Dormi até o horário permitido.

Não me enrolei muito na cama, sabia que teríamos inspeção de chalé, então providenciei o máximo para o chalé impecável. Então acabei lembrando da carta da minha mãe. Peguei-a coloquei no bolso do moletom e sai do chalé. Fui em direção ao 13. Provavelmente a Clara ainda não tinha saído. Errei no Chalé só estava o Nico, que tentava arrumar sua cama. Deixei ele na tarefa que parecia impossível e achei a Clara no refeitório.

- Clara! – a chamei.

Ela se levantou e veio até mim.

- Recebeu alguma carta? – perguntei.

- Sim. – respondeu.

- E aí? – disse impaciente.

- Eu já te respondi. Eu recebi – disse com um sorriso maroto.

- Ai Clara! Tu vai ficar no acampamento?

- Vou sim. E tu?

- Não sei. Vou ler agora.

- Não acredito! Tu veio aqui para me dizer que tu vai ler um carta?! – disse irritada. – SOME DA MINHA FRENTE!

- Ai... e o nosso amor Nara? – sai rindo, antes que sobrasse para mim.

- CALA BOCA! – berrou mais alto.

Sai e fui para entrada do meu Chalé sentei lá e abri a carta.

“Lola!

Muito obrigada por me mandar uma resposta pelo menos fiquei aliviada de saber que não está morta nem nada do tipo. Quero te contar uma novidade incrível! Estamos nos mudando! Sim, você vai junto, se quiser é claro. Vamos sair para Nova York, ficar mais perto e tudo mais. Peter aprovou a idéia sem pensar, disse que se fosse pelo bem da família ele estaria dentro. Mas essa não é a única novidade. Eu estou grávida! Sim, vais ter um irmão ou uma irmã! Lola, ela é do Peter, tu não sabe o quanto ele está animado com isso. Ele não se contenta com tamanha felicidade. Estamos todos muito animados e esperamos que você não crie problema com isto. Bem, o Peter está esperando, eu confio em você, sei que não estragaria a nossa felicidade, afinal não é uma criança mimada nem nada. O Peter acabou de me pedir uma coisa. Ele quer que você fique no acampamento se não se importar, é que compramos um apartamento de três dormitórios novo e não temos certeza de quando vai ficar pronto. O dinheiro que sobrou da casa em que morávamos, só deu para comprar um outro de dois dormitórios, além do de casal, vamos utilizar para o do bebê afinal completo quatro meses em uma semana e então termos o sexo do bebê. Você não fará objeção né? Se não podemos dar um jeito, tudo se ajeita. Bem, filha. Estou com saudades, espero que possamos nos ver o mais breve.

Alice.”

Tive que ler a carta umas duas, três vezes para entender direito. Eu estava descrente. Fui colocada para fora de casa por que meu pai não é o que mora e dorme com ela, então a criança que vai ter quarto é a do filho da mãe que está do lado dela?!

A clara vai ficar e não é problema nenhum eu ficar, mas e se a Clara não ficasse? Eu estava no mínimo irritada. Fui para o arco e flecha marchando enfiei a carta de qualquer jeito no meu bolso. Peguei os minhas flechas que estavam no depósito e comecei a treinar. Estava furiosa, visão um pouco turva mas acertava, depois de algumas flechas, lágrimas de raiva não me deixavam enxergar as retirei com ódio e lancei minha ultima flecha. Não consegui mais agir como se nada tivesse acontecendo, tinha que responder aquela carta, fingir que estava tudo bem, não queria minha mãe aqui, muito menos com o idiota do Peter. Não estava irritada com o bebê, nem com o fato dela estar grávida estava como fato de ser jogada de casa.  

Entrei no dormitório que por sorte estava vazio. Sentei na escrivaninha, peguei uma folha qualquer e escrevi o que me veio à mente para não parecer mal educada.

“Alice e Peter.

Vou ficar não quero dar trabalho. Parabéns pelo bebê. Saudades.

Lola”

Fui breve, mas respondi tudo aquilo que ela pedira. Não queria ficar sofrendo ali dentro então fui para fora. Achei Flávia conversando com algumas garotas, fui ao encontro delas.

- Vai ficar, Flá? – perguntei sem nem dizer oi.

