Cerúleo escrita por Bétia


Capítulo 1
X — Sentir-se Azul.


Notas iniciais do capítulo

~Ayo ladies & gentleman~

Gent, eu amei esse meu tema. Estou me sentindo muito fora do ninho por estar postando a fic tão cedo, sendo que só um outro participante teve essa ousadia também.
Mas eu cheguei num ponto em que não aguento mais ver essa fic guardada, e que acho que pior do que já tá não fica. Ou ao contrário.
Mas, né? Ninguém é perfeito. Devo ter errado um pouco muito, e, se vir algo do tipo, informe-me, por favorzinho. Okay? ;v;)b
Obrigada e boa leitura.
Ah, eu aconselho a ouvir This is Gospel (Piano ver): https://www.youtube.com/watch?v=jO2_3pVd5k0
Ou ligar o Rainy Mood para climatizar a leitura. :)



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Era cerúleo, não ciano. Era cerulean, uma perfeita catástrofe parcialmente amenizada para os que estavam fora com a nomenclatura de batalha.

 

 E Misty vira cada um de seus treinadores falharem e fugirem para fora de sua vista, despencando no jogo do treinador oposto de modo que eles não parecessem mais que peões de seu próprio gameplay insano.

 Ela o mandara ir, ela tentara correr, ela tentara fingir não ver apenas desfoques e tons sobrepostos de azul. No agora, todos os aquários da instalação já reduziam-se em cacos ao chão, enquanto a mínima sensação de que tudo se tornaria um desastre descomunal parecia se alastrar e sufocar os lances positivos que aquela moça ainda tinha. Misty agora se arrependia de ter tomado o Gyarados daquele rapaz, mesmo por conta de maus tratos.

 Pela primeira vez em sua carreia como responsável pelo ginásio a garota não sabia como contornar uma situação. Os seus pokémons pareciam amontoar em um cardume preso em um limite de água levitado por movimentos psíquicos e Misty não fazia nada além de tremer e dizer a si mesma que aquilo não podia, não deveria estar acontecendo.

 Starmie e Staryu estavam à frente de seu batalhão, mas já haviam de ser vistos diversos membros de sua família de monstrinhos desfalecidos ao léu, além de adicionais quatro outros do time inimigo: Paras, Butterfree, Raticate e Pidgey; descartados por seus próprios parceiros de e na batalha.

 — Misty, temos que sair daqui. — Pediu Nith, sua fiel Slowbro. E ela tampouco fizera a menção de que a escutara. Sua treinadora não parecia estimulada a isso, mas sim a jogar-se no meio do disparo de chamas que a salamandra alada do desafiante expelia com vigor.

 Nith não aparentava, entretanto, sentia-se tão mal quanto a líder, ainda que logicamente mais preparada para um baque tão forte e autocontrolar-se a fim de ser vagamente o bastante. A lontra sorrateiramente usava o psíquico para escapulir dali com o maior número de vítimas que conseguia desde que a desordem findara com seu pacífico ar, despejando ademais parceiros na grande fonte próxima ao prédio e correndo de volta para o local empestado pelo mais puro sentimento de ódio.

 E ela cansava, porém, amnésias eram seus principais recursos utilizados no meio do percurso com a finalidade de esquecer o passado recente e tão presente, para assim obter forças para voltar ao mesmo ringue amargo. Lá, o campo e a piscina já cheiravam a sangue, membros de insetos e peixes boiavam por aqui e ali. Era arrebatador, enlouquecedor, era quente, o caminho sujo que levava até a personificação da ira.

 Mas o ápice assim ocorreu quando enfim o cardume juntou-se em espiral e sufocou o grande dragão em meio ao ringue, deixando-o despencar cerca de quatro metros até atingir a água e sua revoltosa chama se apagar. Dispersando-se, os peixes se encaminharam à sua impotente treinadora, as duas estrelas marinhas preparadas para montar a defesa dos demais enquanto fugiam. E, por um breve segundo ilusório, todo aquele azul parecera ciano e alegre, mas não. Em flashes, todos os presentes assistiram o Geoduge do treinador oposto empunhar diversos pedaços do que antes era o vitral do aquário da arena, direcionando-os ao seu horizonte enquanto um movimento de proteção se armava por trás da dupla de pokémons sem gênero. E, em meio ao preparo do uso do movimento giro-rápido, a defesa armada ruíra, a barreira fadara e ambas as joias carmins se estilhaçaram em perfeita sincronia.

