Present Perfect escrita por rvolcov


Capítulo 7
6. On a highway to hell


Notas iniciais do capítulo

Socorro cheguei! Começo minhas notas dizendo apenas: THE TRETA ESTÁ ENTRE NÓS.
Espero que gostem desse que foi o meu capítulo favorito até agora e boa leitura ;*



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Capítulo 6. On a highway to hell

06/07/2007

— Nelson Mandela! - Amelia exclamou irritada com o aparelho de televisão  - Que tipo de imbecil não sabe quem foi o cara que acabou com o Apartheid na África do Sul?

— Ainda não conseguiram decidir o que assistir? - Georgia questionou, sem conseguir conter o riso ao entrar na sala de estar e encontrar os filhos e a sobrinha esparramados folgadamente pelo sofá de couro escuro.

O único que esboçou qualquer reação à sua presença foi Pistache, que passou a abanar o rabo alegremente assim que ouviu sua voz e logo tratou de erguer o focinho para observá-la melhor.

Georgia nunca fora a maior amante dos animais de estimação, mas precisava admitir que o peludo havia conquistado um enorme espaço em seu peito no último ano.

— Não. - Hollie respondeu sem qualquer empolgação. Provavelmente frustrada por parecer ser a única ali a não ter paciência para uma maratona do programa “você é mais esperto do que um aluno da 5ª série?”— Amy quer ver Vida de Inseto outra vez, mas ninguém mais aguenta esse filme.

— É um dos melhores. - Sua filha rebateu sem desviar a atenção da tela. A maneira como apertava os olhos levou Georgia a questionar-se quanto à necessidade de marcar uma consulta com um oftalmologista em breve. - Vocês que não sabem apreciar o que é bom.

— Ninguém disse que é ruim. - Alexander tentou manter a discussão em um nível amigável. - Só que perde a graça depois que você assiste um zilhão de vezes.

— Não concordo.

— Porque você é estranha. - Hollie disse por fim, levando a um rolar de olhos da ruiva e a uma pequena risada da própria Georgia. - E o Ethan já mandou mensagem dizendo que vai trazer o box com os filmes de Harry Potter.

— Mas é claro que a Amy não vai se render a esse universo mágico tão cedo, então todo mundo já sabe que não é uma opção.

— Ei, eu tenho meus motivos. - A própria tentou defender-se, mas não foi levada a sério por nenhum dos outros.

A aversão da menina pela saga de J.K Rolling era bem conhecida por todos ali.

— E é por isso que eu e o Alec decidimos que hoje nós vamos assistir Toy Story. - Sua sobrinha concluiu sem empolgação. - E depois vamos ter uma partida de War.

— Com Amy e Ethan no mesmo time, pra evitar que uma guerra de verdade comece. - Alec achou importante ressaltar.

A ruiva expirou o ar com tamanha violência que acabou atraindo a atenção do cachorro para si.

— Como vocês são exagerados. - Respondeu, estendendo uma das mãos para acariciar os pelos do animal.

Pistache grunhiu satisfeito e não demorou a virar o corpo de barriga para cima, facilitando o carinho. A cena, por outro lado, levou Georgia a um franzir de cenho desconfiado, sua mente voltando-se para assuntos um pouco mais importantes.

— Amy, você colocou comida para o Pistache?

— Coloquei. - A menina respondeu prontamente.

A ausência de contato visual não a convenceu nem um pouco.

— Petisco não conta.

— Então não. - Amelia forçou um sorriso descarado em sua direção.

— O que está esperando, então? Uma bronca ou o cachorro cair duro no chão de tanta fome?

— Ele vive revirando o lixo e comendo o batente das portas. nunca vai morrer de fome. - Alec intrometeu-se, sempre a postos para defender a irmã ou dividir a culpa com ela.

— Falando em lixo, Alexander…  - Foi a vez do mais novo engolir em seco sob seu olhar questionador (uma das melhores facetas da maternidade, Georgia precisava admitir) . - É impressão minha ou o de ontem à noite continua no cesto?

