Sob um Crepúsculo Diferente escrita por KitCat


Capítulo 7
Capítulo 6 - Forks High School


Notas iniciais do capítulo

Quem é vivo sempre aparece, né? Hahaha

Gente, me desculpem pela demora. Eu sei que desculpas não são o suficiente, mas é a melhor maneira de dizer o quanto eu sinto muito.



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Cerração fechada era tudo o que eu conseguia ver pela minha janela. Não se podia ver o céu e nem o sol aqui. Forks continuava do mesmo jeito que eu me lembrava.

No café da manhã, papai havia me dado instruções de como chegar na escola e depois ele me desejou boa sorte.

— Tenha um bom dia. — Eu gritei antes que ele saísse pela porta.

Enquanto terminava de comer o meu serial com leite, examinei a nossa pequena cozinha mais atentamente. As paredes haviam sido pintadas e os armários e eletrodomésticos haviam sido trocados para versões mais modernas. Na sala que ficava ao lado da cozinha, sobre a pequena lareira, havia uma fileira de fotos. A primeira era uma do casamento dos meus pais em Las Vegas, em seguida havia outras nossas de quando eu nasci e outra fileira de fotos escolares minhas até o meu último ano. Haviam muitas fotos espelhadas em quadros na paredes pela casa. Haviam fotos dos meus verões aqui em Forks depois da separação deles, mais algumas fotos minhas e de papai das últimas férias que ele passou comigo na Califórnia e em Phoenix. Sorri, observando uma delas quando eu parei no topo da escada. Nós estávamos na praia e eu havia tirado uma foto nossa de costas para o pôr do sol que se iniciava sob o horizonte do mar. Nós estávamos felizes, porque no dia, tínhamos ido ao Pacific Park. Essa foto dava para ver o quanto estávamos felizes. Era muito nostálgico olhar estas fotos. Porém, olhar todas estas fotos me trouxe uma pequena tristeza, porque papai estava ou comigo ou com seus amigos de La Push. Não tinha nenhuma dele com outra mulher. Era só nós e seus amigos da Reserva ou com alguns de seus colegas de trabalho.

Depois que meus pais se separaram, papai nunca mais se relacionou com ninguém do sexo feminino. Talvez ele não estivesse pronto ou talvez ele ainda não tivesse encontrado uma mulher que fizesse o seu coração bater loucamente no peito. Mas no fundo, eu sabia que isso não aconteceu, porque papai ainda não havia conseguido superar a minha mãe tão completamente. Isso me deixava triste e eu odiava notar estas coisas. Eu queria que papai seguisse com sua vida e que fosse feliz também, assim como mamãe estava sendo agora com Phil. 

Começando a ficar triste com esse pensamento, vesti meu casaco e fui pro meu quarto. Parei em frente ao espelho depois que havia escovados os dentes, ajeitando a minha boina e meu cachecol. Peguei minha mochila que havia deixado em cima de umas das cadeiras da cozinha e sai pro ar gelado. Tranquei a porta e guardei as minhas chaves dentro da mochila. Ainda chuviscava, mas não o suficiente pra me molhar.

Dentro da caminhonete estava seco e bom. Obviamente Jacob havia limpado, mas os assentos ainda cheiravam a tabaco, gasolina e menta. O motor ligou rápido, mas bem alto, me assustando e foi ganhando vida ruidosamente até chegar ao volume máximo. Eu tinha certeza que demoraria pra me acostumar com o ruido alto do motor.

Bom, uma caminhonete velha assim tinha que ter algum defeito. Pensei.

O rádio velho funcionava e isso era uma vantagem que eu realmente não esperava. 'My Mind Is For Sale' estava tocando e decidi que essa música seria a minha trilha sonora até a escola. 

A escola de Forks tinha o total de trezentos e cinquenta e sete —  agora comigo cinquenta e oito alunos. Só no meu ano em Phoenix, havia mais de setecentos alunos. Todo mundo aqui cresceram juntos. Seus pais e avós tinham sido bebês juntos. Eu seria a garota nova da cidade grande e uma grande curiosidade para o corporal estudantil. 

Achar a escola não foi difícil graças as instruções que papai havia me dado. A escola ficava —  assim como a maioria dos estabelecimentos aqui em Forks —  bem perto da estrada. Não parecia bem uma escola. Foi o painel, onde dizia "Forks High School", que me fez parar. Parecia uma coleção de casas, construídas com tijolos marrons. Havia tantas árvores e arbustos que eu não conseguia calcular o tamanho.

