Death Note - O Novo Kira escrita por Lily the Kira


Capítulo 4
Primeiro Embate


Notas iniciais do capítulo

Kira e L se enfrentarão pela primeira vez. E algums detalhes sobre a vida de Lily serão mostrados. Afinal... todos têm um motivo para ser como são. E o motivo dela é triste.

Mas que a guerra comece! E que vença a verdadeira Justiça!

Boa leitura!



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Trilha sonora

O grande auditório estava repleto de pessoas de semblante sombrio. O local mal iluminado estava quase silencioso, se não fosse pelos sussurros dos presentes. Não havia clima para conversas em voz alta, já que a sensação geral era de grande perturbação.

Aizawa estava chateado e muito preocupado. Rugas e cabelos brancos atestavam seu desgaste emocional. Mais uma vez aquele inferno começaria. Reniões em clima pesado, investigação de um inimigo fantasma, apreensão, mortes de inocentes, insegurança geral, medo, caos mundial...

Não, era melhor focar somente no presente. A guerra já seria pesada demais para que o Comissário sofresse por antecedência e prejudicasse seus poucos dias tranquilos antes do embate.

Aizawa já havia participado de uma reunião daquela no passado, quando Kira manifestou-se pela primeira vez. Naquela época, os participantes eram apenas da Interpol, mas agora a situação envolvia nada menos que a Interpol em conjunto com as renomadas “Military Intelligence 5”, ou MI-5, agência britânica responsável por investigar grandes ameaças de nível nacional e a “Military Intelligence 6”, ou MI-6, que investiga ameaças a nível internacional.

Às 14h em ponto o presidente da reunião dirigiu-se ao púlpito e deu início aos trabalhos daquela tarde.

— Boa tarde a todos – o presidente começou a falar – Conforme foram avisados, esta reunião extraordinária foi marcada por conta de um acontecimento preocupante. Há dezesseis anos atrás um indivíduo autointitulado Kira foi responsável pela morte de dezenas de milhares de pessoas, em uma suposta cruzada em nome da justiça. Dez anos atrás ele foi dado como morto. Entretanto, na última semana alguns acontecimentos nos levaram a crer que esse Kira está de volta. Em um mesmo dia, três garotas de fama mundial foram vítimas de paradas cardíacas, ao mesmo tempo em que uma quadrilha inteira, no mesmo dia, foi vítima do mesmo mal. E, durante essa última semana, vários criminosos morreram, todos vítimas de paradas cardíacas. Portanto, temos indícios suficientes para concluir que o tal Kira está de volta.

— Mas esse Kira não estava morto? – um dos delegados presentes questionou – A polícia japonesa nos garantiu que Kira estava morto! Como é possível ele ter voltado?

— De fato, Kira foi pego, mas quando a isso o Comissário Aizawa poderá nos dar mais informações. Comissário, por favor. – o presidente da reunião passou a palavra para Aizawa que, um pouco nervoso, posicionou melhor o microfone à sua frente e começou a falar.

— Boa tarde, senhores. Sou o comissário de polícia Aizawa, da polícia japonesa, e estou aqui jsustamente para esclarecer o caso Kira para todos. Como sabem, nós informamos dez anos atrás que Kira estava morto, e de fato ele está. Por isso, este Kira não é o mesmo de antes.

— Há outro Kira? – um representante do FBI interrompeu alarmado. O antigo Kira havia matado todos os agentes enviados para investigá-lo, por isso o nome Kira não era bem-vindo naquela organização.

— Aparentemente sim, há outro Kira. – Aizawa recomeçou a falar mas logo foi inerrompido novamente, dessa vez por uma saraivada de perguntas e exclamações carregadas de grande preocupação.

A possibilidade de matar alguém só conhecendo seu nome e rosto era algo inédito para aqueles agentes há dezesseis anos atrás, e eles nunca realmente entenderam como Kira fazia aquilo. Quando o Japão anunciou ao mundo que havia solucionado o caso e levado Kira à justiça, as autoridades mundiais suspiraram aliviadas e, mesmo não conseguindo a informação de como Kira matava, aceitaram o pouco que receberam e contentaram-se com isso.

