Papa Shion escrita por Sarinha Myuki


Capítulo 20
Presente e Passado


Notas iniciais do capítulo

Oi meninxs, tudo bem? Está difícil achar tempo e, confesso, a falta de reviews me desmotivou um pouquinho. Ao mesmo tempo eu volto porque tem gente que me dá tanto ânimo que fica impossível abandonar. Obrigada Marry e outros. Beijos!!!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/725054/chapter/20

A viagem seguiu, com Camus e Shion se corroendo de raiva internamente, porém sem trocarem sequer uma palavra. Ambos estavam extremamente feridos, como nunca estiveram em momento algum de suas vidas e Mu se deprimia e perdia as esperanças de um dia ver sua família unida novamente.

Camus e Shion se viam constantemente presos em memórias do passado, relembrando momentos antigos ou atuais. Ambos estavam machucados, ambos se enxergavam como senhores da razão nessa briga e seria difícil fazer com que vissem sob a ótica um do outro.

E ambos estavam absortos nos dois pupilos, desaparecidos por fugirem não apenas para viverem um amor que não seria mais possível em decorrência das atitudes de Camus e decisões de Shion, mas para se verem livres de tais arbitrariedades.

 

Flashback de Shion

— Ikki...

A voz grave de Shion o alertou e prosseguiu.

— Ikki, eu falo sério com você, rapaz.

— Eu já disse que não acho justo Hyoga ser punido porque Camus é um imbecil! Eu falei com ele, eu juro que ele não queria estar lá! Ele foi obrigado!

— Ikki, esse assunto não está mais em pauta! Hyoga não voltou porque não quis! Ele sabe de suas responsabilidades enquanto cavaleiro de bronze. Se Camus mandou, ele deveria...

— SE NEM VOCÊ CONSEGUE CONTROLAR SEU FILHO, COMO HYOGA FARIA ISSO?

A fala de Ikki cortou a explicação de Shion. O lemuriano estava sofrendo profundamente com tudo isso, pois lhe doía muito a briga que teve com Camus e seu relacionamento não ser aceito e mais ainda o declarar desertor. Se já não bastasse ainda tinha que lidar constantemente com situações como essa e a falta de respeito de Ikki, que  constantemente cutucava a ferida aberta.

Shion respirou profundamente e, totalmente sem vontade, segurou Ikki pelo braço e lhe deu três fortes palmadas no traseiro. Ele não queria bater em Ikki, mas não poupou forças no castigo.

— Olhe bem para mim!

Disse Shion sacundindo Ikki com o dedo em riste.

— Ikki, eu estou falando sério com você! Eu também não estou nada feliz com essa situação! Mas eu PRECISO CUMPRIR MEU PAPEL ENQUANTO MESTRE DISSO AQUI! Eu estou seguindo o protocolo, então chega de questionar as minhas ordens!

Shion disse e Ikki virou as costas e bateu a porta de seu quarto deixando seu tutor desolado na sala. O ariano já não sabia mais como lidar com seus sentimentos tão feridos, foi quando Dohko apareceu na sala.

— Amor?

oOo Fim do Flashback

— Shion?

— Oi Dok...

— Como eu queria ter a capacidade de ler pensamentos, não dá pra me passar um pouquinho não?

Disse Dohko sorrindo amarelo, tentando tirar um pouco do ar pesado do local. Shion sorriu forçado e ficou calado, agradecendo aos céus pelo companheiro não conseguir ler a tristeza profunda onde ele estava naquele momento.

— Sabe Shion, Camus está errado.

Shion revirou os olhos, era óbvio que o filho estava errado.

— Mas, talvez fosse bom olharmos tudo sob outro ângulo.

Automaticamente Shion cruzou os braços e franziu o cenho, adotando uma postura defensiva como fazia com todos os outros. Isso fez com que Dohko o tocasse delicadamente com as mãos, o acariciando de leve.