Onde está a aparência de lugar público? E onde estavam as cercas e os detectores de metais? Perguntei-me nostalgicamente.

Aparentemente a escola de Forks não precisava dessas coisas, como as escolas de Phoenix.

Estacionei em frente ao primeiro prédio, onde havia uma pequena placa que dizia "Secretaria". Não havia mais carros estacionados ali, então tive certeza que era proibido, mas decidi que pegaria instruções lá dentro ao invés de ficar andando em círculos na chuva como uma idiota. Desliguei o rádio e sai à contragosto da minha caminhonete quentinha. Andei por um caminho de pedra, ladeado por uma cerca viva escura. Respirei fundo antes de abrir a porta e entrar.

Dentro da secretaria estava quente e bem iluminado. A secretaria era pequena, com uma pequena sala de espera, com cadeiras pretas, carpete preto, avisos, prêmios abarrotados pelas paredes e um grande e ruidoso relógio. A sala era partida ao meio por um grande balcão, cheia de cestas de arames, papéis e anúncios coloridos colados na parte da frente. Haviam três mesas atrás do balcão e uma delas estava sendo ocupada por uma mulher ruiva e de óculos. Ela vestia uma camiseta roxa, que imediatamente me fez parecer com roupas demais.

— Posso ajuda-la, querida? — A mulher ruiva perguntou assim que me notou ali.

— Oi, eu sou Isabella Swan. — Informei e vi seus olhos demonstrarem reconhecimento imediato. Eu era esperada e tópicos de fofocas. Revirei os olhos internamente.

A filha da ex-mulher do chefe de polícia finalmente retorna para casa. Pensei.

— É claro. — Ela disse, percorrendo uma pilha precária de documentos em sua mesa até achar o que procurava. — Seu horário e um mapa da escola. — Ela trouxe várias folhas até o balcão para me mostrar.

Ela indicou minhas salas de aula, mostrando no mapa a melhor maneira de chegar até elas. Ela me deu um papel, para que todos os professores assinassem e que eu teria que trazer de volta no final da aula. Ela sorriu pra mim e desejou que eu gostasse de Forks. Sorri educadamente pra ela e sai. 

Vários alunos começavam a chegar e eu fui atrás do tráfego, contornando a escola. Fiquei feliz ao ver que a maioria dos carros aqui eram velhos como o meu.

Em Phoenix eu morava em um dos poucos bairros de classe baixa, que estavam incluídos no Distrito de Paradise Valley. Era comum ver uma Mercedes ou um Porsche no estacionamento dos alunos. O carro mais legal aqui era um Volvo reluzente. Logo que estacionei, desliguei o motor para que o barulho não chamasse tanta atenção para mim. 

Olhei para o mapa na caminhonete, tentando memoriza-lo, esperando não precisar andar com ele colado no meu rosto o dia inteiro. Enfiei tudo dentro da mochila e coloquei a alça sobre o meu ombro. Respirei bem fundo e olhei pela janela.

— Você consegue, Bella. Você pode fazer isso. É só um primeiro dia de aula qualquer. Ninguém vai te morder. Falei em voz alta.

— Que carrão legal  — disse um garoto de pele escura, em tom de deboche, fazendo dois garotos e uma garota que estavam com ele rirem.

— Obrigada. — Eu respondi, sem humor.

— Quem é ela?  — Ouvi a garota que estava com eles perguntar.

— Sei lá  — o garoto do comentário idiota respondeu.

Bom, pelo menos esses tinham esquecido que eu era esperada. Menos mal. Pensei com alívio.

Enquanto caminhava, percebi com alívio, que o meu casaco preto simples não se destacava na multidão de alunos.

Agora era fácil ver o prédio três assim que cheguei no refeitório. Um grande "3" estava pintado num quadrado branco no lado leste do prédio. Senti minha respiração acelerar cada vez mais enquanto me aproximava da porta e tentei relaxar enquanto seguia duas capas de chuva unissex.

A sala de aula era pequena. As pessoas na minha frente pararam assim que entraram na sala para pendurar seus casacos numa longa fileira de ganchos. Eu fiz o mesmo. Na minha frente tinham duas garotas. Uma era loira com pele de porcelana e a outra também com a pele clara, tinha o cabelo castanho claro. Pelo menos a minha pele não se destacaria aqui. 

