An Ordinary Life escrita por JhullyChan


Capítulo 21
Capítulo 21 - Um passado não tão distante.


Notas iniciais do capítulo

"It's hard to dance with a devil on your back
So shake him off, oh woah" (8)



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Legenda:

Itálico – pensamentos

Negrito – sonhos/lembranças

By Kinomoto Sakura

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Será que eu realmente teria coragem? Perguntei a mim mesma.

Metade de mim tinha consciência de onde estávamos e no que havíamos acabado de conversar, mas minha mente ainda estava focada nela.

— Shiefa me contou que ela te mostrou o meu quarto, no dia do casamento de Fuutie. – Ouvi a voz de Syaoran e olhei para ele.

— Sim. Ela me arrastou para lá. – Sorri, na tentativa de deixar o clima mais leve. – Amei a parede de fotos. – Comentei sobre a única coisa que realmente havia me chamado a atenção.

— Foi ideia da minha mãe. – Continuei prestando atenção nele, tentando descobrir aonde ele queria chegar. – Quando voltarmos lá, vou te explicar cada pessoa nas fotos. Por enquanto, preciso te contar sobre uma em específico.

— Abe Midori. – O nome saiu de forma automática da minha boca e por segundos, depois de perceber a expressão de Syaoran, me arrependi por tê-lo feito. – Não se preocupe, Shiefa me falou somente o nome dela, nada mais. – Ele confirmou que havia entendido.

— Midori e eu nos conhecíamos desde crianças e, desde o nascimento dela, fomos prometidos um para o outro.

— Isso me lembra daqueles filmes e estórias de contos de fadas. – Tinha consciência que havia dito coisas sem sentido, mas só em mencionar Midori, Syaoran havia mudado o semblante.

— Quem me dera se fosse. – Ele sorriu de forma simples, mas era perceptível o esforço. – Desde criança eu sabia que ela estava destinada a ser minha esposa, e com isso, nós crescemos juntos. – Fiquei quieta, esperando que ele continuasse. – Namorei dos 15 aos 18 anos. – Franzi a testa ao perceber o quão difícil era para ele colocar aquilo para fora. – Abe Midori morreu, aos 17 anos, baleada em um confronto de gangues na Indonésia, onde estava há dois meses fazendo trabalhos voluntários. Ela ficou em coma por quatro meses, mas por fim, os médicos decretaram a morte cerebral dela e ela faleceu na mesma noite.

— Eu sinto muito. – Era a única coisa que eu conseguia pensar. Ainda processava a ideia de que a tão misteriosa e querida, Abe Midori, havia morrido e de forma tão trágica.

— Eu estava estudando na Austrália quando tudo aconteceu e só pude acompanhar o último mês de vida dela. Foi horrível vê-la definhando e morrendo aos poucos.

— Por isso você se fechou por tanto tempo. – Tentei conforta-lo de alguma forma. – O que foi totalmente compreensível.

Senti minhas mãos tremerem de leve e meu coração se acelerar, mas não entendi o motivo.

— Sim... E eu estava conseguindo, até uma certa garota surgir na minha vida. – Tentei segurar o sorriso, mas não consegui por muito tempo.

Syaoran me beijou de forma delicada e trilhou carícias até o início do meu pescoço. Levantei a cabeça, sem hesitar, fazendo com que eu me arrepiasse completamente quando Syaoran explorou meu pescoço com beijos e mordidas. Amava a forma como o meu coração batia feito louco quando era tocada daquela forma. Mas quando Syaoran mordeu o lóbulo da minha orelha, soltei o ar de forma lenta e por pouco não se transformou em um leve gemido.

Eu me surpreendia com a forma que nossos atos completavam o do outro. Principalmente quando nos beijávamos.

— Obrigada por me contar sobre ela. – Disse enquanto nossas testas estavam encostadas. Syaoran não me respondeu. Abri os olhos e ele continuava com os olhos fechados. Segurei o rosto dele e distribuí selinhos ao longo do rosto dele. – Sei que as lembranças da partida dela são dolorosas, mas me senti honrada por você ter confiado em mim.

Por dentro, eu tentava me convencer de que aquilo era a coisa certa a se fazer. Midori havia morrido. Era apenas passado agora. Um passado ao qual ele ainda está preso e um fantasma que sempre o acompanhará. Ela foi o primeiro amor dele... Como competir com isso? Me perguntei.

— Há algo mais que você queira me contar? – Tentei mascarar o ciúme que crescia dentro de mim, me convencendo que aquele sentimento era injustificável.