 O campo silenciara um instante após a queda dos dois primeiros pokémons e o resto dos que não conseguiam andar por si os acompanharam em seguida. Perfurados pelos fragmentos vítreos e a mercê da falta de oxigênio provindo da filtração da água, logo também partiram como os demais.

 Nith, que também observara tudo em sua utilidade esgotada, pendia ao apoiar-se nas pernas de sua treinadora. Seu tri-attack carregado de agouros fisgara os presentes de surpresa quando as primeiras cineres puderam ser ouvidas de longe. E assim, após tamanho desgaste, a pokémon desmaiara. 

 

Era cerúleo, quase índigo. Era o verdadeiro significado da expressão "sentir-se azul" e Misty sabia disso. Porém, isso não significava que ela gostaria de mudar seu estado para outro, ou que, ao menos, sabia como fazê-lo.

 

— Correio. — Cantarolou Nith ao adentrar no recinto, ainda que levemente tensa pelo fato de que talvez estivesse sendo desrespeitosa com o luto de sua treinadora. Nesse momento, até o barulho da sacola plástica que trazia parecia um tanto desconcertante. — Misty? — Ela indagara em ligeira surpresa. A água da banheira vitoriana tampouco mexera com a menção de sua chegada, o que talvez significasse que algo de errado ali havia. — Misty?! — Pediu uma luz a pokémon, agora realmente preocupada.

 E, novamente, seu chamado fora ignorado. Nith suspirou, seu tamanho ligeiramente mais baixo que o recipiente onde estava a sua treinadora incapacitava-a de manter qualquer contato visual, ou tampouco checa-la melhor.

 Foi quando o Shellder em sua calda balançou, sinalizando algo. E ela suspirou, a privada claramente não era o melhor lugar para se subir e reclamar com alguém, porém, é... Era apenas o que conseguira para hoje.

— Misty! — Ela exaltou-se, disfarçando o pedido manhoso em um agudo raivoso. Surrupiando um pouco do papel ao lado da pia, ela tacou-o na água parada. Entretanto, o resultado não seguira como o esperado, não houve nem um splash.

 E ela suspirou, preparando-se para o seu sermão de mãe.

— É lindo o que você está fazendo, ignorando-me a todo custo. Não sabe nem esconder nada de mim! Olha que lindo, que exemplo, na água e ainda vestida com a roupa de três dias atrás!! — Ela bufou. — Deve estar muito cheiroso ai, arominha flores do campo! É belo o que você está fazendo, perfeito!

 Foi quando a líder abriu minimamente um dos olhos, destroçada, mas irritada com o furdunço que a amiga fazia.

— Te manda, Nith. — Disse a ruiva.

— Eu não vou fazer nada! Não enquanto você estiver agindo como criança!! Você não pode apenas sair e decidir passar o dia todo ai! Você tem trabalhos a fazer!

— Não só posso, como também vou. — Murmurou a mulher, passando um dos braços para cima dos olhos, na esperança de que a Pokémon evaporasse dali e de parar de ouvi-la surtar e batucar um dos pés na tampa do seu sanitário.

— Eu queria que todos vissem o que você está fazendo agora... — A lontra pensou alto, pulando de volta ao chão. Seu Shellder já se remexia em uma velocidade anormal, um pedido claro de que deveriam sair dali logo.

— Saia daqui. — Misty a ordenou, a voz não apenas seca pela falta de hidratação, mas adornada pelo nojo do que a parceira dissera. Tudo o que mais queria agora era distância dela.

— Custa para você entender o que eu estou querendo que você faça, caramba?! — E um chute foi disferido contra a banheira alva, direcionando toda a adrenalina que a Slowbro sentia para a água que agora tremelicava. 