— Shion, eu só estou aqui para te apoiar, se desarme por alguns instantes. Eu estou ao seu lado e estamos sozinhos aqui.

A fala de Dohko fez Shion relaxar, ele não precisava bancar o mestre supremo com o companheiro.

— Camus sempre o teve apenas para ele, sem precisar dividi-lo com ninguém além de Mu e Minu. Aliás, sentir-se sempre preterido a Mu sempre foi um dos maiores problemas da vida do aquariano que fazia de tudo para te agradar e se sentir amado como o ariano...

Shion ouvia atentamente.

— Não faz muito tempo que Camus finalmente resolveu esse complexo de inferioridade e o diálogo de vocês melhorou exponencialmente. Porém, quando tudo parecia perfeito, quando as famílias estavam unidas, quando tudo estava em paz...

Dohko respirou fundo e prosseguiu.

— Eu apareci estragando tudo.

Shion abraçou o libriano.

— Não Dohko, você não estragou nada.

— Me ouça, por favor. Você sabia que essa seria a reação e eu ignorei. Você não faz ideia do quanto me odeio por tudo isso... Mas a verdade é: Camus sempre foi mimado por você, sempre foi paparicado. Talvez você tenha feito isso por causa do passado dele com o pai biológico. Mas a verdade é que você se doou completamente ao garoto, sempre se colocou em segundo, terceiro e até quarto plano. Sua vida foi servi-lo, foi estar como um satélite em torno dele para tudo que não fosse o seu trabalho. E agora... Bem, Camus está fazendo a maior de todas as birras.

— Não acho que seja tão simples, Dohko.

— É sim. Primeiro ele o afronta. Depois deixa a ordem dos cavaleiros, o que me parece uma atitude desesperada para chamar a atenção. Depois volta, porque para pedir ajuda – Oras... Se não acredita na ordem, porque tornaria a ela ao primeiro tropeço? Shion... Essa é nada mais e nada menos que a maior das birras de um Camus crescido.

Shion começou a se perder em devaneios... Se lembrando de uma fuga de Camus, logo após uma festa surpresa que organizara para Mu. Camus sentiu-se preterido ao ariano e sem lugar na casa de Shion, o que fez com que fugisse do Santuário no auge de seus dezessete anos.

Shion quase deixou que Camus fosse embora, ficando longe, pois acreditou na fala de Camus que sustentava que não desejava seguir no Santuário como cavaleiro. Se não fosse Dohko mostrar a realidade e comprovar que Camus não estava nada mais do que com ciúmes, talvez hoje o aquariano estaria numa vida completamente diferente.

Shion pensou na conversa que tiveram naquele dia

oOo Flashback

— Shion, seja um pouco mais racional!

— Dohko, o menino tem direito de não querer ser um cavaleiro. Se ele quer ficar longe de nós, eu não vou interferir. Melhor agora do que eu ter que lidar com uma deserção no futuro.

— Mas Shion, ele é o melhor de todos os aprendizes! Ele respira para ser um cavaleiro! Você não enxerga o que está acontecendo?

— Dohko, você sempre procurando pelo em ovo.... – Disse entristecido e resignado pela decisão do filho.

— Ele está com ciúmes de Mu! Veja a festança que foi o aniversário do ariano... Quando foi que você fez algo assim para Camus?

— Camus é muito reservado para festas! Ele não gosta dessas coisas...

Dohko revirou os olhos, não conseguia aceitar como o companheiro era tão cego quando se tratava dos sentimentos de Camus. O libriano

— Ele começou com essa rebeldia desmedida e essa vontade de deixar o Santuário logo que começaram os preparativos da festa. Faça as conexões, Shi! O menino está morrendo de ciúmes, e você sabe bem que não é a primeira vez que isso acontece. Se tem uma coisa que realmente mexe com Camus é o ciúmes que sente de você.