— Ela foi a única namorada que tive de verdade. – Syaoran se afastou de mim, e percebi que me analisava. – Depois dela, fiquei com poucas mulheres, mas nada sério. – Uma luz se ascendeu na minha cabeça, tentando me controlar. Kinomoto Sakura, você nunca foi ciumenta ou possessiva... O que está acontecendo com você?

— Por que essa sentença me cheira a sexo regado a álcool? – Não consegui conter meu lado levemente sarcástico que havia adquirido com Touya e aprimorado com Syaoran.

— Desde quando você entende nas entrelinhas? – Ele me perguntou de forma implicante.

— Desde quando comecei a passar tempo demais com um certo chinês. – Tentei ser engraçada. Era a única escapatória que tinha.

— Sim, você está certa. Depois de Midori e antes de você, todo envolvimento que tive foi puramente sexual. – Ele mexeu os ombros, como se aquilo pouco importasse. Balancei a cabeça, afastando todos os pensamentos que continuavam brotando na minha mente. – Não vai fazer escândalo ou dar piti? – Mexi os ombros.

— Não posso te julgar. Sua mente, sua estória e sua realidade são diferentes da minha. Além do mais, quando o cara tem lábia, como eu sei que você tem, é difícil imaginar que ele tenha ficado sozinho por tanto tempo. Então, eu já esperava por isso. – Deixei que o meu lado sensato e racional continuasse no controle. Por fora estava um poço de compreensão e por dentro, meu sangue fervia. Mas não me sentia no direito de achar ruim. Isso foi antes dele me conhecer... Respira... E se...

— Sua tranquilidade não me convence, mas vou tentar acreditar que você está bem com tudo isso. – Ri. Parecia que ele estava lendo minha mente e percebendo minha luta interior.

— Idiota. – Fiz graça o empurrando.

— E você, senhorita Kinomoto, há algo que queira me contar? – Senti, no tom que ele usava, uma leve indicação de posse. Homens... Seres territorialistas. Lembrei de Touya novamente.

— Você quer que eu te passe o relatório também? – Voltei a ser levemente cínica e irônica. Syaoran mexeu os ombros como se a escolha da interpretação fosse minha. – Ok, vou falar do meu primeiro namorado, que foi o único namorado que tive de fato. Os outros podem passar batido, como você fez com os seus ‘casos’. – Mexi os dedos, formando aspas na palavra casos.

— Então a senhorita só teve um namorado?

— Sim, senhor. – Pisquei para ele. – Tsukishiro Yukito foi meu namorado dos 15 aos 17 anos. Nem chegamos a fazer dois anos de namoro, mas foi o único que conviveu com a minha família, participando das festas e jantares.

— Ele era da sua sala?

— Não, ele é o melhor amigo de Touya. – Reparei a confusão que se fez na cabeça de Syaoran. – Sim, ele é 6 anos mais velho que eu.

— Pedófilo. – Não achei ruim a forma como ele falou. Já estava acostumada.

— Sempre fui apaixonada por ele. Desde criança vivia suspirando pelos cantos, sonhando com quando ficássemos juntos. – Não me contive e rolei os olhos. – No meu aniversário de 15 anos, ele se declarou para mim e, depois de conversar com papai, começamos a namorar.

— E Touya, como reagiu?

— Ele sempre apoiou. Dizia que não havia pessoa melhor para ser meu namorado do que o melhor amigo dele.

— Não o culpo, fiz o mesmo. – Guardei aquela informação para descobrir depois. Mesmo que minha curiosidade fosse grande. – Estória para outro dia.

— Enfim... Ele terminou comigo, depois de me mostrar que eu não o amava como namorado. Eu o amava como um amigo, como um irmão.

— Amor fraterno. – Concordei balançando a cabeça. – É bem fácil de confundir quando a pessoa está há muito tempo na nossa vida.

— Nosso término foi doloroso e por muito tempo eu acreditei que ele estava errado. Mas hoje eu admito que ele estava certo.

— Vocês ainda têm contato?

— Ciúmes? – Não me contive.

— Nunca. – Syaoran me beijou, como se quisesse provar algo. – Eu me garanto. – Não me contive e ri.

— Sim, eu o vejo às vezes, quando Touya o convida para as festas ou encontros da família. Fora isso, não sei muita coisa sobre como ele está ou o que está fazendo. Prefiro continuar com a minha vida e aproveitar a oportunidade que ele me deu, porque se fosse pelo amor cego que eu sentia, nós já estaríamos casados a essa altura.

— Nossa... Que pressa, senhorita Kinomoto. – Syaoran fez graça, cutucando minha barriga.