— Impressão, certeza. - Amy respondeu pelo irmão e pela visão periférica, ela notou a sobrinha tentando prender o riso.

— Engraçadinha.

Hollie não se juntou aos protestos dos primos quando a imagem do programa foi substituída pela tela negra do televisor desligado. .

— Sem “Ei”! O Ethan vai chegar a qualquer momento. - Georgia fez questão de lembrá-los. - E por acaso vocês dois se lembram do que me prometeram quando pediram para convidá-lo para a noite da pizza e filme?

— Que eu ia cuidar do cachorro. - Amy respondeu sem esconder o descontamento.

— E eu ia levar o lixo.

— Exatamente. - Ela exclamou satisfeita. - Então antes de se fundirem à mobília, que tal cumprirem o combinado?

— Sim, mamãe. - Alec foi o primeiro a manifestar-se, erguendo o corpo do sofá e logo estendendo ambas as mãos para ajudar a irmã que ainda resmungava.

— Sim, sargento McKinnon. - A ruiva prestou continência e Georgia lançou-lhe um sorriso cínico.

— Um dia ainda te coloco para fazer flexões e polichinelos, você vai ver.

Era claramente uma brincadeira, mas a ameaça não havia sido realmente disfarçada em seu tom de voz.

— Por favor, me chama nesse dia.

Hollie notou o erro de manifestar-se assim que deparou-se com os três pares de olhos fitando-a em meio ao riso.

— Coitada, ela acha que vai ficar de fora.

— 11 anos nas costas e ainda se considera visita. - Alec logo juntou-se à gêmea nas provocações.

— Acha mesmo que vamos te deixar curtindo a vida boa enquanto todo mundo trabalha? - Amy indagou com um arquear de sobrancelhas e logo a sobrinha pode ser vista engolindo em seco.

— É claro.

— Sabe de nada, inocente. - Alexander concluiu a discussão, arrancando risadas de todos com o desconforto notável na expressão da prima.

— Você pode começar me ajudando a preparar os salgadinhos na cozinha, que tal? - Não havia sido bem uma sugestão, talvez apenas uma ordem disfarçada.

— Ao seu dispor, Sargento. - A menina riu também ao bater continência e levantar-se do sofá.

— Vão brincando.

**

— Eu devia ter imaginado que você não ia chegar no horário. - Amy comentou ao abrir a porta e deparar-se com o melhor amigo, uma enorme sacola e duas embalagens de pizza em seus braços.

— Boa noite pra você também.

Antes que pudesse abraçá-lo e matar a saudade - afinal, eles não se encontravam desde o início de janeiro! - Pistache intrometeu-se entre os dois, pulando animado em direção à visita.

Amy bem que gostaria de acreditar que tudo se devia ao amor incondicional de seu cachorro por pizza, mas a verdade era que seu monstrinho peludo era ridiculamente apegado a Ethan.

O que não fazia o menor sentido, já que era ela quem o alimentava - com os melhores pedaços de sobras de comida, era importante ressaltar - levava para passear e o convidava para subir no sofá mesmo sem a permissão de sua mãe. Tudo o que Ethan havia feito até então fora ser o responsável pelo encontro entre os dois, pouco mais de um ano atrás.

Talvez animais sentissem algum impulso de gratidão eterna. Vai entender.

Antes que o cachorro o derrubasse - levando a uma trágica noite de pizza e filmes sem pizza - portanto, ela esticou as mãos em direção às embalagens, deixando o caminho livre para que o animal expressasse toda a sua exagerada ternura pelo garoto. De modo que segundos depois, Ethan estava no chão e mal podia ser visto em meio à confusão de pelos, patas e rabo abanando.

Foi apenas quando uma risada baixa soou do lado de fora que Amy notou que o amigo não viera sozinho. Ela estreitou os olhos em direção ao carro da família do menino antes de aproximar-se.

— Boa noite, senhor Holmes.

— Boa noite, Amy. - Ele sorriu ternamente por trás do volante e a menina logo tratou de concentrar-se na figura loira no banco do carona.

