It's just a trick escrita por KCWatson


Capítulo 21
Simple




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― Onde está o corpo?

A pergunta era retórica. Sherlock conseguia ver o corpo do ponto onde estava, então seguiu caminho sem esperar pela resposta do Inspetor, que claramente se sentia desconfortável com algo. Logo relacionara esse comportamento ao que escutara no dia anterior enquanto fingia estar inconsciente. Lestrade nunca fora bom em mentir. Mesmo assim outro ponto o incomodava, os trejeitos do outro, parecia que o Inspetor estava ansioso para falar, não para esconder.

― Fale de uma vez, Inspetor ― apressou enquanto se aproximava do corpo.

Conteve-se ao notar que Lestrade imediatamente ganhara a atenção de John. As últimas conversas com o parceiro e a conversa com a irmã do mesmo voltaram a inquietar sua mente, mas estava decidido a não fazer perguntas agora. Era inútil. Sherlock já compreendera que para conseguir respostas, precisava mostrar que elas pouco importavam e buscar às escondidas. Sozinho.

― Só estou um pouco preocupado... ― Lestrade respondeu desviando o olhar do de John. ― Com a vítima. Nós a conhecemos.

Se o Inspetor queria tirar a atenção sobre si, conseguira com sucesso. Todos olharam para o corpo e Sherlock foi rápido em concluir que ele estava certo.

― É a Dra. Norman ― comentou se agachando ao lado do corpo.

― Quem? ― John perguntou interessado.

― A médica responsável pela sua internação quando foi atropelado ― Sherlock esclareceu, olhando-o em seguida. ― Não lembra dela?

John deu de ombros e negou com a cabeça. Sherlock decidiu ignorar a familiar desconfiança que embrulhava seu estômago e voltou a analisar o corpo.

Lestrade pigarreou notando o clima estranho que se instalara e voltou a falar.

― O nome é Vivian Norman, 39 anos, vista pela última vez andando nos arredores da Lekarzi... ou algo assim.

― Lekarz ― Sherlock corrigiu com um súbito interesse. ― O que é isso?

― Uma boate, uma daquelas onde você nunca pisaria. Como sabe o nome?

― Significa doutor ou médico em polonês.

― Claro, como não pensei nisso antes... ― Lestrade comentou irônico, anotando qualquer coisa em seu caderninho.

Sherlock o ignorou e anotou a palavra mentalmente. Parecia-lhe familiar e estava certo de que a familiaridade não surgira por causa de algum dicionário recentemente lido. Voltou os olhos para a vítima, imaginando se ela visitara ou não a boate e que motivo teria.

Ela usava roupas simples, incomuns para uma visita a uma boate, também não havia cheiros distintos ou manchas, nenhum indicio de bebidas ou cigarro. Norman definitivamente não entrara no Lekarz, mas foram as pernas dela que o fizeram hesitar.

Discretamente ergueu os olhos e olhou para Lestrade, lançando um olhar significativo enquanto John estava distraído examinando a vítima. O Inspetor franziu as sobrancelhas, sem entender o motivo do olhar e Sherlock quase revirou os olhos, mas foi interrompido pelo toque do seu celular o alertando de uma nova mensagem.

Um toque conhecido e único demais para deixar dúvidas. O Detetive se amaldiçoou mentalmente por ainda não ter se livrado daquele gemido causador de tantos olhares questionares e alcançou o celular.

Estou esperando. Adler.

Quando ergueu os olhos, Sherlock já sabia o que ia encontrar. John o fitava enraivecido e mantinha a expressão fechada, enquanto Lestrade encarava a ambos com cautela, como se temesse um ataque iminente do médico. Sherlock não subestimava essa raiva do parceiro e muito menos a chance de uma explosão, porque agora entendia que havia um ciúme envolvido e solidificado entre eles, mas ainda não sabia o que fazer ou como evitar isso.

― Eu preciso ir, envio os detalhes do caso depois ―  anunciou guardando o celular.

Notou John apertar o próprio aparelho com força, mas ignorou. Não havia nada sério entre eles, então não via a obrigação de se explicar. No entanto, quando o parceiro começou a segui-lo em direção a saída, viu a necessidade de esclarecer.

― Preciso ir sozinho ― insistiu com firmeza.

― Eu também não quero atrapalhar ― John rebateu sarcástico. ― Mas só há uma saída.

