Eu, Virtuoso escrita por MaurraseC


Capítulo 4
Quarto disparo - Violência e beleza


Notas iniciais do capítulo

khada Jhin é um campeão que tive interesse desde o dia que assisti o trailer "Deadeye".
Sua psicopatia e visões únicas sobre morte me trouxeram fascínio e curiosidade.
Essa é uma homenagem que faço para esse campeão.

Espero que goste.

"Aos seus lugares... Vamos começar o espetáculo".



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Era outro dia fazendo relatórios diários sobre as atividades exercidas. Pilhas de papéis entediantes e quase intermináveis, seus olhos não escondiam a má vontade de estar sentada há horas, sendo que podia tá correndo e socando alguém nesse tempo. Em verdade, sua vida não era atrás de uma mesa, era nas ruas socando a cara de qualquer um que violasse as leis.

Aquela maldita Caytlin, obrigando-a a ficar no escritório enquanto ela estava lá fora ganhando todo o crédito e se divertindo caçando criminosos. Qual é? Tudo isso só porque destruí duas lojas e quebrei várias paredes, não tenho culpa se o cara não parava de correr! Já posso imaginar a Caitlyn nos holofotes:

Aahh... Olha pra mim, eu estou cuidado do caso — falou debochando, com caretas e gestos.

Depois de horas e, finalmente, terminar o relatório, Vi espreguiçou seus braços, sentindo o músculo tremer de forma relaxante. As manoplas gigantes, ainda que desenvolvidas para quebrar os ossos de suas vítimas e paredes, também lesionava seus músculos braçais, lhe trazendo desconforto quando seus membros não estavam em movimento. Por isso que surrar as pessoas lhe era agradável, ajudava a mexer os músculos... Bem, e também porquê ela gostava de bater nas pessoas.

Agora que tudo acabou, ela podia voltar para casa; preparar um banho relaxante, tomar alguma bebida forte e dormir, retirar essas manoplas e ter um merecido descanso. Já completou alguns anos desde que Vi adotou as manoplas hextec, uma junção de tecnologia e magia. Desde então ela decidiu se juntar com a força policial e combater o crime, limpando as ruas de Piltover e esmurrar alguns idiotas em nome da lei. Outro motivo para essa se tornar uma policial foi certa garotinha, irritante, de cabelos azuis, mas isso é outra história.

Vi deu um forte bocejo e levantou-se da cadeira, espreguiçou-se novamente, dessa vez com mais vontade, sentindo os músculos das pernas relaxarem. Rebolando até a saída, acenou para um colega de trabalho que iria virar a noite com relatórios também. Quando estava para sair, a porta abre repentinamente.

Uma mulher, relativamente baixa, de cabelos lisos, negros, caindo nas costas. Seu vestido roxo com cintas de couro para segurar melhor, e não deixar o vento pregar alguma gracinha. Ela também usava botas marrons, que iam até o joelho. Em sua mão, seu inseparável rifle que ela se orgulhava em ostentar durante as missões. Mas o que mais lhe chamava atenção era seu chapéu enorme, tão alto quanto sua cabeça. É sério, era normal tirar sarro disso, porém dessa vez ela tinha uma expressão diferente no rosto, era séria e fechada, acho que zuar ela não seria uma boa ideia. Até porquê neh, ela é a xerife, minha chefia “querida”.

Minha surpresa maior veio com a pessoa que vinha logo atrás de Caitlyn, um homem alto, pinta de galã, num corpo robusto e um olhar sedutor. O herói de Piltover, Jayce. E se ele está aqui, alguma coisa vai acontecer. E quer saber? Eu tô fora. Quero ir para casa e descansar um pouco:

— Aonde pensa que vai? — perguntou Caitlyn, levantando a aba do chápeu.

— Eu não sei o que houve, mas estou dando o fora.

— Dessa vez não.

— Ah qual é? Eu fiz meus relatórios como pedido, preciso descansar, sabe?

— Vamos precisar de sua ajuda, Vi — falou Jayce com aquele tom galanteador.

— Chapéu, não consegue fazer sozinha? — chamar a xerife podia lhe custar o emprego, assim ela seria demitida e ira para casa.

— Você não leu os jornais, certo? — perguntou a xerife, cerrando os olhos. E ignorando a piadinha.