— Você deve ser a Cassandra, não é? - Perguntou curiosa ao lembrar-se da irmã que volta e meia surgia em meio às histórias de Ethan, mas com quem nunca havia se encontrado desde que o conhecera, três anos antes.

— Cassie. - A menina a corrigiu timidamente, encolhendo-se ainda mais contra o encosto acolchoado do veículo.

— Oi Cassie, eu sou a Amy. - Apresentou-se com um sorriso e esticou uma das mãos para cumprimentá-la.

Para sua total surpresa, foi tão ignorada quanto o desejo da Internet Explorer em se tornar o navegador padrão de seu computador.

— Eu sei quem você é. - Ela respondeu sem muito entusiasmo (ou qualquer simpatia, sendo bastante honesta), mas a ruiva fez o possível para não mostrar-se muito abalada pela recepção pouco calorosa.

— Ah é…? - Amy indagou surpresa. - Meu irmão e minha prima também estão aqui e eu estou para convencer o Ethan a assistir Vida de Inseto comigo pela sétima vez. Não quer ficar também?

Cassandra não ponderou por mais do que dois segundos. Parecia tão desconfortável que Amy não duvidava que ela pudesse abrir a porta do carro e sair correndo a qualquer momento.

— Não.

— Tudo bem então - Em nome das boas maneiras (que às vezes ela lembrava da existência) a ruiva forçou um simpático. - Quem sabe na próxima.

— É, quem sabe. - A loira respondeu sem fitá-la diretamente e com um último aceno, o senhor Holmes acelerou o veículo, deixando-a ali parada e sem reação por alguns segundos.

— Vou ter que te convidar pra entrar na sua própria casa? - Ethan perguntou pouco depois ao encontrá-la imóvel e com as bochechas coradas, resultado tardio da irritação que começava a espalhar-se por seu corpo.

— Eu não sou uma vampira. - Ela respondeu em um tom divertido que o fez rir.

— Por que está parada aqui, então? - O garoto indagou curioso ao posicionar-se ao seu lado e aproveitar para fitar o céu pouco estrelado de Manchester.

— Acabei de conhecer sua irmã.

O dar de ombros da menina o fez franzir o cenho com preocupação.

— É mesmo? - Ele questionou com curiosidade sincera - E o que achou dela?

— Uma vaca. - A confissão descarada levou a uma risada nada discreta da parte dele.

— Não a julgue demais, ela só detesta a Inglaterra.

— Eu detesto americanos e suas manias de só comerem coisas industrializadas, mas você não me vê julgando.

— Você vive falando que eu vou morrer de câncer.

— É, mas a diferença é que você eu conheço.

 

08/07/2017

— Me diga como quer. - A voz, carregada daquele sotaque britânico que o rapaz achava insuportavelmente sensual, sussurrou próximo ao seu ouvido. - E eu juro que você não vai se arrepender.

As unhas dela, então, passearam lentamente desde seus ombros até seu peitoral, fazendo com que os pelos se arrepiassem desde sua nuca até o antebraço. A ansiedade que o envolvia era tamanha, que Connor sentiu-se obrigado a fechar os olhos,pois a mera imagem à sua frente era maravilhosa demais para ser processada por todos os seus sentidos de uma só vez.

Céus, ele havia esperado por aquele momento por toda a sua vida.

Seus lábios estavam prestes a finalmente encostar nos de Natalie Dormer quando o alarme de incêndio disparou.

— Mas que…? - Ele exclamou, confuso, sem conseguir notar qualquer diferença no cenário do quarto com relação a quando estava de olhos fechados. Acabou precisando de mais alguns segundos para ajustar-se à realidade uma outra vez antes de apertar o botão para desbloquear o celular e finalmente processar o que estava acontecendo. - Eu não acredito que você esqueceu de desligar o despertador.

Absolutamente desmaiado na cama ao seu lado, Ethan não notou o tom acusatório em suas palavras.