Até porque o Japão não poderia revelar ao mundo que Kira utilizava um Death Note para escrever nomes e, assim, causar a morte das suas vítimas. A ideia não era somente absurda: era uma enorme porta de entrada para o descrédito da nação japonesa perante o mundo inteiro. Sendo assim, o segredo de Kira foi guardado a sete chaves.

Mas agora havia outro Kira, que matava da mesma forma que o anterior, o que trazia de volta a grande ameaça que essa figura misteriosa representava à segurança e paz mundial. Porque, por mais que Kira desejasse somente fazer justiça, o ato de matar pessoas de forma tão misteriosa, criminosos ou não, havia causado grave perturbação entre todos, autoridades ou não.

E agora aquelas autoridades teriam novamente que lidar com um mistério enorme, e com todas as suas consequências.

— Comissário, se Kira está de volta, o mundo mergulhará novamente no caos. – um dos delegados presentes falou, sombrio – Da última vez que ele esteve por aí, todos sofremos baixas. Não queremos que nos aconteça o mesmo que aconteceu aos agentes do FBI mandados para investigar o caso. Temos que nos preparar muito bem para encarar esse Kira novamente.

— Isso mesmo. – outro representante completou, taxativo – Espero que tenhamos um bom planos dessa vez, para não arriscar a vida de inocentes.

E então uma discussão iniciou-se, onde muitos ali presentes enumeraram todos os riscos que estavam correndo. Outros tentavam contornar as ameaças e, com o tempo, percebeu-se que a perturbação que o nome Kira causava era realmente grande, a ponto de desestabilizar todos aqueles homens e mulheres tão experientes e acostumados a lidar com situações das mais tensas.

Mas no meio daquela discussão, uma voz mecanizada, alterada por filtros, soou a cima das outras, calando a todos imediatamente:

Trilha sonora

— Estão perdendo o foco. – a voz disse, em um tom de grande autoridade – Essa reunião serve para decidirmos a estratégia geral. Os detalhes devem ser discutidos a seguir, assim que o mais importante de tudo for definido. Por isso acalmem-se e atenham-se ao plano.

O silêncio perdurou por alguns segundos depois que a voz cessou. Mas os sussurros logo começaram.

— L está aqui? – disseram uns.

— Só pode ser ele. – responderam outros.

L, o melhor detetive do mundo, realmente estava presente naquela reunião, mesmo que à sua própria maneira. Ninguém sabia quem ele era, nem conhecia seu rosto ou paradeiro. Era um dos maiores mistérios que aqueles delegados conheciam. Mas, sendo extremamente competente, o misterioso detetive conquistou o respeito de muitas das maiores autoridades mundiais, a ponto de não precisar revelar seu nome ou rosto. O que importava era sua genialidade e seus feitos, mesmo que o realizador de tudo aquilo fosse um ser sem rosto.

O L do passado havia sido morto por um shinigami, e seu sucessor, chamado apenas de N, assumiu o caso e concluiu as investigações, capturando Kira. E, depois dele, um novo L surgiu, já que N também havia sido morto. Sua morte, aliás, foi descoberta e investigada pelo L atual e, devido à sua brilhante atuação como detetive, foi dele a missão de assumir o posto de melhor detetive do mundo. E esse novo L não decepcionou.

Por isso lá estava o novo L, tão respeitado quanto seus antecessores, participando de uma reunião para pegar aquele que agora era conhecido como seu arqui-inimigo: Kira.

E ele não estava a fim de perder tempo.

—  Já que estão surpresos demais com a minha “aparição”, deixem-me tomar a frente dessa reunião. – o detetive era direto e prático e um pouco impaciente - Em primeiro lugar, quero que saibam que fui eu quem os reuni aqui hoje. Em segundo lugar, quero que fiquem cientes de que não envolverei diretamente todos os países aos quais os senhores representam nessa investigação. Queo uma pequena equipe apenas. E em terceiro lugar, quero que tenham em mente que só pegaremos esse Kira se tivermos o apoio incondicional de todas as nações envolvidas.

Uma pequena pausa e, em seguida, a voz de L voltou a soar no ambiente completamente silencioso:

— No passado, Kira conseguiu render muitas nações por meio do medo que despertou. Sei que talvez esteja pedindo demais dos senhores, mas não podemos recuar perante ele. O apoio popular é crucial para Kira, e ele só terá esse apoio se nós, que os representamos e conduzimos, cairmos vítimas do medo.