O detetive franziu o cenho ao vê-lo passar a sua frente, com o humor alterado, mas sincero. Seguiu logo atrás, curioso com a reação. Estava acostumado com um parceiro que fazia perguntas e se irritava com a mesma facilidade, não um que engolia uma óbvia irritação e seguia em frente.

Mas foi somente quando chegaram na porta que dava acesso à rua, que desejou nunca ter tratado o ciúme de modo tão superficial.

Esperava ver apenas um carro estacionado, esperando, não dois. Muito menos que o segundo fosse de Mycroft, ou que o próprio estivesse ali, esperando pacientemente encostado ao carro.

Algo se remexeu em seu interior, fazendo-o esboçar uma careta imediatamente. Uma sensação estranha que o fazia fechar as mãos com força e ter uma súbita vontade de quebrar o próprio celular. Sentimentalismo? Não, ciúme, não poderia mais negar... mas como poderia evitar?

John parou ao seu lado e por um momento breve ambos ficaram ali, parados, como se questionasse a si mesmos o que fazer a seguir. Não sabia o que se passava na cabeça do outro, exatamente, mas Sherlock realmente se questionava. O dia anterior se tornara memorável por motivos opostos. Por um lado gostara de conhecer Harriet e sua família, envolveu-se num momento familiar que pouco o incomodou e ainda ganhara pinturas de Alice antes de partirem. Em contrapartida, teve aquela conversa com Harriet onde ganhou novas conclusões e um par a mais de incertezas.

De qualquer modo, fortalecera um novo vínculo com John.

― O pior de tudo é que eu disse que jantaria com você e ele garantiu que eu mudaria de ideia ― John revelou antes de se afastar.

E parecia que o vínculo morria ali.

Sherlock paralisou e observou Mycroft se desencostar do carro ao notar a aproximação do outro, parecendo tão ansioso quanto possível em sua normalidade.

― Vamos ao lugar de sempre? ― ouvi-o perguntar.

― Portanto que não insista na comida novamente ― John resmungou abrindo a porta.

― O serviço é ótimo ― Mycroft defendeu.

― O serviço é, a comida não.

― Sherlock.

Desviou o olhar e encontrou A Mulher dentro do outro carro, com a porta aberta, a sua espera.

― Vamos ― ela apressou. ― Não posso perder muito tempo.

Sherlock olhou uma última vez para o carro de Mycroft que partia e atendeu o pedido d’A Mulher. Entrou em silêncio, sentindo-se inexplicavelmente culpado e... sozinho.

― Quando vai admitir que o ama? ― ela questionou séria.

― Não veio aqui por isso ― Sherlock rebateu apático. ― O que tem para mim?

A Mulher revirou os olhos e entregou a pasta que tinha em mãos.

― Não muito, mas o suficiente ― respondeu enquanto o detetive a abria.

― Para o quê?

― Para não se afastar de John Watson.

Sherlock parou de folhear os documentos e a observou, surpreso.

― Não esperava ouvir isso. Pensei que fazer eu me afastar dele fosse sua nova missão de vida.

― Não depois de ler esses documentos.

Sherlock adquiriu um semblante pensativo e retornou aos papeis com mais cautela. Havia depoimentos e informações sobre os últimos casos, incluindo o caso semelhante ao da mulher de rosa. A princípio eram informações que já conhecia, mas no decorrer da leitura notou pontos que mudavam tudo. Em meio a depoimentos já conhecidos encontrou novos detalhes, testemunhas que afirmavam ter visto um homem loiro, de tamanho médio e porte militar, acompanhando as vítimas momentos antes do desaparecimento, entre os relatos havia fotos de câmeras de segurança mostrando um homem semelhante a John no mesmo local que as vítimas e, em uma delas, indicando até uma conversa com Kendra Bason.

Tudo sugeria uma ligação inegável entre John e as vítimas: ele as conhecia. No entanto, havia o último nome que fazia Sherlock se manter firme e que colocava muita incerteza em todos aqueles papeis. Kendra Bason, a vítima que Sherlock analisou logo após ser envenenado, no dia que John fora atropelado.

― Isso não faz sentido ― comentou incrédulo. ― Há uma foto com Bason, a primeira vítima. John não expressou nenhum sinal de que a conhecia e isso aconteceu antes de toda essa confusão, onde eu conseguia lê-lo muito bem. E deduzir qualquer coisa sobre John era o que eu mais fazia naquela época, para ter certeza de que ele não sabia nada sobre a volta de Moriarty.