Connor esperou mais alguns malditos instantes, à espera de que um maldito milagre ocorresse e ele não fosse malditamente obrigado a levantar-se de sua própria cama para desligar o maldito alarme que seu maldito amigo havia esquecido de desativar antes de cair num maldito sono como a maldita pedra inútil que era.

Desnecessário dizer que um minuto depois, o maldito som alto continuava a invadir o ambiente.

— Ethan? - Chamou sem muita paciência, mas não obteve um mísero murmúrio em resposta. - Ethan, caralho.

Suspirando frustrado, ele ergueu o braço até uma das almofadas que decorava a cama - e que até aquele momento servira de mero apoio para seus pés -, arremessando-a na direção do amigo, que não fez nada além de deixar escapar um ronco baixo. A cena provocou tamanha irritação em Connor, que ele sentiu-se obrigado a atirar também o travesseiro que usava, acabando por ficar sem nenhum.

Ao menos dessa vez conseguira uma reação ao acertar o tronco de Ethan.

—Inferno, Connor. - A bela adormecida finalmente exibiu sinal de vida. - Desliga essa merda.

— Desliga você - Ele rebateu incrédulo. - É o seu celular que tá tocando.

— Não é não. - Ethan pareceu confuso, se por conta do sono, do barulho ou um misto dos dois, ninguém saberia dizer. - A bateria do meu zerou antes de eu deitar, passou a noite desligado.

— Então que caralho é esse tocando a essa hora da madrugada? - Connor questionou arqueando as sobrancelhas abismado.

Uma vez que sabia que seu próprio aparelho repousava sob o criado mudo, não havia nada que justificasse o fato de haver algo tocando às três horas da manhã.

— E eu vou lá saber?

A luz do quarto logo foi acesa e Connor levou as mãos ao rosto, sentindo o protesto violento de suas pupilas à mudança repentina na iluminação do ambiente.

— Um aviso seria ótimo na próxima. - Resmungou, arrependendo-se amargamente de ter arremessado os travesseiros para o outro lado do recinto e agora não ter nada além do fino lençol para proteger os olhos claros.

— Para de reclamar e me ajuda logo a encontrar essa merda.

— Tão delicado quanto uma cuspida de lhama. - Ele rolou os olhos antes de render-se de uma vez e juntar-se à busca pelo despertador que ainda berrava, escondido em algum lugar do quarto.

Encontrou-o instantes depois dentro de uma gaveta e logo tratou de arremessá-lo sem qualquer cuidado na direção de Ethan, que tratou de desligá-lo.

— Finalmente. - Exclamou aliviado ao jogar-se de encontro à cama outra vez, pouco depois de Ethan apagar as luzes.

Teve a impressão de não ter fechado os olhos por mais do que trinta segundos quando o som recomeçou.

— Você só pode estar brincando. - Resmungou infeliz ao notar que o relógio agora marcava três e trinta e cinco.

Ao menos dessa vez encontraram rapidamente o aparelho embaixo da cama de Ethan, de modo que instantes depois, Connor já estava pronto para voltar a sonhar com Natalie Dormer outra vez.

— Foi você, não foi? - Ethan questionou em um tom acusatório minutos mais tarde, quando um novo alarme começou a soar.

A mera ideia soou tão ridículo a Connor que acabou por arrancar-lhe uma risada bastante sarcástica.

— Claro, porque eu tenho um desejo masoquista de passar a noite acordado enquanto a porra de um despertador que eu não programei não para de tocar.

Uma luz fraca piscava no piso próximo à cama em que dormia, pouco abaixo da janela e ao perceber que ele não pretendia manifestar-se para desligá-lo, Ethan foi obrigado a arrastar-se até lá.

— Então quem foi que programou essa merda?

— Quem você acha? - Ele rebateu no mesmo tom irritado e só então Ethan pareceu dar-se conta do que estava acontecendo.

— Amy.

Como se resultado de muito planejamento - o que Connor não duvidava nem um pouco - ou apenas ironia do universo, poucos segundos depois um novo despertador começou a ecoar pelo quarto, seguido de outro e mais outro.