— Li... Algum dia devo ter lido, e daí?

— Claro — Caitlyn revirou os olhos. — Dessa vez é sério.

— Sempre é — ela murmurou.

— Não estou brincando, Vi — seu tom era sério. O que fez a garota estranhar e se questionar, o que seria de tão grave a ponto de deixar a xerife, inabalável, daquele jeito?

— Tá legal — percebeu que resistir não ia adiantar —, quem é o maluco dessa vez?

— Um dos grandes — disse Caitlyn guiando-os ao seu escritório.

O escritório da xerife era uma exposição de medalhas e condecorações. “A melhor xerife de Piltover”, Vi tinha vontade de vomitar na cara de Caitlyn, toda hora que lia aqueles certificados. Também havia troféus de tiro ao alvo, campeã de headshot e caçadas na floresta. Vi sentou-se na cadeira e começou a brincar com o cabelo rosa, que pendia para os olhos. Jayce ficou na cadeira ao lado, seu martelo gigante estava encostado na parede. Caitlyn ia para sua poltrona acolchoada, onde era confortável tirar um cochilo. Vi sabia o quanto era bom um cochilo naquela poltrona.

— Quem é o figura dessa vez? — perguntou Vi, um pouco irritada por ter que fazer hora extra.

— Não sabemos — respondeu Caitlyn. — Por isso que a situação está complicada.

— Vai do começo, chapéu. Assim eu entendo melhor.

— Sona, a mestra das cordas e Garen, o poder de Demacia, foram encontrados assassinados em Demacia — explicou Jayce.

— Tá legal. E temos que pegar o culpado — Vi disse o óbvio.

— A questão é essa — continuou Jayce. — Não sabemos quem é, de onde veio e por que fez isso...

— Não sabem de nada. Eu ouvi mais cedo.

— Investigadores, mercenários e caçadores estão sendo chamados de toda Valoran para caçar esse assassino. O mundo parou depois desse acontecimento.

— Eles são tão importantes assim? — Vi começava a se interessa pelo caso.

— Eram dois campões da Liga — respondeu Jayce. — Tem certeza que você não os conhecia? Todos os conhecem.

— Me desculpa, eu estou muito ocupada correndo atrás de bandidos... Fazendo relatórios.

— E quebrando paredes também — acrescentou Caitlyn, disfarçando o comentário olhando para as unhas. — Enfim, fomos requisitados para capturar esse psicopata.

— Legal e quando começamos? Tô louca para esmurrar alguém.

— Então... — Caitlyn coçava a cabeça, preocupada. — Iremos nos separar, e isso me preocupa... Muito.

— Principalmente com a situação que nos encontramos — acrescentou Jayce. — Não podemos ser... agressivos demais.

— Claro, situação complicada, entendi.

— Isso é sério, Vi — Caitlyn estava visivelmente preocupada quanto a Vi; não sobre sua segurança, mas dos civis e, também não queria ter que escrever um pedido de desculpas por destruição de patrimônio público ou privado.

— Sem problemas, docinho. Eu resolvo o caso. Então, vamos para Demacia?

— Então... não.

— Que?

— Eu tenho alguns informantes por Valoran — dizia Jayce. — E eu soube de um outro assassinato em outra nação, Ionia.

— Um serial killer, ótimo... temos um maníaco a solta — Vi conhecia uma garota maníaca por armas, então qualquer maníaco lembrava essa pessoa, o que lhe tirava todo o humor.

— Já ouviu falar de Zed, o líder da ordem das sombras?

— Esse não parece ser uma boa pessoa.

— Ele foi encontrado morto na praça principal em Ionia. O modus operandi foi o mesmo, projétil mágico.

— Você irá para Ionia — falava a xerife —, investigar esse assassinato e...

— Perae, por que não posso ir para Demacia?

— Sobre isso — Caitlyn olhou rápido para Jeyce, mas ele desviou o olhar, o que deixou ela irritada —, Demacia está passando por um momento... difícil.

— E daí? — Vi levantou uma sobrancelha, esperando uma resposta mais satisfatória.

— Estamos entre adultos aqui — a xerife se rendia em limitar as informações. — Pelo ocorrido em Demacia, eles estão furiosos e pior, pensam que foi um ataque de Noxus. Sabe o que isso significa, certo?