O professor era um homem alto e calvo. Sua mesa tinha uma placa que o identificava como "Sr. Mason". Ele ficou me olhando assim que leu o meu nome, o que não era nada encorajador e nem legal. Como eu esperava, acabei corando com seu olhar nada sutil. Pelo menos, ele não pediu pra me apresentar à turma e agradeci mentalmente por isto. Ele apenas desejou boa sorte e depois me mandou sentar numa mesa vazia no fundo da sala

Era mais difícil para os meus colegas ficarem me encarando enquanto eu estava sentada lá no fundo. Mas de alguma forma eles conseguiam. Fixei meu olhar na lista de leitura que o professor tinha dado. Brontë, Shakespeare, Chaucer, Faulkner. Já havia lido todos. Isso era reconfortante e chato. Fiquei pensando se minha mãe mandaria a minha pasta de trabalhos ou se ela pensaria que isso era colar. Fiquei pensando em diferentes discussões que teríamos enquanto o professor falava.

Quando bateu o sinal, um garoto coreano, alto e de cabelos pretos, encostou-se ao batente da porta para falar comigo.

— Você é Isabella Swan, certo? — Ele me perguntou.

— Bella. — Eu sorri, corrigindo-o. Todo mundo em volta se virou para me olhar. Nada reconfortante essa atitude...

— Onde é a sua próxima aula? — Ele perguntou e eu precisei pegar o meu horário dentro da minha mochila.

— Hã... Educação Cívica com o Professor Jefferson no prédio seis. Não havia para onde que eu pudesse olhar, sem encontrar um par de olhos curiosos. Legal.

— Eu estou indo para o prédio quatro, então se você quiser, eu posso te mostrar o caminho — ele sugeriu. — E a propósito, eu sou Eric Yorkie. — Ele adicionou, sorrindo.

— Eu adoraria, obrigada, Eric.  — Sorri gentilmente. Era mais confortável ter alguém me mostrando onde eram as salas, do que andar sozinha sob milhares de olhares em minha direção. 

Pegamos nossos casacos e saímos para a chuva, que havia ficado mais forte. Poderia jurar que as pessoas andando atrás de nós, estavam perto o bastante para ficar ouvindo a nossa conversa. Desejei não estar ficando louca...

— Então... Aqui é bem diferente de Phoenix, não é? — Ele perguntou com evidente curiosidade.

— Sim, muito. — Eu disse a verdade.

— Não chove muito por lá, né? — Ele quis saber. 

— Três ou quatro vezes por ano.  — Eu dei de ombros.

— Uau! E como é isto? — Ele ficou imaginando.

— Bem ensolarado e sem tempo ruim.

— Mas você não parece muito bronzeada... — Ele comentou.

— Minha mãe é meio albina. — Eu brinquei. Ele analisou o meu rosto com apreensão e eu suspirei. Parecia que nuvens e senso de humor não se misturavam. Alguns meses e eu esqueceria como se usa o sarcasmo.

Andamos de volta ao redor do refeitório, em direção aos prédios que ficavam no sul ao lado do ginásio. Eric me levou até a porta. 

— Bem... boa sorte. — Ele desejou enquanto eu alcançava a maçaneta. — Talvez tenhamos outras aulas juntos. — Ele soava esperançoso. — Ah e seja bem-vinda ao lar dos Spartans. — Ele sorriu e eu entrei.

O resto da manhã passou da mesma maneira. Meu professor de trigonometria, o Sr. Varner, a quem eu detestaria de qualquer forma por causa da matéria que ele ensinava, foi o único que me fez ficar na frente da turma e me apresentar. Eu gaguejei, fiquei vermelha e tropecei no caminho para a minha mesa.

Depois de duas aulas, comecei a reconhecer muitos dos rostos em cada uma delas. Sempre havia aqueles que eram mais corajosos e vinham se apresentar e me perguntar se eu estava gostando de Forks.

Tentei ser educada e responder as perguntas sempre que alguém vinha falar comigo. Pelo menos agora não precisei mais usar o mapa.

