As Crônicas dos Amaldiçoados, Caimitas escrita por Elias Pereira


Capítulo 2
Capítulo 2




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Termino de me vestir, era um terno preto, camisa da mesma cor e calças combinando. Sigo até as armas e pego a pistola, o peso era bom. Coloco nas costas presa na base da calça, não tem necessidade eu ter uma arma, mas gosto da sensação. Pego meu celular e disco um número, chama duas vezes até que atendem.

Vivale? – Era o Russo no telefone.

—Olá Russo. – Minha voz passava uma falsa animação ao falar com ele. – Gostei da encomenda. Quando chega o resto?

Amanhã à noite entrego tudo. – Seu sotaque às vezes atrapalhava de entender.

—Certo. – Caminho até o elevador com Paolo em meu encalço. – Estarei aguardando. – Desligo o telefone e guardo dentro do terno.

Paolo pressiona o botão da garagem e o elevador se fecha. Começamos a descer, fico lembrando coisas do passado enquanto me olho no espelho que ficava ali na parede do fundo. Já estou vivo há 154 anos. Sorrio ao me lembrar de como era a vida humana.

A porta abre na garagem, sensores de movimento nos identificam e acendem as luzes. Seguimos andando e nossos passos ecoando pelo local. Alguns homens armados estavam de vigia, todos humanos treinados para não me olhar nos olhos a menos que tivessem autorização. Paolo pega a chave da Mercedes CLS-63 e seguimos até o carro. Ele era todo preto com vidro fumê 100% e blindado.

Paolo senta no banco do motorista e eu atrás. Ele faz a manobra com o carro e seguimos dali. As ruas estavam ainda movimentadas, eu observava as luzes dos edifícios e as pessoas correndo fugindo da chuva. Pego meu maço de cigarros, tiro um e acendo tragando a fumaça.

Paolo dobra a esquerda e paramos no sinal vermelho. Pego meu celular no terno e começo a jogar Candy Crush. Ele não tirava os olhos da rua. Antes de trabalhar para mim era um soldado americano da SEAL, especialista em diversas armas e combates corpo a corpo, mas tinha um ponto fraco, o mal que uma nação pode fazer aos pais imigrantes de um jovem garota é uma mancha difícil de ser apagada.

—Paolo. – Chamo-o sem tirar os olhos do celular. – Você já está há quase um ano comigo e nunca perguntou como me tornei o que sou. Não tem curiosidade?

—Achei que o senhor contaria quando achasse que eu devesse saber senhor Vivale. – Ele dobra a direita com o carro.

—Um homem de ação sem perguntas. – Expiro a fumaça pelo nariz e sorrio. – Irei contar a você. Posso confiar que você não dirá a ninguém Paolo?

—Pode sim, senhor. – Ele responde sem tirar os olhos da rua.

—Jura pela sua vida? – Olho seriamente para ele pelo retrovisor, ele olha nos meus olhos amarelos com as pupilas em fenda. Ele não esboça reação, mas eu ouvia seu coração acelerando um pouco.

—Sim senhor Vivale. – Ele volta a olhar a rua.

Sorrio e volto a olhar pela janela, tento organizar as idéias por ordem cronológica. Trago a fumaça do cigarro e expiro novamente.

—Conhece a história de Caim e Abel da bíblia? – Pergunto olhando as gotículas de água descendo pelo vidro.

—Os filhos de Adão?

—Isso. – Termino o cigarro e coloco no espaço na porta. – Tudo começa aí. Caim foi amaldiçoado por Deus, marcado e impedido de ser morto. Daí vem o nome Caimita, somos vampiros que descendem dele.

Paolo não falava nada, pelas batidas do coração era possível ver que estava atento.

—Somos a segunda família criada por uma maldição divina. – Recosto a cabeça e relaxo o corpo. – Já minha história começa em 1871.

Paolo dobra mais uma rua e chega ao cais. O carro entra devagar e segue até o ponto marcado. Passamos por alguns contêineres e paramos num local mais próximo aos cargueiros. A carga ainda não tinha chegado.

—Você já foi à Inglaterra Paolo? – Pergunto a ele quando para o carro.

—Não senhor! – Ele me olhava pelo retrovisor.

—Você odiaria então aquele país no século XIX. Fedia a mijo e podridão. – Fico olhando pela janela. – Empesteado de ratos, putas e ladrões. Fora as chances de ter uma tuberculose e morrer.

Observo Paolo, ele estava atento a história, mas sem perder o foco também do cais. Um exemplo de soldado.

—Bom... – Acendo um cigarro. – Inglaterra, ano de 1871...


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