Kagome caminhou apressada para atender a porta. Não esperava visitas, muito menos tão cedo. Parou na frente do espelho por alguns instantes para checar sua aparência e gostou do que viu. – Estaria mais satisfeita se não estivesse atrasada! – Abriu a porta sem hesitar, levantando uma sobrancelha ao ver quem a aguardava do lado de fora.

— Devo fingir que nada aconteceu ou devo pedir desculpas?!

A garota revirou os olhos e deu um leve suspiro. Não esperava que esse tipo de assunto surgisse a sua porta logo de manhã. – Eu já te perdoei, Sango! Mas isso não quer dizer que não me deva uma explicação. – Sorriu para a amiga quando esta demonstrou claramente seu alivio. – De qualquer forma...-Mordeu o lábio inferior, típico sinal de ansiedade. – Estou atrasada para o trabalho!

—Você não estava de férias?!

—Sim, mas surgiu uma cirurgia de piometra extremamente delicada. A pobre gatinha foi abandonada e ninguém se importou em socorre-la quando ela começou a sofrer. Temo pela vida dela.–Seu desconforto era visível. Kagome tinha se formado em veterinária com louvor e tinha jurado a si mesma ajudar todo e qualquer ser que precisasse de sua ajuda. Não cobrava para atender animais necessitados e, mesmo assim, sua reputação era tão boa, que seu salário dava perfeitamente para manter uma vida incrivelmente confortável.

Apesar disso, era sempre desgastante perder um paciente. Sentia como se estivesse perdendo seu próprio animalzinho de estimação.

—Pio...? Deixa pra la!– Sango olhou em seu relógio rapidamente e um sorriso apareceu em seu rosto. – Eu te dou uma carona!

Kagome franziu o cenho e esticou-se para pegar suas chaves e sua bolsa -Você sabe que eu tenho carro e o meu trabalho é no sentido contrário da sua casa.

—Sim! Mas dessa forma você não poderá fugir de um almoço comigo!

—Eu nunca fujo dos nossos almoços!

—Foge quando quero tratar de assuntos delicados. No caso, quero falar da noite passada! – Puxou a amiga para fora do apartamento, tomando as chaves da mão dela. – Anda, Kagome! Vai se atrasar para sua piotetra. – Apressou-se em trancar o apartamento e empurrar Kagome até o elevador.

—Piometra!

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Encheu uma caneca com café puro e tratou de bebe-la em poucos goles. Ajustou a gravata com irritação...Mais do que nunca ela parecia sufoca-lo. Não deveria ter aceitado ir à festa de Jokotsu na noite passada. O resultado disso eram fundas olheiras e uma incrível dor de cabeça. Pelo menos tinha conseguido encontrar quem queria na festa.

Olhou novamente para os contratos a sua frente e recostou-se em sua cadeira, as mãos massageando as próprias têmporas.  Assustou-se quando a porta de sua sala foi aberta sem nenhum aviso, revelando um dos motivos de sua irritação matinal.

—Preciso dos contratos, já estamos atrasados.

— Fico me perguntando quem vou ter que matar para que o dinossauro que tenho como secretaria avise quando você for invadir minha sala delicadamente.

—Kaede tem bom senso e sabe que o problema aqui não sou eu. – Sesshoumaru aproximou-se da mesa e pegou os contratos ali espalhados. – Tenho que te dizer mais uma vez o quanto sua aparência esta deprimente?

—Obrigado!

—Você não tem mais idade para ficar indo a festinhas no meio da semana, Inuyasha. Você tem uma responsabilidade comigo e com nosso pai. – Ignorou o olhar irritado do irmão e o analisou mais uma vez. – Não faça com que eu te trate feito criança.

—Va para o inferno, Sesshoumaru. Já tem os malditos contratos!

—Você pode dizer o que quiser, mas sabe que estou certo. Sou seu irmão e não quero que você acabe com sua vida...Muito menos que isso reflita na vida das pessoas que insistem em permanecer a sua volta.

—Não me lembro de ter pedido pra ninguém...

—Não tenho tempo para suas lamúrias. – Dirigiu-se até a porta, ignorando qualquer argumento que Inuyasha pudesse formular. Parou ao abrir a porta. – Alias, Rin vai fazer um jantar hoje. Esteja as 22h na minha casa.

—Não me lembro ter dito que iria.

—Você anda muito esquecido – Deu um meio sorriso pelos segundos que Inuyasha precisou para formular uma resposta - Se você não estiver as 22h naquela mesa de jantar... – Deu mais uma olhada para o irmão e finalmente saiu da sala.

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— Casar?! C-A-S-A-R?

—Isso Kagome, mostre-me como isso é inacreditável. – Sango revirou os olhos e gargalhou pelo olhar chocado que Kagome sustentava. – Ele me pediu ontem a noite quando voltamos para casa.

—Mas...Mas...Oh céus! – Kagome contornou a pequena mesa para abraçar Sango. Não acreditava que sua amiga de infancia iria se casar! – Eu quase não te odeio mais por ter me largado com Inuyasha!

—Ah, por favor, você adorou! – Riu quando Kagome estapeou seu braço de leve e levantou uma sobrancelha quando a amiga não devolveu a provocação. – Meu Deus você adorou! Eu sabia!