― As provas estão ai, Sherlock. John não só as conhecia, como também conversou com a maioria delas...

― Impossível ― o detetive negou sem hesitar. ― Ele teria me dito.

― Teria? Mesmo? ― Irene franziu o cenho, cética. ― Não estamos falando do mesmo homem que escondeu uma parceria com Jim Moriarty?

Sherlock a fitou, atordoado e levemente desorientado. Aquelas fotos indicavam um dos seus pensamentos oriundos da conversa com Harriet. John podia simplesmente ser o assassino.

― Não entendo ― confessou fechando a pasta. ― Pensei ouvir você dizer para não me afastar dele e isso... isso indica completamente o contrário. Por que eu ficaria ao lado de um assassino?

― Você ficaria ao lado do Doutor Watson mesmo que ele fosse um assassino em série, psicopata e cruel, Sherlock ― Irene respondeu com convicção. ― Poderia definhar no processo, mas não o abandonaria.

O Detetive ruminou aquelas palavras com cuidado, pareciam certas, mas não aparentavam ser novidade. Onde as ouvira antes? Quem concluíra o mesmo sobre sua parceria com John?

― Entretanto ― A Mulher voltou a falar. ― Não acho que seja o caso.

― Desenvolva ― Sherlock exigiu deixando os papeis de lado.

― Depoimentos, vídeos, testemunhas, todas as lacunas sobre o caso são magicamente ocupadas por uma única pessoa que, sempre esteve ao seu lado e supreendentemente, nunca foi alvo de desconfiança até o caso surgir. Não acha muito conveniente?

 ― Acha que estão tentando culpá-lo por todos esses crimes?

― Acho que estão tentando fazer você acreditar que ele é o responsável nisso ― Irene assegurou com determinação.

― Por que apenas eu? Não pegou isso da polícia? Não acha que eles o culpariam com mais rapidez? ― Sherlock questionou arqueando uma sobrancelha.

― Talvez, mas essa pasta, especificamente essa pasta, estava na gaveta do Detetive-Inspetor Lestrade esta manhã ― Adler sorriu, inclinou-se sobre seus joelhos e, como se estivesse prestes a falar algo sigiloso, sussurrou ― O Inspetor pode ser um idiota, mas não é cego e não saiu do meu campo de visão essa semana. Ele não colocou a pasta lá.

― Como tem certeza?

― Ele a abre todos os dias, esconde café e rosquinhas nessa gaveta. Não acho que esconderia provas contra um amigo no mesmo lugar. E sinta o cheiro na pasta, não está tão forte.

― Se fosse Lestrade a pasta teria que estar na gaveta há pelo menos uma semana, o cheiro do café é forte mesmo quando não há mais nada lá.

― E não há cheiro algum... Alguém realmente quer você longe do médico, Sr. Holmes.

A Mulher voltou a sua postura normal enquanto o Detetive refletia sobre os novos fatos. John tentar se manter distante para mantê-lo fora de qualquer que seja o risco envolvido fazia sentido, mesmo que não fosse compreensível. Mas por que Moriarty teria tanto trabalho para culpá-lo? Pelo mesmo motivo?

Fechou os olhos tentando se recordar do início. O que o levara até ali? Como tudo começara? Forjara sua morte e passara dois anos tentando destruir qualquer poder de Moriarty para não ter que voltar com o peso da culpa e da preocupação sob suas costas. Não conseguiu. Mesmo assim voltara, aguentando os olhares raivosos de John e engolindo sua preocupação com o mesmo já que havia quebrado o acordo com Moriarty e voltado a impedir seus crimes. Passara dois anos sendo um empecilho para o Consultor Criminal e confessava, não em voz alta, que temia voltar e encontrar o corpo de John estendido no chão do 221 B como uma resposta à sua audácia em não cumprir nada do que foi pedido.

Mas se enganara, tudo ficou quieto e silencioso, e o único problema entre o médico e detetive era o próprio detetive, incapaz de agir normalmente. Mas a falsa calmaria terminou com o atropelamento de John, ou melhor, quando Moriarty ousou ordenar a agressão que ocorrera no apartamento de ambos. Lembrou-se do evento com aflição, assim como não conseguia esquecer a conversa que ocorrera poucos instantes depois.

