— Damon, você se importa de Caroline e Bonnie dormirem aqui essa noite? – Elena perguntou, enquanto almoçávamos no jardim.

Fazia duas semanas desde o aniversário de Zach. Notei que Elena tinha ficado mais abatida depois disso. Provavelmente, as palavras de meu tio tinham tido efeito nela, por isso, me concentrei em tentar alegrá-la de qualquer forma. Pelo menos uma de nossas refeições diárias era feita no jardim, ao ar livre. Como ela costumava gostar.

— Claro que não. – respondi com sinceridade. Em outro momento, a companhia das amigas de Elena não seria algo agradável para mim, mas agora, se fazia bem a Elena, fazia bem para mim.

— Obrigada – ela agradeceu sem olhar para mim. – E bem, seria bom se você não viesse a cada cinco minutos no quarto também.

— Como assim? – me fiz de desentendido.

— Bom, Damon, eu noto as visitas noturnas. Você sempre aparece para checar se eu estou bem. Sabe, eu não tenho um sono assim tão pesado – Elena confessou, ainda sem olhar para mim.

Então ela sabia. Toda noite, eu aparecia em seu quarto para verificar se precisava de algo, se ela estava bem, se ela estava respirando. Não conseguia evitar. Era muito bom Stefan estar cuidando da empresa, porque não sei se eu daria conta com tantas noites de sono perdidas.

— Seria muito bom se você não fizesse isso essa noite – Elena continuou. – Sabe, vai ser uma noite de meninas. Você pode ver alguma coisa indevida.

— Não se preocupe. Deixarei vocês aproveitarem.

*

— Damon, posso falar com você um momento? – Caroline perguntou, entrando de fininho em meu quarto.

— Alguma coisa aconteceu com Elena? – perguntei, preocupado.

Assenti para que ela entrasse e fechasse a porta.

— É o que vem acontecendo – ela respondeu com os olhos carregados de preocupação.

— O que você quer dizer?

Caroline suspirou e sentou-se na ponta da cama. Me juntei a ela.

— Elena não é a mesma desde o acidente. Tenho certeza de que você já notou isso. E eu sei que o que aconteceu com ela foi demais, algo muito trágico, mas... Não consigo deixar de ficar preocupada, Damon. Tenho a impressão de que ela está morrendo aos poucos. Como se ela não quisesse viver mais.

— Ela está perdendo as esperanças – concordei, cabisbaixo. – Mas não sei o que fazer, Caroline. Estou tentando, juro. Mas não sei o que mais posso fazer.

— Eu sei que você está tentando, Damon – Caroline sussurrou. – Todos nós estamos. Mas não está sendo o suficiente. E eu não sei o que podemos mais fazer.

Ficamos em silêncio por um momento, pensando em alguma solução. Elena estava muito arredia a tudo que lhe era sugerido. Até mesmo as refeições – que ela adorava antes. A melhor companhia dela ultimamente vinha sido seu travesseiro, cobertor e o controle da televisão, embora eu duvidasse que ela tenha assistido de verdade a algum programa recentemente.

— E tudo isso poderia ter sido evitado se eu simplesmente tivesse admitido os meus sentimentos naquela noite – lamentei com pesar.

— Sabe, Damon, eu te culpei por muito tempo. Achei que Elena estava assim por sua causa – Caroline balançou a cabeça e deu uma risada sem alegria. – Mas foi um acidente. Poderia ter acontecido em qualquer momento. Acho que você deveria saber que a culpa não é sua.

Caroline levantou-se e saiu do quarto, deixando-me com sua última afirmação.

*

— Um pouco de vinho? – perguntei, balançando a garrafa e as taças ao entrar no quarto de Elena.

Ela estava assistindo a um filme – ou pelo menos, observando a tela.

— Que mal teria?

Servi sua taça e a minha e deitei ao seu lado na cama.        

— O que você está vendo? – perguntei, com falsa curiosidade.        

Ela tragou um pequeno gole em sua taça e respondeu:

— Não sei bem o nome. Coloquei na seção de “Ação” na Netflix e cliquei no primeiro que apareceu. 

— Você se importaria se eu me juntasse a você? – perguntei, encarando-a.        