— Nem tente usar esse tom comigo, pois não seria por essa causa.

— O quê? – Syaoran se fez de desentendido. – Do que você estava falando? – Rolei os olhos.

— Você tem mais alguma pergunta para me fazer, Syaoran? – Desafiei. Cruzou os braços e levantei a sobrancelha.

Escutei um toque. Syaoran logo mexeu no celular e ficou em alerta.

— Merda. – Ouvi ele sussurrar.

— Algo de errado? – Perguntei.

— Minha mãe mandou mensagem e disse que é urgente.

— Então vamos.

Saímos do carro e cada um seguiu para o seu apartamento, depois de uma rápida despedida.

— Boa noite. – Tomoyo me saudou já deitada no tapete, debaixo do edredom e comendo chocolate. – Bem-vinda de volta. – Sentei para tirar meus tênis e quando voltei a levantar, Tomoyo me encarava com os olhos estreitos, como se tentasse descobrir algo. – Tem alguma coisa te incomodando. – Levantei as duas sobrancelhas.

— Por acaso você aprendeu a ler mentes? – Tentei fazer graça.

— Nada. – Ela sorriu. – Você que é muito expressiva. – Balancei a cabeça concordando.

— Faz sentido. – Eu disse e Tomoyo piscou para mim. – Eu vou tomar banho e daqui a pouco me junto a você. Guarde um pouco de chocolate para mim, por favor.

Midori e eu nos conhecíamos desde crianças e, desde o nascimento dela, fomos prometidos um para o outro. Já debaixo do chuveiro, lembrei-me da conversa que tive com Syaoran. Baseado no que vi nos dias que passei lá, a família dele parece ser bem tradicional.

Continuei com aqueles pensamentos rondando minha mente e passei a agir no automático. Voltei para a sala e encontrei Tomoyo parada, encarando o nada, como se ela estivesse vidrada em algo. Ou alguém.

— Tomoyo? – A chamei, me ajoelhando ao seu lado. Ela tomou um leve susto e olhou para mim. Seus olhos estavam marejados, e quando ela piscou, uma lágrima caiu.

— Me desculpe. – Ela enxugou a lágrima, disfarçando com um sorriso. – Estava há muito tempo me chamando?

— Não. – Sentei, me ajeitando debaixo do edredom. Peguei uma colherada do doce. – Sei que não quer falar sobre o que aconteceu naquele dia no restaurante, mas me preocupa te ver assim. – Fui sincera, finalmente. Por todos os dias que se seguiram ao encontro com Josh, Tomoyo vinha tentando disfarçar, sorrindo e agindo como se nada estivesse de errado, mas eu sentia que ela não estava sendo ela mesma.

Tomoyo desviou o olhar do meu, encarando suas próprias mãos.

— Sei que devo explicações, principalmente por vocês estarem indiretamente envolvidos, mas ainda não consigo. Perdão. – Estendi minhas mãos e segurei as dela.

— Tudo bem. Só quero que saiba que eu estou aqui caso queira conversar e que estou preocupada, porque me importo com você. – Disse de forma doce, quase materna. – Agora me diga: o que você estava assistindo? – Mudei de assunto, tentando distraí-la.

...

O dia após a conversa com Syaoran foi corrido. Na verdade, aqueles últimos dias estavam corridos. Faltava menos de 2 semanas para o final do período e, novamente, as provas, seminários e relatórios se tornavam mais reais.

Aos poucos, Tomoyo soltou algumas coisas relacionadas à Josh ontem e eu anotei tudo no meu caderno. Sabia que em algum momento eu precisaria ajuda-la de alguma forma, mas precisava de todas as informações ao meu alcance.

— Eu amo filmes assim – comentei, depois de termos terminado de assistir ‘os suspeitos’ –, que fazem você ficar processando a informação.

— Realmente, é muito bom o filme. – Tomoyo disse de forma automática. Franzi a testa e olhei para ela. Ela está chorando novamente. Me aproximei e a puxei para perto.

Ela deitou a cabeça em meu colo, enquanto eu mexia em seus cabelos. Não me importava se os créditos estavam passando, iria esperar o tempo dela.

— Eu não contei o real motivo de eu ter pedido para minha mãe demitir e substituir Josh. – Ela parou e eu fiquei quieta, esperando. – Ele fez com que eu me apaixonasse por ele. – Levantei as sobrancelhas. – Metade da mim ainda sentia algo estranho quando ele me olhava, mas a boba apaixonada ignorava isso. Ficamos escondido por diversas vezes e todas elas foram boas.