― Então... o consultor criminal que não se importou em explodir pessoas, invadiu, simultaneamente, dois bancos, sentou no trono e usou a coroa da nossa nobre realeza... me ameaçou, propondo um acordo ridículo pra você não impedir os crimes? ― John riu sem humor ― Você é um idiota, Sherlock. Um grande idiota.

― Pensei em cada possibilidade John ― Sherlock garantiu convicto. ― Ele cumprindo ou não o acordo, eu sei que essa rede de crimes é importante pra ele. Eu vou pegá-lo, assim que conseguir quebrar o ultimo fio da teia criminosa dele.

― Não ― John o cortou secamente. ― Você usou esse acordo estúpido como desculpa e o deixou vivo porque gosta, porque precisa dele pra não ter que se preocupar com o tédio mais tarde. A rede criminosa dele vai garantir uma boa distração.

― Do que está falando? Isso é ridículo.

― Esse acordo é que é ridículo, quantas vezes preciso dizer? E estou falando em como você é um grande idiota. Diga, pelo menos pensou duas vezes antes de não cumprir o acordo e colocar a minha vida em risco?

Então era isso? Todas essas vítimas, toda essa distração era somente para que Moriarty pudesse puni-lo por não cumprir o acordo? Puni-lo através de John? Não, tinha que ter algo a mais.

E como um bom amigo sociopata altamente funcional, você fica desconfiado e se afasta, deixando-o sozinho. E aí está o objetivo.

― Moriarty quer John desprotegido, sozinho.

― Pensou tanto pra concluir isso? ― Irene desacreditou exasperada. ― É obvio que ele quer John sozinho, mas por quê? Essa é a questão.

Sherlock bufou e apoiou a cabeça nas mãos, desesperado por lembranças. Sabia que a resposta estava em algum lugar da sua mente, esperando para deixar de ser uma dúvida esquecida e se transformar em resposta conclusiva, sentia isso!

― Pare o carro.

― Como disse? ― Irene questionou confusa.

― Para o maldito carro! ― Sherlock insistiu elevando a voz.

O motorista freou bruscamente e imediatamente Sherlock saiu, começando a andar sem rumo pela calçada. Precisava colocar seus pensamentos em ordem, precisava acabar com aquilo. Alguém poderia estar em perigo, alguém mais poderia morrer por causa daquela palhaçada que chamavam de caso.

Entrou subitamente no primeiro beco que encontrou e se apoiou na parede, respirando fundo. Precisava das informações guardadas em seu Palácio Mental.

Voltou ao dia em que conversara com John, horas depois de encontrá-lo sangrando devido ao ataque de Moriarty. Ambos, médico e detetive, compartilhavam uma cama sem grandes dúvidas ou receios. Sherlock nem conseguia processar o fato de que nunca se sentira tão bem com a proximidade de alguém e o quão problemático aquele simples momento poderia se tornar.

― Em um momento, que não precisa ser especificado, olhei pra lareira mais uma vez e vi o crânio, queimando, e me lembrei do que ele disse um pouco antes ― John revelou receoso.

― E o que ele disse? ― Sherlock perguntou interessado.

― Que precisa de mim... Que vou ajudá-lo a queimar Sherlock Holmes.

Sherlock balançou a cabeça tentando se livrar da lembrança. Já estava cansado dessa informação, a real importância estava no como. Como Moriarty faria aquilo?

“Moriarty não se matou porque percebeu que ainda tinha o que fazer”, John questionou naquela mesma conversa. “Percebeu que você se importava comigo mais do que ele imaginava. Estou certo?”

― O que foi aquilo? ― Irene exigiu saber entrando no beco e interrompendo sua tentativa de compreensão.

― Cale a boca, estou pensando ― Sherlock retorquiu de imediato sem abrir os olhos.

― Temos um jantar agora.

― Vá sozinha se quiser.

A Mulher revirou os olhos e se aproximou, impaciente.

― Esqueça isso. Sabe que não vai conseguir encontrar uma resposta definitiva até ser tarde demais.

― Eu preciso conseguir.

― Precisa, mas como fará isso se questiona as próprias conclusões? Deixe-me ajudá-lo, me dê mais informações.

― O questionamento faz parte do processo e eu preciso fazer isso sozinho. É necessário.

― Na última vez você foi ferido, quase atacou seu bom Dr. Watson e por muito pouco não enlouqueceu, caindo em algum beco ou tendo uma overdose ― Irene enunciou mostrando irritação. ― Você não consegue trabalhar sozinho, não mais.