— Custa para você entender que eu não quero fazer nada, Slowbro?! — Foi a primeira vez em que Misty a chamara assim e que Nith paralisara. — Custa me deixar sentir um lixo por não ter podido fazer nada?! Ou você já se esqueceu de que todos os meus pokémons morreram nessa semana?! Não é o bastante para você, não é?!! E o fato de que o meu ginásio está arruinado, isso tem importância para você também?! Se não, hoje é a feira livre de Cerulean, não recebo desafios nesse dia!

 Um nó se formara na garganta da Pokémon, ela engolira a seco o que pudera e apertara a sacolinha em mãos, sentindo os membros retesarem.

— Ótimo, bom saber que você não tem mais como ser uma boa profissional por isso. — Nith alfinetou. Cortando o silêncio proposital da líder, o plástico sendo aberto chacoalhou e virou eco no pequeno banheiro. Os quatro “glups” que se seguiram encobriram os passos da Pokémon até a porta do banheiro. — Alguém das minas de Fuchsia ligou outra vez para você hoje de madrugada, vinha um Pidgey para cá te deixar essas amostras. Elas chegaram agorinha, aliás. — Ela fez uma pequena pausa instigar a garota a ouvi-la. — Então... As ágatas azuis de lá acabaram, e eles supuseram que você não ia gostar de Citrinos –, seja lá o que isso for–, para fazer as insígnias de Cascata.

 Misty suspirou, gemendo algo inaudível para a Slowbro concentrada apenas em explicar.

— Eles mandaram algumas amostras de toda Kanto. A meio verdinha, é uma Malaquita, ela vem de veios hidrotermais de Lavender, ou algo assim, se não me engano... — Ela se enrolou um pouco antes de completar: — Bom, outro é o Quartzo Safira, fácil de se encontrar perto do Mt. Silver. Tem uma Cianita Azul de algum lugar e Opalas também azuis vindas das jazidas ao redor de Celadon.

— Eles disseram mais alguma coisa?

— Erh, não. Mas eu tomei a liberdade de ligar para o Brock e ele disse que poderia te ajudar a escolher de acordo com as amostras. Então eu estou indo pelo Mt. Moon para Pewter com as amostras reservas. Eu aviso a ele o motivo da sua ausência, ele vai entender. — Comentou, sutilmente escondendo o fato de estar magoada com a treinadora.

— Não, eu vou com você! — Misty quase pediu, declarando com urgência a sua presença na cidade mineradora de... Bismuto?

— Eu, ein, endoidou de vez, mulher?! Esqueceu de que lá é proibido a travessia de treinadores sem o porte de pokémons? — Disse em voz baixa e neutra.

 A líder de Cerulean não precisou checar para imaginar os olhos maliciosos de quem chicoteava de volta as suas palavras. Afundou-se outra vez na água morna, cerrando os punhos expirando com força.

— Afinal, o que há de errado com você, Nith?! — Misty a cercara. — Está por ai, fingindo que nada aconteceu, você não sentiu nada?! O quão desumana você consegue ser mesmo sabendo que todos os seus amigos se foram e você ainda está aqui?!

— Creio que desumana o bastante por ser um Pokémon desde sempre. — E a outra fechou a porta com um baque. — E, aliás, eles não eram todos os meus amigos — Completou, sumindo no corredor a passos largos enquanto sua treinadora destilava seu rancor sozinha.

— Você não vai sair daqui, Nith! — Gritou-a a garota de onde quer que estivesse. A Slowbro, entretanto, tampouco atentou-se com seu chilique. Não enquanto ela ainda não havia agarrado a ponta de seu Shellder.

— O que você quer, Misty?! — Elas se entreolharam, mas a mulher tampouco conseguira ver a muralha que se formara entre as duas e a transparência de sua Pokémon, ou os cacos do que um dia ela já fora. Só havia raiva mútua pelo que ela captara. — Que eu chore, sofra, me suicide? Escolhe! Eu posso passar duas semanas parada no tempo também, se quiser companhia!