— Guerra — Vi se ajeitava na cadeira, o rumo da conversa tomava um ar sombrio.

— Demacia está disposta a percorrer cada pedaço de terra para encontrar o assassino — continuou. — Noxus já está se preparando para uma retaliação, caso sejam atacados.

— Então, a paz de Valoran depende de nós encontrarmos esse assassino o mais rápido possível.

— Não podemos cometer falhas — disse Jayce. — Eu e Caitlyn iremos para Demacia, e você irá para Ionia.

Vi já enfrentou muitos criminosos que ameaçaram a paz de Piltover, assaltos em banco, prefeituras, destruição de laboratórios bioquímicos e tráficos que até Deus duvidaria. Contudo nada era comparada com uma, provável, guerra mundial. Querendo ou não, era um pressão demais para ser carregada, não apenas Vi, mas Jayce e Caitlyn podiam sentir a mesma apreensão.

— Vi — chamou-lhe Caitlyn, logo após o fim da reunião. Jayce já havia ido embora.

— O que foi, cupcake?

— Eu... É que...

— Relaxa docinho — deu um peteleco na testa dela, porém as manoplas metálicas forçaram demais do pescoço da xerife. — Eu vou deixar uma marca neles. Eles nem vão saber o que lhes atingiu.

— Tome cuidado — Caitlyn coçava a testa, que estava vermelha.

— Não se preocupe, eu vou chutar a bunda deles... ops, quero dizer dar um soco.

Caitlyn sorriu, o que deixou Vi mais aliviada. Ela estava muito tensa, seus ombros duros e algumas marcas de rugas apareciam na sua face. As duas demoraram a se tornarem amigas, andavam por lados diferentes. Caitlyn desde cedo seguiu o lado da lei, mostrou suas habilidades e se tornou uma franco-atiradora pródiga. Enquanto Vi teve que aprender sobre a vida da maneira mais difícil, conhecendo o lado escuro das ruas muito cedo e sobrevivendo da maneira possível.

Chegando em casa, Vi jogou seus coturnos no chão, pôs as manoplas sobre a mesa e retirou parte de sua roupa, podendo sentir o alívio dos músculos. Seu corpo estava fatigado, sonolenta e faminta, tudo de uma vez estava acabando com ela. Mas tudo o que conseguiu fazer foi sentar na poltrona e soltar um profundo suspiro. Vi sentia um grande peso em suas mãos, algo mais pesado que as manoplas... uma sensação que há muito não sentia, responsabilidade.

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Meu braço doí... Meus olhos doem... Minha cabeça... Meu corpo inteiro doí.

Demoro alguns segundos para despertar por completo, ainda me sinto sonolento, cansado. Respirar doí, me mexer doí... A luz que bate em meus olhos doí. Uma pequena brecha de luz iluminando o teto escuro. Tento me mover novamente, meu corpo não responde. Sinto que estou deitado numa cama não tão macia.

— Vejo... Acordou... Você... Bem? — até o som doí, não consigo ouvir direito. Deve está falando comigo. Tento erguer meu corpo, mas sinto uma pressão no meu peito. — Opa, espere... Não... Levante.

Bem, isso eu entendi. Não tenho outra opção além de seguir o conselho. Aos poucos meus sentidos retornam. Primeiro o olfato, sinto um cheiro terrível de ferrugem e graxa, algo como mofo também. Devo estar num lugar velho. Aos poucos minha audição volta ao normal, começo a ouvir as vozes de pessoas, devo estar próximo de uma rua. Também sinto que minha boca está seca, garganta doí. Meus olhos já não doem mais, estou enxergando como antes. Por fim, aos poucos eu ia me movendo. Lentamente movi os dedos dos meus pés, girei minhas pernas com certa dificuldade. Movi os dedos das minhas mãos, espere... Tem algo estranho. Meu braço esquerdo! Não sinto meu braço esquerdo!

Me levanto, ignorando as dores, desesperado. Eu não via... Não estava lá! Meu braço... Onde estava meu braço?! Droga! O que fizeram comigo?! Sinto minha respiração bufante, meus batimentos cardíacos acelerarem... Meu estômago doí. Onde estou?!