— Eu vou matar você.

— Eu? - O rapaz pareceu bastante indignado com a acusação ao acender a luz (e ser o alvo de novos xingamentos de Connor). - Mas eu não fiz nada!

— Não fez nada? - Ele quase gritou, perdendo o restante da paciência que ainda possuía quando mais um despertador foi ativado, eliminando quaisquer possibilidades de um retorno tranquilo ao seu sono feliz e erótico com uma das atrizes mais gatas do planeta. - Você tinha que cutucar a caralha da onça com a porra da sua vara curta, não é mesmo? Fodam-se os outros, o importante é bancar o Bruce Wayne, o indiferente, o entediado!

Os dois encararam-se raivosos por alguns instantes.

— Aonde é que você vai? - Ethan perguntou confuso ao observá-lo apanhar uma calça de moletom qualquer e se preparar para vestí-la.

— Dormir com a sua irmã.

A frase teria arrancado uma careta de Ethan caso fosse dita por qualquer outra pessoa. Mas tratando-se de seu melhor amigo, tudo o que aquilo conseguiu provocar foi um franzir de sobrancelhas confuso.

— Por que não com a Hollie?

— Porque ela está dividindo o quarto com a Amy.

— E daí? - Questionou, observando enquanto Connor arremessava por acidente um despertador contra a parede ao puxar a regata de cima da cômoda.

— E daí que ir pra lá te deixaria com a possibilidade de fugir pro quarto da Cassie mais tarde.

— Só vejo benefícios - Ethan admitiu, permitindo-se cair de costas contra o colchão. - E o que tem de errado nisso?

— O que tem é que nesse cenário, você dorme tranquilo depois de infernizar a minha noite com os seus problemas mal resolvidos. - Connor apontou o óbvio quando mais um aparelho começou a tocar de maneira escandalosa, assustando-o. - E meu caro, depois disso tudo, eu quero mais é que você se foda.

Sem esperar por uma resposta à altura, ele simplesmente deu as costas ao amigo. Sabia que estava exagerando e que já estariam conversando normalmente em algumas horas, mas naquele momento não estava com cabeça para argumentar com Ethan quanto aos problemas que ele causava na própria vida.

Dois quartos à esquerda, naquele mesmo corredor, fez sua melhor imitação de Sheldon Cooper ao bater três vezes contra a porta de madeira.

— Cass. - Chamou sem energia, aproveitando para pousar a testa contra a parede e fechar os olhos por alguns instantes. - Cass.

Pareceu levar uma eternidade até que alguém finalmente o ouvisse.

— Connor, são quatro horas da manhã. - Alec tinha os cabelos bagunçados, olhos inchados e expressão sonolenta no rosto.

— Eu sei.

— São quatro horas da manhã. - Repetiu e só então Connor notou que ele vestia apenas boxers. Pelo bem da sua sanidade mental, achou melhor ignorar esse último detalhe. - Que raios você está fazendo na minha porta às quatro horas da manhã?

— Tentando não assassinar o seu cunhado.

— Já pode se juntar à minha irmã. - Ele ponderou com um riso fraco e a mera ideia o levou a expirar com irritação ao lembrar-se do que a garota havia aprontado.

— Se ela aparecer na minha frente os dois vão acabar tendo de se acertar no inferno, isso sim. - Comentou mal humorado. Os dois então encararam-se em silêncio por alguns segundos. - Não vai me convidar para entrar?

— Não. - Alexander admitiu, escorando-se desanimado contra o batente. - Imaginei que se te ignorasse por tempo o suficiente, você fosse acabar dando meia volta para perturbar outra pessoa.

— Não vai se livrar de mim tão fácil assim, docinho. - Connor respondeu com uma piscadela antes de passar por ele e adentrar o recinto pouco iluminado. - Cas, eu espero, do fundo da minha alma, que você esteja vestida.

— Sinto desapontar. - Sua irmã postiça rebateu e ele guiou-se pelas sombras para poder jogar-se ao lado dela na cama.

