóis e foi sob a luz dos dois e de todos aqueles que passaram a fazer parte de sua vida que ele viveu aquela década, reencontrando-se e redescobrindo a vida tão bela como ela era.

Agora, ele queria (e torcia para isso) saber se seu pequeno samurai prateado também tivera essa oportunidade.

Ele não podia estar muito longe, já que o disseram que o hotel ficava próximo de onde moravam. Havia a possibilidade dele estar justamente no hotel, mas conhecendo-o tão bem quanto sabia que o conhecia, era mais provável que estivesse em algum lugar por ali. E, de fato, não demorou a constatar que estava certo.

Sorrindo, o professor encaminhou-se para o banco ao longe, em meio ao parque deserto.

— Achei que um respeitável comandante não pudesse ficar largado na rua, se embriagando. — Seu tom, ainda que suave, era divertido. Principalmente após observar o pupilo sobressaltar-se.

Antes do professor chegar ali, Gintoki contemplava as águas à sua frente, em silêncio, enquanto era acompanhado apenas de sua garrafa, a qual preferira comprar e ingerir ali sozinho ao invés de encarar um bar lotado que em nada o ajudaria a pôr os pensamentos em ordem — não que o álcool dali algum tempo o permitiria fazer isso. Engasgou feio ao ouvir a voz tão conhecida, sobre a qual pensava instantes antes.

Ainda tentando não morrer engasgado e de susto, batendo no peito com força e exagero, virou-se para trás imediatamente.

Após conseguir recuperar-se, observou a figura ali de pé. Ele estava exatamente como nas lembranças tão distantes que guardava em sua memória. Os cabelos cor de palha, longos, balançando suavemente com o vento, os olhos da mesma cor, tão gentis quanto a feição agradável, que era acompanhada pelo sorriso idêntico ao que também se lembrava. Achava que era impossível ficar mais perturbado do que já estava anteriormente, mas parecia ter se enganado. Enxergar cara a cara aquele homem novamente fez com que a confusão interior aumentasse em grau e complexidade. Algo em seu rosto deve ter transpassado isso, pois o sorriso afável sumira, dando lugar a um olhar relativamente mais triste, e preocupado.

— Por que voltou àquele lugar? — Seu questionamento, no entanto, surpreendeu o mais novo, pois não era o que ele esperava.

Alguma coisa em seu interior remexeu-se desconfortavelmente, fazendo-o virar de volta para o lago.

— Porque tinha que voltar — respondeu simples.

Shouyou o observou por alguns instantes antes de dar a volta e sentar-se ao lado do prateado.

— Então está me dizendo que abandonou tudo e voltou ao único lugar que você odiava mais que qualquer outra coisa porque “tinha que voltar”? — Sua reposta fora apenas o dar de ombros silencioso, seguido de mais uma dose da bebida. Observou-o por mais alguns instantes. — Gintoki, eu conheço a você e sua história naquela cidade bem o suficiente para saber que esse não pode ter sido o motivo.

— E isso me faz lembrar, — Encarou ao professor com certa severidade. — você sabia sobre Aokigahara e sobre o clã. Por que não me procurou para contar sobre Dango? Foram 10 anos sem eu ter a ideia da existência dela e-

— Pare.

Ele se calara assim que o tom imperativo fora reconhecido. Embora a expressão de Shouyou permanecesse tranquila, ele não demorou a reconhecer também a expressão levemente repressiva.

— Não mude de assunto, Gintoki. Podemos falar sobre Dango depois. Meu único objetivo aqui é você. — Seu tom ainda era calmo, mesmo que um tanto mais sério. — De qualquer maneira, eu acabei de lhe responder essa pergunta. Eu jamais imaginei que algum dia você voltaria àquela cidade.

Largando a garrafa no banco, desviando o olhar, ele sorriu consigo mesmo, em expressa ironia.

— Eu menos ainda...

— Então por que voltou? — repetiu o questionamento.

— Eu não menti, Shouyou... Eu voltei porque era o que eu tinha que fazer. — Encarou o mais velho.

— Eu não queria ter que voltar a ver esse olhar... — Seus próprios olhos cor de palha entristeciam-se mais uma vez, ao observar o pupilo. — Não depois de tanto tempo.

Tornando a vagar seus olhos pelas águas claras, sua resposta saiu em um sussurro quase inaudível.

— E eu não queria ter que voltar a ver você.

O impacto que aquelas palavras causaram no mais velho não tinha como ser medido. Por alguns instantes Shouyou permaneceu paralisado, em surpresa, pela afirmação. Após alguns segundos, contudo, a surpresa e a dor de ouvi-las se transformaram em compreensão, e seu olhar voltara ao estado anterior.

— Então foi por isso que voltou. — Gintoki o olhou confuso. — Você acredita que poderá pagar por seus pecados cometendo mais deles, Gintoki? Acha que viver uma vida que não é sua, construída em cima de tragédias e mentiras, irá trazer redenção?

— Eu não busco esse tipo de coisa — afirmou com a mesma seriedade que o outro carregava em sua expressão. — Não busco algo que não existe.

