Papa Shion escrita por Sarinha Myuki


Capítulo 23
Acorde, Meu Amor


Notas iniciais do capítulo

Meninas, segue aqui mais um capítulo. Vejam, eu estou salvando as perguntas para o Q&A (podem perguntar qualquer coisas para qualquer personagem ou para mim - o personagem responderá diretamente como se eu estivesse falando com você ou eu, caso seja endereçada para mim). Vou deixar aqui esse o outro capítulo até juntar perguntas suficientes para publicar um capítulo só com isso - eu amei as que já chegaram (quem mandou pode mandar mais que todas serão respondidas).

Bom, sobre o capítulo... É um POV Dohko na cabeça de Shion. O que será que o espera por lá? Beijos com carinho.



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Me vi num campo esverdeado, Shion estava ao longe empurrando duas crianças na balança. Logo me situei, eu devia estar onde estava a mente de Shion. Pouco a pouco fui me aproximando e quando as crianças me viram pularam da balança sorrindo e correndo em minha direção.

— Papai!— Um pequeno Camus me abraçou.

— Papai, pega o Mu!— Mu levantou as mãozinhas sorrindo.

Aquilo era estranho. Shion estava radiante, se aproximou de mim e me beijou de forma terna. Era isso, a realidade que Shion estava era melhor que a de fora, por isso não saia do coma.

Eu sorri e o beijei, quase deixando escapar uma lágrima. Estar com ele era tão bom que nem eu queria sair de lá. Shion foi até a barraquinha mais próxima e comprou algodão doce para as crianças.

Eu não sabia direito como agir, afinal, não entendo dessas ilusões que  a mente é capaz de criar e nem como reverter isso. De repente senti uma mordida.

— Ai!

Mu me mordera e doera bastante!

— Au au au au, Mu é um cachoio.

Shion franziu os olhos e se segurou para não rir.

— Mu... O que eu falei sobre morder as pessoas?

Mu franziu a boquinha e olhou choroso para o meu marido.

— Não faça mais isso, se não o papai vai te dar uma palmadinha no bumbum, entendeu?

Ele fez que sim com a cabeça e eu não aguentei e o peguei no colo, era fofura demais. Camus se aproximou de mim e eu acariciei a cabeça do garoto. Estávamos vivendo como eu sempre desejei e como Shion sempre sonhou.

Ele usava uma calça jeans e uma camisa polo branca, com sandálias e o cabelo amarrado com um elástico atrás. Eu mesmo nunca o vira tão tranquilo e despojado, naquela mente não existiam guerras, talvez sequer o Santuário.

Como despertá-lo daquilo se nem eu mesmo queria sair de lá?

— Amor, tem alguém aí?

Shion me chamou num meio abraço enquanto me entregava um sorvete na casquinha, era de menta com gotas de chocolate, meu favorito.

— O que foi? Preferia sorvete de crocante?

Revirei os olhos experimentando o sorvete, aquilo era incrivelmente real. As texturas, os sabores. Eu mesmo já pensava perder um pouco a noção de realidade naquela situação. Talvez eu devesse ter permitido que Mu viesse, ele com certeza tinha mais instrumentos para lidar com isso do que eu.

Continuei observando, tentando não parecer estranho, mas também não deixar minha mente se envolver naquela ilusão tão tentadora e real, na certa apenas uma mente poderosa como a de Shion poderia fazer algo similar.

Ele pediu que voltássemos para casa, fui andando atrás dele pelas trilhas que nos levaram até uma casinha rústica de campo, em meio a um maravilhoso jardim perfeitamente cuidado. Havia um pequeno lado e cascatas de água por perto.

Quando chegamos, uma moça saiu da casa sorrindo e nos cumprimentou.

— Sr. Shion, Sr. Dohko, os bebê estão dormindo.

Bebês? Dormindo? Será que naquela realidade alternativa seria possível que dois homens gerassem crianças? A ideia me fez rir por dentro, porém, logo, a risada quase incontida se transformou em lágrimas de emoção quando dei uma olhada no quarto.

— Shunrei... Shiryu.

Era Shunrei ainda bebê de colo, tal qual era quando a assumi. E Shiryu do tamanho que tinha quando o avistei pela primeira vez. Era meus bebês, meus não, nossos, Shion, mesmo ao longe, era tão pai deles quanto eu era e por isso não poderia estar feliz e tranquilo em alguma ilusão sem eles.

Não me aguentei e abracei meu esposo com força, lacrimejando em sua camisa.

— Hey, hey... O que foi meu amor?— Shion perguntou com docilidade.

— Eu... Eu apenas estou feliz...