— Não é nada disso! Você me deixou em uma situação delicada. – tomou novamente seu lugar na mesa e a encarou com irritação. – Sabe que não quero mais me envolver com Inuyasha. Acabou! Quantas vezes vou ter que dizer isso?

—Você parecia tão bem hoje de manhã que eu achei que as coisas tinham dado certo, Kagome!

—Eu estava indo trabalhar! O Inuyasha não paga minhas contas, sabia? Sem contar que eu não posso parar minha vida por causa dele!

—Acalme-se – Sango levantou as mãos em sinal de rendimento e encarou Kagome com preocupação. – Eu sei que você não é do tipo de mulher que fica chorando, escorregando até o chão em uma porta fechada enquanto escuta “hello” da Adele.

—Você foi bem especifica agora – Kagome começou a rir alto quando Sango ficou visivelmente irritada. – Mas sim, eu não sou esse tipo de pessoa. É claro que foi e é difícil pra mim. – Encarou a mesa, pegando o guardanapo mais próximo e o rasgando em pequenos pedacinhos. – Cada dia que passa fica mais difícil. Eu revivo nossos momentos o tempo inteiro. – Suspirou, o cansaço estampado em seu rosto.

—Então volte pra ele!

—Disse a mulher que quase o espancou quando ficou sabendo o que ele fez.

—Eu não faço parte do fã clube do Inuyasha depois do que aconteceu, concordo. – Sango deu um tapa leve na mão de Kagome, tomando-a para si e a apertando. – Mas se a sua felicidade está com ele...

—Minha felicidade não depende de outra pessoa! – Apertou levemente a mão de Sango antes de se esticar na cadeira.  – Inuyasha vai ter um filho.

—Você não sabe se é mesmo dele!

—Sango eu os peguei na cama!

—Você pegou duas pessoas em uma cama, estando uma delas em um sono estranhíssimo! Não passou pela sua cabeça que poderia ser armação daquela psicopata?

—Ah e a barriga dela crescendo é armação também?

—Ela pode ter comido mais do que o indicado e...- Parou de falar antes que as coisas se tornassem piores. – Vamos mudar de assunto.

—Vamos! Você ainda tem que me contar detalhadamente como foi o pedido de casamento – Kagome sorriu, mostrando uma covinha, o que fez Sango relaxar.

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—Você o que?!

—Eu o fiz! Fiz o pedido! – O rapaz parecia incrivelmente animado enquanto encarava os outros dois amigos. Parou de sorrir quando o choque permaneceu no rosto de ambos. – Qual é o problema?

—Eu não acredito que Sango perdeu completamente o Juízo – Sesshoumaru disse virando-se para Inuyasha

—Eu mal posso acreditar também! Será que ela esta doente? – Inuyasha também voltou-se para o irmão, ambos ignorando a presença de Miroku.

—Eu conheço um bom psiquiatra!

—Então essa é a hora para indica-lo! Vamos mandar uma mensagem com o numero dele!

—Nossa vocês são tão engraçados. – Miroku cruzou os braços e revirou os olhos, sendo acompanhado pelo riso dos amigos.

—Fico feliz que você tenha conseguido – Sesshoumaru levantou e deu um leve tapinhas nas costas de Miroku. – Tem muita sorte de ter encontrado Sango!

—Quem não teve sorte foi ela! – Inuyasha riu quando Miroku o xingou – Fico feliz por você, cara!

Miroku sorriu e respirou fundo. Mal acreditava que logo estaria casando com a garota de quem tinha apanhado tanto e demorado uma eternidade para conquistar. Ele, Sango e Kagome tinham estudado juntos e desde aquela época ele não tinha conseguido tirar os olhos de Sango.

Quando Sesshoumaru deixou a sala, Miroku voltou a sentar-se em frente à mesa de Inuyasha, fazendo com que este o encarasse interrogativo.

—Sango quer Kagome como madrinha.

—E...?

—E eu te quero como padrinho. – Inuyasha surpreendeu-se e precisou de uns segundos para realmente assimilar o que estava sendo dito. Miroku e ele eram amigos mesmo antes dele ter sido transferido para o mesmo colégio das garotas, mas não esperava tal ato. – Esperamos que isso não seja um problema para vocês dois.

—Somos adultos, Miroku. Vai ficar tudo bem. – Sorriu para o amigo. – Obrigado!

—É claro que você seria meu padrinho! Sesshy e Rin serão os padrinhos do primeiro filho. Sabe como é, né? Sesshy é um cara ciumento... – Riu sozinho da própria piada  - E quanto a ontem à noite? Você e Kagome...

—Incrível como falam de mim na minha ausência. – Miroku congelou na cadeira, olhando de rabo de olho para um Sesshoumaru irritado. Inuyasha sentiu-se aliviado por não ter que entrar naquele assunto novamente – Me chame por esse apelido novamente e eu não terei como ser padrinho de seu filho...Pois você não estará aqui para te-lo.

—Mas Sesshy... – Inuyasha sorriu com a cena. Poderia relaxar pelo menos por alguns minutos.