Uma garota sentou-se ao meu lado nas aulas de Trigonometria e Espanhol e foi comigo até o refeitório na hora do almoço. Ela era da minha altura e tinha o cabelo escuro e encaracolado. Não conseguia lembrar o nome dela, então eu sorria gentilmente e balançava a cabeça enquanto ela discorria sobre os professores e sobre as aulas. Em uma de nossas conversas, descobri que ela também compartilhava o mesmo sentimento em relação ao Sr. Varner.

Sentamos no final de uma mesa cheia dos seus amigos, os quais ela me apresentou, mas esqueci os nomes assim que ela os disse.

O garoto da aula de Inglês, Eric, acenou para mim do outro lado do refeitório e eu sorri, acenando de volta.

E ali, sentada no refeitório, tentando conversar com vários adolescentes curiosos, foi que eu os vi pela primeira vez.

Eles estavam sentados no canto mais afastado do refeitório. Eram cinco. Duas garotas e três garotos. Não conversavam e nem comiam, apesar de cada um ter uma bandeja intocada de comida em sua frente. Eles não estavam me encarando, como os outros alunos, então era seguro ficar olhando para eles, sem ter medo de encontrar um par de olhos excessivamente interessado.

Mas não foi nenhuma dessas coisas que me chamou e prendeu a minha atenção. Eles não se pareciam em nada. Dos três garotos, um era grande, musculoso, como um lutador de MMA, com cabelos escuros e encaracolado. O outro garoto era alto, magro, de cabelo loiro escuro e um pouco musculoso. E o terceiro garoto também era magro, só que menos musculoso e seus cabelos eram bronze e todo bagunçado. Ele parecia mais jovem do que os outros, que poderiam estar na faculdade.

Já as garotas eram as opostas. A mais alta era maravilhosa. Ela tinha uma silhueta linda, do tipo que se vê em uma capa de uma revista, na parte de edição de roupas de banho. Sua beleza era tão estonteante, que fazia as outras garotas se sentirem mal consigo mesmas só por estarem no mesmo lugar. O cabelo dela era dourado e ia até o meio de suas costas. E a segunda garota era mais baixa e ela me lembrava uma fada. Ela era magra e suas feições eram pequenas e fofas. Seus cabelos eram totalmente pretos, curtinho e apontado para todas as direções.

Apesar de tantas diferenças, eles se pareciam muito. Todos eram muito pálidos, mais pálidos do que todos os alunos daqui da escola. Mais pálidos até de mim mesma. Todos tinham olhos bem escuros, apesar da diferença na cor de seus cabelos. Além disso, eles tinham olheiras e sombras arroxeadas em baixo dos olhos, como se eles tivessem passado a noite em claro, se recuperando de ter quebrado o nariz ou de algum resfriado. Mas apesar das olheiras, seus traços eram retos, perfeitos e angulosos. Mas não era por causa de tudo isso que eu não conseguia tirar os olhos.

Eu os olhava por que seus rostos, tão diferentes, mas tão iguais, eram todos devastadoramente e humanamente lindos. Eram rostos que você nunca espera encontrar, além de, talvez, nas páginas editadas de uma revista de moda ou pintadas por algum artista. Era difícil decidir qual dos garotos eram o mais lindo ou qual das garotas eram a mais linda. Talvez fosse a loira ou o garoto com cabelos bronze.

Todos eles estavam olhando para longe. Longe um dos outros e longe dos outros alunos. Enquanto eu olhava, a garota mais baixa, ela se levantou com tudo na bandeja, foi embora com um passo rápido e gracioso, que mais parecia o andar de uma modelo. Eu fiquei olhando, maravilhada com seus passos de bailarina, até ela largar a bandeja e sair pela porta de trás, mais rápido do que eu imaginava ser possível. Meus olhos voltaram logo para os outros, que estavam lá, sem mudanças.

— Quem são eles? — Eu perguntei à garota da aula de espanhol, de quem eu não me lembrava o nome. Enquanto ela olhava para ver de quem eu estava falando, apesar de já saber, pelo meu tom de voz, de repente, ele olhou para ela, o mais magro e o garoto mais lindo de todos na minha opinião, talvez até o mais jovem. Ele olhou para a garota ao meu lado por uma fração de segundos e então seus olhos escuros se dirigiram para mim.

Ele olhou para longe bem rápido, mais rápido do que eu conseguiria, apesar de numa onda de vergonha, eu tenha desviado meu olhar na mesma hora. Naquele pequeno instante, seu rosto não aparentou interesse. Era como se ela tivesse chamado o seu nome e ele olhara numa resposta involuntária, já tendo decidido não responder.

