A Vida em um Romance escrita por J R Mamede


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem de ler essa história assim como eu gostei de escrevê-la.

Boa leitura!



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“Sr. Edward Smith, após a morte de seu pai, herdara uma grande fortuna, tornando-se o grande proprietário de Southfield Park. Por ser um rapaz rico, bonito e solteiro, era alvo fácil das moças à procura de um casamento oportuno. As riquezas materiais e sua beleza eram seus únicos atrativos, pois, embora fosse um cavalheiro bem instruído, não possuía o charme e a gentileza do falecido Sr. Smith. O herdeiro era um jovem rude e descortês com aqueles que julgava inferior. Os empregados eram sempre tratados com indelicadezas, e, quando apresentava-se socialmente, tratava com amabilidade apenas a quem lhe convinha, desprezando a todos do nível hierárquico inferior ao seu.

A filha caçula do Sr. e da Sra. Mumford, Margareth, crescera ao redor das propriedades de Southfield Park, conhecendo, assim como todos das redondezas, a família Smith. Margareth sentia muito a perda do velho Sr. Smith, e lamentava ainda mais saber que tudo fora herdado pelo arrogante filho...”

 

─ Meu Deus, que coisa mais chata! ─ reclamou Lídia, afastando o livro com raiva. ─ Por que a escola nos obriga a ler essas coisas? Aliás, por que nos obrigam a ler? Odeio ler!

─ Esse livro é maravilhoso, Lídia ─ comentou Sofia, tentando animar sua irmã caçula. ─ É um lindo romance britânico, que nos ajuda a entender como funcionava a sociedade inglesa do início do século XIX.

─ Tô pouco me lixando com essa baboseira toda. A minha professora de Literatura nos obriga a ler cada coisa. Primeiro, foram aqueles livros chatíssimos da Literatura Brasileira. Agora isso! ─ Levantou o livro desdenhado. ─ Literatura Inglesa. E a minha pergunta é: Por quê? O que fiz pra merecer isso, Deus?

─ Sem drama, Lídia, eu vou ajudá-la a entender a história.

─ Então me conta o que acontece pra eu anotar tudo direitinho, tá?

─ Não! Você vai ler tudo e eu vou ajudá-la no que você não conseguir compreender da história. Não vou te dar tudo de mão beijada.

─ Que irmã ruim eu tenho.

─ Você acabou de começar o livro, Lídia. Vai avançando a história, então, quando você menos esperar, estará tão entretida com a trama, que vai ler tudo sem perceber, e, o melhor, vai amar. ─ Deu-lhe uma piscadela. ─ Esse livro é tão lindo! Essa autora é maravilhosa.

─ A nerd dos livros aqui é você, Sofia, e não eu. Detesto ler, e, além disso, você fez esse mesmo discurso para todos os outros livros que eu fui castigada a ler.

Sofia não quis prosseguir com a discussão desnecessária que sua irmã fazia questão de levar adiante. Pediu apenas que Lídia voltasse à leitura, enquanto ela estaria ali com seu próprio livro para ler, mas, ao contrário da caçula, não se preparava para nenhuma prova da escola. Era apenas por diversão.

As irmãs não tinham apenas os dois anos que as diferenciavam. Enquanto Sofia era a ajuizada, estudiosa, educada e gentil, Lídia, aos dezessete anos, era imatura, preguiçosa e sempre com uma resposta afiada na ponta da língua. Seus pais tinham dores de cabeça por conta de seu mau comportamento, principalmente na escola, além de suas notas ruins. Sofia já estava na faculdade, e, por sempre ter sido uma boa aluna, conseguiu passar no vestibular para cursar em uma universidade pública. Já Lídia, no último ano do Ensino Médio, não fazia ideia do que iria fazer após terminar a escola. Dizia que ainda não estava preparada para ser adulta, portanto não seria nada mal ficar mais um tempo no colégio. Obviamente, isso não agradava nem um pouco os seus pais.