— Mas é inegável que Kira pode matar aqueles que se opuserem a ele – um dos delegados tomou a palavra – Você esá pedindo aos governantes do mundo que aceitem a possibilidade de sacrificarem a si mesmos, L?

— Depende, delegado – L respondeu calmamente – Isso só será uma realidade se vocês não usarem a cabeça. Se seguirem minhas orientações, Kira não os matará. Apenas confiem em mim e executem minhas instruções tal como as receberem. Não falharei, posso lhes garantir.

Aquilo soou um tanto preocupante: um detetive, por melhor que seja, não é infalível. Por isso aquele excesso de confiança que L demonstrava não parecia crível, nem possível. Mas L continuou:

— Ademais, eu não estarei só. Terei uma equipe de investigação junto comigo, portanto, qualquer ordem ou instrução será amplamente discutida. Mesmo eu tenho que admitir que trabalhar em conjunto é sempre mais produtivo do que trabalhar só. Por isso volto a repetir: não vamos errar. Então posso contar com a total confiança das nações aqui representadas?

Após um breve silêncio, os delegados, um a um, concordaram com L. Confiariam nele. De qualquer forma, estavam lidando com o melhor detetive do mundo, e isso os tranquilizava.

— Ótimo – continuou o detetive – Agora passemos à outra questão: a equipe de investigação. Serei breve: quero um representante do MI-5, um do MI-6 e, por fim, os investigadores japoneses que participaram da captura do primeiro Kira. Já tenho os nomes dos investigadores das agências britânicas e também dos investigadores japoneses. Por medidas de segurança não os divulgarei. Nninguém mais, portanto, será incluído na equipe e muito menos saberá a real identidade dos investigadores. Dos senhores, peço apenas informações relevantes, que eu solicitarei conforme a necessidade. De acordo?

Os representantes da CIA e do FBI logo concordaram, e os demais também. Era justo e também era bastante reconfortante saber que não seria necessário o envolvimento de outros agentes no caso.

E, por fim, L determinou que a sede das investigações fosse a Inglaterra, porque tinha fortes indícios de que Kira fosse um cidadão inglês.

— Como eu sei disso? – a voz por trás dos filtros era leve, até divertida – Kira me revelou isso. E ele logo vai saber que eu sei dessa informação. Aguardem e verão.

E, quando deixaram o auditório, os participantes da reunião tinham a total certeza de que L logo demonstraria a todos o porquê de ser chamado de “o melhor detetive do mundo”.

Em um bairro tranquilo de Londres, o sobrado de tijolos claros, cujo jardim bem cuidado agora exibia lindas flores de todas as cores, parecia nada mais do que um lar tranquilo para qualquer um que olhasse de fora.

Mas dentro daquela casa havia uma pessoa que não descansava. Lily, em sua escrivaninha, debruçava-se sobre seu Death Note e escrevia freneticamente enquanto consultava, vez ou outra, seu computador.

Ryuuk, comemndo uma maçã, flutuava preguiçosamente pelo quarto, acompanhando com interesse o trabalho de Lily. Era duas da manhã de uma sexta feira agitada e aquela garota não demonstrava o menor sinal de sono.

— Ô Lily – o shinigami chamou – Você acordou cedo hoje, trabalhou duro, ensaiou por horas, saiu com seu namorado, saiu para correr, fez o jantar, limpou o quintal e mesmo assim não está com o menor sono. Qual é o seu segredo, hein?

Lily sorriu divertida e ergueu uma xícara cheia de café preto.

— Meu segredo é esse aqui, Ryuuk: Café. Ele não te deixa dormir se você tomar a quantidade certa. Quer um pouco?

O shinigami, curioso, bebeu um gole de café mas, assim que sentiu a bebida quente descer por sua garganta, engasgou e comeu outra maçã inteira para livrar-se do gosto ruim.

— Mas que droga de bebida quente e amarga! Nunca mais me ofereça isso!

Lily riu alto e, só para desafiar, tomou um enorme gole de café. Ryuukgrunhiu e pegou mais uma maçã.

