As Crônicas dos Amaldiçoados, Caimitas escrita por Elias Pereira


Capítulo 10
Capítulo 10




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  O estacionamento se ilumina com os faróis do carro. Os guardas baixam as armas ao verificarem que era eu chegando. Ao estacionar, vem um homem e abre a porta para mim. Ele suava e encarava o chão.

—Qual o seu nome? – Pergunto e tiro um cigarro de dentro do terno. – Creio não ter visto você por aqui antes.

—Jefferson! Senhor! – Ele encarava o chão.

Essa submissão era algo tão delicioso, ver as pessoas temendo, prostradas a mim. Acendo o cigarro e trago a fumaça. Observo o jovem, ele não devia ter mais do que vinte e cinco anos. Era forte, sua postura firme.

—Sabe lutar alguma coisa Jefferson? – Expiro a fumaça pelo nariz e seguro o cigarro entre o dedo anelar e o mindinho.

—Tenho um conhecimento em Jiu Jitsu brasileiro e um pouco de boxe, senhor Vivale. – Ele ainda encarava o chão.

—Entendo! – Trago novamente e expiro pelo nariz. – Siga-me Jefferson!

Começo a caminhar em direção ao elevador. O jovem caminhava sem pestanejar. Jogo o cigarro no chão e entro na cabine. Jefferson entra e para ao meu lado, Paolo fica na frente, de costas para nós dois e aperta o botão para a cobertura.

—Me diga Jefferson. – Olho minhas unhas e observo o garoto olhando o chão. – Disseram o motivo de não me olhar nos olhos?

—Apenas disseram para não fazer, senhor Vivale. – Ele responde prontamente. Deve ter sido militar.

—Eu não sou idiota meu caro Jefferson. – Suspiro e pego o celular de dentro do terno. – Eu sei que eles olham e acham que não noto. – Ouço o coração do jovem acelerar um pouco. – Sei das conversas que espalham. Mas, não quero interrogar você. – Abro o aplicativo do Clash of clans. – Merda, toda hora atacam a maldita vila. Como vou conseguir por o centro da vila no nível sete? – Suspiro e olho para Jefferson. – Já te disseram que sou um vampiro?

—Sim senhor! – Seu coração estava acelerado, ele talvez não seja realmente um soldado.

—E você acreditou? – Começo a rearmar as armadilhas no jogo.

—No início não senhor Vivale. – Ele engole em seco. – Entretanto... Começo a crer agora.

—Então você olhou meus olhos... – Termino de por tropas para treinar e guardo o celular. – Pois bem... Sabia que ofereci ao homem à sua frente a imortalidade e ele não quis? Como um ser pode não querer ser imortal?

—Também não entendo senhor! – O homem responde, observando Paolo que continuava impassível, e olha para frente quando a porta do elevador abre caminho para meus aposentos.

Caminho para dentro e sigo em direção as bebidas. Tiro meu blazer e desabotôo a camisa. Bato palmas e as luzes se acendem.

—Aceita alguma bebida? – Olho uma garrafa. – Acho que beberei conhaque. Servido Jefferson?

—Aceito sim senhor! – O jovem continua parado no meio da sala observando tudo ao redor.

Sirvo dois copos. Com a unha do polegar direito, faço um furo no dedo médio direito e deixo cair algumas gotas de sangue no copo dele. Misturo com o dedo e caminho até o jovem.

—Não precisa evitar meus olhos mais. – Observo o jovem levantar as vistas e me observar. Ele me analisava. Sinto uma vontade de rir ao ver suas feições de medo com curiosidade.

—Pois bem! – Entrego o copo a ele e bebo um pouco. Ele imita o gesto. – Diga-me! O que faria se você se tornasse imortal?

—Eu não sei senhor Vivale. – Ele bebe mais um pouco. – Não viveria mais com pressa, pois teria todo o tempo do mundo agora.