A garota ao meu lado riu envergonhada, olhando para a mesa, assim como eu.

— Aqueles são Edward e Emmett Cullen. Rosalie e Jasper Hale. A que foi embora é Alice Cullen. Todos vivem juntos com o Dr. Cullen e a esposa dele. — Ela respondeu.

Olhei meio de lado para o garoto lindo, que agora olhava para a bandeja dele, picando um pãozinho com dedos pálidos e longos. Seus lábios perfeitos quase não se abrindo, moviam-se rapidamente. Os outros três ainda olhavam para longe, mas ainda sim, eu sentia que ele estava falando com eles.

Nomes tão estranhos e pouco populares. Nomes típicos que avós tinham. Mas talvez fosse moda por aqui, nomes de cidade pequena. Finalmente lembrei que a garota ao meu lado se chamava Jessica, um nome perfeitamente comum. Havia duas garotas chamadas Jessica na minha aula de História quando estudava em Phoenix.

— Eles são... muito bonitos. — Eu soltei, impressionada.

— Sim! — Jessica concordou, soltando um risinho. — Mas eles já estão juntos, juntos mesmo. Emmett e Rosalie. Jasper e Alice. E moram juntos. — A voz dela continha o choque e reprovação de uma cidade pequena. Mas admito que até em Phoenix algo assim causaria fofocas.

— E quais são os Cullen? — Eu perguntei. — Eles não se parecem...

— Ah, mas eles não são irmãos mesmo. O Dr. Cullen é bem jovem, acho que ele tem uns 30 e poucos anos. Eles são todos adotados. Já os Halle são irmãos gêmeos. Os Halle são os loiros e vivem com eles também.

— Mas eles não são um pouco velhos para isso?  — Eu questionei.

— Agora são, mas Jasper e Rosalie já têm dezoito anos e vivem com a Sra. Cullen desde que tinham oito anos. Ela é tia deles ou algo assim.

— Acho isso bem legal... Digo, deles cuidarem de todas essas crianças, sendo tão jovens — eu argumentei.

— Acho que sim — Jessica deu de ombros. Fiquei com a impressão de que ela não gostava do Doutor e de sua esposa por algum motivo. Com os olhares que ela dava na direção deles, imaginei que o motivo fosse inveja. — Mas acho que a Sra. Cullen não pode ter filhos. — Ela comentou, como se isso diminuísse a bondade deles.

Durante toda a nossa conversa, meus olhos iam e voltavam para a mesa onde a estranha família estava sentada. Eles continuavam olhando para as paredes e não comiam. Isso me incomodou um pouco.

— Eles sempre moraram aqui em Forks? — Eu perguntei. Com certeza eu os teria notado em algum dos meus verões aqui.

— Não. — Ela disse num tom de voz que implicava que isso era óbvio, até para uma recém novata como eu. — Eles se mudaram à dois anos atrás, vindos de algum lugar do Alasca.

Senti uma onda de compaixão e alívio. Compaixão, porque apesar de serem lindos, eles eram de fora e claramente não eram aceitos. E alívio, porque eu não era a única novata aqui e nem certamente a mais interessante também.

Enquanto eu continuava analisando-os, o mais novo, um dos Cullen, olhou para mim novamente e nossos olhos se encontraram. Desta vez, seu olhar continha uma expressão de evidente curiosidade. Enquanto eu esquivava o meu olhar, me pareceu que no dele havia alguma expectativa não alcançada. Isso me deixou intrigada e curiosa. 

— E quem é o garoto de cabelos rebeldes? — Eu perguntei, curiosa. Arrisquei um olhar para ele e ele ainda me encarava, mas não como os outros alunos tinham feito durante todo o dia. A expressão dele era de frustração e eu não entendia qual era o motivo.

— Aquele é Edward Cullen. Ele é maravilhoso, né? Mas não perca o seu tempo. Ele não namora. Aparentemente, nenhuma das garotas aqui é bonita o bastante pra ele. — Ela resmungou, meio amarga e percebi que ali continha um caso de rejeição. Fiquei me perguntando quando ele tinha a rejeitado... Mordi meu lábio para esconder um sorriso e olhei para ele novamente. Seu rosto estava virado para o outro lado, mas pelos músculos contraídos em seu rosto, presumi que ele também sorria.

