As luzes e o chão do quarto de hospital tremiam, Milo estava desesperado por não fazer ideia do que estava acontecendo na mente de todos. 

Camus em coma, Mu e Dohko desacordados e, para arrematar, Shaka e Camus também não respondiam mais. Tudo sacudia e ele se esforçava para segurar todos na maca, sofá e poltronas, pois aquele terremoto intermitente estava forte. 

POV Shion

Quem era aquele homem que vinha zombar de mim? Quem ele pensava que era? Na verdade... Aquelas palavras...

Uma avalanche de acontecimentos começou a passar perante os meus olhos. Aquela vida que eu vinha vivendo não existia, olhei para os meus filhos brincando... 

Projeções mentais. Eu não queria voltar para uma dura realidade em que todos os meus filhos me magoaram. Respirei fundo, vi as figuras desaparecerem, uma a uma. A imagem de Mu e Camus crianças foi se tornando transparente até sumir por completo. 

O mesmo ocorreu com Minu, depois com Saori e Ikki. A casa bucólica também sumiu, a mata, o parque... Eu estava abismado.

Então os policiais que seguravam Camus o soltaram e sumiram... Até tudo ficar preto e só haver eu e Camus. Ele me olhou respirando desesperado com lágrimas nos olhos.

— Papai...

— Meu filho!

Ele correu até mim e eu o abracei ternamente, como eu o queria em meus braços. 

— Papai, me perdoe, eu...

— Ssssh... Eu sei filho, eu sei.

Tentei acalmá-lo o tranquilizando. Foi quando eu percebi uma presença e logo Mu, Shaka e Dohko caíram do vácuo negro ao nosso lado.

— Shi! - Disse Dohko.

— Pai! - Falou Mu. 

— Mestre. - Disse Shaka numa reverência terna. 

Estalei os dedos, era hora de irmos embora da minha mente. Abrimos os olhos tranquilamente e fomos recepcionado por Milo completamente descabelado, suando em bicas, e exausto com a roupa bagunçada. 

— Por Zeus, vejam o trabalho que vocês me deram! Shion, sua mente é pior que um tsunami! 

oOo (sem POV)

Todos riram. Camus se levantou da cama de hospital sendo amparado de um lado por Mu e do outro por Camus. 

Shion e Dohko sabiam que tinham muito o que arrumar, mas não naquele dia, não daquele jeito. Agora era hora de estarem todos juntos. 

Foram até a casa de aquário, Milo pediu pizzas, chamando além deles, Saori, Ikki, Minu, Shiryu e Shunrei. Todos estavam felizes pelo retorno de Shion, tanto que os cavaleiros de ouro fora cumprimentá-los, mas respeitaram o momento em familia. 

Milo, sabendo que poderia ser chamado ds intrometido, aproveitou o momento e falou discretamente com Shion.

— Mestre, tudo bem com o senhor? Não quero me intrometer, o senhor sabe que não sou disso - Shion rolou os olhos para cima divertindo-se - Mas enquanto Dohko caía do sofá com os tremores da sua mente, isso caiu do bolso dele.

Milo estendeu uma caixinha preta de veludo para Shion, uma caixinha que ele tanto encarou. Desde a primeira discussão com Dohko ele comprara essas alianças, mas não tivera coragem de entregá-las.

— Eu vi que era sua letra com o pedido de casamento, achei melhor te entregar, para usá-las quando fosse o momento certo.

Shion sorriu, pegando as alianças. 

— Milo, meu filho. Eu me orgulhei muito de você e sua postura nisso tudo... 

— Ma-mas eu fiquei ao lado de Camus na deserção. 

— Você priorizou sua família, sem se esquecer de seus deveres. Por todo o tempo tentou dissuadir Camus e ao mesmo tempo não o abandonou. Estou orgulhoso como sogro, como pai.

Milo sorriu sem jeito, não estava acostumado a receber um elogio de Shion. Na verdade tentou puxar em sua memória, isso nunca tinha ocorrido. 

— Sabe Milo, essa história toda me ensinou uma coisa: nós fazemos nossos momentos e não podemos esperar para sermos felizes. 

Shion disse tranquilo, pegando uma taça e batendo nela com um garfo. 

— Primeiramente, queria que soubesse o quão feliz estou por estarmos todos aqui JUNTOS. Os últimos tempos foram confusos e difíceis, mas uma família que permanece unida pode vencer qualquer coisa. Mas agora, gostaria da atenção de todos.

Shion andou até a frente de Dohko e se ajoelhou em apenas um dos joelhos. 

— Dohko, por mais de quarenta anos, você é meu companheiro. Agora, aos olhos de nossa família e sociedade, quero saber se quer ser meu marido.

Dohko sorriu abraçando Shion, não se beijaram, quarenta anos se escondendo ainda não permitia tanto alarde.

— Sim, meu amor. 

Todos aplaudiram. Foi quando Dohko disse.

— Agora, todos comemos e celebramos. Mas temos coisas a acertar com muitos aqui... 

— Pelos céus, vocês acabaram de ficar noivos! Vão fazer sexo! - Milo gritou. 

— Milo, por favor... - Camus revirou os olhos.

— Milo... Que coisa para se falar - Mu disse envergonhado. 

— Acho uma ótima ideia - Disse Ikki sabendo que assim que aquela pizza acabasse, ele ia apanhar em algum momento. 

— Sabe gente - Disse Shion se sentando - Eu e Dohko temos tempo. Aprendemos que há prioridades e responsabilidades. Nossa comemoração vem depois....

Shion parou tranquilo, fechando os olhos e levando a mão até a testa. Abriu, então, os olhos determinado e rígido. 

— Agora temos que conversar com alguns de vocês. Dohko vai falar com Shunrei, já eu com Saori, Ikki, Minu e Camus. E infelizmente não serão conversas nada ageadáveis para nenhum dos envolvidos. 

Shion sentenciou, varrendo o clima de festa e causando um frio na espinha de todos os presentes.