The Call escrita por Pat Black


Capítulo 6
Vai-se a primeira pomba despertada.


Notas iniciais do capítulo

Bem, demorei um pouco, por que peguei plantão duplo (favor com favor se paga) e só cheguei em casa depois das 18h.
*
O trecho que nomeia o capítulo é o início do poema "As Pombas" de Raimundo Correia.



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Sabia que não ia acontecer nada.

Eu e o Rick não íamos correr para meu apartamento, em nosso primeiro encontro, para fazer sexo como se o mundo fosse acabar. Nem sei se ia rolar um beijo, ou íamos perceber que somos apenas amigos. Mas estava tão agoniada, excitada, nervosa, e todo o resto, que me atrapalhei mais que o normal durante o serviço.

Faltavam seis horas para que nos conhecêssemos. Seis horas para dar um rosto aquele rapaz com quem vinha conversando quase todas as noites. Com quem passei horas a contar meus sonhos para o futuro. Falando sobre coisas profundas e também as maiores besteiras que pudesse pensar.

Não me importava que não fosse bonito, mas esperava de todo o coração que não tivesse a aparência de um adolescente.

Sei que ele tinha dezoito, mas tantos garotos com essa idade parecem bem mais jovens, que temia demais que isso fosse o caso de Rick. Entretanto, pelo tom de sua voz, tinha esperanças que parecesse mais velho.

Ele soava como alguém maduro.

Maggie resolveu ficar comigo a esperá-lo e convidou o Glenn para me dar apoio também, já que ela sabia tudo o que tive coragem de contar sobre o Rick.

— Vamos nos sentar à mesa ao lado. — Ela me disse, e percebi que estava um pouco preocupada. — Se eu perceber que ele é perigoso, nos aproximamos e levamos você daqui.

— Ele não é perigoso.

— Como vai saber? Vocês só conversaram por telefone. Vai que ele é desses psicopatas com carinha de anjo?

O Rick não era.

Sei que muitos malucos fazem esse tipo de coisa pela internet. Enganam garotas e coisas ruins acontecem. Mas o Rick não era desses. Eu podia estar errada, claro. Mas confiava que não.

Desde que combinamos de nos ver não tínhamos conversado. Acho que estava guardando todas as novidades para nosso encontro essa noite. Não que precisássemos de assunto, isso nunca foi um problema, sempre tinha o que dizer a Rick, e ele a mim, mas queria manter a expectativa.

Como nos encontraríamos depois do meu expediente, resolvi levar uma muda de roupa para trocar no vestiário. Nada demais. Apenas uma calça e blusa limpas, assim como roupa íntima. O lugar tinha um chuveiro e resolvi tomar um banho rápido.

Evitei usar maquiagem, só um pouco de batom. Soltei o cabelo, depois o prendi novamente. Desisti e o deixei solto. Olhei minha imagem no espelho e achei que ficou legal. Estava bem, mas não arrumada demais. Queria que ele gostasse de mim, e resolvi me apresentar o mais natural possível para que isso acontecesse.

Terminei o turno e fiquei feliz que nosso gerente tenha saído mais cedo. Ele era um chato e não queria que estivesse ali para azedar meu encontro com o Rick.

Da próxima vez escolheria outra cafeteria, lanchonete, ou mesmo um cinema. Pensei

Sim, eu acreditava que haveria uma próxima vez. Tinha certeza que Rick não me decepcionaria.

Sentei à minha mesa e fiquei de olho na entrada, atenta a qualquer rapaz de muletas. Conversei com Maggie durante um tempo, mas depois ela se concentrou no Glenn e fiquei a torcer minhas mãos a esperar.

O tempo é relativo. Isso nunca foi tão verdadeiro, para mim, quanto nessa noite.

Olhei o relógio e já passava das sete horas. Como Rick estava com problemas para se locomover, não me importei que não fosse pontual. Todavia, logo passaram quinze minutos, trinta, e quando me dei conta meu relógio marcava oito horas.

No primeiro momento fiquei preocupada. Olhei para Maggie e ela me encarava com um pouco de pena. Não liguei. Muitas coisas podiam ter acontecido para que ele atrasasse tanto. Mas quando deu oito e meia, e depois nove, fiquei sem saber se me desesperava ou sentia raiva do Rick.

Olhei pela janela, buscando entre as pessoas que passavam alguém jovem e de muletas, mas não via ninguém com a descrição dele.

Quinze minutos depois Maggie sentou à minha frente e ajeitou o cabelo, pigarreou e me encarou envergonhada.

— Lane, tem certeza que ele entendeu o endereço? Talvez tenha anotado algo errado.

— Não. Confirmamos duas vezes.

— São mais de duas horas de atraso, por que não liga? Talvez tenha acontecido algum imprevisto.

Tentei sua casa, zangada por ele não ter celular, mas a ligação não completava. Suspirei revoltada, por que isso sempre acontecia com o fixo dele.

— Vou esperar um pouco mais. — Falei e Maggie me deu um olhar consternando. — Deveria ir para casa...

— Não. Ficamos com você o quanto for preciso.

Evitei fitar Maggie, mantive os olhos no movimento da calçada, não queria que ela percebesse que eu estava a ponto de chorar.

Pode parecer loucura, mas me senti mais magoada com aquele bolo que ele me dava do que com qualquer uma das vezes que um namorado foi um babaca comigo.