Após mais alguns minutos, os outros quatro deixaram a mesa. Todos eram graciosos, até mesmo o grandalhão. Era algo desconcertante de se observar. O que se chamava Edward, não olhou mais para mim.

Fiquei na mesa com Jessica e seus amigos mais tempo do que ficaria se estivesse sozinha. Uma das minhas novas amigas, que gentilmente me lembrou que seu nome era Angela, tinha Biologia comigo no próximo período. Fomos juntas para a aula, conversando animadamente. Apesar dela ser tímida também, ela pareceu confortável conversando comigo. Angela não me fez milhões de perguntas como os outros alunos. Ela respeitou o meu espaço, perguntando só o necessário. Eu tinha a sensação de que seríamos ótimas amigas. 

Quando entramos na sala de aula, Angela foi se sentar numa mesa de laboratório, com tampa branca, exatamente como as que eu estava acostumada. Ela já tinha um par. Na verdade, todas as mesas já tinham um par, com a exceção de uma... Ao lado da fileira perto da janela, reconheci Edward Cullen, por seu cabelo peculiar, sentado ao lado da única cadeira vazia.

Eu gelei. Vendo de perto. Ele era ainda mais lindo. Era intimidante saber que eu seria a parceira dele nesta aula. Eu tinha medo de acabar falando besteira e ele me achasse uma boba.

Enquanto observava Edward secretamente, fui até o professor para me apresentar e pedir que ele assinasse o meu papel. Mas no momento em que passei, ele ficou rígido. Edward me encarou e seus olhos encontraram os meus com a mais estranha das expressões. Sua expressão era hostil e furiosa. Olhei para longe rapidamente, chocada e ficando vermelha. Não entendi sua reação. Fiquei confusa e meio atordoada. No refeitório ele pareceu normal e nenhuma das vezes em que ele me olhara, ele não tinha essa expressão como agora. Tinha que ser outra coisa, não eu. 

O Sr. Banner assinou o meu papel e me entregou um livro sem o besteirol das apresentações. Pude prever que nos daríamos bem. Obviamente ele não tinha muita escolha a não ser mandar eu me sentar na única cadeira vazia ao lado do lindo garoto estranho, que agora parecia me odiar, sem nenhum motivo aparente. Enquanto andava até o meu lugar, mantive meus olhos no chão.

Como para ajudar, meu nervosismo me fez tropeçar no caminho. Corei, ouvindo risinhos de meus colegas ao lado. Não olhei para cima enquanto colocava o meu livro em cima da mesa e me sentava. Vi pelo canto do olho sua postura mudar. Ele estava se inclinando para longe de mim, sentando bem na ponta da cadeira e virando a cara como se eu estivesse fedendo. Discretamente, cheirei o meu cabelo. Tinha cheiro de morangos, que era o perfume do meu xampu favorito. Era um cheiro inocente.

Qual era o problema dele? Perguntei-me internamente.

Deixei meu cabelo cair sobre o meu ombro direito, criando uma cortina castanha entre nós e tentei prestar atenção no professor.

Infelizmente a aula era sobre anatomia celular, algo que eu já tinha estudado. Fui fazendo anotações mesmo assim, sempre olhando para frente e não para o garoto ao meu lado. Mas eu não conseguia me conter, porque, de vez em quando, olhava para ele, através da cortina dos meus cabelos.

Durante a aula toda, ele não relaxou sua posição. Edward estava sentado na ponta da cadeira, o mais longe possível de mim. Sua mão estava sobre a perna esquerda, fechada em punho, com os tendões se destacando sob a pele branca. Ele também não relaxou a mão sequer uma vez. As mangas da sua camisa branca estavam puxadas até os cotovelos e seu braço era surpreendentemente musculoso. Ele não era tão frágil quanto eu achava que fosse.

A aula parecia se arrastar mais do que as outras. Será que era por que o dia estava finalmente acabando ou por que eu esperava que seu pulso fosse relaxar? Ele nunca o fez. Ele estava tão imóvel, que eu jurava que ele não respirava.

Será que esse era o comportamento normal dele? Pensei, me questionando sobre o que tinha pensado sobre a amargura de Jessica durante o almoço. Talvez ela não fosse tão rancorosa como eu pensava...