— Bem, para falar a verdade, o café até ajuda – Lily voltou a falar, dessa vez séria – mas o que realmente me mantém acordada é isso aqui. – ela ergueu o Death Note para o shinigami, que aproximou-se – Essa é a maior motivação para mim: estou fazendo justiça, estou tornando o mundo melhor. Como poderia sentir sono com tanto trabalho pela frente?

— Você e Light se preocupam demais com essa história de justiça. – o shinigami comentou – e eu juro que não entendo o porquê. Vocês dois acham mesmo que isso vale a pena?

Lily parou de escrever e levantou-se, caminhando até Ryuuk e segurando seu Death Note. Em seus olhs havia a mesma determinação de ferro que o shinigami havia visto antes, quando a conheceu, e isso lhe causou mais uma vez aquela sensação estranha de admiração.

— Ryuuk, ouça bem – a voz de Lily era firme, assim como seu olhar e sua postura. Ela era mais uma vez o anjo da morte que aceitara a missão de ser o novo Kira, e Ryuuk foi quase hipnotizado pelas palavras dela – Quando este caderno caiu no meu mundo, pela primeira vez, Ligh Yagami o pegou e mudou para sempre a forma como o mundo vivia. Eu, nessa época, era uma criança, e uma criança cheia de medo. Meu pai trabalhava em uma empresa de segurança digital, e sua função era muito perigosa, porque ele sabia demais. Muita gente mal intencionada desejava obter toda a informação que ele possuía, e isso se tornou um perigo real para ele, e para toda a família.

Riuk ouviu atentamente, percebendo que Lily tinha uma história bastante curiosa para contar. E a garota continuou, agora carregada de emoção:

— Quando eu era pequena, fui obrigada a viver em uma redoma, protegida por todos, sem espaço para ser uma criança comum. Coisas como sair para brincar na rua, dormir na casa de um amigo, ir à escola... tudo isso era impossível para mim. Cresci protegida por câmeas e seguranças, fui educada em casa, não pude ter amigos, vivia sob uma rígida rotina, e pior: sempre com medo. Toda a família tinha medo de, a qualquer momento, ser sequestrada. Meu pai era valioso demais para muita gente, e isso o afetou de tal forma que ele ficou quase neurótico com sua segurança e a nossa. Mas... aí veio Kira.

Ryuuk aproximou-se da garota, curioso. Ela sorriu.

— Kira eliminou os criminosos um a um, ele fez muita gente se esconder e temer por suas vidas. Quando meu pai se deu conta do que estava acontecendo, ele relaxou e eu, pela primeira vez na vida, pude viver como uma pessoa normal. Aqui em casa Kira era visto como o herói que nos libertou do medo. De reféns em nossa própria casa, passamos a viver com toda a liberdade que sempre quisemos ter, o que era mais do que justo. Afinal, éramos pessoas de bem, e a prisão não foi feita pera gente como nós, e sim para os que nos ameaçavam! Então eu sou grata a Kira por ter feito do mundo um lugar melhor para mim e para minha família. Ele cumpriu o que prometeu, foi a Justiça, trouxe a paz e a librdade para quem vivia com medo, e isso é algo que eu não irei esquecer.

Trilha sonora

Mas de repente a expressão triunfante de Lily deu lugar a outra, sombria e lamentosa. Ela baixou a cabeça e fechou o punho.

— Mas Kira foi pego, não foi? Ele sumiu do mapa, noticiaram que ele estava morto. E junto com ele foi a paz que reinava no mundo. Nem dois meses se passaram entre a captura de Kira e a morte dos meus pais. Sabe aqueles criminosos que haviam sumido, Ryuuk? Aqueles que queriam as informações que meu pai tinha?

— O que houve com eles?

— Voltaram com mais força ainda! – Lily ergueu a cabeça e seu olhar estava carregado do mais puro ódio. O shinigami instintivamente recuou diante da fúria daquela garota – Minha família e eu estávamos volando de uma viagem quando nos cercaram. Um homem assumiu o controle do nosso carro e nós fomos levados a um lugar ermo, amarrados e trancados. Meu pai foi conduzido a outra sala e, de onde eu estava, podia ouvir seus gritos. Às vezes ainda escuto meu pai gritar em sonho, e a sensação de desespero e impotência que eu senti naquele dia ainda me fere.