— O que ele fez, para você ir até a sua mãe? – Perguntei.

— Tentou me fazer dormir com ele. Tentou me forçar, para ser mais exata. – Senti um aperto no coração. – Ele não conseguiu. De alguma forma o empurrei e corri para casa. Foi então que conversei com a minha mãe e disse a ela que não gostava da forma como Josh me olhava.

— Você omitiu o fato que vocês ficavam.

— Sim, mas fui sincera com o restante. – Ela levantou e enxugou o rosto. – Por anos, tive pesadelos com aquela noite, mas hoje eles raramente vem. Principalmente quando estou com Eriol.

— Você se sente segura com ele. – Concluí. Tomoyo concordou com a cabeça.

— Nossa primeira vez aconteceu só depois de meses de namoro, quando finalmente me senti segura o suficiente para me entregar à Eriol. – Tomoyo corou e eu sorri. – Pode debochar da minha cara. Soou romântico, eu sei.

— Depois desse trauma, não esperava menos.

— Sei que minhas reações foram exageradas. Pessoas passaram por coisas piores e nem por isso reagem dessa forma. Mas naquele momento, tudo o que eu via, tudo que eu lembrava era da versão bruta e violenta que ele foi.

— Ninguém pode medir ou comparar dores, sofrimentos e traumas. Isso é extremamente pessoal e não há um protocolo ou regra a seguir. – Tentei conforta-la.

— Obrigada. – Tomoyo sorriu minimamente.

— Eu que agradeço por confiar em mim.

“Bom dia, meus amores.”

Coloquei a xícara de chá na mesa e li a mensagem que Tomoyo havia enviado para o nosso grupo. Estava aproveitando o intervalo entre as aulas e descansando um pouco.

“Não se esqueçam que o jantar com a minha mãe é amanhã, às 20:00.”

Ela continuou. Originalmente teríamos um almoço com Daidouji Sonomi, mas ela precisou remarcar.

“Vamos todos juntos em um carro só?”

Eriol perguntou.

 “Seria o ideal.”

Syaoran respondeu.

“Vamos sair uma hora antes, como de costume?”

Foi a minha vez de perguntar.

“Do jeito que você é atrasada, pode começar a se arrumar cinco horas antes.”

Syaoran implicou comigo.

“Idiota.”

Simplesmente respondi isso. Idiota! Precisa ficar jogando isso na minha cara? Bufei. Como resposta ele mandou:

“Escrevi algo errado?”

Fiz questão de ignorar. Meu dia estava muito bom para ser estragado assim.

— Não vai me responder? – Tomei um susto quando ouvi a voz de Pietro atrás de mim.

Engoli seco. Antes que eu virasse para vê-lo, Pietro parou na minha frente. Ele estava diferente, menos sorridente, mais sombrio. Respirei fundo, me preparando para o que viria.

— Já havia esclarecido as coisas com você, Pietro. Não havia motivos para continuarmos o contato e eu esperava que você respeitasse isso. – Fui dura.

Os dias após o acontecimento na sorveteria foram desconfortáveis. Primeiro o silêncio, depois os pedidos de desculpas, seguido pela raiva e terminando com um leve tom de ameaça. Ignorei cada uma delas após pôr um fim do que achava ser apenas um mal-entendido.

— Respeito? – Ele bufou, trocou o peso entre as pernas e deu um passo para trás. Parecia tenso, nervoso, prestes a explodir. Pela visão periférica, percebi olhares sobre nós.

— Vamos lá para fora. – Terminei meu chá em uma única golada e saí do estabelecimento. Pietro não me perdeu de vista um momento se quer, agindo como minha sombra. – O que você quer, Pietro? – Perguntei assim que chegamos à calçada.

...

— Pietro veio me procurar hoje. – Falei enquanto estávamos deitados na grama do campo de futebol. Vim ver o treino, fiquei até o final e agora estávamos lá, deitados, olhando as estrelas. Meus lábios ainda estavam levemente inchados pela curta, porém intensa, sessão de beijos que trocamos.

— O que aquele idiota queria? – Ouvi a voz de Syaoran ressonar dentro do peito dele. Sorri e levantei a cabeça para olhar nos olhos dele.

— Uma explicação do porquê não respondo mais a ele.

— Mas você não bloqueou ele? – Syaoran olhou para mim.

— Sim, por isso que ele foi até mim.

— Como você o dispensou?

— Conversamos de forma civilizada. Ele ficou puto da vida comigo, mas prometeu me deixar em paz.