Sua reação não poderia ser comigo. Ele nunca tinha me visto na vida. Arrisquei mais uma olhada e me arrependi. Ele estava me olhando novamente e seus olhos negros estavam cheios de repulsa. Enquanto me afastava dele, me espremendo o máximo possível na cadeira, a expressão "se olhar matasse" cruzou a minha mente.

Naquele momento o sinal bateu, me assustando. Edward já tinha se levantado, saindo antes que qualquer um dos outros alunos estivessem de pé.

Fiquei congelada no lugar, sem conseguir me mover.

Ele era mau. Não era justo. Comecei a juntar as minhas coisas devagar, tentando bloquear a raiva que me consumia, para não acabar chorando. Por algum motivo, o meu humor tinha ligação com os meus canais lacrimais. Geralmente eu chorava quando estava com raiva, uma mania humilhante e que eu odiava em certos momentos como agora.

— Você é Isabella Swan, né? — Uma voz masculina perguntou. Me virei e vi um garoto bonito, com cara de bebê, de olhos azuis e com cabelos loiros, cuidadosamente moldado com gel, sorrindo para mim de um jeito amigável. Ele, com certeza, não achava que eu fedia.

— Bella. — Eu mais uma vez corrigi, me forçando a lhe dar um sorriso gentil.

— Eu sou Mike Newton. — Ele se apresentou, me dando um sorriso fofo.

— Oi, Mike. — Eu sorri.

— Precisa de ajuda para encontrar a sua próxima aula? — Ele me perguntou.

— Acho quê não. Estou indo para o ginásio. — Eu lhe respondi o mais educada que pude. 

— Essa é a minha próxima aula também. — Ele parecia animado, apesar de não ser muita coincidência numa escola tão pequena.

Fomos para a aula juntos. Ele era conversador também, mas Mike era legal. Ele tinha morado na Califórnia até os dez anos, então ele me entendia com relação ao sol. Mike estava na minha aula de inglês também, mas não havia se apresentado até agora. Ele tinha sido a pessoa mais legal que conheci depois de Angela.

— Então, você fincou um lápis em Edward Cullen ou o quê? Nunca o vi agir assim...  — Mike perguntou enquanto entrávamos no ginásio. Então não tinha sido só eu que notara. E parece que não era assim que ele se comportava normalmente. Decidi bancar a desentendida.

— Quem? O garoto sentado ao meu lado em biologia? — Perguntei, ingenuamente.

— Sim. — Ele confirmou. — Parecia que ele estava com dor ou algo parecido.

— Eu não sei. — Dei de ombros. — Nunca conversei com ele.

— Ele é um garoto estranho. — Mike ficou por ali ao invés de ir para o vestiário masculino. — Se eu tivesse tido a sorte de sentar com você, teria conversado. Corei e me despedi dele com um sorriso antes de ir para o vestiário feminino. Mike era legal e claramente gostava de mim, mas isso não foi o bastante para diminuir a minha irritação em relação à Edward Cullen.

O professor de Educação Física, o Treinador Clapp, me deu um uniforme, mas não me fez vesti-lo e nem participar da aula. Eu comemorei mentalmente, agradecendo por ficar sentada só olhando os meus colegas jogarem Vôlei. 

Aqui em Forks era obrigatório durante todos os anos ter aula de Educação Física. Já em Phoenix era obrigatório só por dois anos. Eu nunca gostei de Educação Física. Pra mim Educação Física só era legal quando não precisávamos praticar algum tipo de esporte.

Apesar de ter uma péssima coordenação motora, eu era boa em alguns esportes. Gostava até de jogar alguns. Em Phoenix sempre que ia pra praia com meus amigos, jogava Vôlei. Eu gostava de Basebol também. E depois que mamãe conheceu Phil, gostei ainda mais desse esporte. Uma coisa que foi bom pra Phil, porque como ele é jogador de Basebol, ele encontrou algo que pudéssemos fazer para criarmos laços. E foi legal. Sempre que Phil tinha algum treino no sábado de manhã, ele nos convidava pra assisti-lo treinar e depois do treino, me ensinava alguns arremessos. Era legal e isso era uma coisa que eu já sentia muita falta também. Sorri tristemente e esperava poder voltar para Phoenix em breve.

O sinal tocou e suspirei aliviada, andando lentamente até a secretaria para entregar a minha papelada. A chuva tinha parado, mas o vento estava mais forte e mais frio. Enrolei-me mais nas roupas e apressei meus passos. Quando entrei na secretaria, quase me virei e saí de novo.

