As Crônicas dos Amaldiçoados, Caimitas escrita por Elias Pereira


Capítulo 22
Capítulo 22




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/724583/chapter/22

  Observo pela janela que o sol estava nascendo, chamo Paolo, visto minha camisa e sigo para o elevador. Nina e Hugo já tinham ido e deixado as armas na mesa para entregar a Mauricio. Eu posso simplesmente largar ai em cima e mandar ele vir buscar, mas, quero fazer uma visita as instalações baianas de ouro branco.

  Aperto o botão e espero o elevador chegar, Paolo estava de pé a alguns passos de distancia, seus braços cruzados e atento a porta do elevador. Acho engraçado que de dia ele fica com a atenção redobrada. Afinal ele sabe sobre a mortalidade diurna.

  A porta se abre e entramos na pequena cabine. Aperto o botão da garagem e recosto no canto. Minha mão vai automaticamente para o maço de cigarros, acendo um e começo a fumar. Preciso pegar a arma de um deus da morte, facinho isso sabe... Existe um deus da morte em cada esquina. Maldito asmodeu, terei que viajar o mundo atrás de um deus da morte que ainda esteja neste plano.

  A porta do elevador se abre e vejo o carro parado lá no fundo do estacionamento. Sigo caminhando, vejo uma movimentação entre os automóveis. Paolo percebeu também e continua seu caminho como se nada estivesse acontecendo, mas a mão já na arma. Um homem sai armado apontando para mim.

  -Demônio! - O homem fala ensandecido. Ele tremia e suava muito, usava uma camisa social e tinha um livro negro em sua mão esquerda. - Volte para o inferno de onde você veio!

  -Hm? - Olho o homem de cima abaixo, faço um sinal com a mão avisando para Paolo não pegar sua arma e deixar comigo. - Deixa eu adivinhar. - Olho para o livro. - Você é um cristão...

  O homem levanta o livro, vejo na frente escrito "Bíblia Sagrada". Não consigo evitar de revirar os olhos. Não entendo como esse povo não aprende, séculos e séculos fazendo uma merda atrás da outra e sempre continuam na mesma.

  -Renda-se agora satanás! - O homem aproxima-se de mim com a arma apontada para minha testa. 

  -Tudo bem! - Levanto as mãos. Sem poderes não consigo ouvir seu batimento, ou o som de sua respiração. Entretanto não significa que não sei como agir. 

  Ele aproxima-se de mim com sua arma visando meu rosto, ouço o som do cão da arma sendo puxado e o tambor girando, a arma agora pronta para disparar.

  -Atire! - Começo a rir. - Termine a ordem de Deus! - Eu não aguento segurar a risada e dou as costas ao homem e volto a fumar. - Vocês são os melhores entre os homens, fonte de divertimento eterno.

  -Você ri de Deus? Ri do povo de Deus? - O homem então atira contra mim. Como me afastei um pouco dele o tiro atravessa meu ombro.

  -Filho da puta... - Passo a mão no ferimento. - Qual o problema de vocês em sempre estragar minhas roupas?

  Aproximo-me dele e pego-o pelo pescoço, o cigarro cai no chão, não tenho agora a força sobrenatural e nem a velocidade descomunal, mas tenho um ódio potencial.

  -Você é o próprio Lúcifer na terra! - O homem levanta a arma novamente mas seguro seu braço e forço sua mão contra seu corpo, lentamente vou vencendo e sua arma vai seguindo para baixo de seu queixo.

  -Esse tiro vai levar o dia inteiro doendo! - Falo com raiva e acerto com a testa em seu nariz desnorteando-o. - Você tem noção disso? - A arma agora embaixo de seu queixo. - Por que veio atrás de mim?

  -Queime no inferno demônio! - Ele fala e cospe em mim.

  -Desgraçado! - Jogo-o no chão e antes de cair eu puxo a arma de sua mão, em seguida aponto para seu rosto. - Última chance. - Aproximo-me e ajoelho com a arma para baixo agora, virada para o chão e a mão entre os joelhos. - Vamos la... Sei que não quer morrer aqui nesse estacionamento. Afinal tem um deus ai para adorar! Então diga! O que você viu?

  -Eu vi tudo o que aconteceu no pelourinho. - O homem começa a rir. - Você arderá no inferno!

  -Viu... Não foi difícil contar. - Sorrio para ele. Logo em seguida ergo a arma e disparo contra sua cabeça. Seu corpo tomba para trás sujando todo o chão com miolos e sangue. -Entretanto você me tirou do sério e estragou minha roupa.