— Lamento por isso – Ryuuk olhou com certa pena para Lily, que ainda estava furiosa. Ela continuou a falar e, quanto mais falava, mais forte se tornava sua raiva.

— Ainda não acabou, Ryuuk. Tem mais horrores para contar. Meu pai gritou por dias a fio, e os bandidos viram que não iriam conseguir qualquer informação dele por meio de torutras. Então o que fizeram? Atacaram minha mãe! Nessa hora ele cedeu, porque os gritos pararam por completo. Eu fui deixada sozinha na sala onde estava quando eles levaram minha mãe, e as horas passavam lentamente enquanto eu tentava me soltar para ver se conseguia, de alguma forma, ajudar meus pais. Mas foi inútil. Depois que levaram minha mãe eu ouvi os criminosos comemorando, rindo... acho que conseguiram o que pretendiam. E depois... ouvi barulho de tiros.

Ryuuk largou a maçã que estava comendo. De repente perdeu um pouco da fome.

— Quanto a mim... – Lily continuou – eu havia conseguido me soltar das amarras e estava pronta para morrer lutando para fugir... mas aí a polícia chegou antes que eles me fizessem qualquer coisa. Quando saí da sala onde estava presa, vi meus pais no chão, e... não peça para eu descrever o que eu vi... ainda sinto a mesma vontade de desmaiar ou morrer quando lembro daquela cena.

— Caramba... você passou por poucas e boas hein...- Ryuuk falou ao ver lágrimas escorrendo pelos olhos de Lily.

— Olha, Ryuuk – a garota enxugou as lágrimas, respirou fundo e voltou a falar – o mundo não foi o mesmo sem Kira. E, como eu, milhões de pessoas sofrem com o medo da violência ou com as consequências dela. E, me diga: você acha isso justo? Acha que as pessoas de bem, que procuram viver uma vida honesta, digna, merecem temer por suas vidas enquanto esse bando de criminosos anda por aí sem nada a temer? Acha justo meus pais terem sido mortos só porque meu pai trabalhava duro para proteger outras pessoas? Eu não acho! Não acho justo eu ter vivido com medo e, no fim, toda a rotina rígida e os protocolos de segurança não terem servido para nada!

Pausa, onde Lily voltou a sentar-se. Ela colocou o Death Note sob a escrivaminha e, quando voltou a olhar para Ryuuk, seus olhos faiscavam como os de um juiz implacável que acaba de condenar um réu à morte. Seu sorriso cruel, seus olhos em chamas, seu porte régio, tudo isso demonstrava que Kira não perdoaria ninguém. Ela estava determinada a construir um mundo livre do medo e da tirania dos maus.

— E agora, Ryuuk, eu posso mudar novamente o mundo e empurrar o mal para longe de todas as pessoas de bem. Ninguém mais vai sofrer o que eu sofri! Ninguém mais vai fazer as pessoas de bem sofrerem, temerem por sua segurança e por suas vidas! Os criminosos desgraçados é que vão sofrer o medo e a angústia que eu e milhões de pessoas honestas sentimos! Eles é que vão temer e se esconder, mas só até o dia em que eu os encontrar. Porque eu vou achá-los, e nesse dia eles vão saber que eu, Kira, os condenei! E assim o mundo voltará a caminhar no rumo certo, no rumo da paz e da justiça! Porque eu serei a Justiça!

Trilha sonora

E, com uma caneta de tinta negra, Lily voltou a escrever freneticamente. Um a um os nomes dos piores criminosos da atualidade foram listados no caderno de folhas claras e capa negra. Lily não podia ver mas, onde quer que estivessem, os que tiveram seus nomes escritos no Death Note caíram um a um, vítimas de um carrasco que não perdoava e não conhecia o significado da apalvra “misericórdia”.

E assim prisioneiros de segurança máxima, de repente começavam a gritar de medo, enquanto corriam desesperados como se fossem animais em fuga, que fugiam de um caçador mplacável. Outros, ainda, que andavam à solta nas ruas, de repente começavam a correr sem rumo e a esbarrar nos transeuntes, derrubando-os. Gritavam coisas sem sentido antes de, finalmente, caírem inertes no chão ou serem atropelados por motoristas desavisados. Ainda havia outros que, de repente, sentiam uma necessidade enorme de finalmente morrer. Então, sem aviso, escolhiam alguma forma de suicidar-se.

