It's just a trick escrita por KCWatson


Capítulo 10
Secrets in blue


Notas iniciais do capítulo

Obrigada a todos que comentaram!



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            O silêncio possuía diferentes significados e causava diferentes sensações em cada pessoa. Poderia ser um momento de paz ou de agonia, um ponto a ser alcançado ou um objetivo impossível.

            Geralmente Sherlock apreciava o silêncio e naquele dia não era diferente. Era nos momentos mais silenciosos que se permitia afundar na própria mente e se perder em seu Palácio Mental. O barulho, mesmo que mínimo, atrapalhava seu raciocínio e interferia em suas observações, transformando suas conclusões em frases nada confiáveis.

             Então quando ergueu os olhos do seu microscópio pela terceira vez naquela manhã, não era surpresa encontrar um brilho excepcionalmente raivoso em seu olhar. O seu precioso silêncio estava sendo quebrado por um barulho insistente de celular que vinha do andar de cima.

            ― John! ― gritou impaciente. ― Atenda esse maldito celular!

            Não houve resposta, nem a interrupção do toque e isso o fez querer destruir todos os celulares do mundo.

            ― John!

            Finalmente o som cessou e Sherlock voltou ao microscópio para analisar as poucas evidencias que o ajudariam a entender a noite passada. Não precisava de muito, apenas de algo novo ou útil. Alguma mísera fração de um DNA, alguma substância que lhe apontasse o assassino ou confirmasse a presença de Moriarty, qualquer fragmento que...

            Socou a mesa, fazendo os fracos e os poucos talheres usados tremerem. Aquele maldito celular voltara a tocar.

            Levantou-se abruptamente e rumou para as escadas, subindo-as com certa fúria. Uma rápida olhada lhe confirmou que passava das nove da manhã e como escutara John chegar no apartamento, mas não sair, podia concluir que o médico não fora trabalhar. Aquela sensação incômoda da noite anterior o atingiu novamente. Quando chegara no 221 B por volta da uma da manhã, pronto para compartilhar o recente caso com o parceiro, encontrou o lugar vazio. Resolveu esperar enquanto tentava colocar o pensamento em ordem.

            O grande e principal motivo do incômodo do detetive foi que a porta principal não voltou a se abrir antes das cinco da manhã, depois disso o loiro passou direto para o seu quarto.

            Sherlock chegou até a porta do quarto de John e bateu, praticamente a derrubando.

            ― John Hamish Watson, atenda esse celular infernal antes que eu entre aí e o transforme em míseros pedaços! Inferno!

            Mais uma vez sem resposta e Sherlock sentiu vontade de recomeçar a bater usando a própria cabeça.

            ― Watson! ― tentou novamente começando a se enfurecer. ― Não me importo se passou a noite bebendo ou trocando fluídos com a primeira mulher que viu, apenas desligue o maldito celular antes de decidir passar o resto do dia dormindo!

            Sherlock ergueu a mão para recomeçar a bater, mas a deixou no ar, repensando não apenas o ato como o que o levara até ali.

            Nunca antes seu amigo perdera um dia de trabalho pela bebida ou por alguém, não importava como estava se sentindo, John cumpria seu horário mesmo que precisasse se arrastar. Então o que havia de diferente naquele dia?

            ― John? ― preocupado, levou a mão na maçaneta e encontrou a porta destrancada.

            O loiro estava deitado de bruços, com o lençol cobrindo apenas parte do seu corpo. Sabendo que não adiantava chamar novamente, Sherlock respirou fundo e se aproximou da cama, só assim notou que o amigo estava coberto por gotículas de suor. Imediatamente levou uma das mãos até a cabeça dele. John estava com febre.

            ― Droga.

            Rapidamente sentou na beirada da cama e afastou o lençol úmido. Parou pela segunda vez. Piscou algumas vezes para se certificar de que estava enxergando bem. Havia novas marcas avermelhadas nas costas de John e tinha certeza de que eram mais recentes do que as outras, recentes demais. Podiam, até mesmo, terem sido feitas naquela noite.