Aquilo era a mais pura felicidade e, honestamente, eu não tinha vontade de sair e voltar para os problemas que nos aguardavam. Era tudo com o que sempre sonhamos, uma vida pacífica, simples, com nossas crianças. Haviam frutas e legumes no quintal, uma vaca para dar leite no celeiro e galinhas que dariam ovos por toda a parte.

As crianças cresciam contentes, parecia que tínhamos até uma babá dedicada para quando fosse necessário. Na certa Shion criou ótimas escolas por lá. Nós merecíamos uma vida assim, ele merecia uma vida assim... E não voltar e encarar a ingratidão de seus filhos, seu não, nossos.

Continuei a me deixar ser abraçado por ele, até que me desvencilhei na vã tentativa de colocar meus pensamentos em ordem e voltar à realidade.

— Shion, precisamos conversar.

— Claro, deixe-me pegar um chá para nós.

Ele voltou com as duas xícaras após alguns minutos, cada uma com um saquinho. Sentou-se tranquilo e sorriu para mim daquele jeito que só ele sabia fazer. Eu rezava internamente para que ele conseguisse voltar à vida sem sequelas.

— Shion, isso tudo aqui é incrível. As crianças, a casa, nosso relacionamento...

Shion sorriu.

— Mas nada disso é real.

Shion franziu o senho, cruzando uma perna e me olhando nos olhos.

— Você me traiu, Dohko?

— NÃO, NUNCA!

Ele então me olhou perplexo.

— Então não me ama mais?

Eu respirei fundo, como explicar toda a situação.

— Não, Shion, eu estou aqui porque te amo mais do que tudo nessa vida. Estou tentando te explicar que nada disso é real: não temos uma casa dessa tão bucólica, Camus e Mu são adultos e Shunrei e Shiryu são adolescentes. Aliás, adotamos Saori e Ikki recentemente e Saori, a reencarnação de Atena, quase destruiu o mundo. Você está em coma, numa cama de hospital há semanas e sua mente criou essa ilusão.

Shion me olhou profundamente e logo depois desatou a gargalhar como nunca vi antes.

— Dohko, você é hilário meu amor.

Eu revirei os olhos. Como explicar a alguém que a sua realidade não é real?

— Shion, por tudo que é mais sagrado, eu estou falando sério.

— Amor, Camus e Mu estão ali brincando como duas crianças, têm tamanho de duas crianças e estão juntos. Shunrei e Shiryu estão no quarto dormindo com o tamanho dos bebês que são. E nossos bebês Saori e Ikki chegarão logo, meu amor, os papéis de adoção estão quase prontos. Falta pouco, não se estresse...

Claro que Camus não deixaria nenhum filho longe de sua ilusão. Estávamos em processo de adoção de Saori e Ikki.

— Então, meu amor, nossa felicidade será completa.

Foi quando me dei conta, se Saori e Ikki chegassem, o estado não poderia mais ser revertido. Se Shion encontrasse sua felicidade plena, ninguém conseguiria tirá-lo de lá. Aquilo começou a me deixar desesperado, eu não tinha tempo e ele não acreditava em mim.

— Dohko, você precisa relaxar. Vamos tomar um banho.

Um banho? Eu bem sabia o que aconteceria depois. Não, eu tinha que me manter firme, por mais que eu quisesse aproveitar esse tempo com Shion, se eu entrasse na ilusão seria o fim.

— Shion, eu falo sério. Nada disso é real!

Ele cruzou os braços me olhando preocupado.

— Vou ligar para o psiquiatra.

— Shion, por favor, confie em mim. Eu estou falando a verdade, tente se lembrar.

Foi quando senti um tremor forte no chão e um grito seguiu:

— NÃO! VOCÊ ESTÁ LOUCO.

A terra tremeu, talvez ele tenha se lembrado de algo. É isso, aquela é a forma de destruir a ilusão, não é apenas conscientiza-lo, mas faze-lo se lembrar e entender que nada daquilo existia.

Foi quando três homens vestidos de branco entraram e me agarraram. O que era aquilo, tentei me desvenciliar, mas um deles me deu um soco no rosto, enquanto outros dois me enfiavam uma camisa de força.

— POR FAVOR SHION, VOCÊ SEQUER LIGOU PARA LUGAR ALGUM. VOCÊ ESTÁ PRESO EM SUA MENTE. ACORDE! ACORDE!

Foi quando um soco seguido de um choque elétrico me desacordou, enquanto o chão tremia. A mente dele estava me expulsando para proteger a ilusão.


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Notas finais do capítulo

Mandem os reviews E as perguntas. Beijos com carinho!