- Vou sim, mas o Dan não. – disse meio chateada. – Sabe da Clara ou do Liam?

- A Clara fica, o Liam, eu não achei ainda.

- Ah certo! Estas são Jéssica e Camila. São gêmeas de Afrodite. Minhas irmãs.

- Oi garotas. – disse um pouco animada.

- Oi, você deve ser a Lola? – assenti – Anda famosa por aqui.

- Que isso! Fiz o que devia ser feito assim como todos. – disse simplória. – Annie ou Percy? – dirigi-me para Flá de novo.

- Só a Annie. Ta rolando a fofoca de que uma filha de Ares ta voltando para o acampamento... acho que é Clarissa. – disse Flá.

- Não, Clarisse. – corrigiu Camila ou era a Jéssica? Bem não sei.

- Mas parece que Lady Ártemis vai fazer uma parada aqui ano que vem... Tem gente que acha que é por que precisa de mais gente na Caça, mas eu acho que é por facilidade, ela deve estar indo para o Norte então vai parar aqui. – disse a outra gêmea.

- Mas podemos falar com as meninas da Caça? – perguntei curiosa.

- Acho que sim, mas duvido que elas falem contigo, são muito fechadas. – deu ombro a Camila. Depois de um tempo localizei o “C” no seu pescoço.

- Bem vou ver se o Liam vai ficar... ou se ele vai ir. – disse saindo.

Ele estava escalando a parede, pedras e lava incandescente caiam. Ele desviava tudo com destreza e conseguiu desativar quando chegou no topo. Ficou olhando lá de cima para o acampamento e não me viu lá me baixo.

- Liam? – chamei um pouco alto.

Ele pareceu me ouvir por que desceu de lá, com a mesma destreza que subiu. Quando ele parou na minha frente e me olhou com aqueles olhos azuis, baixei a cabeça. Tinha alguns cortes no seu braço e sua camisa estava chamuscada em algumas partes.

- Posso? – apontei para os machucados e ele me olhou confuso.

Revirei os olhos. Coloquei minha mão em cima dos ferimentos, ele estremeceu não sei se pelo meu toque ou se por estar doendo. Murmurei algumas coisas aprendidas na primeira semana minha no acampamento e restaram como sempre as marcas rosadas.

- Obrigado, eu acho. – falou um tanto confuso.

- É o que manda a etiqueta. – sorri para ele.

- Bem você não veio aqui para se aproveitar de mim... – fiz cara de descrente. – O que houve?

- Sei que não me deve satisfações... mas você vai ficar no acampamento durante o ano letivo? – despejei tudo de uma vez.

- Hm... eu vou para casa? – isso não era uma afirmação.

- Não sou sua mãe para lhe dizer isso... – lembrei-o zombeteira.

- Hm... Ainda bem que não é minha mãe. Mas eu vou para casa. Já estou matriculado. – disse pensativo. – Vais voltar para Califórnia né?

- Não, estão de mudança para Nova York lá em casa. – respondi.

- Ótimo! Vá estudar comigo. – respondeu animado.

- Eu vou ficar. – disse com a voz embargada.

- Não quer estudar comigo? – perguntou.

- Adoraria. Mas eu vou ficar. – agora meus olhos já se embaçavam.

Ele pareceu notar pois me abraçou. Era bom ficar ali, abraçada com ele, seu cheiro amadeirado com o das vinhas de Florença, tinha ido para lá com nove anos, me deixavam perdida. Depois de alguns minutos...

- O que houve? - disse cauteloso.

- Meus pais não me querem em casa. – respondi breve.

- Não é bem assim.... – disse tentando disfarçar.

- Leia. – entreguei a carta.

Fiquei estudando a reação dele. Quando ele tomou fôlego para falar já me preparei.

- É bem... é por um ano só. – disse pensativo.

- Espero que seja. – respondi. – Gosto da minha família. Mas não quando me põem para fora com um objeto.

- Lola, seja plausível, está havendo alguns problemas na sua família. Não posso dizer para não ficar chateada só vou dizer uma coisinha. – e me estudou alguns minutos. – Venho te ver sempre que der. – e me beijou.

Este parecia um beijo de despedida, o aperto me voltou.