  Levanto, limpo a arma com um lenço e jogo em cima do corpo dele. Paolo continua impassível observando toda a cena. Pego o cigarro no chão, ainda estava aceso. Apago numa pilastra e entrego a Paolo para se livrar dele.

  -O corpo pode deixar ai. - Falo seguindo em direção ao carro. - Vamos sair daqui, o som do tiro vai atrair pessoas inconvenientes. Cuide das câmeras!

  Sigo caminhando até o carro, Paolo volta para as escadas de incêndio. Entro no veículo e dou partida no motor. Assim que o carro liga o rádio sintoniza uma estação e começa a tocar "Vai passar mal, viro sua mente com meu corpo sensual". Resolvo deixar ai mesmo e sigo meu caminho dali.

  Do lado de fora, já dirigindo dou a volta no prédio e encontro Paolo do outro lado. Ele entra no carro e seguimos dali.

  -Conseguiu cuidar de todas as câmeras? - Pergunto enquanto disco o numero de Mauricio.

  -Sim senhor Vivale! Apaguei os últimos 2 dias de gravação. - Ele observava a rua.

  O telefone toca por alguns segundos então Mauricio atende.

"Senhor Vivale, tudo de boa? Então, em que posso ajudar?"

  -Mauricio. - Falo e paro o carro em um sinal vermelho. - Mande a sua localização para mim, estou indo ai agora!

  "Mando agora mesmo! " Ouço o som do teclado do celular sendo digitado. "Enviado Senhor Vivale. Aproveitando sua ligação, aquela succubus que estava com você é muito gosto..." Desligo o telefone na cara dele e reviro os olhos.

  -Não sei como ainda suporto ele, preciso constantemente lembrar o motivo dele ainda ta vivo. - Entrego o celular a Paolo. - Abre a mensagem de Mauricio com o endereço e me mostra a rota!

  Paolo mostra o GPS e sigo a rota indicada. Seguimos pela orla novamente, pessoas correndo, caminhando, fazendo exercícios. Lembro que estamos em um domingo quando passo perto de uma igreja e ouço as músicas. Sigo por uma praça grande de frente para o mar e acabo na frente de um edifico alto. Pego meu celular e ligo para Mauricio novamente. Ele atende no primeiro toque.

  -Vá para o estacionamento! - Desligo antes mesmo dele responder.

  o porteiro é avisado sobre nossa chegada e abre o portão. Entro no estacionamento subterrâneo e Mauricio já estava lá me olhando. Ele tinha uma camisa com um vampiro estampado e escrito "Hellsing". Suspiro e ele vem andando todo sorridente. Abro o porta malas, ele suspira, entrega uma chave a mim e entra.

  -Vai me guiando pelo celular! - Falo antes dele fechar o porta malas.

  -Sim senhor Vivale... - Ele fala emburrado e se fecha ali dentro.

  O celular toca e então sigo a orientação dele. Tiro a arma da cintura e ponho embaixo da coxa, já estava começando a me incomodar pressionando minha virilha.

  -Paolo! - Falo com ele.

  -Sim senhor Vivale! - Ele volta sua atenção a mim.

  -Angeline disse algo mais sobre os negócios nos Estados Unidos? - Passo a marcha do carro e olho novamente a rota mandada por Mauricio.

  -Apenas que a mercadoria chegou. Tanto o aço quanto o ouro branco. - Ele fala olhando novamente as mensagens. - Também informou que alguns vampiros se rebelaram contra a saída do senhor, e ela suprimiu a revolta.

  -Ótimo! Sempre posso contar com ela. - Sorrio e pego um cigarro, prendo entre os lábios e acendo com o isqueiro sem tirar os olhos da pista.

  Seguimos quietos por cerca de duas horas e meia até que chegamos em uma área um pouco menos urbanizada. Tinha alguns sítios pela estrada de barro. Paro o carro na frente de um portão de metal. O portão não tinha um segurança sequer. Entretanto eu podia me sentir sendo observado. Paolo desce com a chave dada por Maurice e abre o portão.

  Espero que retorne e sigo para dentro do local. Observo uma casa ao fundo, parecia abandonada. o terreno não tinha sido bem tratado a anos possivelmente. Vejo um galpão e paro o carro dentro, fora do sol. Abro a mala, desligo o motor e desço. Percebo olhos amarelos passeando pela escuridão na casa abandonada.

  Coloco minha arma na cintura e vejo Mauricio saindo e se espreguiçando.

  -Odeio viajar por ai de dia! - Ele reclama e caminha até mim. - Senhor Vivale... vem comigo!

  Ele para no fundo do galpão e faz um pequeno corte em seu dedo usando suas garras, ao passar o sangue no metal frio e enferrujado um alçapão se abre em um canto.

