Manual de um lobo solitário escrita por DreaMaker


Capítulo 2
Donzela à vista


Notas iniciais do capítulo

Oie! Como vão? Retornando com mais um capítulo... Então, sobre a quantidade de palavras, gente... Me perdoem. Eu sei que dá preguiça de ler e tudo mais, mas... Sério, acho que daqui por diante elas vão diminuir, pelo menos pelos capítulos seguintes. Não é uma promessa, mas, quem sabe...
Então gente, boa leitura e aproveitem!



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— Que confusão toda é essa? – De repente alguém entrou no meio com uma voz autoritária. Alguém se aproximava nas sombras.

A figura se apresentou ao sair de perto das árvores. Seu pelo branco refletiu a luz fraca do sol que se punha. Era um grande lobo branco que se aproximava de nós, com uma marcha bem elegante.

— Desculpe, pai! Quero dizer, desculpe Senhor Fritz. – Agora aquele lobo branco perdera a coragem?!? Isso é o que eu chamava de colocar o rabinho entre as pernas. Aquele lobo grande parecia ser o alfa, a julgar pelo comportamento dos outros, que permaneciam com as orelhas abaixadas em sinal de submissão. – Eu só estava expulsando esse intruso de nosso território. Não queria incomodá-lo.

— Um intruso?!? – O lobo branco se virou para mim, com os olhos estreitados, me avaliando com os olhos azulados. – Como você ousa invadir minhas terras? Quem é você, e quem você pensa que é? Um lobo branco?!?

Todos de novo riram. Aquilo estava parecendo um circo.

— Não, eu não sou um lobo branco e detestaria ser um albino vampiresco como vocês. – Respondi, usufruindo de todos os meus direitos como um lobo comum.

— Parece que alguém não entendeu as regras por aqui. – Ele rosnou, um rosnado um pouco maior do que o do outro lobo. – E quem as desrespeita, paga.

— Acho que é hora de sairmos daqui. – Artie recomendo, ainda mais assustado que antes, fazendo questão de se esconder atrás de mim. – Peça desculpas e diga que você se enganou. Vamos embora agora, antes que a situação fique pior ainda.

Naquele momento, eu não estava acatando ordens de ninguém, nem mesmo de meu próprio tio. E com certeza, eu não iria fugir com o rabo entre as pernas. Eu não iria ser humilhado por um lobo branco metido a alfa. Não mesmo.

— Gente, foi um prazer conhecer vocês, mas... Sabe... Temos que voltar para casa. E puxa! Já está bem tarde e frio...- Meu tio disse hesitando e então tomei uma decisão radical:

— Só está frio para eles. Eu não saio daqui enquanto não conversar com o alfa. – Falei, preparando um belo rosnado, destinado a apenas lobos intrusos.

— Você já está falando com ele. – O lobo grande disse. – E repito: esse território é meu. O de vocês é do outro lado, caso não saibam.

— Eu sei onde moro. Não preciso escutar ordens de lobos velhos como você. – Provoquei, rosnando, pronto para o ataque.

No mesmo momento, vários lobos brancos nos cercaram, alertas, com o rabo e orelhas alertas, sinal de que não estavam para brincadeiras.

— Olhe como fala seu lobo inconveniente. – O alfa falou, se aproximando, quase no meio daquela roda. – Sou o alfa por aqui. E por sinal, vocês estão em meu território. Estão sob minhas regras e minhas leis. E, portanto, não terei dó em executá-las em lobos como vocês.

— Sujou. – Ouvi meu tio sussurrar, atrás de mim. – Estamos perdidos cara. Já era. É o nosso fim. E se perguntarem, faça o favor de me homenagear. Diga que eram vinte caçadores, e que eu lutei bravamente. Ok?

— Isso não vai acontecer. Eu vou tirar a gente daqui. – Os lobos brancos se aproximavam cada vez mais, com os dentes a mostra, rosnando, prontos a atacar.

— Esperem. – Até que o alfa parou. Era uma pena que ele não tinha avançado mais um pouco, porque se o fizesse, eu não me responsabilizaria por minhas ações. – Faz muito tempo que eu e os rapazes não nos divertimos. Quanto tempo faz que não libertamos o monstro, Carter? – Ele olhou para um lobo menor que estava a seu lado.

— Alguns meses pai. – Ele respondeu, pensativo. – Acho que a fera está morrendo de fome. Por que não damos um pequeno aperitivo para ela?

— É uma ótima ideia, filho. – O pai estava orgulhoso de seu próprio filho. – Um líder a altura como seu pai.

E por um momento, estávamos com nossa vida por um fio. Pelo menos foi o que eu pensei. Mas eu estava bem enganado. O pior ainda estava por vir, em forma de um urso de três metros de altura que fedia a peixe morto.

E lá estávamos nós, amarrados, e um pequeno vale, esperando um urso gigante nos devorar.