            ― John... ― chamou o sacudindo levemente, mas o suficiente para fazê-lo se mexer. ― Precisa acordar.

            Insistiu até que John começasse a piscar com mais força, indicando que estava acordando. Quando o celular recomeçou a tocar, Sherlock rapidamente o atendeu.

            ― Quem é?

            ― Er... Sara, Sara Sawyer ― a voz feminina respondeu confusa. ― Sherlock? Onde está o John? O horário dele já começou.

            ― Ele amanheceu doente, não vai trabalhar hoje e provavelmente também não irá amanhã ― Sherlock respondeu rispidamente.

            ― Mas o que ele tem? Está tudo bem?

            ― Ficou surda? Eu disse que ele está doente, é o bastante. Adeus.  

            Em seguida desligou e jogou o celular para o outro lado da cama, voltando sua atenção para o amigo, encontrando-o com os olhos semiabertos.

            ― O que você fez John?

            ― Como assim? ― o loiro questionou em um sussurro, virando-se para fita-lo melhor.

            Sherlock arregalou ligeiramente os olhos. Havia novas marcas no pescoço de John também, mas essas eram semelhantes a dedos.

            ― Você tem novos hematomas e está com febre ― respondeu assustado. ― O que aconteceu noite passada?

            John fez uma careta e o olhou confuso.

            ― Não sei... Sherlock, não sei... eu fui a algum lugar?

            ― Sim. Cheguei de madrugada e você não estava mais, chegou mais de cinco da manhã. Como pode não se lembrar disso?

            ― Não sei. Eu... eu não lembro ― John balbuciou enquanto tentava se sentar, um resmungo de dor logo escapando da sua boca. ― Merda! Minhas costas estão doendo!

            ― Não deveria ser novidade, eu disse que você tem novos hematomas.

            ― Não disse onde...

            ― Agora já sabe.

            John resmungou mais uma vez e Sherlock se levantou, olhando-o com seriedade.

            ― Consegue tomar banho sozinho? Vou pegar um remédio pra você e depois vamos conversar. Tudo bem?

            ― Cla-claro.

***

            Mais de dois anos, era o tempo que o separava da última vez em que se arriscara a fazer chá. A última xicara fora entregue a Moriarty momentos antes de se encontrarem em Bart’s e concordarem com o pacto mais estúpido que Sherlock já vira. Não fazia diferença agora, o detetive piorara tudo de qualquer forma.

            Suspirou enquanto terminava o chá. Novamente sua mente se focava no homem loiro no andar de cima, estava cada vez mais difícil não pensar nele e isso o irritava de uma forma abissal. Tudo o que queria, se pudesse escolher, era não sentir toda aquela bagunça que estava sentindo, abrir os olhos em alguma manhã qualquer e respirar aliviado ao notar que nada mais daquilo existia. Ainda havia chances disso acontecer? Antes de John parecia ser natural ou pelo menos automático, mas agora... não sentir parecia ser impossível e inaceitável.

            Arrumou tudo o que precisava em uma bandeja, não se esquecendo do remédio e virou-se para a sala, quase deixando cair tudo em seguida.

            John estava sentado no sofá amplo, enrolado em um lençol fino e o mirando com curiosidade.

            ― Você está pensativo de novo...

            ― Por acaso tem alguma dificuldade em permanecer deitado? ― Sherlock repreendeu ignorando o comentário anterior.

            ― Dessa vez você não pediu ― John deu de ombros. ― E também não tem moral alguma pra pedir.

            Sherlock revirou os olhos e se aproximou, colocando a bandeja sobre a mesinha diante do sofá e sentando ao lado do médico em seguida. Observando que o mesmo havia tomando banho e a palidez em seu rosto.

            ― Como se sente?

            ― Ainda com dor ― o loiro resmungou.

            ― Compreensível. Garanto que se sentirá melhor em breve.

            ― Como pode ter certeza?

            ― Lembra de quando tentaram me envenenar?