  -Bruxas sendo úteis! - Ele sorrir. - Somente sangue caimita pode abrir esse caminho.

  Mauricio desce as escadas na frente e sigo logo atrás. Paolo me acompanhava observando tudo ao redor atentamente, a iluminação era baixa, mas dava para enxergar tudo ali com um certo esforço. Seguimos um longo corredor até chegar a uma porta de aço.

  Mauricio gira a trava da porta que se abre com um estalo. Entramos e vejo vários e vários Caimitas rondando por ali. Uma musica tocava alto ali dentro "Rastatabaka na vara vai sentando na vassoura, eita bruxinha rabuda", funk brasileiro. Mauricio é recebido por uma vampira jovem que entrega-lhe alguns papeis. Ele sorri e segue caminhando.

  -Aqui refinamos a cocaína e fazemos a distribuição senhor Vivale, temos caimitas cuidando da segurança lá em cima e outros aqui embaixo. Aqui temos o refinamento da cocaína, empacotamento e por ai vai.

  -Entendi! - Passo o dedo em um pouco de cocaína e boto na língua. - Refinem mais!

  -Sim senhor Vivale! - Mauricio devolve os papeis a uma caimita e continua a andar. - Vamos até a minha sala senhor.

  Ele segue na frente passando por toda a produção, observo os caimitas me olhando e cochichando. possivelmente sobre minha forma humana. Talvez pensem no quão fraco sou e que poderiam me matar ali mesmo. Afinal... quem não quer poder?

  Entro seguido por Paolo, Mauricio fecha a porta e segue até sua mesa. Ele aponta para a sua cadeia e a oferece para mim, aceito e sento. Observo a papelada na mesa e o notebook aberto. alguns documentos no excel e uma aba de filme pornô.

  -Então... - Fecho o notebook dele. - Como está indo minha ordem de aumentar nossa fatura?

  -Está dando um certo trabalho senhor Vivale! - Ele encara os dedos. - É um aumento drástico que o senhor está desejando, vou precisar de um certo tempo para isso.

  Paolo observava de pé próximo à porta. Suspiro, pego um cigarro e acendo. A fumaça sai pelas minhas narinas e se espalha no ar em minha frente.

  -Mauricio! - olho ele nos olhos, mesmo com minha forma humana ele ainda engole em seco e sua frio. - Te darei três meses para aumentar essa fatura. Entendido?

  -Sim senhor Vivale! - Mauricio suspira aliviado. - Então... o que mais quer saber da produção daqui?

  -Da produção nada mais. - Coloco os pés na mesa. - Quero saber sobre as pessoas que você anda transformando. Quem são?

  -Muitos na verdade são indigentes ou pessoas que catamos pelo interior do estado, as famílias não sentem falta em sua maioria, as que sentem não tem como vir atrás deles. - Mauricio coça o rosto pensativo. - Oferecemos dinheiro, abrigo e coisas assim, ai aceitam.

  -Entendi! - Puxo a fumaça do cigarro e solto pelo nariz e fico olhando a ponta incandescente. - Outra coisa. Observei alguns caimitas interessados no fato de eu estar na forma humana. - Olho Mauricio de canto de olho. - o que me diz sobre isso? Devo me preocupar com uma traição?

  -Não... Jamais meu senhor! - Mauricio começa a suar novamente. - Eu irei atrás dos que olharam diretamente pro senhor e vou punir todos da pior forma que minha criatividade permitir.

  -Não precisa disso! - Levanto devagar e caminho até ele, sento na ponta da mesa em sua frente e me inclino até ficar próximo de seu rosto, meu cigarro a poucos centímetros de seu olho. - Gosto de saber que posso confiar em você.

  Mauricio se afasta um pouco da ponta quente do cigarro e levanta. Ele ajeita a gola da camisa e caminha até a porta, sigo-o com meu olhar.

  -Bom... queria apenas ver como funciona as coisas aqui. - Falo com ele e levanto da mesa seguindo até a porta. - Tenho uma viagem para fazer.

  -Sempre maravilhoso receber o senhor! - Mauricio sorrir. - Vou acompanha-lo até a saída.

  -Obrigado! - Sigo andando e Paolo vem atrás.

  Subimos novamente em silencio. Entro no carro, me despeço de Mauricio e Paolo dirige para fora dali.

  -Para onde Senhor Vivale? - Paolo pergunta.

  -Para o aeroporto. Temos um deus para caçar. - Sorrio enquanto acendo um cigarro. - E continuando a historia de onde parei...


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "As Crônicas dos Amaldiçoados, Caimitas" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.