—Siga-me Jefferson. – Caminho lentamente até a varanda. Caminho para a lateral até chegarmos a uma escada que vai dar no heliporto que estava vazio no momento. – Paolo, tem como você me trazer duas Katanas?

—Sim senhor Vivale! – Ele desce e segue dali.

—Olhe tudo ao seu redor Jefferson. – Caminho e passo os braços ao redor de seus ombros. – Tudo isso estaria aos seus pés. Seu único inimigo seria o sol. Talvez eu também, caso não me agrade. – Puxo-o para que fique de frente para mim e olho em seus olhos. – Você não seria louco de não me agradar. Seria Jefferson?

—Nunca senhor Vivale! – Ele responde gaguejando e com medo.

—Que bom! – Dou umas tapinhas em seu rosto e observo Paolo voltando segurando as Katanas. – Bem a tempo meu querido Paolo. – Pego as espadas com ele e jogo uma para Jefferson. Ele se assusta, mas consegue pegar.

—Para que isso senhor Vivale? – Jefferson pergunta e tira a espada da bainha. A luz da lua reflete no aço e ilumina seu rosto.

—Você conhece os samurais Jefferson? – Tiro a espada da bainha e caminho até o jovem lentamente. A bainha cai no chão e o jovem fica me observando, meio amedrontado.

—Já ouvi algumas coisas senhor! – Ele deixa a bainha cair no chão e engole em seco.

—Os samurais acreditavam na honra, eles viviam a honra. – Caminho até ele lentamente, movendo a lamina de um lado para o outro na minha frente. – Que nobres guerreiros. Suas vidas nada significavam em comparação ao propósito de seus senhores. Suas almas eram as suas Katanas. – Paro a menos de um metro do jovem. – Diga-me Jefferson. Sua vida valeria menos que meu propósito? Sua alma seria sua arma?

O jovem observa a lamina e então para de tremer. Ele olha-me nos olhos. Eu sinto sua energia emanando, sua vontade de persistir. Ele aparentava um homem que finalmente estava frente a frente com seu destino. Ele então ajoelha na minha frente, coloca a lamina pousada em suas mãos e ergue a mim.

—Torne-me imortal e meu propósito será o do senhor! Torne-me imortal e serei sua sombra. – Ele curva a cabeça e pronuncia sem gaguejar.

Eu sinto meu sangue fluir mais rápido com o acelerar das batidas de meu coração. Meus lábios se abrem em um sorriso imenso. Sentia minhas mãos tremendo. Então caminho até ele e paro a um passo de distancia.

—Então renasça como um imortal. – Ergo a lamina acima dele, a ponta para baixo e desço em suas costas. O aço atravessa seu pulmão e seu coração.

Puxo a Katana abrindo um corte imenso em sua carne e o sangue espirra, ele cai para frente sem emitir som algum. Vejo a lua refletida no liquido carmesim se espalhando pelo chão. Observo o jovem ali, prostrado sem vida. Sorrio e caminho até Paolo. O homem me observava sem reação alguma. Pego a bainha no chão, movo a lamina no ar retirando o sangue e guardo a espada.

—Nunca vou conseguir te surpreender? – Suspiro decepcionado, devolvo a Katana a ele e desço as escadas.

O vento ali fora era forte, minha camisa esvoaçava atrás de mim, meu peito nu exposto. Entro novamente em casa e sigo até meu quarto. Vejo na cama o vampiro e a vampira que mandei me aguardar. Eu nem lembrava mais deles, observo os dois transando em minha cama, arranhando um ao outro, o sangue descendo e sujando os lençóis de carmesim.

Abro uma gaveta no criado mudo e pego um maço de cigarros e um isqueiro. Acendo, sento na poltrona próxima a cama e fico observando os dois. Alguns vampiros se dedicam ao sexo após a transformação, não os julgo, todos os prazeres se tornam mais intensos. Outros a drogas, também não os julgo, agora não precisam temer a overdose ou viciar, usam pelo simples fato de ser agradável. Alguns poucos se dedicam ao poder, serem superiores. Poder controlar tudo e todos. E quem vai ser louco de me julgar por isso?