— O que você busca então? Ou está apenas vagando sem saber o que buscar? — O olhou fixamente. O prateado desviou o olhar mais uma vez, em silêncio. — Porque o que eu vejo agora — continuou — é apenas um homem perdido dentre as próprias escolhas que fez.

— Você fala como se algum dia eu tenha me encontrado. — Sorriu com ironia, ainda sem encarar o mestre.

— É verdade que você nunca teve metas a buscar, mas sempre teve algo a te guiar — afirmou sem alterar seu tom. — Mas, ao menos que me mostre o contrário, me parece que também perdeu isso ao aceitar voltar para Aokigahara. É isso? — chamou a atenção do mais novo, que finalmente voltou a olhá-lo. — O samurai que eu conheci e criei não possui mais aquilo a que eu mais amava e admirava? Ou ainda está aí, em algum lugar, escondida e ofuscada pelo peso da culpa?

— Eu odeio você. — Olhava-o perturbado, admitindo a habilidade do professor de desvendá-lo tão facilmente. — Por que está fazendo isso? — referenciou-se ao enfretamento direto pelo qual passava naquela conversa.

Shouyou observou-o por alguns segundos, seu olhar terno e gentil tornando a tomar sua face.

Tanto tempo antes o encontrara em meio a tantos cadáveres. Naquela época lembrava-se de ter se perguntando como uma criança tão pequena era capaz de fazer aquilo. O que chamara sua atenção, entretanto, não foram a força e habilidades descomunais do pequeno, mas sim o olhar que ele carregava consigo. Jamais pensou que seria capaz de enxergar aqueles olhos em outro lugar que não em um espelho: o olhar de quem, mais que qualquer outra coisa, desejava não estar vivo, mas que não era capaz de morrer. Não fazia ideia de qual era o motivo para ele não ser capaz de findar a própria vida, mas sua curiosidade e interesse por ter encontrado um semelhante unira-se completamente ao desejo crescente de arrancar aqueles olhos e transformá-los nos adoráveis que uma criança deveria ter.

Era pensando nisso que à sua frente não estava o homem Sakata Gintoki, agora Comandante Geral da Tenshouin Shinikayou, tão importante e provavelmente igualmente temido pelos inimigos que fizera no decorrer dos anos; estava a criança desconfiada e assustada, que naquele dia encontrara, a qual se tornara a luz e a guia de seu caminho para amar incondicionalmente aos seres humanos. Quem ele enxergava era o mesmo pirralho impertinente que tantas vezes alcançava a incrível façanha de fazê-lo perder a paciência, que fazia qualquer coisa para comer os doces que ele preparava, o mesmo ao qual ele se via acalentando em seu próprio futon quando sonhos desagradáveis o afligiam. A mesma criança da qual ele conseguira arrancar os mais belos sorrisos, afastando dela aquele olhar que encontrara. Ver que ele voltava a preencher os olhos avermelhados do prateado era muito mais doloroso do que ele conseguiria descrever em palavras. Não podia deixar daquela forma.

“— Shouyou, eu vou proteger tudo o que você mais ama — declarou inesperadamente, surpreendendo o professor, que acariciava distraidamente os cabelos bastos sobre suas pernas.

— Hoo — exclamou olhando-o. — Isso é uma promessa? — Sorriu, fazendo o garoto afirmar positivamente. — Sendo assim... — Ergueu a mão direita, com o dedo mindinho estendido em forma de gancho. — Eu prometo então que sempre vou estar aqui, pra quando o seu bushido¹ estiver pesado demais para você carregar sozinho — devolveu ternamente, ainda sorrindo, esperando o pequeno corresponder ao gesto; o que não demorou a acontecer.”

— Porque preciso te lembrar do que me prometeu naquela época e do que eu te garanti de volta. — Gintoki o olhou surpreso. E ele sorriu da forma mais terna do que lembrava ter voltado a sorrir alguma vez. — Eu ainda estou aqui, meu pequeno samurai. E estou realmente feliz por isso.

Por um momento o ex-yorozuya pareceu em transe, sem saber o que tinha ouvido ou o que responderia. Logo, porém, não foram palavras que tomaram seus lábios, mas sim o sabor salgado que fazia muitos anos não sentia mais.

Ainda um tanto paralisado, ele finalmente começou a perceber que as lágrimas abandonavam seus olhos sem permissão, e embora tenha pensado em contê-las e ignorá-las isso se tornou impossível quando sentiu os braços do professor em volta de seus ombros e sua cabeça. Somente depois de alguns milésimos que ele compreendeu estar sendo abraçado, e então a realidade de toda aquela conversa finalmente desabou sobre ele.

Shouyou estava ali. Assim como havia o prometido tantos anos antes, ele estava ali. E não importava ao professor que tivesse voltado ao ciclo de sua vida sem fim porque seus discípulos não conseguiram salvá-lo; não o importava ter sido obrigado a ressuscitar mais uma vez. Shouyou estava feliz em estar de volta, em estar com eles, e compreender isso fez com que um choro compulsivo o tomasse, dessa vez sem ele sequer esforçar-se para evitá-lo, agarrando-se às vestes do professor como se aquilo fosse a única coisa a que ele pudesse se agarrar no mundo para não desabar de vez.