— Espero que esteja brincando. - Havia uma súplica real no tom desanimado de sua voz.

— Claro que estou.

Cassandra era o único ser do universo capaz de ser acordado no meio da madrugada e ainda assim responder a brincadeirinhas com bom humor. Era simplesmente adorável demais para que ele conseguisse lidar.

— O que você pensa que está fazendo? - Questionou desconfiado ao notar que Alec agora seguia em direção à noiva.

— Me deitando? - Ele devolveu com outra pergunta bastante óbvia e Connor logo tratou-se de apontar para o lado oposto da cama. - Você só pode estar brincando.

— Eu pareço estar brincando?

Deixando escapar um suspiro cansado, Alec desistiu de discutir e contornou o móvel.

— Você por acaso pretende contar o que veio fazer aqui? - Indagou ao puxar o lençol para deitar-se ao seu lado.

— Mas é claro. - Connor sorriu satisfeito.- Vim dormir.

— E por que caralhos não faz isso na sua própria cama?

— Porque a Amy espalhou despertadores pelo quarto inteiro. - Ele lembrou com desgosto do som desagradável que o acordara diversas vezes mais cedo. - Aquela merda inteira está apitando desde as três da manhã.

Cassie riu alto ao seu lado.

— Por que isso não me surpreende?

— Porque sua irmã consegue bancar a encarnação do demônio quando quer e já que você dividiu o útero com ela, tá bastante familiarizado com o nível de loucura. - Ressaltou aquilo que, para ele, era bastante intuitivo.

Alec deu um soco fraco em seu braço antes de responder.

— Nós devíamos ter imaginado que não seria um reencontro pacífico. - Ele comentou desanimado e Connor sentiu quando o braço de Cassie passou por cima de seu tronco para confortar o namorado. - Os sinais estavam lá desde o começo.

— Eu achava que ela fosse ignorá-lo.

— Você claramente não conhece a Amy. - Connor lembrou-a do óbvio. - Ethan só conseguiu fugir por tanto tempo porque havia um oceano entre eles.

— De qualquer forma, nós vamos precisar fazer alguma coisa. - A loira disse sem esconder a preocupação. - Se as coisas seguirem por esse caminho, vamos acabar tendo de retirar alguém na delegacia.

— Minhas fichas estão na Amy.

A mera sugestão arrancou uma risada de Alec ao seu lado.

— Para ser presa? Duvido muito.

— Tem razão, ela é esperta demais para ser pega. - Ele ponderou por alguns segundos em meio ao ambiente escuro. - Mais provável que o Ethan seja acusado por alguma armação dela.

— Isso eu consigo imaginar acontecendo.

— Não acredito que estamos discutindo as chances de alguém acabar preso até o final das férias. - Cassie disse baixo em uma tentativa de segurar o riso que falhou miseravelmente.

— O que podemos fazer se elas são reais? - Connor questionou com sinceridade. - Agora que a Amy começou, não consigo imaginar o que possa fazê-los parar.

— Ele tem razão. - Alexander se rendeu sem muita animação. - 20 libras que o Ethan desiste em menos de vinte dias.

A julgar pelo grunhido de dor do rapaz, Connor não duvidava que a garota tivesse lhe beliscado.

— Que falta de fé no seu cunhado. - Cassie soou ofendida, mas havia resquícios de humor em seu tom de voz. - Eu acho que ele aguenta pelo menos um mês.

 

**

— Onde você vai? - Hollie questionou em protesto ao notá-lo abandonando as atividades contra seus lábios para sentar-se na cama. - Amy ainda está no banho, temos alguns minutos.

Connor precisava confessar que a ideia em si lhe era bastante apelativa.

— Eu sei. - Disse e riu quando ela o puxou para perto pela barra da camiseta, de modo que logo estivessem se beijando outra vez. - Mas nós combinamos de sair para o parque às dez e faltam menos de vinte minutos, não sei se o Ethan recebeu a mensagem.

Hollie rolou os olhos antes de sentar em seu colo.