            John arqueou as sobrancelhas e se inclinou para se servir de chá, fazendo uma careta com o ato.

            ― Acha que tentaram o mesmo comigo?

            ― Tenho certeza ― Sherlock respondeu convicto enquanto o ajudava com o comprimido do remédio. ― Acredito que não se trata de um veneno letal, mas de uma substância que causa um extremo... desconforto.

            ― Extrema dor, você quis dizer.

            ― Tem novos cortes nas suas costas, devem ter usado a mesma substância em você, mas em uma quantidade um pouco menor.

            ― Quem faria isso e por quê?

            ― Apostaria em Moriarty, mas como pode me pedir o motivo se nem sequer lembra o que fez na noite passada?

            O detetive observou o amigo sorver um pouco de chá e em seguida seus olhos perderem brevemente o foco, como se lembrasse de algo. Subitamente John pegou seu celular, para logo em seguida voltar a soltá-lo. Sherlock o fitou confuso.

            ― O que foi?

            ― Nada ― John respondeu rapidamente. ― Apenas ia ligar para o hospital, mas lembrei que você já avisou o motivo da minha falta.

            Sherlock estreitou os olhos, sabendo que o outro estava mentindo.

            ― Tem certeza?

            ― Claro.

            E o que deveria fazer? Provavelmente esse era o momento de insistir, mas isso criaria mais uma discussão inútil. Sherlock queria a discussão certa dessa vez.

            ― Podemos conversar agora? ― perguntou, surpreendendo o loiro.

            ― Pensei... que já estávamos conversando.

            ― Falo de uma conversa um pouco mais séria... e especifica.

            ― Er... okay, tudo bem ― John concordou abandonando a xícara sobre a bandeja e voltando a sentar ao seu lado. ― Estamos conversando bastante ultimamente... de qualquer forma.

            ― É sobre isso que preciso falar.

            ― Quer conversar... sobre nossas conversas?

            Sherlock encontrou a expressão confusa de John e pensou em desistir, mas o desejo de se livrar daquela bagunça era excepcionalmente mais forte. Precisava colocar um ponto final naquela confusão agoniante que não o deixava pensar racionalmente, que começava a atrapalhar seus casos e suas raras noites de sono.

            ― Sim... mas especificamente sobre as dúvidas que nossas conversas criam.

            ― E que... dúvidas seriam? ― John perguntou incerto.

            ― Sobre um novo caso, eu suponho.

            A atenção de ambos foi redirecionada para a porta aberta, onde Mycroft estava parado com um discreto sorriso de canto e sua sombrinha apoiada no chão.

            Sherlock nunca sentiu tanta vontade de empurrar o irmão escada abaixo.

            ― O que você quer Mycroft? ― perguntou em tom seco.

            ― Tenho um caso como acordo de paz ― Mycroft respondeu erguendo uma pasta na altura dos olhos.

            ― Não preciso de nenhum caso agora e muito menos da sua presença. Saia agora.

            Surpreso, Mycroft franziu o cenho enquanto John observava o amigo de boca aberta. Sherlock não se importou com as reações e insistiu ao ver que o irmão não se moveu:

            ― Ficou surdo, Mycroft? Saia do meu apartamento.

            ― Nosso ― John corrigiu automático. Percebendo o ato involuntário e que chamara a atenção dos irmãos, corou constrangido e pigarreou, mudando de assunto ― Eu... eu chamei Mycroft.

            ― Você o chamou? ― Sherlock praticamente acusou, levantando-se ― Por quê?

            ― Vocês precisam conversar!

            Sherlock revirou os olhos.

            ― John, por favor, eu e Mycroft não conversamos.

            ― Mas você conversa comigo ― John rebateu determinado.

            ― Isso é completamente diferente! ― o detetive argumentou impaciente.

            ― Como? Sherlock, pelo amor de Deus, ele é seu irmão!

            ― Lá vem você de novo com isso de irmão...

            John revirou os olhos e se levantou com alguma dificuldade, abandonando o lençol no ato.