Por mais que Shion não enxergasse a situação dessa forma, ele sempre levava o que Dohko falava a sério. Foi quando tomou sua decisão.

...

Camus entrara na sua casa, faltava apenas carregar mais um mala e a mudança estaria finalmente feita. Ele pensava nervoso que nunca mais precisaria aguentar ser um intruso naquela casa em que a família era composta claramente apenas por Shion e Mu.

Ao entrar no seu quarto e acender a luminária se assustou ao ver Shion sentado em sua poltrona de leitura com cara de poucos amigos. Automaticamente Camus curvou-se numa leve reverência.

— Mestre.

— Sabe, Camus, quero entender um pouco melhor essa sua decisão tão abrupta.

— Pensei já tê-lo convencido que não nasci para isso, Senhor.

— Sim, havia, porém um amigo me pontuou algumas coisas e... Bem, gostaria de ter mais certeza de sua decisão. Sente-se.

Shion falava com gentileza, mas a voz de comando estava clara. Aquilo eram ordens e não deveriam ser discutidas. Camus sentou-se, a contragosto, tentando manter os pensamentos calmos e tranquilos a fim de evitar passar informações demais ao mestre.

— Sabe Camus, você é esperto demais. Inteligente como jamais vi. Não imaginei que com apenas dezessete anos já tivesse habilidade de tranquilizar sua mente a ponto de esconder pensamentos de mim, mesmo quando está imbuído de grande emoção.

— Não tenho nada a esconder, Senhor.

Shion sorriu com o canto da boca.

— Pois bem, eu permito que saia de casa, contanto que eu entre em seus pensamentos e entenda os reais motivos para tanto.

Camus enrubesceu e levantou-se, incomodado. Achava aquilo uma completa falta de privacidade e sabia que seu mestre descobriria o quanto o aniversário de Mu mexera com ele.

— Isso é um absurdo!

O olhar de Shion tornou-se perigoso. Camus percebeu o erro e tentou usar de sua diplomacia.

— Não tenho nada a esconder, Mestre, mas também não acho necessário. Conforme já conversamos, eu desejo seguir vida acadêmica e não me sinto feliz aqui. Sinto como se uma parte de mim estivesse longe e... Honestamente, sou muito grato por tudo que fez por mim, por ter me resgatado...

Shion normalmente ficava comovido com essa fala, mas percebera que se tratava de Camus sabendo exatamente leva-lo e manipulá-lo conforme sua vontade.

— Se é assim, creio que não se oponha se eu entrar em sua mente, filho.

— Me oponho sim, eu já tomei minha decisão.

Camus se levantou, pegando sua mala e dando passos fundos até a porta. Ao esticar a mão para abrir a maçaneta percebera que não havia mais maçaneta. Aliás, a porta não estava mais lá, virou-se nervoso ao perceber que estava com Shion dentro de sua própria mente. Conhecia bem essas ilusões.

— ISSO É UM ABSURDO, MESTRE! PORQUE ESTÁ FAZENDO ISSO?

— Se você levantar o tom mais uma vez, mocinho, eu vou castiga-lo. Aliás, você bem sabe, aqui tenho recursos ilimitados!

Camus se retraiu, sabia bem que um castigo mental de Shion doía mais que qualquer surra. Resignou-se a ficar quieto, esperando que o mestre visse o que tinha para ver, rezando para que não percebesse seus reais motivos.

— E quais são esses reais motivos, hein Camus?

Camus não conseguia controlar os pensamentos lá, onde Shion tinha visão ilimitada de tudo. Foi quando ficou assustado, foram levados à festa surpresa de Mu. Camus cerrava as mãos, suas unhas feriam sua palma tamanha raiva que sentia ao ter que reviver aquilo.

— E qual a razão de odiar tanto seu irmão, Camus?

— Eu não odeio meu irmão. Aliás, ele não é meu irmão.