— Ele vai sobreviver. - Murmurou séria enquanto o fitava com seus penetrantes olhos verdes e foi a sua vez de não conseguir resistir à tentação de ocupar seus lábios com os dela.

Ao sentir as unhas passeando por sua nuca enquanto ela mordiscava suavemente seu lábio inferior, Connor teve a mais absoluta certeza de que aquela garota ainda o levaria à loucura.

— Merlin, arranjem um quarto. - A voz de Amy se fez ouvir e ele não pode evitar gemer em desgosto ao ter de separar-se da morena. - Vocês vão acabar traumatizando o meu cachorro.

— Tenho certeza de que ele tem coisas melhores pra fazer. - Connor respondeu, observando o animal roncar despreocupadamente na cama ao lado. - E se ainda não percebeu, já arranjamos um quarto, você que está empatando a foda.

A ruiva rolou os olhos ao sair do banheiro com a escova de cabelos em mãos e Hollie aproveitou para sair de seu colo e sentar-se com a pernas cruzadas à sua frente no colchão.

— Culpe os Holmes. - Ela deu de ombros antes de se aventurar na tarefa de desembaraçar os fios vermelhos. - Tenho certeza de que não nos deixaram pagar a estadia só para poder controlar a divisão dos quartos.

— Não vamos comentar sobre a divisão dos quartos. - Connor falou, lembrando-se com pesar dos incidentes da madrugada. - Interferir no sono alheio é golpe baixo, ruiva, um golpe muito baixo.

O riso da garota foi tamanho que acordou Mochaccino.

— Fico feliz em saber que funcionou. - Respondeu com satisfação e tudo o que Connor conseguiu fazer foi lhe lançar um sorrisinho irônico.

— Pois saiba que eu não. - Murmurou com um desgosto que lhe rendeu um apertão nas bochechas por parte de Hollie. - Tive de ir dormir com o seu irmão

— E ainda tem a pachorra de dizer que eu sou a empata foda. - A ruiva gargalhou com a ironia. - E o dito cujo?

— O Ethan? - Franziu o cenho em dúvida, ainda lhe era estranho que a garota se recusasse a chamar seu amigo pelo nome. - Eu saí assim que perdi a paciência, até onde sei ele ficou por lá sofrendo.

— Ótimo. - Ela disse por fim, antes de aproximar-se do criado mudo e retirar uma pequena embalagem da gaveta. - Você pode me fazer um favor e entregar isso pra ele?

Connor estreitou os olhos com desconfiança.

— Só se você me prometer que isso não vai explodir.

— É totalmente inofensivo, prometo. - Amy confirmou, passando a caixa (que era pouco maior do que um cubo mágico) para suas mãos e ele a encarou ainda receoso. - Só tente evitar movimentos bruscos.

— Se eu morrer, juro que vou recusar a entrada para o paraíso só para poder voltar e te assombrar. - Ameaçou ao levantar-se da cama com cuidado. - Estou falando sério, quando estiver no chuveiro: eu vou estar lá. Quando estiver vendo TV: eu vou estar lá. Quando estiver sonhando: eu vou estar lá. Você nunca mais vai conseguir terminar uma transa, porque: eu vou estar lá para te fazer broxar.

— Esse discurso é perturbador em tantos níveis diferentes que eu prefiro ignorar, pelo bem da minha sanidade mental. - Não sabendo se ria da imitação do discurso de Julius de Todo Mundo Odeia o Cris ou se criava uma nota para providenciar uma ordem de restrição contra o rapaz, Amy apenas acompanhou com os olhos quando ele despediu-se de Hollie com um selinho. - Só entregue a caixa, ok? E não se esqueça de gravar os detalhes para me contar tudo depois.

Ele preferiu poupar esforços e não discutir - afinal, todos eram sempre vencidos pela exaustão em argumentações com a ruiva -, apenas concordando com um aceno de cabeça. E depois de confirmar que se reencontrariam no saguão do hotel em menos de dez minutos, finalmente abandonou o quarto para retornar àquele que vinha ocupando desde a noite em que chegaram.