— Se ele vier te incomodar novamente, me avise. Converso civilizadamente com ele qualquer horário. – Syaoran disse de forma sarcástica e voltou a expressão de antes.

Por mais que não estivesse estranho comigo, eu sentia que algo o incomodava. Ele estava distraído e inquieto, características que não eram dele.

— Você está sério. – Disse ainda deitada sobre o peito dele. Meus ouvidos captaram o som do coração dele se acelerando e percebi que ele estava nervoso. Syaoran bufou e empurrou o corpo para cima, fazendo com que ficássemos sentados.

— Eu não sei como ter essa conversa com você, mas é algo que não tem mais como evitar.

Syaoran respirou fundo, ainda de costas para mim, enquanto passava a mão direita pelo cabelo, no mesmo tique nervoso de sempre. Me sentei melhor e passei meus braços ao meu redor, me abraçando. Talvez fosse reflexo do vento frio que a noite trazia ou porque algo dentro de mim esperava pelo pior.

— Eu não posso me relacionar com você, Sakura. – Franzi a testa, ainda em choque pela declaração. – No jantar de ensaio do casamento de Fuutie fui apresentado a Kamiya Kari, minha futura noiva. – Lembrei de quando ele me contou sobre Abe Midori, sobre ela ter sido escolhida para ele. Mas ela morreu. Lembrei a mim mesma. – Minha mãe me garantiu que não há data para o casamento, mas assim que voltar para Hong Kong, aqueles velhotes não perderão tempo.

Syaoran se levantou e começou a andar de um lado para o outro, nervoso demais para olhar para mim. Nosso relacionamento, que mal começou, já tem prazo de validade. Pensei enquanto tentava olhar para o céu, porém falhando miseravelmente por conta das lágrimas que eu ameaçava derramar.

— Eu realmente lutei para não te envolver nisso, Sakura. – Syaoran finalmente se aproximou de mim, abaixando e ficando à minha altura, segurou meu rosto entre suas mãos. – Mas eu não consegui. Não consegui ficar longe da garota que conseguia me tirar do sério em segundos, que tem um gênio forte demais para não ter nascido uma Li, que faz com que eu tome atitudes que eu não tomaria se estivesse em sã consciência e que tem os olhos mais lindos que já vi em toda a minha vida.

Eu não sabia o que falar. Eu só pedia aos céus que não me permitissem chorar naquela hora. Precisava ser forte.

— Eu – pigarreei, tentando fazer com que o bolo na minha garganta me permitisse falar com clareza –, ainda tenho três anos aqui, Syaoran. Não sei se consigo ficar perto de você, tendo consciência do que sinto, por tanto tempo assim. – Tirei as mãos dele do meu rosto. – E eu não quero você pela metade. E sei que se formos a diante com isso, esse fantasma vai nos rondar. – Ele continuou parado na minha frente, observando minhas reações, agitado e ansioso.

— Eu pensei muito antes de finalmente conversar com você. Mas eu não tenho opções. Ser o líder do Clã me dá muitas vantagens, mas me priva de muitas outras coisas e a principal é essa: não posso escolher com quem vou me casar. A união deve ser vantajosa, um acordo entre famílias, não uma união matrimonial entre pessoas que se amam o suficiente para dar esse passo.

Metade de mim não queria se importar com isso. Queria tê-lo o máximo de tempo que pudesse. Mas a outra metade não queria entrar em algo já fadado ao término.

— Eu preciso pensar. – Decretei. Não conseguia raciocinar direito, não quando havia tantas vozes na minha cabeça e sentimentos em meu coração.

Ele voltou a se aproximar de mim, encostou sua testa na minha, mesclando nossas respirações e por fim me beijou. Não com urgência ou malícia, mas com gentileza, como uma despedida.

Nos levantamos e voltamos para casa em silêncio, cada um submerso em seus próprios pensamentos. Nos despedimos e aquela noite na garagem, foi a última vez que o vi antes de voltar para Tomoeda.


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Notas finais do capítulo

Olá, pessoas.

Devo me esconder? :x Acho que não vou falar muito hoje... A única explicação que tenho é a mesma de sempre: inspiração. :/ Perdão pela demora. :’(

Agradecimentos especiais para:
— TataChenk, Suzzane, Pandinha, sweetness, Braga e Lety Castelo por terem comentado. ♥ Vou responder por lá. *---*

P.s.: Muito obrigada, ValentinaV, por ser essa Beta maravigold e ter paciência comigo. ~.~' #YouAreTheBest

That's all Folks! ;)

#BeijosBeijos