            ― Está percebendo o quanto está sendo infantil? Acabou de recusar um caso só porque está vindo das mãos do seu irmão!

            ― Não, recusei o caso porque sei que ele pode resolver sozinho e porque você precisa de cuidados ― Sherlock rebateu de imediato.

            ― O quê? ― John o olhou com descrença ― Você nunca, repito, nunca colocou qualquer coisa ou qualquer pessoa acima de um caso, por que faria isso agora?

            ― Porque você está machucado, foi envenenado e sequer lembra de onde esteve a noite toda!

            ― Ficarei bem! Você melhorou, não foi? Não deve ser diferente comigo.

            ― Se me permitem interromper a briga do casal... ― Mycroft anunciou impaciente ― Estamos perdendo tempo. E está errado Sherlock, não posso resolver esse caso sozinho. Ele requer a presença de vocês dois.

            ― Nós dois? ― John se surpreendeu. ― Por quê?

            ― Porque é no seu antigo apartamento.

            Sherlock paralisou e pela primeira vez olhou o irmão com algo diferente de desprezo, interesse talvez. Nunca antes Mycroft dissera que sua presença era essencial em um caso, muito menos a de John. O quanto a situação era ruim?

***

            Estava errado. A situação não era ruim, era confusa.

Não queria ter que admitir sua confusão, mas a quantidade de vezes em que sua mente se encontrava expandida em um emaranhado de pensamentos estava se tornando absurda. Para piorar seu humor, estava parado no meio de um apartamento que deveria ser desconhecido - mas que não era - sem ter muita certeza sobre o que fazer... de novo.

            O apartamento ao seu redor era pequeno, o máximo que o Exército daria a alguém. E era azul. Com exceção dos moveis, tudo estava azul. Paredes, chão e janelas estavam pintadas com um azul marinho bem comum, criando um painel perfeito para o responsável que, em seguida, cobriu tudo com palavras avulsas escritas em branco. Como um grande caça-palavras ordenado.

            ― Moriarty fez isso? ― John questionou olhando em volta.

            ― Não sozinho, mas eles nem tentaram fugir das câmeras ― Greg respondeu vagamente.

            Sherlock olhou em volta, pouco convencido sobre a simplicidade da cena. Tinha que haver algo importante ali.

            ― Insisto que volte para casa, John ― pediu pela terceira vez sem tirar a atenção da parede. ― Precisa descansar.

            ― Já disse pra parar de insistir ― o médico rebateu sem olhá-lo. ― Garanto que estou bem.

            Sherlock comprimiu os lábios, reprimindo a si mesmo. Deveria ser fácil, então por que não era? Por que não conseguia não pensar nele? Estava sendo extremamente enervante lidar com qualquer situação pensando no parceiro, nas bobagens que diria, o que faria ou o que pensaria. Mais do que impertinente e insistente! Mas vamos lá, estava no meio de um caso!

Pare de pensar em John!

Só que não adiantava o quanto gritava aquelas palavras para si mesmo, sua mente continuava seguindo os próprios rumos em direção ao loiro que agora o olhava de forma estranha. Mas importava a forma como o olhava? O próprio Sherlock considerava toda a situação um momento ridículo, porque não podia ser tão difícil parar de pensar em alguém e no entanto, era a terceira cena de crime em que estava mais focado no companheiro de apartamento do que nos detalhes do caso.

Companheiro de apartamento? Por que, de repente, aquele termo lhe parecia ambíguo? Tão intencionalmente subliminar? Parecia – e deveria ser – mais uma palavra qualquer, mas Sherlock sentia que jamais conseguiria classificar John como companheiro novamente, porque parando para pensar, era como se a palavra cutucasse intencionalmente sua duvidas, aquelas que seriam discutidas com o próprio John mais cedo se Mycroft não tivesse interrompido. Mas espera... ele ia mesmo discutir aquelas duvidas com o responsável pela existência delas? Era o mais sensato a se fazer não era? Tentar resolver tudo com aquele que criara a confusão.

Então porque agora seu estômago dava voltas só de pensar no que faria?