— Calma aí — ouvi a mesma voz de antes. Um homem vestido num jaleco marrom se aproximava com uma seringa na mão. — Isso vai te acalmar.

O que é isso? Eu quis perguntar, mas minha voz falhava. Alguns, poucos, segundos depois senti uma forte sonolência, por mais que eu tentasse manter a consciência, meu corpo parecia não responder. Anestesia? Me dopou, desgraçado. Não adianta, meus olhos começam a fechar.. Silêncio.

Abro meus olhos. Onde estou? Está tudo escuro, mas não é minha visão. Falar em visão, meu corpo já não doí mais. Me sinto mais leve, meus músculos não estão mais pesados como antes. Me levanto, ficando sentado na cama. Observando ao redor, aparenta ser uma sala ou talvez um laboratório. Havia várias peças robóticas penduradas no teto, jogadas ao chão e sobre a mesa. Livros em todos os lugares que eu olhasse, papéis rabiscados jogados para todos os lados e outros rabiscos nas paredes.

— Está mais calmo, agora? — a voz do homem era grossa, vibrante. Ainda usava o jaleco marrom de antes, talvez nem tirasse aquilo.

— Onde estou? — obviamente, era a primeira coisa que eu queria saber.

— Você está em Zaun.

— Zaun? O que estou fazendo em Zaun?

— Não sei, diga-me você. Se lembra de algo?

— Não. Eu não me lembro de nada. Como cheguei aqui?

— Um homem ioniano num barco lhe trouxe até aqui — o homem levantou-se e saiu da sala, mas antes disso apontou para o criado mudo ao meu lado. Havia uma carta. — Ele mandou te entregar isso, não se preocupe, eu não li — e saiu da sala.

Ergui minhas mãos para recolher a carta. Percebi que havia algo com meu braço esquerdo, ele se mexia com dificuldades. Como se estivesse atrofiado, não... espere! Enferrujado? Meu braço esquerdo não era meu braço. Não meu braço natural, era um braço metálico. Fiquei fascinado com o designer criado, bem polido, com um desenho suave entalhado, muito semelhante a minha máscara. Quem quer que tenha feito isso, aquele homem deve saber. Quando ele voltar, irei perguntar. Agora minha atenção está voltada para a carta.

 A fronte da carta tinha minhas iniciais, de padrão, “K.J”. No verso, nenhum remetente. Abri a carta, rasgando a parte superior na horizontal:

“Graças aos seus feitos, a nação de ionia poderá respirar aliviada. Seus feitos mudaram o destino de nossa Ionia. Por enquanto seus serviços estão dispensados, iremos lhe convocar quando preciso. Descanse, você merece”.

“Descanse, você merece”, como se eu tivesse escolha. Tem algo mais ali. Sobre a mesa, havia um jornal dobrado. “Desastre em Demacia, possível guerra mundial?” era a manchete principal. “Demacia”, isso me lembra algo. Deixe-me ler mais:

“Desastre na capital demaciana, após assassinato de Garen Crownguard e Sona Buvelle, governo de Demacia promete caçar assassino e fazer justiça, mesmo que tenham que iniciar uma guerra”.

“Garen” e “Sona”, lembro-me desses nomes. Eu performei eles. Espere, é isso! Me lembro de tudo, Garen quem me deixou desse jeito. E foi ele quem decepou meu braço, como pude esquecer disso? Foi um espetáculo de matar. Ainda posso me lembrar da sensação... Divina.

Após performar Garen, eu deveria procurar um barco no porto demaciano e voltar para Ionia, mas desmaiei logo após o confronto. Isso me leva a perguntar, quem me levou até o barco? Obviamente, não tenho como saber, talvez devesse descobrir. Enfim, agora estou em Zaun e tenho que voltar para Ionia. Mas como vou fazer isso?

— Desculpe a demora — disse a voz de antes. — Café?

Ofereu-me, apenas aceitei. Algo quente iria me ajudar a ficar mais desperto. A pouca luz que tinha na sala, vinda de lâmpadas fracas, mostrava apenas sombras e parte do rosto do meu salvador. Ele usava uma máscara também, assim como eu. Falar em máscara... Onde está minha sussurro?!

