As Crônicas dos Amaldiçoados, Caimitas escrita por Elias Pereira


Capítulo 15
Capítulo 15




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  O carro para na frente de um condomínio. Descemos e o motorista segue para estacionar. Começamos a andar e meu telefone toca. Pego dentro do terno e vejo que é Paolo. Estranho ele não ter saído do carro ainda.

—Fala! – Atendo e Nina olha para trás quando ouve minha voz.

"Senhor, falei com Jefferson, o senhor ficará hospedado em um hotel em um bairro chamado Rio vermelho". Sorrio com o nome do bairro, bem apropriado para um Caimita. "Consegui contatar Mauricio, ele irá encontrá-lo no hotel para falar sobre o ouro branco. Preciso ir ao hotel, Jefferson está com problemas devido o sol."

—Entendo! – Olho para Hugo. – Onde estamos?

—Itaigara! – Hugo responde e caminha em direção ao elevador. Seus seguranças param do lado da porta.

—Estou no Itaigara. Mande o endereço do hotel pelo celular. – Entro no elevador. Nina olha-se no espelho e começa a mexer no cabelo.

"Sim senhor Vivale!". Paolo desliga e guardo o celular. Fico observando Nina retocando o batom. Hugo olha para seu relógio e acerta os óculos.

—Por que você usa isto? – Pergunto apontando para seu rosto. – Somos vampiros,enxergamos muito bem.

—Transpassa uma imagem mais humana. – Hugo responde seriamente.

—Você nunca muda não é? – Sorrio observando os números do elevador.

—Como assim? – Hugo olha para mim.

—Continua com esses desejos de parecer humano. Quando vai cansar disso?

—No dia que você cansar de ser um homicida. Quando superar esse seu trauma de infância, ai conversaremos sobre meu desejo perante minha humanidade. – Hugo coloca as mãos nos bolsos da calça.

—Revoltado em... – Sorrio.

—Parecem duas crianças discutindo! – Nina fala revirando os olhos. – Vicent eu até entendo... Mas você Hugo...

—Não entendi! – Respondo indignado com aquilo. – Por que a mim você entende?

—Por nada querido! – Nina toca em meu rosto sorrindo.

Reviro os olhos e a porta abre na cobertura. Eu e Nina entramos após Hugo. Dentro da sala tinha cinco ghouls andando de um lado para o outro. Um cadáver desmembrado se encontrava em cima de uma mesa coberta por plástico.

—Venham comigo! – Hugo fala e segue em direção a uma porta dupla de madeira.

Ao abrir nos deparamos com um escritório. Tem estantes de madeira repletas de livros, uma mesa de madeira repleta papéis e com um notebook aberto. Hugo caminha para a parede da extrema direita, percebo uma replica do quadro "A última ceia" de Leonardo da Vinci preso. O Iscariote puxa a lateral da pintura e abre-se então um cofre.

—O que será que tem ali? – Pergunto a Nina. – Muita segurança...

—Você é bem ansioso não é amor? – Nina senta na mesa e começa a mexer no cabelo.

Hugo pega algo dentro do cofre e leva a uma mesa vazia. Era um pergaminho. Caminhamos até ele e observamos.

—Que idioma é esse? – Pergunta Nina olhando.

—Parece aramaico, mas não reconheço a simbologia. – Falo tentando ler.

—Enoquiano! – Hugo responde nos olhando por cima dos óculos.

—A língua dos anjos? – Nina fala espantada. – Como conseguiu algo assim?

—Isso não é relevante. – Hugo volta os olhos para o pergaminho. – Lerei para vocês.

"É considerado um dos sete anjos do inferno abaixo somente de Lucifer  (imperador do inferno) (que se alimenta e se fortalece da avareza). É o demônio representante do pecado da Luxúria. Asmodeu, o "Rei Esquecido de Sodoma" é visto como o homem mais impuro já nascido, e aquele que guiou Sodoma à luxúria. Por ordem do próprio Yahweh, a destruição de Sodoma foi o meio de matar Asmodeu. É citado como o assassino dos noivos de Sara. Deus envia o anjo Rafael para guiar Tobias, encontrar Sara e prender o demônio nos mais altos picos terrestres. Depois de completar sua missão, o anjo cura Tobit pai de Tobias e retorna para a Corte celeste. Por se tratar de um humano que virou demônio e não um anjo caído, Asmodeu possui o livre arbítrio, negado aos anjos, sendo considerado a 'Arma de Lúcifer' para derrotar Yahweh e a humanidade ."

Hugo enrola o pergaminho e observa-nos atentamente. Eu estou analisando as palavras em minha mente ainda, eu sabia uma parte desta história, mas não por completo. Nina olha seriamente para ele.

—Enfrentaremos um nephilim com o poder de Asmodeu. – Falo olhando ora para Hugo e ora para Nina.

—Ele não é uma cópia do pai! – Nina fala. – Seu poder não será o mesmo.