 Uma tapa estalou pela cozinha. E Nith imediatamente arregalara os olhos com o que vira e sentira, era o seu limite.

— Você é realmente deplorável. — Ela engoliu o choro, mas vale ressaltar que o ato e quem o havia aplicado fizera doer mais que a própria dor carnal. — Sabe, eu sei que é triste não ter um descanso! É triste porque o mundo não para quando uma tragédia dessa acontece com você. É triste porque você vai ter que lidar com tudo isso anestesiada e nunca vai sofrer o tanto que você poderia ou deveria se tivesse paz. Então você só tem como ir em frente, sem nunca saber o que teria acontecido se isso ocorresse de outro modo. Mas você não pode decidir agir assim pensando em seu próprio umbigo!! Você é a pessoa que mais deveria dar exemplo à Cerulean, mas que agora virou isso. Esse patético protótipo de uma líder. — E a Slowbro suspirou. — Agora, por favor, solta a minha cauda que eu estou de partida. Se você não pode ser essa pessoa, eu serei. 

 Uma desvencilhar-se da outra nunca pareceu tão confuso.

 

E, então, era realmente cinza, cor de ardósia. Mórbido, desgastante, frio. Mas, ao mesmo tempo que cinza, ainda era azul. Quase cerulean, que era quase índigo, que não era ciano.

 

 A monotonia do centro Pokémon de Pewter, para Nith, sempre lhe parecera a mesma. Ela acompanhava os treinadores saírem e voltarem do prédio com vitórias ou derrotas nas costas com um tiquetaquear previsível. Assistia, contemplativa, as interações de jovens com seus parceiros de time, e não podia evitar de pensar no modo como saíra de casa.

 Como será que Misty estava lidando com a briga das duas em outrora? Nith não conseguia ficar com raiva por tanto tempo, principalmente se tratando de sua treinadora. Atropelaria o seu orgulho se preciso fosse, se não achasse que o que tinha feito fora o certo.

 Mas sua cabeça pesava.

 Retomava ao foco poucas vezes, fitava o relógio em uma das paredes alvas, e checava outra vez os pertences na mochila de pelúcia em formato de Poliwag que trouxera nas costas, constatando assim o que já sabia, que nada havia sumido de lá.

 E, a cada vez que tendia a perder a paciência, a hora que tanto esperava nunca parecia chegar. Saber também que, além de estar em observação pela enfermeira do prédio, ainda tinha que esperar até um momento peculiar para que sua ligação fosse atendida pela Joy de Cerulean, parecia não colaborar para com a sua pacata existência naquele dia.

 Divagando, Nith girava o canudo do Moo Moo Milk de uma forma despretensiosa, de modo que parecia estar mais perdida em outra galáxia do que realmente nessa. O seu poffin de Watmel berry ainda parecia intocado desde a primeira mordida. Okay, ela tinha a desculpa de que doces, no geral, não eram lá tanto assim de seu agrado, mesmo que o gosto desse em especial fosse excelente, mas ela só não estava no clima para isso. Ao contrário de diversos outros treinadores famintos que chegavam na bancada do simpático comerciante que trabalhava no mesmo hospital, ela só queria escapulir dali o mais rápido possível.

— Você, ao menos, deveria tentar se alimentar. — Comentou o senhor que limpava a madeira do balcão em que se escorava. — Não é como se eu pudesse me intrometer no que bem faz da vida, mas, Slowbro, quer uma dica? Seja o que for que estiver te preocupando tanto, não valerá a pena quando notar a vivacidade e os pelos que estará perdendo. — Ele afirmou ao olhar de relance e ver a Pokémon tencionar.

— Não me importa. — Sua voz saíra tão seca quanto a de Misty mais cedo, de modo que o idoso que acompanhava sua melancolia de perto ousou parar o seu trabalho e buscar uma cadeira para perto. A que usava quando lavava louças ou tinha um breve intervalo, como agora.

— Você não pode abarcar o mundo com as mãos. — Insistiu. Nith suspirou quando percebeu que ele não desistiria.