E assim Kira eliminava do mundo aqueles a quem julgava indignos. Lily, que havia sofrido com a violência e com o medo durante quase toda a sua vida, agora dava o troco, devolvendo em dobro todo o mal que lhe fizeram.

— Eu serei a Justiça Ryuuk! – ela dizia enquanto escrevia e condenava mais e mais criminosos – Eu transformarei esse mundo e o livrarei do mal!

Ryuuk ouvia aquilo extasiado. Ah, se Light visse aquela garota agora! Ele ficaria tão satisfeito...

E mais criminosos caíam, segundo após segundo, enquanto Kira os sentenciava de acordo com sua vontade.

— Esse mundo podre passará a andar na direção certa, e finalmente uma paz verdadeira e duradoura chegará! E eu trarei a paz ao mundo!

O shinigami riu com gosto. É, aquilo realmente seria ótimo!

— Sua história é interessante, Lily – Ryuuk falou, por fim – acho que explica o que está fazendo. Mas... você não tem medo de ser pega? O Kira anterior foi pego e, no fim, eu mesmo escrevi o nome dele no meu Death Note. Não tem medo de que isso aconteça com você também?

— O Kira anterior foi morto por você? Por quê? – Lily parou de escrever e olhou surpresa para Ryuuk.

— Porque ele foi capturado e ficou sem saída. Simples assim. Ele morreria de qualquer jeito, por isso eu cumpri o que havia dito a ele, e o que disse a você: No fim, eu escrevere o nome do humano no meu Death Note. E assim eu fiz.

— Light Yagami foi morto por você e não pela polícia ou pela justiça humana. Interessante. Acho mais poético do que a possibilidade de encarar uma execução. Mas como ele pôde ter sido capturado? Juro que não posso entender.

— Kira foi capturado e morto porque falhou. Ele deixou o ego subir à cabeça e, no fim, o ego dele o engoliu. Light tentou ser como um deus e tentou punir também todos os que se opunham a ele e isso foi sua ruína, se quer minha opinião. 

— Interessante... – Lily ponderou por uns instantes e em seguida sorriu – Ser como um deus é um erro fatal. Não preciso disso, sabe Ryuuk?

— Não? – o shinigami ficou surpreso.

— Não. Só o fato de eu ser o Kira já me basta. Vou criar um novo mundo para todos e não preciso de adoração de ninguém. E, além disso, eu tenho certeza de que não serei pega. Meu plano é perfeito.

— Ah é? E qual o plano? – Ryuuk estava curioso, havia voltado a comer suas maçãs.

— Quer um exemplo? – Lily sorriu - As horas das mortes estão programadas para ocorrerem em momentos aleatórios, não dando pistas da minha rotina. E outra coisa, eu tento focar em criminosos de todos os países, para não dar pistas de minha nacionalidade. E, por fim, eu variei muito as causas das mortes, para não dar a entender que todas são obras minhas. Acho que assim eu não corro o risco de ser descoberta tão facilmente, não é?

Ryuuk não respondeu, apenas continuou observando a garota escrever nomes no caderno. Lily estava realmente confiante, tinha certeza de que não seria encontrada. Era realmente divertido pensar que ela pudesse nunca ser pega, mas Ryuuk sabia muito bem que os humanos eram falhos. Nenhum humano, por mais esperto que fosse, seria capaz de evitar o cometimento de algum erro, por isso de repente o shinigami ficou muito curioso para descobrir onde Lily falharia. Porque sim, ela falharia um dia, como todos os humanos. Ela, assim como seu plano “perfeito”, tinha que ter um ponto fraco.

E Ryuuk logo pescou uma falha. Havia uma falha e Lily pareceu não se dar conta daquilo. Mas, sendo apenas um observador, o shinigami guardou aquilo para si.

Mas logo a primeira falha no plano de Kira veio à tona, de uma forma bastante desagradável para ela.

Lily sempre assistia ao noticiário assim que retornava para casa, e naquele dia não foi diferente. Deitada em sua cama e comendo alguns biscoitos, a garota relaxava um pouco antes de sentar-se em sua escrivaninha e escever no Death Note. Ryuuk, sempre com uma maçã na mão, aconpanhava as notícias com um ar de curiosidade. Ele realmente gostava do mundo dos humanos e de tudo o que tinha a ver com aquele local tão... divertido.