— Bom dia. - Cumprimentou com bom humor ao abrir a porta de madeira branca e deparar-se com Ethan largado de costas sob o colchão.

Seu melhor amigo riu com escárnio antes de responder.

— Só se for para você.

— Conseguiu dormir? - Indagou curioso e tudo o que o rapaz fez foi apontar para a cômoda, onde uma dezena de despertadores estava enfileirada em ordem de tamanho.

— O que você acha?

A julgar pela expressão infeliz, cabelos bagunçados e círculos pretos embaixo dos olhos - resultado de tamanhas mudanças no fuso-horário em um ínfame número de dias - Connor tinha bastante certeza de que a resposta correta era uma negativa.

— Trate de tomar um expresso, um energético ou um litro de café. Nós vamos para a Universal Studios às dez e vão te matar se causar o atraso de todo mundo.

A mera ideia fez com que o rapaz bufasse frustrado.

— Incrível como eu sempre saio como o filho da puta da história. - Comentou frustrado enquanto ainda encarava o teto. - Mas eu vou conversar com a Amy, tentar consertar essa história antes que tudo saia de controle.

— Muito maduro. - Connor reconheceu ao encarar a pequena caixa prateada que tinha em mãos. - Preciso gritar com você de madrugada com mais frequência.

Ethan riu fraco.

— Foram berros merecidos. Não é justo que você seja afetado pelas merdas que eu faço na minha vida. - Ele disse, sentando-se também para poder encará-lo melhor e só então notou a embalagem que Connor agora tentava esconder. - O que é isso?

— Voldemort resolveu bancar o papai noel e distribuir presentes. - Brincou, referindo-se ao post-it amarelo colado à lateral cujo remetente assinara “você-sabe-quem”. Ethan estreitou os olhos ao notá-lo engolindo em seco. - Eu não abriria isso se fosse você.

Como qualquer criança que teima em desafiar os pais - ou qualquer outro adulto que saiba melhor - Ethan tomou a caixa para si com curiosidade descontrolável. Talvez em seu inconsciente soubesse que abrir algo enviado por Amy àquela altura do campeonato equivalesse à assinatura de um atestado de óbito, mas ele parecia bastante disposto a ignorar tal parte sensata e racional que normalmente lhe dominava.

Desnecessário dizer que três segundos depois - quando a caixa foi aberta e uma bexiga estourou, assustando-os com o barulho e arremessando glitter cor de rosa para todos os lados - Connor desejou imensamente poder esfregar a cabeça de seu melhor amigo contra a parede enquanto berrava um belíssimo “eu avisei” a plenos pulmões.

— Filhote de Wookiee mal amado.

Há muito tempo, numa galáxia muito muito distante houve a possibilidade de um acordo de paz entre uma ruiva maquiavélica e um rapaz mal humorado e distraído.

Hoje é sabido que tal possibilidade durou exatos três minutos e vinte e dois segundos, pois após esse período o mesmo rapaz já estava ocupado demais planejando sua vingança.

 


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Notas finais do capítulo

Hey pessoas! Como estão? Espero que tenham gostado desse que foi um dos meus capítulos preferidos, cheio de interações entre os personagens e quotes icônicas hahahah Por favor, se tiverem um tempinho, não esqueçam de me contar o que estão achando de tudo, além de apostarem quanto tempo o Ethan vai aguentar as pegadinhas da Any! Quem aí tem palpites/sugestões de como ele pode revidar?
Eu também criei um grupo no facebook pra avisar vocês sobre as atualizações! Sou 100% novata e tenho zero ideia do que estou fazendo, mas entrem lá pra que a gente possa se conhecer e sofrer juntos! https://www.facebook.com/groups/128749984389140/

PS: Eu estou participando do concurso de contos do fanctions então se você for maior de 18 e tiver um tempinho disponível, te convido a ler e chorar um pouquinho com essa one-shot Jilly https://fanfiction.com.br/historia/735414/O_cara_da_TI/

Um beijão e até a próxima! Nos vemos no twitter @rvolcov e no facebook!