O monstro levantou-se e começou a farejar o ar. Parecia estar tentando nos achar através de nosso cheiro. Implorei para que ele se distraísse e se contentasse com umas amoras mesmo. Nunca implorei tanto para um milagre. E acho que nunca quis tanto que um meteoro caísse ali mesmo, sobre aquele urso.

Realmente aquele monstro era enorme. Porém, eu ainda estava intrigado. Ele deveria ter um ponto fraco, qualquer coisa ao menos. Um pequeno erro que nos salvasse de uma morte iminente. Segurei minha respiração quando ele se virou na nossa direção. O cheiro do medo de Artie se misturava com o do meu. E de repente, percebi algo que poderia ser nossa salvação.

No lugar de ferozes pupilas negras, o urso tinha pequenas manchas brancas no olho. Ele era cego. E puxa, nunca fiquei tão feliz por algo assim. Pelo menos era um problema a menos.

E então se não tivesse nessa situação, eu teria dado uma boa risada. Uau! Os brancos eram espertos mesmo. Acabavam com suas vítimas com um urso cego. Que bela defesa hein?!?

— Macky, se esse for o meu fim, eu quero muito dizer que te amo cara. Mesmo. Eu te amo. – Artie choramingava e por mais que eu quisesse compartilhar esse drama com ele, eu não poderia. Eu não desistiria tão fácil. – Cara, só me responda algo: você acha que eu ainda tenho chances... Quero dizer, você acha que eu tinha chances, assim, antes de tudo isso, de achar uma fêmea para mim? Sei lá cara... Você acha que eu sou, digo, charmoso?

Eu mal podia acreditar no que eu estava ouvindo. Estávamos a beira da morte e a única coisa que ele conseguia pensar era em uma fêmea que ele nunca teve. Revirei os olhos, e respondi :
— Você tinha. Quero dizer, você tem. – Falei e então percebi que eu estava caindo no drama sem motivo dele. – Espera aí! Nós não vamos morrer. Vamos sobreviver. Acredite. Em que momento eu já não tirei a gente de alguma furada?

— Nunca. Mas para compensar, você mete a gente em várias. – Ele disse.

— Fica quieto. Estou tentando me concentrar. – Pedi, enquanto tentava pensar em algo para salvar nosso couro. Se ao menos não estivéssemos de patas atadas por um cipó bem apertado.... Aí sim poderíamos fazer algo.

Faltavam poucos minutos para aquele sofrimento terminar e achei que seria o meu fim quando o urso avançou até a nossa direção, com aquela boca escancarada, deixando cair uma trilha de baba no chão. Senti seu hálito quente de peixe morto enquanto ele me farejava. Estava procurando sentir o cheiro do medo.

Prendi minha respiração, ao notar que estava a poucos centímetros de sua boca. Ele rugiu, nervoso. E me perguntei porque aquilo não terminava logo. Senti partes de meu pelo negro ficarem molhadas de baba de urso. Eca. Não tinha um jeito melhor para morrer?!?

Até que algo mágico aconteceu.

De olhos bem cerrados, ouvi uma voz feminina gritar:

— Não! Pare, pai! – Pensei que se tratava de um anjo. Será que eu já estava no céu?!?

E então, percebi que eu não havia morrido quando eu abri os olhos. Acima de onde estávamos, em cima do buraco, lá estava o suposto anjo. Eu nunca havia visto criatura tão fantástica, branca como a neve e parecia pura. E quanto a sua voz... Mas, o que?!? Ela era uma branca!

— Filha, o que está fazendo aqui?!? – Seu pai parecia surpreso. – Não era para você estar com sua mãe? O papai está resolvendo umas coisinhas aqui. Por que não vai caçar meu anjinho?

— Eu sei bem o que está fazendo pai. – Ela respondeu. Eu estava por um fio de morrer sufocado pelo bafo daquele urso. – Soltem eles. Não fizeram nada de errado, então, por que machucá-los?!?

— Eles pegaram nossa caça e invadiram nosso território! Não posso admitir que dois lobos intrometidos acabem com a ordem em meu território! – Ele rosnou.

— Foi tudo um mal-entendido. Eu estava lá quando Jasper roubou a caça desses dois lobos. – Finalmente alguém entendia. Ao menos não iria morrer sem justiça. – E aliás, acima de toda a lei, não há outra que preservemos mais do que essa: Todo lobo tem direito a viver, sendo ele branco ou de outra cor... Não é isso pai?!? Você é quem deve desculpas a eles.

— Arghh ! Isso não é justo! – Ele vociferou, como um monstro feroz. Até mesmo pude ver alguns pássaros voarem. Mas, então, pude perceber que se acalmou. Tanto seu rabo quanto sua orelha saíram de alerta. – Mas, tudo bem. Minha filha tem razão. Libertem os prisioneiros!