Por outro lado, em defesa de Lídia, suas qualidades eram a sinceridade e extroversão, coisas que a mais velha não tinha. Sofia era mais racional e reservada, tornando-a uma pessoa mais séria e contida. Já Lídia, era sempre alegre e divertida; todos riam de seu jeito de falar e de suas maneiras. Lídia era o centro das atenções; Sofia permanecia no canto, de preferência, lendo.

─ Realmente, tô de saco cheio de ler ─ resmungou Lídia. ─ Não aguento ficar trancada em casa.

─ Bem, eu estou pensando em ir ao centro para passar num sebo que tem lá ─ comentou Sofia, fechando seu livro com delicadeza. ─ Quer ir comigo? Depois a gente passa no shopping.

─ Beleza! Mas não quero demorar muito tempo num sebo cheio de livros mofados, por favor.

─ Prometo que vai ser rapidinho.

─ Mano, como você consegue ler tanto, na boa?

─ Livros são iguais às séries: a gente começa a se envolver tanto com a história, que acaba querendo saber logo o que vai acontecer nos próximos capítulos. É uma questão de gosto pelo enredo, entende?

─ Ah, não vem com essa, não! ─ contestou Lídia, fazendo careta. ─ A gente não precisa ler séries e elas não dão sono.

─ Você lê as legendas.

─ Não é a mesma coisa.

─ Mas, de uma forma ou de outra, você está lendo os diálogos. Poderia muito bem ler os diálogos de um livro.

─ Mas um livro não é só feito de diálogos, engraçadinha.

─ Mas se os diálogos prendem sua atenção à história, não será nenhum sofrimento ler o restante da narrativa.

─ Não me convenceu.

─ Quando você pegar um livro que, assim como uma série, vai te agradar, você conseguirá lê-lo sem reclamações.

─ Pode ser ─ concordou Lídia, pensativa. ─ Mas, enquanto a minha professora de Literatura ficar escolhendo livros chatos, eu nunca vou gostar de ler.

─ Não precisa esperar a sua professora. Você pode ler o que quiser e quando quiser. Tenho vários livros lá no meu quarto a sua disposição. E, como estamos indo ao sebo, quem sabe você não encontra alguma coisa legal.

Lídia não pareceu gostar muito da ideia, porém preferiu não contestar. As duas se arrumaram rapidamente e foram pegar o ônibus em direção ao centro. Era um sábado ensolarado, mas não fazia tanto calor. Estava um dia perfeito para um passeio, ainda mais para duas irmãs que ficaram a manhã sem a companhia dos pais, e, provavelmente, seria assim até o anoitecer.

No ônibus, Lídia tagarelava com a irmã sobre uma colega da escola. Não chegava a ser bem uma colega, porque Lídia não a suportava. Então começou a criticar a garota, insultando-a e ridicularizando-a por conta de seu jeito de falar. Até fez uma imitação da qual Sofia riu. Logo a mais velha perdeu o interesse pelos problemas sociais e escolares da caçula, voltando sua atenção à paisagem da cidade. Lídia continuava a falar sem parar, mesmo não tendo mais atenção, pelo menos de Sofia, pois uma senhora que sentava no assento ao lado a observava com curiosidade.

Quando chegaram ao ponto, Lídia deu o sinal para o motorista parar. Ela sempre fazia questão de apertar o botãozinho, igual as crianças.

─ No shopping a gente vai tomar sorvete, né?

─ Sim, pequena Lídia, nós vamos.

Antes do shopping, elas foram ao sebo, como Sofia desejava. Ela queria comprar algum livro de romance de época, os seus favoritos. Ela sugeriu à irmã procurar algum que ela gostasse, mas Lídia não estava nem um pouco disposta a comprar qualquer livro que fosse. Então, após uma rápida olhada pelo local, ficou grudada em Sofia, reclamando do cheiro de mofo e de falsas coceiras no nariz.