― Sherlock? ― John o chamou tocando levemente em seu ombro e o fazendo prender a respiração pelo pequeno susto ― Tudo bem? Parece longe.

Longe? Sacudiu a cabeça levemente tentando manter o foco. Ah sim, estou no meio de um caso.

― Tudo ótimo ― apressou-se em responder. ― Apenas confuso com a utilidade desse cenário.

― Confuso?

Não respondeu porque seu olhar se prendera na escrivaninha que um dia fora de John e seus pensamentos logo estavam o levando para um outro cenário, onde imaginava o médico abrindo a gaveta e encarando a arma do exército com inegável tentação.

Quando imaginou um outro cenário onde a arma era usada, sacudiu a cabeça novamente.

Como não pensar nele? Olhe onde você está! Tudo ao seu redor envolve John.

Seus olhos se arregalaram ligeiramente. Finalmente sua mente estava falando algo útil.

― Sherlock?

Ignorou-o e olhou em volta com mais atenção, atentando-se ao fato de que Moriarty nunca fizera nada em vão, mesmo sua diversão possuía alguma lógica. Caminhou majestosamente pelo cômodo, analisando milimetricamente cada parede e as muitas palavras escritas nelas em tinta branca.  Holmes, Mike Stamford, Henry, Jennifer Wilson, Amélia Taylor, Hurt, Sawyer, Austrália, Alice, Philippe, Holmes... escrito e se repetindo dezenas e dezenas de vezes. Mas havia apenas um que se destacava entre eles, maior e mais marcado.

― Quem é Augustus? ― perguntou finalmente encarando os presentes.

Notou Lestrade franzindo o cenho, mas em John fora além. Os olhos arregalados e a boca entreaberta, reações que rapidamente foram escondidas, foram mais do que suficientes para lhe dizer que ele conhecia aquele nome.

― Quem é Augustus, John? ― insistiu se aproximando do parceiro.

― Por que eu saberia? ― John questionou nervoso.

― É o seu apartamento, tudo aqui envolve você de alguma forma.

― Acho que não...

― Por favor, John ― o detetive revirou os olhos impaciente, virando-se para apontar os nomes que lhe interessava. ― Olhe os nomes na parede. Mike, de Mike Stanford, o homem que nos apresentou. Amélia Taylor, a vítima que eu deixei para trás no dia em que você foi atropelado. Olivia Norman, a médica irresponsável que o atendeu no hospital. Henry, seu pai. É tão obvio que não me resta dúvidas de que se trata de uma obra de Moriarty. Mas quem é... Augustus?

Não tinha ideia de quem Hurt, Alice ou Philippe, mas logo descobriria. Com certeza. Por hora se focaria na quantidade de vezes que John desviara o olhar.

― Ainda é um péssimo mentiroso, John ― Mycroft anunciou entrando lentamente no apartamento, olhando ao redor. ― Interessante.

― Nem comece ― John rebateu emburrado. ― A culpa é sua.

― Como a sua falta de controle emocional pode ser culpa minha? ― Mycroft retorquiu parando ao lado do médico.

― Por que você fez todo aquele discurso no meu consultório e agora esfrega tudo na cara dele?

― Garanto que não era o meu objetivo, John.

― Como não? Ficou idiota de repente? Olhe ao seu redor! ― John estendeu os braços para indicar as paredes. ― Como pôde não pensar nisso?

― Simples, o apartamento não estava assim quando sai.

O silêncio demonstrou a surpresa de ambos, mas uma troca de olhar rápida com Lestrade garantiu a Sherlock que não foi o único a perceber a peculiaridade naquela cena. Porque estava claro que Mycroft e Sherlock estavam mantendo seus próprios segredos, segredos que estavam discutindo naquele momento, bem à sua frente. Se o Inspetor estava confuso, o detetive estava desconfiado.

― Podem me explicar o que acabou de acontecer aqui? ― exigiu intercalando um olhar sério entre o irmão e o loiro. ― O que estão escondendo de mim?