E então, vários lobos brancos pularam no buraco onde estavam para afugentar o urso. Por incrível que pareça aquele monte de bola peluda recuou e voltou para a toca de onde foi liberto. Em seguida a mesma foi fechada com uma pedra. Estávamos livres desse sofrimento. E quando pude enfim suspirar de alívio, uma voz por trás de mim fez meus pelos arrepiarem:

— Quem são vocês? – Era aquela loba branca que havia nos libertado.

— Não te interessa. – Respondi. – Apenas somos lobos honestos, do outro lado daquele muro de pedras ridículo.

— Hum... Interessante. – Ela falou. E então pareceu ter se lembrado de algo que havia esquecido há tempos.- Ei, vocês disseram que vieram do outro lado?!?

— Sim. Por quê? – Perguntei, tentando achar um jeito de me soltar daqueles cipós apertados. Com meu focinho, tentei chegar até minhas patas de trás, mas era impossível. Aquilo era feito com o quê?!?

— E, como é lá? – Ela se inclinou o suficiente para que eu encarasse aqueles olhos azulados arregalados de curiosidade, como um filhotinho, ansiosa para conhecer o mundo. Tive o máximo de cuidado o possível para não correr o risco de ser hipnotizado por aquelas ondas agitadas da cor do céu.

— Por que quer saber? – Indaguei confuso, quase chegando perto de minhas patas traseiras, me contorcendo como uma cobra.

E então, como se tivesse falado algo muito errado, recompôs sua postura e me olhou firmemente:

— Eu sinto muito, eu sei que não deveria ter perguntado nada... E ai! Você precisa de ajuda com a sua pata? – Enfim, ela pareceu notar. Achei que ia passar a noite inteira ali. Mas.... Espere. Eu nunca precisara da ajuda de ninguém antes. Por que agora eu me renderia aos cuidados de uma loba branca esquisita?!?

— Não, eu não preciso de ajuda. E você poderia me dar licença? – Pedi, um pouco irritado. – Estou bastante ocupado se você não percebeu.- E finalmente consegui mordiscar um pedaço do cipó. Com o canto dos olhos vi que ela revirou os olhos e então reprimiu uma risada baixa.

— Tudo bem então. Estou vendo que você vai conseguir. – Ela falou sorrindo. – A gente se esbarra por aí, quem sabe... – e então, saiu rebolando com aquele belo rabo branco.

“Tudo bem então. Estou vendo que você vai conseguir”. Ela estava de brincadeira, não estava?!? Quem ela pensava que era?!? Coisa que eu precisava da ajuda de uma loba branca...

— Cara, você viu como ela olhou para mim?!? – Como se não bastasse, lá vinha meu tio.

— Onde você estava até esse tempo todo?!?

— Eu estava desmaiado e pensei ter visto um anjo, cara, um anjo! E aí descobri que ela era bem real... – ele suspirou. – Acho que vou realizar meu sonho hoje mesmo. Qual será o nome dela?  Será que já é comprometida? Ai, ai.... Eu já estou até imaginando. Ela e eu juntos... Nossos filhotes...

— Ai, ai digo eu! – Falei irritado. – Você não perde uma chance mesmo hein? Ela é uma inimiga, uma branca, não percebeu?!? Se minha mãe ouvisse o que está dizendo...

E como se não bastasse, de tanta força que havia usado para arrebentar aquele cipó, acabei acertando minha pata no meu focinho.

Ouvi outra risadinha feminina, só podiam estar de brincadeira!

— E então, conseguiu se soltar? – Ela estava bem ali, me observando, como se eu fosse um esquilo em perigo ou algo assim.

— Não.

— Precisa de ajuda ainda?

— Não...

— Não?!?

— Está bem! Eu preciso de ajuda. – Pedi, totalmente encurralado. – E acho que meu amigo aqui vai precisar também.

Ela riu e se aproximou. Abaixou a cabeça, a ponto de coloca-la quase ao lado da minha e rapidamente como um pequeno e ágil roedor, roeu os cipós. Nunca me senti tão aliviado de ter minhas patas tão livres.

— Obrigada bela dama. – Artie agradeceu, fazendo toda pompa possível. – Seremos eternamente gratos pelo seu gesto. Teremos uma grande dívida com você. – Ele só podia estar brincando! Revirei os olhos. Como meu tio era dramático. – E qual é o seu nome doce donzela?

— Andine. – Ela respondeu, com um sorriso tenro. O ar soprou sobre seu rosto branco. Daquele ângulo, eu não podia discordar: ela era uma bela donzela. O nariz preto arredondado, aqueles olhos inclinados e azuis... Só havia um defeito: Ela era branca e por esse motivo era a maior inimiga da minha alcateia. Mas, por outro lado, ela havia nos ajudado a escapar...Talvez, ela não fosse tão ruim assim.

Continua...


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Notas finais do capítulo

O que acharam? Só eu acho o Macky um pouco rude com as damas?



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