— Ô Lily – o shinigami comentou – ainda não noticiaram nada a seu respeito. Você não acha estranho?

Lily respondeu:

— É verdade. Pensei que, assim que os criminosos começassem a morrer, logo as notícias sobre o retorno de Kira correriam como fogo na palha seca. Mas não... A mídia preferiu não dizer nada.

— E olha que as pessoas já estão comentando. – Ryuuk observou – Lembra daquele dia no metrô? Será que esão aprontando alguma?

— Se estão, nós logo saberemos. – a garota sorriu de canto e continuou a assistir ao noticiário.

E, quando o noticiário estava quase terminando, o âncora pareceu, de repente, mais sério que o normal:

— Uma notícia de última hora: interromperemos brevemente nossa programação para a exibição do pronunciamento da Interpol. Dentro de instantes, retornaremos com nossa programação normal.

E, a seguir, uma única letra apareceu na tela da televisão. Ryuuk, quando viu aquilo, começou a rir com gosto, como se tivessem lhe contado uma excelente piada. Lily estranhou a atitude do shinigami e voltou a olhar para a TV, contemplando a grande e trabalhada letra “L” em preto, bem no centro da tela.

E, no instante seguinte, uma voz modificada por filtros começou a falar:

Trilha sonora

— Boa noite a todos os cidadãos do mundo. Eu sou o detetive L, sucessor do responsável por desvendar o terrível Caso Kira, há dez anos atrás. Venho até vocês porque correm rumores de que Kira, o serial killer responsável pelas mortes de centenas de criminosos no passado, retornou e está novamente “limpando o mundo dos que considera maus”. Pois bem: em primeiro lugar, quero deixar claro a todos que Kira, aquele de dez anos atrás, está morto, e sua identidade não será revelada por motivos de segurança bem como por respeito a seus familiares, que nada têm a ver com as barbáries por ele cometidas. Portanto, este suposto Kira, responsável pela morte das irmãs Khartashis, bem como de dezenas de criminosos de todo o mundo, é apenas uma cópia barata do primeiro Kira.  Nada mais.

Lily ergueu-se na cama, furiosa. Cópia barata! Como aquele estranho ousava falar dela daquela forma? Ryuuk ria abertamente, sem se preocupar com os olhares cheios de ódio da garota enquanto escutava o misterioso L continuar a falar:

— Esse Kira, como o anterior, não passa de alguém de caráter extremamente infantil, cuja visão de certo e errado é claramente deturpada. Ele, seja quem for, não é um herói: é um assassino, como todos os demais assassinos que ele matou. Não há qualquer diferença. Portanto, peço a todos que tomem muito cuidado ao pensarem em Kira como alguém de bem. Vocês, cidadãos de bem, honestos e de boa-fé, matariam alguém? Se a resposta for “não”, por que, então Kira, que se julga tão honesto e justo, teria o direito de fazê-lo? O que é certo para uns não é certo para outros?

Lily já estava em frente à TV, com os punhos fechados, espumando de raiva.

— Seu maldito enganador! – ela falou entre dentes – Você não sabe nada sobre justiça! É fácil para você me provocar assim, com a cara escondida e com a voz alterada. Covarde! Mostre sua cara! Ou será que tem medo de mim?

— Além disso – a voz mecanizada voltou a falar - as mortes atuais nos dão um parecer sobre quem é esse suposto Kira: Esse Kira é visivelmente arbitrário, sem um padrão e totalmente injusto. Isso porque este novo Kira matou a sangue frio as irmãs Khartashis, que não tinham nada de criminosas. Ou seja: como poderemos prever que esse Kira não matará inocentes só por não gostar deles?

— É, Lily, esse L é bem corajoso. Ele está desacreditando você em rede mundial.

Lily não respondeu, estava concentrada em L e em suas palavras.

— Peço a todos os cidadãos do mundo que não se deixem enganar pela aparência justa e bem intencionada de Kira. Ele é um assassino frio e mau, ele matará qualquer um que se opuser a ele. Por isso, Kira, se estiver me assistindo agora, saiba que a polícia já está atrás de você, e que vamos encontrá-lo mais cedo ou mais tarde.