─ Vamos logo, Sofia.

─ Espera mais um pouco. Não estou encontrando nenhum livro de época.

─ Quando você diz “de época”, está se referindo a um livro igual aquele que eu estou tentando ler pra prova? ─ Sofia apenas concordou, sem tirar os olhos dos inúmeros volumes a sua frente. ─ Mas aqui tem um monte!

─ Eu sei, mas já li esses.

─ Todos esses? ─ Lídia deu um grito e arregalou os olhos.

─ Sim, todos esses.

─ Coitada de você, não tem vida social.

Sofia limitou-se a revirar os olhos e continuou a buscar um livro de época que ainda não tinha lido. Lídia, impaciente para ir embora, foi ajudar a irmã na busca. Mexendo e remexendo, acabou encontrando um livro velho e de paginas amareladas. O cheiro de mofo era forte e suas folhas estavam tão delicadas, que ela teve medo que se desmanchassem. A capa era vermelha. Só conseguiu encontrar o título na folha de rosto: A vida em um romance. Lídia folheou, porém não encontrou o nome do autor. Na última página, havia um pequeno verso escrito à mão, em uma caligrafia ornamentada.

─ Veja isso, Sofia. Esse daqui você já leu?

Sofia estudou o livro com cuidado. Não o conhecia e nunca tinha ouvido falar sobre ele, mas o achou interessantíssimo, a ponto de querer levá-lo consigo. Lídia ficou contente por ter ajudado a agilizar a busca de sua irmã e poder ir embora logo do sebo.

─ Tem um poeminha aqui atrás, você viu? ─ observou a caçula, apontando para a última página do livro.

─ Cadê? Ah, aqui está:

“À história, irá viajar

Bailes e romances vivenciará

Todavia, quando o livro na história encontrar

Para casa, enfim, retornará.”

 

─ Que poeminha mais estranho ─ falou Lídia.

─ Acho que, quem quer que tenha escrito esse poema, escreveu o sentimento de todo leitor ao ler uma história. Quando a gente lê, acaba meio que entrando no livro, sabe? Uma espécie de viagem mesmo. Gostei! ─ sorriu Sofia. ─ Vou levá-lo.

─ Eu não sei, não. Fiquei toda arrepiada com esse negócio aí. Acho melhor deixar e irmos embora.

─ O quê? Não seja boba, Lídia. Eu vou levá-lo, parece muito legal.

─ Sofia, deixa esse livro sinistro aqui.

Lídia pegou o livro da mão da irmã para colocá-lo no lugar, porém Sofia o pegou de volta, começando, assim, a puxá-lo como em uma brincadeira de cabo de guerra.

─ Solta, Lídia!

─ Deixa esse livro do capiroto aqui, Sofia!

─ Larga a mão de ser estúpida, garota!

─ Estúpida é você, sua imbecil!

O livro, puxado de um lado para o outro pelas irmãs, acabou caindo no chão, aberto ao meio. Elas se entreolharam, tentando ver quem seria a primeira a pegá-lo de volta. De repente, as páginas do livro começaram a ser folheadas rapidamente, como se um vento forte soprasse para que tal fenômeno ocorresse. Nenhum vento, nem mesmo de ventilador, atingia o local.

─ Eu disse que esse livro é do capiroto! ─ disse Lídia, com a voz embargada.

Antes que pudessem fazer qualquer coisa, o livro magicamente as sugou para dentro de si. Então, quando Sofia e Lídia já não estavam mais no sebo, o livro rapidamente fechou-se e, instantaneamente, desapareceu.

No sebo, ninguém notou a movimentação estranha que acabara de ocorrer. Tudo funcionava normalmente. Ninguém se deu conta de que duas meninas haviam, misteriosamente, desaparecido.


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Notas finais do capítulo

E aí? Gostaram?

Deixem seus comentários, digam o que acharam. Críticas, sendo elas positivas ou negativas, são sempre bem vindas.

Até mais!



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