— Esse é o problema. — Afirmou ao focar em suas pernas e forçar o aperto dos seus braços que agora abraçavam a si própria.

— E porque está sofrendo se sabes disso? — Ele buscou, passando a flanela próximo a Pokémon. Ela engoliu a seco, brigara com sua treinadora justo por ela sofrer tão abertamente e agora... — Então... Não dá para ser o que precisa ser para os outros quando não se é o bastante para si mesmo.

Será que tudo seria diferente se tivesse dito o mesmo para Misty?

— Como...?

Parecia proposital. Nith agora sentia-se pior do que previra.

— Assi–

— Não, espera. Não me leve a mal, mas você realmente parece saber pelo que é que estou passando. Você não aparenta ter frases desconexas e coisas e tals. — Ele riu de suas palavras assim que elas se findaram.

— Não sei, fique tranquila. É só que, para um Pokémon psíquico, você parece que foi atravessada por milhões de Gastlys.

— Acho melhor nem tentar imaginar se estou tão ruim assim. — Ela disse e finalmente os seus cadeados pareciam dar espaço ao diálogo inesperado.

— Tenta planejar algo a se fazer para criar uma distração. Te fará bem. — Ele comentou em toda a sua inconveniência, afastando os pedidos de Nith mais para a direita e limpando o espaço onde esses estavam, voltando-os para o mesmo lugar em seguida.

 A Slowbro sentiu-se momentaneamente tão inspirada a fazê-lo que quase despediu-se do barman no mesmo minuto, mas acrescentou: — Eu vou.

Na verdade, não ia.

 — Ai dentro? — Ele completou com a indagação, deixando o sentido aflorar-se.

— Sim. — Ela mentiu, buscando na bolsinha que trazia o dinheiro para pagar sua refeição. Existiam apenas quebra-cabeças em suas mãos: Um deles era tentar conversar com o Professor Oak para retirar a licença do invasor do seu ginásio, quando, em contrapartida, não tinha permissão, ou tampouco postura para o fazer. O segundo seria tratar de pensar na apresentação de um projeto para o novo ginásio, porém, com o menor custo que conseguisse. E, três, checar se as placas de mármore chegaram em Lavander com o epitáfio correto e se o terreno em que os corpos jaziam já havia sido devidamente pago.

— Não. Seja lá o que esteja imaginando, você não tem a obrigação de gastar sua sanidade nisso. O problema é a sua jornada? Caso for, sabe... Independentemente do seu treinador ou o que ele sonha para você, ou vocês, lembre-se que primeiro há o que você sente. E o que você permite ser.

 Nith o fitou.

— Não há nada tão grande assim. Você deve estar imaginando demais. — Alegou, enquanto seu Shellder a contradizia, alarmado.

— Ótimo. — O senhor elogiou, enquanto desconfiava da própria pokémon ao afastar-se para atender um cliente novo com o esboço de um sorriso animado no rosto.

 Foi quando enfim o contador bateu duas da tarde. A Slowbro pulou do banco de estofado carmim no qual gastara minutos em vários nadas, deslizando para perto do balcão da recepção, que era relativamente mais alto do que ela; mais baixo do que seus um metro e vinte, só o centro entre a pequena área de convivência ali.

— Joy? — Ela chamara, concentrando-se na moça que agora lia uma revista qualquer enquanto tentava resistir ao sono em sua cadeira macia. Apertando a alcinha azul do braço esquerdo de sua mochila, Nith esperou que a mesma quase caísse de onde estava apoiada e se preparasse para atende-la.

— Você... Você viu algum treinador por aqui, coisinha? — A enfermeira, ainda que meio grogue, pedira ao não notar ademais presenças além da sua após nortear-se. A ser sincera, a Slowbro tampouco se importara com a nomenclatura utilizada pela mulher para se referir a ela, mas arqueara a sobrancelha na esperança de que ela reparasse o erro notório e se desculpasse. Caso não, tinha muito o que explicar. Porém, antes de tudo, negou com a cabeça a pergunta que lhe fora feita. — Que coisa... Eu devo ter imaginado, então. — A mesma comentou antes de voltar ao seu assento.