— Idiota, como pretende me pegar? – Lily desafiou, com um sorriso triunfante no rosto – Acha mesmo que eu serei idiota a ponto de me revelar para você de qualquer forma? Vai sonhando, L!

— E quer saber? – L continuou - Temos fortes probabilidades sobre o seu perfil: sendo que as primeiras mortes ocorreram na Inglaterra, temos indícios de que você está lá. E, sendo que a notícia do escândalo das Khartashis foi transmitida por um jornal local de Londres, comparando a hora da morte delas com a notícia, sabemos que você estava em Londres nessa hora. E, sendo que o índice de aprovação dessas celebridades é pequeno na Grã Bretanha, tenho quase 100% de certeza de que você é inglês. Ou inglesa, se preferiri, uma vez que somente as mulheres parecem não aprová-las e, mais que isso, detestá-las. E tenho fortes probabilidades também de que você é o tipo de pessoa conservadora, analisando o perfil de suas vítimas. Por isso não será difícil achar você.

— Caramba, esse L continua bom, hein! – Ryuuk estava deliciado com toda aquela situação. Lily, por sua vez, parecia extremamente incomodada. Na verdade, ela estava furiosa.

— Então saiba, Kira - o detetive misterioso prosseguiu, com a voz carregada de uma feroz determinação - que já estamos na sua pista e que pegaremos você. Sabemos como você mata e temos todas as condições de achá-la. E, assim que pegarmos você, vamos dar um fim nessa loucura de uma vez por todas. O mundo não vai mais cair nessa tirania e nem terá uma assassina como heroína! E assim eu me despeço de todos os que me assistem com a certeza de que Kira será presa e seu poder de fogo neutralizado. Obrigado e boa noite a todos.

Em seguida o notíciario retornou, sem comentários a respeito do pronunciamento do melhor detetive do mundo e nem sobre a figura mais controversa da atualidade. Só as notícias restantes, todas sem muita importância.

Lily estava sentada diante de seu Death Note. Em seu rosto havia um sorriso cruel e determinado. Seus olhos, por um breve instante, pareceram conter uma chama vermelha, que queimava com força.

— L... seu idiota. – ela disse – Se achou que esse truque de me provovar iria funcionar, perdeu seu tempo! Não estou nem aí pra você e nem para o que diz.

— Truque? – Ryuuk olhou para Lily.

— Ele quer que eu me manifeste de alguma forma, que eu mostre a ele alguma reação para, dessa forma, captar alguma pista sobre mim. Mas eu não vou cair nesse truque. E, se ele acha que reduzindo a minha aprovação popular, eu vou me sentir intimidada, ele está muito enganado! Não ligo para isso, meu trabalho será feito de qualquer forma, o mundo goste ou não!

E, em algum lugar de Londres, dois olhos cinzentos estreitavam-se, após o pronunciamento do detetive L. Um sorriso apareceu naquele rosto, e a voz saiu cheia de determinação. L estava decidido a vencer.

Trilha sonora

— Agora veja, Kira. Responda se puder. E mesmo se não puder, eu vou saber quem é você e vou caçar você! E vou te vencer!

Lily, em seu quarto, olhando para a TV, sorria também.

— Se você quer me pegar, L, então tente!

L, determinado, sem saber que Kira havia respondido ao seu desafio, continuou:

— Se você acha que o que está fazendo é justiça, Kira, saiba que você não é nada além de uma assassina, e eu vou provar isso ao mundo.

— Se acha que sabe o que é justiça, L, então aguarde! – Lily prosseguiu, com o punho fechado -  Você verá esse mundo transformado!

— Kira...

— L...

— Vou continuar minha missão e vou te vencer!

— Vou até o fim do mundo para pegar você!

— E nesse dia...

— E nesse dia...

— Vou te mostrar o real significado da palavra “Justiça”! – as duas juraram por fim, juntas.


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Notas finais do capítulo

E agora? A guerra começou! L e Kira se enfrentarão e novamente o mundo sentirá os efeitos desse embate. Ou será que não? Serão esses dois inimigos iguais aos do passado?

Nessa guerra, a vitória pertencerá à verdadeira Justiça!



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