Recosto-me na poltrona e fico observando os dois. O cigarro preso entre meus lábios. Repentinamente eles param, era como se estivessem congelados no tempo. Olho meu relógio, tinha parado também.

—Só faltava essa... – Levanto suspirando, jogo as cinzas do cigarro no chão e olho para trás de mim.

Um homem de cabelos pretos me observava. Ele usava um terno branco completo, sapatos também brancos. Seus olhos eram dourados, em sua cintura tinha uma espada na bainha. Claro, não posso esquecer suas asas. Ele tinha três pares de asas, um par as costas, outros na linha da cintura perto das pernas e outro acima dos ombros, quase cobrindo seu rosto, totalmente brancas. Suas penas chegavam a reluzir com uma luz própria.

—O que será que faz o próprio arcanjo Miguel descer dos céus para minha humilde residência? – Sorrio para ele e estendo o maço de cigarros. – Aceita?

—Poupe-me de teus discursos medíocres, criatura! – A voz dele emitia um poder celeste, incrível, majestoso. – Trago-te uma mensagem.

—Pois fale então! – Coloco o cigarro entre os labios e observo-o. – O que manda o todo poderoso Yahweh para mim.

O anjo se aproxima de mim com o olhar enfurecido e aponta seu dedo para meu rosto.

—Dobre tua língua. Não ouses usar o nome de Deus, reles ser. Sabes que posso matar-te com um só movimento de meu dedo.

—E por que não tenta? – Me aproximo dele e sopro a fumaça do cigarro em seu rosto. – Ou será que esqueceu o que acontece com um anjo que vai de encontro à ordem de Deus? Acha que não sei que você já teria me matado se tivesse essa liberdade? Então não enche e solta logo à mensagem, cachorrinho angelical.

Miguel olhava-me enfurecido, mas ele sabia que não podia me tocar. Fiquei curioso com o fato de um arcanjo descer pessoalmente com uma mensagem, geralmente mandam um serafim.

—O Senhor manda dizer-te que uma criatura, parte humana, parte demoníaca, perambula pela terra. Cabe a vós, amaldiçoados, cuidar disto. Os anjos não devem intrometer-se em assuntos humanos.

—E por que assunto humano? – Olho curioso para ele. – Um Nephilim caminhando por ai é assunto angelical.

—O Nephilim é filho de Asmodeu. – Miguel cruza os braços. – Este ser é um dos principados, entretanto nasceu homem antes de tornar-se uma criatura demoníaca. Por ordem de meu irmão, Lúcifer, astutamente pensado, ele copulou com uma humana, dando assim, a vida a uma vil criatura. Gerada de uma humana, mas com sangue de um principado.

—Me deixa ver se entendi! – Ajeito a camisa e seguro o cigarro entre o indicador e o médio. – Seu irmão faz um de seus principados trepar com uma humana, e eu tenho que resolver essa merda? Convença-me do motivo de eu me envolver.

—Ele trará o fim de tua amada humanidade. – Miguel falava com desprezo. – Obedeças, vil criatura, ou pereças junto com todos.

Miguel então some e os gemidos do casal em minha cama volta a preencher o ar. Coloco novamente o cigarro entre os lábios e trago novamente a fumaça.

—Merda! – Apago o cigarro num cinzeiro próximo e sigo para o lado de fora.

Caminho pelo aposento, Paolo estava sentado próximo à porta do elevador.

—Traga o homem lá em cima, o coloque no carro. – Fecho a camisa, pego o blazer. E Encho um copo bem grande com uísque.

—Aonde iremos senhor Vivale? – Ele levanta e pergunta.

—Aeroporto. – Bebo um longo gole da bebida. – Iremos já para o Brasil.

Termino a bebida e sigo até o elevador, logo depois seguido por Paolo carregando o homem.


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