—Sim! – Hugo tira os óculos e coloca na mesa. – Isso é um fato! Mas, por que um nephilim quando ele mesmo podia vir e acabar com tudo. O que Lucifer planeja?

—Lucifer sempre foi um tanto complicado! – Falo coçando o queixo. – Ele é um estrategista nato. Lembra sobre Hitler? Sabemos que Lucifer guiava sua mente.

—Sim... – Hugo coça os olhos. E chama um ghoul que passava ali. – Traga uisque, para nós três.

A criatura acena com a cabeça e sai dali. Hugo leva o pergaminho de volta para o cofre e tranca. Ele para na frente de uma estante e começa a passar os dedos pelos livros. Então retira um e traz. Na capa estava escrito "Magia ancestral".

—Resolveu estudar bruxaria agora? – Pergunto sem entender o que ele queria.

—Matar este nephilim será difícil, por mais que sejamos mais fortes, não temos como derrotar a horda de demônios que devem está protegendo-o. – Hugo responde enquanto folheia o livro.

—Ele estará sendo protegido. – Nina fala caminhando para perto do livro. – Lucifer nunca deixaria sua arma andando por ai sozinho.

—Quantos anos ele deve ter? – Pergunto curioso.

—O nephilim possui atualmente vinte e três anos. – A voz me causa uma repugnância imensa. Era Miguel.

—Você ama entradas dramáticas não é? – Falo olhando-o de cima a baixo.

—Aparta-te de mim. – Ele segue em direção à Hugo. – Trago-te uma mensagem de Deus.

—Qual seria? – Hugo fala sem tirar os olhos do livro.

—Encontrai uma feiticeira, vivendo onde escravos eram punidos, ela o auxiliará. – Ele fala e cruza os braços.

O cheiro do anjo me lembrava ozônio. Aquele cheiro que fica em tempestades com muitos raios. 

—Seja específico! – Hugo fala olhando-o nos olhos. – Estamos na Bahia. Não achará um só centímetro de terra onde um negro não tenha sido castigado.

O arcanjo suspira e toca com o dedo num pedaço de papel que começa a queimar. Uma linha é formada com as cinzas até preencher um desenho.

—O que é isso? – Pergunto e percebo que o arcanjo já tinha sumido. – Odeio esse ser, com todo o meu ódio.

—Eu sei onde é isso aqui. – Hugo observa atentamente. – Ele estava falando do Pelourinho, parece a Cruz Caída.

—Bom... – Caminho até uma cadeira e sento cruzando as pernas. – Não conheço nada neste país, então confiarei em sua palavra.

—Por que Yahweh indicaria uma bruxa para ajudar? – Nina pergunta intrigada. – Não são criaturas desprezíveis para ele?

—Na verdade eram desprezíveis para os humanos que diziam falar em nome de Deus. – Hugo pega os óculos e coloca na frente dos olhos. – Deus deu livre arbítrio a todos para seguirem o caminho que acharem melhor.

Suspiro e vejo o ghoul voltando com uma bandeja. Tinha uma garrafa com uísque e três copos, ele coloca na mesa e sai.

—Como saberemos quem é a bruxa? – Nina pergunta.

—Bruxas têm um cheiro peculiar! – Levanto seguindo até a bebida e servindo os copos. – Posso encontrá-la facilmente, quando meus poderes voltarem. – Tomo um longo gole da bebida.

—Partiremos então assim que anoitecer. – Hugo leva o livro até a estante quando repentinamente um a porta da sua casa explode.

O som nos assusta. Disparos são feitos, parecia uma arma automática. Pego minha pistola, presa em minhas costas na aba da calça.

—Protejam-se! – Recosto-me na parede próxima a entrada. Nós três sabemos que se formos mortos durante o dia, podemos ser pegos e levados, pois somente à noite iremos retornar a vida.

Aproximo a cabeça devagar da porta e vejo três homens armados com fuzis.

—Matarei todos! – Hugo caminha até a porta e olha para seus ghouls no chão sangrando.

—Matem-no! – Um dos homens diz e os três apontam a arma para Hugo. Reparo que eles tinham olhos completamente pretos. Eram demônios.

—Levantem e acabem com eles! – Hugo fala seriamente.

Os homens disparam, um ghoul levanta rapidamente e para na frente de Hugo, servindo como escudo. Os outros levantam e saltam em cima dos três demônios. As criaturas atacam os servos de Lúcifer com as mãos nuas e os dentes. Os demônios gritavam quando seus braços eram arrancados, a carne de seu rosto sendo devorada com eles vivos. Um dos ghouls enfia a mão na barriga do demônio e puxa seu intestino para fora e começa a comer.

Uma fumaça negra sai da boca dos homens e some no ar. Eles desmaterializaram e voltaram para sua dimensão. Os ghouls continuam se alimentando.

—Vamos sair daqui! – Hugo fala seguindo em direção à porta.

—Queria atirar em um pelo menos. – Reclamo guardando a pistola e sigo-o com Nina em meu encalço.


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