A mente de Sherlock reagiu ao sermão de imediato e logo ele se viu na sala do seu apartamento, no dia e – mais especificamente – no momento em que brigava com seu irmão. Porque era isso.

“Espero que ele veja o quanto você não é confiável”, Mycroft revelou naquele dia, sem hesitação, claramente ansioso para colocar em palavras o que tanto pensava. “Mesmo que ele tenha negado, eu sei que você o machucou Sherlock... propositalmente. Onde foi mesmo? Ah sim, no ferimento de bala, no ombro paralisado inconscientemente enquanto falava no assunto. Do que se trata dessa vez Sherlock? Se arrependeu de querer se divertir mais com Moriarty e vai descontar no nosso bom doutor?”

Sherlock abriu os olhos como se tivesse acabado de levar um tapa, ou assim se sentia. Sua mente parecia estar se iluminando e, depois de muito tempo sem rumo e mergulhada em perguntas, o Detetive notava que uma lógica certa e indiscutível surgia em seus pensamentos.

Lentamente olhou para a própria mão e se esforçou para não se desprender do dia em que discutira verdades com Mycroft. Houve momentos que não fizeram sentido e outros que o marcaram de alguma forma, talvez o ferindo, algumas perguntas surgiram e... o descontrole. Sim, Sherlock lembrava muito bem do momento em que socara o rosto de Mycroft, a satisfação que sentira e a ausência de culpa, mas havia algo antes disso e envolvendo toda a situação... o inesperado.

Sendo honesto, Sherlock não queria machucar o irmão naquele dia e passara a madrugada pensando sobre o ocorrido, talvez com um resquício de culpa e, analisando todo o evento, não poderia negar que tudo acontecera devido ao seu puro e bruto descontrole.

― É isso ― disse por fim, revendo Mycroft em sua sala com a mão ensanguentada e o crânio no chão, em pedaços. Quebrado demais para uma simples queda.

“Olhe o que você fez Sherlock... e sequer percebeu.”

― Isso o quê? ― Irene questionou subitamente interessada.

Sherlock não respondeu. Pegou o celular em seu bolso e preparou uma mensagem para os seus contatos na rua.

Relatório semanal. SH

E esperou, mas não muito. Logo seu celular começou a ser bombardeado com imagens que inicialmente não tinham sentido ou qualquer ligação com o caso, fotos de Lawrence e de lugares nunca vistos, informações que o Detetive não lembrava de ter pedido.

― Isso o quê? ― Irene insistiu.

Sherlock desconsiderou as informações e girou sobre os próprios pés, estava agitado demais para desviar do foco dessa vez.

― Sherlock...

― Culpa ― ele disse de repente, interrompendo-a. ― Ele quer que eu sinta culpa.

― Ele quem? Culpa pelo o quê?

― Moriarty ― Sherlock revelou sóbrio. ― Tudo o que já aconteceu, que está acontecendo... está me levando ao limite, e quando estou no limite...

― Você perde o controle ―  A mulher completou arregalando ligeiramente os olhos.

Sherlock praguejou mentalmente. O objetivo sempre foi simples, sempre esteve bem na sua cara. Os sinais, a desconfiança criada e forçada, o desgaste da parceria entre os dois. Não era sobre querer ou no que acreditar, era apenas sobre descontrole e a facilidade que o Detetive tinha em se afundar nele.

Lembrou-se do dia em que Sebastian Moran surgiu em suas vidas, trazendo consigo Moriarty e a inegável parceria entre o Consultor Criminal e John Watson. Motivos mal explicados, um plano nas entrelinhas, uma relação perigosa que passara completamente despercebida aos olhos do único Detetive Consultor do mundo.  

“Eu também me preocuparia com algumas atitudes novas dele”, Moriarty comentou nesse mesmo dia, enquanto ambos observavam o médico, e completou “É impressão minha ou tudo nele está confuso? Parece... falso! Será que ele quebra como um crânio falso também?”

― Então Moriarty quer que você machuque o Dr. Watson no auge do seu descontrole? ― Irene interrompeu seus pensamentos, tentando criar uma versão definitiva do que estava ouvindo.

― E Mycroft sabe disso ― Sherlock garantiu recomeçando a se afastar, então brevemente andou de costas para lhe lançar um último olhar soturno e completar ―  Afinal, quem seria melhor em destruir Sherlock Holmes do que o próprio Sherlock Holmes?


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