Isso era besteira. Eu não havia feito nada. Ele que lidasse com seus problemas e não me colocasse no campo minado que ele pudesse estar tendo internamente.

Edward Cullen estava parado à mesa logo na minha frente e percebi que eu reconheci o seu cabelo bronze e desarrumado mais rápido do que deveria. Ele pareceu não perceber a minha presença, então torci que continuasse assim. Não estava afim de ver aquela expressão de ódio em seu rosto novamente. Se isso acontecesse, era provável que eu fosse tirar satisfação com ele, o que seria motivo de mais cochichos e logo desisti com esse pensamento. Encostei-me à parede e esperei a recepcionista me atender.

Edward estava conversando com ela numa voz baixa e atraente. Logo eu peguei o motivo da conversa. Ele queria trocar o período da aula de biologia para outro horário. Meus nervos ferveram de raiva. Não podia acreditar que era por minha causa. Tinha que ser outra coisa. Tinha que ser sobre algo que acontecera antes que eu entrasse naquela sala. A expressão em seu rosto tinha que ser por outro motivo. Era impossível que esse garoto estranho tivesse me detestado sem eu nunca ter falado com ele.

Neste momento, a porta se abriu e o vento frio entrou, levantando todos os papéis sobre a mesa e jogando o meu cabelo sobre o meu rosto. A garota que entrará, simplesmente chegou à mesa, colocou um bilhete na cesta de arame e saiu. Mas Edward Cullen ficou rígido e se virou lentamente para me olhar. Seus olhos estavam fulminantes e cheios de raiva. Seu olhar me deu medo, levantando os pelos dos meus braços. O olhar só durou um segundo, mas me congelou mais que o vento frio.

— Deixa pra lá. — Ele disse, apressadamente com uma voz aveludada. — Vejo que é impossível. Muito obrigado pela sua ajuda. — Ele disse com raiva. Ele se virou sem olhar para mim e saiu pela porta.

Meu rosto estava branco ao invés de vermelho. Fui calmamente até a recepcionista e lhe entreguei o papel assinado com as pernas bambas.

— Como foi o seu primeiro dia de aula, querida? — Ela perguntou-me, maternalmente.

— Bem. — Menti com a voz fraca, mas ela não pareceu convencida. 

Quando cheguei à caminhonete, era praticamente o último carro no estacionamento. Parecia como um refúgio, a coisa mais perto de um lar que eu tinha aqui no estacionamento. Fiquei sentada dentro da caminhonete por um tempo, simplesmente olhando pelo vidro. Mas logo estava frio o bastante para precisar ligar o aquecedor, então virei a chave e o motor ganhou vida, rugindo alto. Peguei meu caminho de volta pra casa, lutando para não chorar durante todo o caminho. O que foi impossível, porque as lágrimas saíram fervendo e estampando o quanto eu estava magoada e com raiva de um garoto que nunca me vira, sentir alguma repulsa idiota por mim.


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Notas finais do capítulo

Espero que vocês tenham gostado e não esqueçam de comentar o que acharam.

Agora sobre o capítulo... A música 'My Mind Is For Sale' que eu citei é de Jack Johnson. Link da música: https://www.youtube.com/watch?v=Q3REipDpxNQ

Escrevi este capítulo ouvindo ela e outras músicas dele. Aliás, eu tô gostando muito das músicas dele. Vocês também já ouviram? Gostam das músicas dele? Se quiserem mais músicas do Jack Johnson como trilha, comenta aí, beleza?

E sobre o Pacific Park... Esse Park fica em cima do píer de Santa Monica. Esse Park é lindo e ponto postal da Califórnia. O que eu achei mais incrível deste Park é o Pacific Wheel, uma roda gigante ecológica e a única do mundo movida com energia solar. E a segunda coisa mais incrível: Ela conta com mais de 160 mil lâmpadas led em um pisca-pisca que deixa todo o píer iluminado. Legal, né? :D

Sei tudo isso, porque eu pesquisei. Gosto de trazer conteúdo pra não deixar essa história sem realismo, entende? Então por isto eu espero que vocês tenham gostado. A pesquisa e o capítulo foram feitos com muito carinho ♥

Beijos e até o próximo capítulo!



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