Imagens começavam a se mesclar ao fundo, situações em que Shion fora bom para Mu e enraiveceram Camus. A sensação de exclusão e ser deixado de lado chegou a angustiar Shion que se questionava como Camus podia ser tão ciumento assim.

— Camus, essa visão está completamente distorcida! Como não pode enxergar que eu faço sempre o mesmo para os dois?

Os pensamentos de Camus os levaram novamente à festa de Mu.

— Você não gosta de festas! Eu tentei fazer uma para você todos os anos desde que chegou.

— Mas nunca uma surpresa, como fez para Mu!

— Por respeito a você, por não gostar de festas! Mu adora!

Num estalar de dedos ambos estavam novamente com a consciência em seus corpos físicos. Shion não aguentava mais encarar os sentimentos tão profundos de Camus, já tinha visto o bastante e odiava admitir, mas Dohko estava certo, mais uma vez.

Por algum tempo o silencia constrangedor dominou o ambiente. Nenhum dos dois ousou começar a falar. Foi quando Shion quebrou o silêncio.

— Camus, eu volto atrás na minha autorização. Você não deixará o Santuário.

— Mas isso não é justo.

— O bom de ser pai é que sou eu quem define o que é ou não justo.

— Você não é meu pai!

A bofetada que acertou o lado esquerdo da face de Camus foi rápida a ponto de não ser prevista pelo adolescente que reagiu com os olhos cheios de lágrimas.

— Você não tem direito!

— CHEGA DESSA PALHAÇADA, CAMUS! NÃO ADIANTA APELAR PARA SEU PASSADO COM SEU PAI, POIS EU NÃO SOU COMO ELE! E EU JÁ PERCEBI O QUANTO VOCE TEM ME MANIPULADO, MOCINHO. DE HOJE EM DIANTE QUEM DITA AS REGRAS AQUI SOU EU E VOCÊ SÓ SAI DESSE SANTUÁRIO SOB O MEU CADÁVER.

Camus engoliu em seco, sabia que não podia simplesmente sair do Santuário, pois poderia ser declarado inimigo da Ordem, mesmo ainda não tendo a sua armadura definitiva. Olhou com ódio para Shion.

— É sadismo demais...

Shion respirou fundo, estava tentando ter paciência com Camus.

— O que você quer dizer, meu jovem?

Perguntou sem disfarçar o tom de irritação.

— Querer me manter aqui assistindo a linda relação que você tem com Mu. Para que? Qual a razão disso?

— Camus, eu não vou te bater, não agora porque se eu te pegar eu te arrebento. Mas você VAI fazer terapia a partir de amanhã e eu vou ficar na sua cola Camus...

 

Fim do flashback...

 

— Ok Dohko, você tem minha atenção.

— Se lembrou daquela bagunça não é?

— Arrastei Camus para a terapia por anos depois daquilo, como esquecer?

— Camus nunca foi fácil.

— Então você acha que ele me desafiou, que abandonou o Santuário carregando mais três cavalheiros e que continua me afrontando por puro ciúmes de mim com você?

— Sim.

— Isso não faz sentido.

— É uma birra, Camyu, não faz sentido para a maior parte das pessoas maduras.

— Então se eu desse uma surra nele e o trancasse de castigo numa sala desse navio resolveria? Simples assim?

— Não, amor.

— Ué, mas você não disse que era uma birra? – Disse Shion debochando.

— Não resolveu naquela época e não resolveria agora, Sr. Ironia.

— Dohko, honestamente, digamos que isso seja verdade, não sei como resolveria esse ciúmes de mim com você.

— E quando foi que Camus se resolveu com relação a você e Mu, Shion? Quando foi que finalmente entendeu que você o amava igual ao irmão?

Shion abriu os olhos, pela primeira vez algo fazia sentido.

— Quando se viu na mesma situação com os filhos.

 

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Querem a continuação rapidinho? Comentem pleeease!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Papa Shion" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.