― Absolutamente nada que seja do seu interesse ― John respondeu prontamente, saindo logo em seguido em direção ao banheiro.

Era incrível como John perdia a timidez e ganhava novas camadas de coragem quando ficava com raiva, mas nada disso abalava Sherlock. Sempre imaginou que ambos compartilhavam e mantinham segredos entre si, mas imaginou que seriam segredos de John, agora tinha certeza de que envolvia Moriarty. Não importava quem era ou o que era, Augustus estava ligado ao consultor criminal e isso significava que, por algum motivo, Mycroft e John estavam lhe privando de detalhes essenciais do caso.

Concluindo isso, estava pronto para insistir. Gravaria cada detalhe daquele apartamento, porque estava cansado de perder fatos primordiais e se sentir perdido diante de Moriarty, então prenderia John contra a parede e exigiria respostas, respostas certas, concretas e de preferência acompanhadas de provas.

No entanto, foi uma surpresa quando John voltou para a sala com uma mangueira amarela em mãos. Graças ao seu excepcional reflexo Sherlock se lançou para longe da parede quando a ponta preta do objeto foi colocada na sua direção e por muito pouco escapou do jato de água que atingiu a parede com violência.

― John! Está destruindo provas! ― Greg exclamou repreensivo.

― Não tem prova nenhuma aí, é só uma distração ― John esclareceu sem se importar com a indignação do outro. ― Mycroft nos chamou porque nossa presença era necessária e as paredes não estavam assim, então quero ver o que tem embaixo.

Sherlock estava atônito demais para conseguir dizer algo coerente, seus olhos agora corriam de John para a parede, descrentes quanto a cena que viam. Aquele homem loiro a sua frente não se parecia muito com o homem com o médico que era classificado como seu amigo... e isso o assustava.

Não seja ridículo, ainda é John Watson!

― Desligue isso! ― Greg insistiu tentando abaixar a mangueira.

John escapou das mãos do Inspetor e o lançou um olhar feroz.

― É uma tinta lavável, Greg. Não se preocupe, estou fazendo exatamente o que Moriarty quer que eu faça. E você tirou fotos!

― E isso é o certo a se fazer?

― É assim que vamos descobrir o que ele quer ― Mycroft interviu ser intrometendo.

Sherlock queria se mexer, intrometer-se e interromper a pequena inundação que se iniciava no apartamento, mas observando a interação e o sigilo implícito, a sutil cumplicidade entre seu irmão e John que há algumas semanas não existia, achou que seria mais útil exatamente onde estava. Observando. E em completo silêncio notou o azul se dissolver e levar o tom esbranquiçado consigo, os nomes foram desaparecendo lentamente enquanto John tentava alcançar todos os cantos do cômodo.

Logo estava pisando em mais do que uma simples poça de água que não demoraria a invadir o corredor, mas sua atenção estava nas paredes claras agora manchadas de azul. Suas sobrancelhas se ergueram com a visão. Ao contrário de minutos antes, não havia nomes ou avisos rabiscados, mas sim imagens. Desenhos e fotos, de fato, presos às paredes como se estivessem protegidas por uma nova camada de tinta invisível.

― Somos nós... ― John murmurou atônito, deixando a mangueira cair.

Indiferente, Mycroft se afastou para fechar qualquer que fosse a origem daquela água enquanto os outros olhos permaneciam fixos nas diversas cenas retratadas nas paredes. Sherlock podia ver fotos dele e John tiradas em situações comuns do dia-a-dia, enquanto caminhavam na rua ou estavam no táxi, até mesmo em cenas de crimes. Os desenhos, feitos com certo capricho, possuíam um toque mais pessoal, colocando ambos em cenas que provavelmente nunca aconteceram ou se aconteceram, mostrando-as com um outro ponto de vista. O detetive teria que analisar cada uma, cuidadosamente.

― É melhor encontrarem um jeito de retirar essa água, eu preciso do chão seco.


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Notas finais do capítulo

Estou com vontade de matar algum personagem...
Será?



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