— Bom, na verdade, não. — Nith afirmara. E a rapidez com que a mulher voltara à mesma posição fez com que a Pokémon se perguntasse se não seria melhor ter esclarecido logo tudo antes de chama-la. — Foi eu quem te chamou.

— Meu Arceus, agora é delírio. — A Joy dissera entre uma atuação e outra, escorando-se ainda mais no móvel, por via das dúvidas. Já Slowbro, ela massageara as têmporas.

— Moça, eu só quero uma transferência. Eu não gostaria, mas parece que o seu curso não deu uma grande informação sobre pokémons psíquicos. Então... Rapidinho! A gente, quando atinge determinados níveis, consegue fazer com que determinadas presenças da sua raça nos entendam.

— Oh, isso explica muita coisa. — A outra comentara, acariciando um dos olhos. — A política de Joys é meio diferente. — E bocejou. — Não é um curso para todos os tipos, você conhece o mínimo e se aprofunda no curso que mais vai te ajudar onde você ficar. Mas eu admito que talvez tenha faltado algumas aulas que complementavam o seu tipo para comer na lanchonete. — Concluiu, risonha.

— Entendo. Perdão. Mas, a transferência...

— Ah, sim! Claro, eu já ia me esquecendo disso... — Alegou. E a mesma deslocara-se para uma máquina maior e não muito longe de uma das suas de energização. — Suponho que seu treinador tenha lhe dado as referências do que fazer.

— Fazer uma ligação para o Centro Pokémon de Cerulean e buscar a única pokébola que ele tem lá. — Nith encenara, ocultando que o mandato era próprio, não de Misty. E curvou-se, buscando por algo em sua bolsinha. Mas se poupara o trabalho e decidira apenas deixar como estava.

— Você não sabe o número de identificação dele de cabeça, ou sabe?

— Ah, sim. 40688. — Ditara e voltara-se para observar a transmissão entre a Joy de Pewter e de Cerulean, mas tampouco dera atenção ao modo como se findara. Já havia conversado com a enfermeira de Cerulean e a mesma a atualizara das perdas na semana, avisando-a que só havia sobrado um peculiar Pokémon da líder por lá e que os outros haviam padecido pelo envenenamento da fonte da cidade. Aparentemente aquele garoto havia pensado em tudo.

— Você gostaria de mais alguma coisa? — A mulher perguntara-a ao descobrir pela outra prima a quem ela pertencia. O tom de sua voz, que parecia ter se aveludado e a compaixão por saber do caso por outros fatores era talvez um tanto irritante. 

— Não, eu não preciso. — Nith afirmou, ainda sem perder o seu tom amistoso. Metade da pergunta da Joy havia sido por educação, mas, quando checara a pokémon com os olhos, supusera que não precisava mesmo. Ela apenas viu a Slowbro agradecer o seu atendimento, estendendo-a a mão na esperança de ter em porte o que precisava.

 E o semblante da moça mudou por um momento.  

— O processo foi cancelado. Como eu posso te dizer isso? A Joy da cidade de Cerulean atualizou o depósito e a líder de ginásio de Cerulean apenas porta um Gyarados consigo.

 Nith espantou-se com a informação privada vazada, não conseguindo disfarçar seu semblante surpreso quando processou o que a enfermeira quis dizer.

— Isso é, eu me permiti olhar o histórico da mulher e... Me desculpe. Suponho que você tenha sido o Pokémon solto por ela há cinco horas.

 

Ao fim, foi-se um degradê agoniante. Como um soco dinâmico, as cores escorriam em seu plano e se tornavam os mais diversos azuis entre embargos confusos. Nith catou-se antes da sensação de humilhação a abrasar e retirou-se do recinto em silêncio, porém fugaz, tal como viera. Mas, para seu desfecho, ela sabia que tudo sempre seria cerúleo, que para ela estava mais puxado para índigo, não ardósia, e que logo se tornaria algo como ciano, calmo.


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Notas finais do capítulo

Então... Foi isso. ♥ (o'u' o
Bye bye.



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