— Que mal teria? – ela repetiu e eu dei uma leve risada.        

Aproximei-me mais um pouco dela, mas ainda mantendo certa distância. Elena não ficaria tão confortável com a minha aproximação quanto já ficara em outros tempos. E eu não queria forçá-la a nada, apenas passar um tempo e ter a certeza de que ela estava realmente bem.        

Nós mal conversamos durante o filme. Bastou algumas taças de vinho e Elena rapidamente pegou no sono. Eu desliguei a televisão, mas não consegui sair de perto dela.       

Ela parecia estar tendo um sono tranquilo, seu rosto estava sereno. E ela estava tão bonita!        

Não sei por quanto tempo fiquei hipnotizado pela linda imagem de Elena dormindo, talvez horas, e podia passar a noite toda assim, mas a campainha tocou ferozmente e me fez sair do transe.        

Olhei as horas. Três horas da manhã! Quem poderia ser a essa hora?        

Desci com cautela. Os seguranças não deixariam passar pelo portão se não fosse alguém conhecido. Mas não pude deixar de preocupado. Fosse quem fosse, não parecia ser coisa boa.        

Quando cheguei perto da porta, ouvi uma voz desesperada. Uma voz familiar. Não reconheci a princípio, mas sabia que já tinha escutado antes.

Abri a porta devagar e me deparei com a mãe de Elena em prantos.

— Onde ela está, Damon? Quero vê-la agora! – Miranda gritou, empurrando-me e entrando na casa com visível desespero.        

— Miranda, por que você...        

— Estou tendo pressentimentos muito ruins! Eu sei, eu sinto que alguma coisa não está bem com Elena – ela explicou com desespero. – Não aguentei ficar em Mystic Falls com essa angústia. Peguei o primeiro ônibus para cá. Eu preciso ver a minha filha, Damon.        

Eu sabia que Elena não deveria ter escondido isso da família.        

— Miranda, Elena está dormindo agora – avisei.        

— Eu só preciso vê-la! Eu só preciso saber se ela está bem. Só para acalmar meu coração – ela insistiu.        

Dei um suspiro. Eu precisava contar a verdade a ela. Miranda merecia saber o que tinha acontecido à filha.

— Miranda, dois meses atrás, Elena sofreu uma grave acidente e acabou perdendo os movimentos das pernas – contei de uma vez só.        

— NÃO! – Miranda gritou com horror. – NÃO! E vocês não me contaram nada?!       

— Não é permanente – garanti. – Ela está fazendo fisioterapia e tenho esperanças de que voltará a andar em breve.        

— Mesmo assim! Elena está paralítica há mais de dois meses e eu não recebo uma palavra?! – ela exaltou-se, com desespero à flor da pele. – Quero vê-la agora, Damon!        

Eu assenti e a acompanhei até o quarto. Elena dormia como um anjo. Sua face estava tranquila, relaxada. Com lágrimas nos olhos, Miranda acariciou o rosto da filha.

— Meu bebê lindo! Você não merecia! Não merecia! – ela sussurrou.

— Elena não queria que vocês ficassem preocupados. Tentei convencê-la a contar, mas você conhece sua filha – contei.        

Ela ficou em silêncio por um tempo, apenas acariciando o lindo rosto de Elena. Lágrimas silenciosas escorriam por sua face. Me perguntei se Elena seria capaz de sentir o carinho.        

— Você está tomando conta dela, não está, Damon? – Miranda quebrou o silêncio com a pergunta.

— Deixei a empresa sob os cuidados de meu primo só para poder ficar disponível para Elena 24 horas. Não se preocupe, Miranda, estou dando o meu melhor – respondi com sinceridade.

Ela olhou para mim com um sorriso sincero.        

— Estou feliz por minha filha ter encontrado alguém como você. Ela é tão amada!        

Devolvi o sorriso.        

— Eu a amo mais do que tudo – confessei sem nem hesitar. Miranda precisava saber que a filha estava sendo cuidada. – Elena mudou o meu mundo quando entrou na minha vida.

— É assim que nós nos sentimos quando amamos, meu filho. Cuide dela, Damon. E não diga a ela que estive aqui. Elena tem uma razão para não querer que eu saiba.