Nada, absolutamente nada, poderia descrever tudo o que Sakata Gintoki sentia naquele momento.

(...)

― Deixa que eu faço isso. – A voz suave, mas evidentemente divertida do mais velho soou após assistir ao discípulo tentando, sem sucesso, acertar a chave na fechadura.

A resposta foi um resmungo incompreensível e a chave em suas mãos. Ainda apoiando Gintoki de um lado, o professor aproximou-se da porta, facilmente encaixando o metal e virando-a.

Soltando-se do mestre, Gintoki já tinha as mãos na maçaneta, para virá-la e entrar no quarto. Antes de fazer isso, porém, a porta abriu-se bruscamente, o que obviamente o levou a desequilibrar-se e cair sobre a única coisa à sua frente: sua esposa. O que por pouco não os levou ao chão.

― Bom dia ― Shouyou cumprimentou, sorrindo a seu modo, fechando os olhos. ― Vim entregar seu marido.

― Tadaima ― anunciou Gintoki, por sua vez, com a voz abafada pelos seios fartos da morena, que foram o amortecedor de sua cabeça.

De início, Mayah pareceu ficar sem reação; ao que os segundos seguintes iriam se passando, porém, um leve rubor ia aparecendo em seu rosto. Mas esse rubor estava longe de ser por vergonha.

― Você sai. Sem avisar. Volta às quatro da manhã. Bêbado ― constatou de forma pausada, aparentemente calma, mas só aparentemente mesmo. ― Se você quer morrer é só me avisar, Gintoki. ― O tom ainda era contido, mas o sorriso tremido, acompanhado da veia que saltava em sua testa deixavam bem claro que ela estava se controlando para não empurrá-lo da sacada do quarto.

― Não precisa ficar violenta ― resmungou ainda com a voz abafada. ― Oe, o que é isso? Estão escorregadios... ― completou enquanto sentia seu rosto escorregar cada vez mais pelo decote feminino.

― Sinto muito por tê-lo deixado chegar a esse ponto, mas nunca fui muito bom em impedí-lo de fazer o que queria ― o professor pronunciou-se, ainda sorrindo. ― Mas parece que você é mais capaz do que eu de mantê-lo nos trilhos ― brincou, ao mesmo tempo em que observava ela agora puxar com força o marido pelos cabelos, fazendo-o reclamar de dor.

― E quem é você? ― perguntou irritadiça, terminando de puxar Gintoki de seus seios, agora pela gola do kimono, fazendo-o ficar de pé (ou o mais de pé possível, já que ele se esforçava para não tombar para o lado, precisando escorar-se no batente da porta).

― Ah, perdão pela falta de educação. Eu sou Yoshida Shouyou, mestre de Gintoki ― apresentou-se, inclinando o tronco respeitosamente.

A boca de Mayah abriu-se em um ligeiro "o", mas logo ela também curvou-se.

― Oe, vamos entrar...

― Sakata Mayah ― ignorando o albino, apresentou-se de maneira muito mais gentil. ― É um prazer conhecê-lo, Shouyou-sensei. ― Pôs-se ereta mais uma vez, sorrindo. ― Já ouvi muito sobre o senhor.

― Espero que tenham sido boas coisas. ― O mais velho devolvia o sorriso da mesma forma.

― Oe, vamos pra cama...

― Sem dúvidas, foram. Sei, por exemplo, que foi um excelente professor.

― Oe...

― Eu duvidaria disso, considerando que meus três principais discípulos se tornaram adultos problemáticos e imprestáveis.

― Oe! Eu estou aqui! ― A voz engrolada de um dos ditos cujos ecoou mais alto.

― Cale a boca! ― mandou a esposa. ― Você só não está morto ainda porque se eu tivesse no seu lugar hoje, eu também teria enchido a cara. ― Suspirou ao admitir, desistindo de se irritar.

Shouyou riu levemente.

― Bem, minha missão de trazê-lo em segurança até aqui foi cumprida, então acho que devo ir ― o mais velho começou a despedir-se sorrindo. ― Deixo-o nas suas mãos agora.

― Tudo bem ― ela respondeu e então suspirou mais uma vez. ― Obrigada e perdão por ter sido obrigado a isso ― pediu.

― Não se preocupe com isso. ― Gesticulou gentilmente com uma das mãos. ― Até mais tarde, Mayah-san ― despediu-se finalmente e virou-se, caminhando em direção ao elevador.

Mayah deu-se ao luxo de observar o homem distanciar-se por alguns instantes, antes de virar-se para o esposo, que, desistindo de conseguir a atenção da mulher, já se encontrava sentado na cama, tentando tirar os sapatos. A morena rolou os olhos com as tentativas falhas.

― Deixa que eu faço isso! ― Aproximou-se novamente irritada, já abaixada para tirar os calçados masculinos, bem como se preparando para ajudá-lo a despir-se e enfiá-lo debaixo do chuveiro gelado; pensamento o qual a fez suspirar mais uma vez e reclamar. ― Sinceramente.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado! Até o próximo ^^



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Redemption" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.