Para mim Rick era alguém especial. Imaginar que ele não me encarava da mesma maneira, me fez sofrer demais.

Aguardei até as dez. A Cafeteria fechava às dez e meia, mas não queria estar ali quando acontecesse. Apesar de zangada, ainda sentia um tanto de preocupação, por isso deixei uma mensagem no caixa, caso Rick aparecesse.

Glenn nos levou para casa e corri direto para o quarto.

Mantive o celular à mão, a espera que ele me ligasse, mas isso não aconteceu.

Não conseguia sossegar.

A cada minuto que passava minha raiva se esvaía e achava mesmo que algo de ruim tinha acontecido com ele.

Dez para meia noite eu resolvi que deveria ligar para a casa dele. Talvez os pais, ou o irmão, poderiam me dar notícias, caso ele tenha se acidentado novamente.

Dessa vez o telefone chamou. Uma, duas, três vezes, mas ele não atendeu.

Desliguei e tentei novamente quinze minutos depois.

Alô? — Ouvi a voz de um garoto e parecia a mesma da primeira vez que conversei com Rick.

— Olá. Meu nome é Lane, eu poderia falar com o Rick?

O Rick saiu e ainda não voltou.

— Você é o irmão dele?

Sou. Jeff, o Grimes mais bonito. — O garoto soltou cheio de si.

Ele era humorado, e levemente engraçado, mas eu não estava no clima para brincadeiras naquele momento.

— Poderia pedir que Rick ligue para mim quando chegar?

Posso sim.

— Obrigada.

Tudo por uma garota com a voz tão bonita. — Ele disse e suspirei tentando conter as lágrimas, por que Rick sempre me dizia algo parecido.

Desliguei, após agradecer novamente, e fiquei esperando que Rick ligasse para mim, o que só aconteceu meia hora depois.

Lane.

— Rick.

Ficamos em silêncio. Dessa vez um pesado e cheio de estranheza. Eu estava séria, mas o tom dele era de algo que eu nunca tinha escutado em nenhuma de nossas conversas.

Por que, Lane? — Rick perguntou e soou baixo.

Dessa vez não podia me enganar, ele estava decepcionado.

— Eu pergunto o mesmo. Por quê? Por que você não apareceu?

Eu não apareci? — Ele parecia surpreso.

— Sim, Rick. Eu te esperei por três horas e você não apareceu.

Lane, ou você está brincando comigo, ou me deu o endereço errado.

Eu tinha certeza de que não tinha feito isso.

Ele recitou o endereço e estava correto.

— É esse mesmo. — Falei, andando de um lado para o outro no quarto, sentindo vontade de chorar novamente.

Esse lugar está abandonado Lane.

— O quê?

Eu fiquei mesmo que doido procurando pela Cafeteria, mas nesse endereço só existem algumas loja fechadas.

— Você deve ter ido ao local errado.

Lane, fui exatamente ao lugar que você indicou. Até mesmo perguntei na loja de conveniências que fica em frente se o endereço estava correto, se era ali mesmo.

— Sim, conheço, pertence ao Sr. Donaldson.

Um senhor com uma mão protética?

— Esse mesmo. Fica bem em frente ao Café.

Não, não fica. Por que não há nenhum Café nesse endereço, Lane. — Rick disse e dessa vez senti que ele estava zangado, como se não pudesse acreditar que eu estivesse dizendo a verdade.

— Rick...

Isso tudo... Nossas conversas... — Ele pareceu engolir em seco. — Foi algum tipo de piada?

— Eu poderia perguntar o mesmo. — Disse zangada também.

Lane, eu adoro você, conversar com você, ouvir sua voz, te contar meu dia e ouvir sobre o seu. — Ele disse rápido. — Mal pude me segurar para não te procurar antes dessa noite. Nunca te enganei, ou brinquei com você. Mas se não queria se encontrar comigo, bastava dizer, não precisava mentir.

— Não estou mentindo. 

Então me explica o que está acontecendo. Por que não há nenhum Café, lanchonete, ou nada do tipo, no endereço que me deu.

— Não entendo...

Nem eu.

Ficamos calados e senti uma agonia imensa, um aperto em meu coração.

Rick não estava mentindo. Eu podia sentir que não estava. Então, que porra estava acontecendo?

Resolvi arriscar de vez.

Podia vir a minha casa. Não hoje, está tarde, mas amanhã cedo. O que acha?

Ele parecia considerar. Parecia imaginar se eu falaria a verdade dessa vez, ou daria um endereço errado novamente. Coisa que não fiz e nunca faria com ele.

— Ok.

Suspirei aliviada.

Assim que nos encontrássemos na manhã seguinte, resolveríamos aquele mal entendido.

— Candler Park, 111, apartamento 4B. — Passei-lhe meu endereço e sorri de leve, enxugando uma lágrima solitária.

Rick ficou em silêncio.

— Anotou o endereço? — Perguntei achando estranho ele tão calado.

Não. — Ele soltou de maneira estranha.

— Por quê? 

Por quê? Lane, por que esse é exatamente o meu endereço.


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Notas finais do capítulo

Não sei se alguém percebeu as pistas ao longo da história do que está acontecendo, do por que eles não se encontraram, espero que sim. Uma delas está nos banners dos capítulos.



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