— Está procurando sua arma? — perguntou o homem, sereno. —  Eu peguei, não sei se posso confiar e devolver, não enquanto eu não souber os detalhes.

— O que quer saber? — eu tinha que jogar o jogo dele.

— Serei direto, foi você? — ele apontou para o jornal do meu lado. Fiquei em silêncio. — Não se preocupe, não irei lhe denunciar. Na verdade, isso me faz pensar se você estaria disponível para um serviço.

— Continue — a conversa me interessava.

— Existe um homem em Piltover, que não me agrada muito, se é que me entende. Oh, mas não quero que o mate, ele é meu. Porém ele uma vez me tirou tudo, quero que o tire tudo também.

— Vingança clássica — conclui.

— Existe uma xerife que é um pé no saco ­— ele continuou. — Essa pode ser acertada depois, seu serviço será a ajudante dela. Seu nome é Vi, então aceita?

— Bem, eu te devo uma. Só preciso eliminar essa tal de Vi, certo?

— Apenas isso.

— Muito bem, considere feito. Irei lhe dar uma ópera de morte.

— Ótimo — ele disse num tom confiante. Debaixo da minha cama, o homem retira uma maleta prata. Ao abri-la, lá estavam, minha mascara e sussurro. — Aqui, pegue. Acho que é seu.

— Minha sussurro — o encaixe permanecia perfeito na minha mão. — E por onde começo?

— Aqui é Zaun — ele explicava. — Logo acima encontrará Piltover, comece por lá. E sobre o braço mecânico, leve. Será um presente meu.

— É ótimo estar nos palcos mais uma vez, mal posso esperar para minha próxima apresentação.

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Vi desembarcava na capital ioniana, Placidium. Cidade referência para estudantes espirituais e energia astral. Um local tranquilo e cheio de passividade, o ar era puro, diferente de Piltover ou Zaun, onde a poluição era aspirada constantemente.

Lá vou eu salvar o dia ou acabar com ele — disse Vi, tirando o pirulito da boca e recolhendo sua mochila. Rebolando pelas ruas de Ionia, chamava a atenção de todos. — Tá legal, por onde começo? Pera aí, eu nunca estive aqui antes. Onde é que eu estou?

Vindo de uma nação onde o submundo tinha grande presença, Vi foi a procura do submundo de Ionia. Mas tudo que via era rochas, pessoas fofas, mais coisas fofas como fadas e yordles, brilho, muito brilho, e mais rochas. Aos poucos ela ia se convencendo que não havia malícias naquela região.

Vendo que não tinha opções, Vi ficou escondida numa ruela, esperando o momento oportuno para agir. E não demorou muito para a oportunidade vim a tona. Um ingênuo morador de Ionia passava pela rua, carregando um saco de compras, quando foi surpreendido por uma enorme mão lhe puxando das sombras. Ele gemeu de dor, logo após ter suas costas pressionada contra a parede.

— Vai falando, onde é que estão?

— Onde... Onde estão o que? — a voz de Vi assustava o homem. — Por favor, não me bata.

Por que eu nunca consigo uma resposta direta? É sempre “Ah não, para de me bater, aí, minha cara” — disse debochando, tática de intimidação. — Bora, vai falando tudo que sabe.

— Saber o que? Socorro...

— Opa, aí não — Vi quase sufocou o homem com suas manoplas enormes, impedindo-o de pedir ajuda. — Onde fica o submundo de Ionia?

— Sub o que? Me solta, sua louca.

— Você não sabe de nada mesmo?

— Saber de que?

— Ah droga — ela percebia a idiotice que havia feito. — Foi mal aí, desculpa — Vi o libertava. Ele corria pelas ruas gritando, chamando-a de louca. — Aí, já pedi desculpas! Droga, acho que aqui não é o local correto.

Vi, rapidamente, pegou sua mochila e foi para o outro lado da cidade, onde a paisagem não mudava muito. Mal tinha chegado a cidade e já havia se metido numa confusão. Seus problemas só aumentavam, por causa do seu visual punk, todos tinham medo dela. Ou talvez fossem as manoplas hextec em seus punhos, assustando os olhos curiosos. Ela não conseguia se aproximar de ninguém, e mais ninguém queria se aproximar dela.

Escondido na escuridão, Vi avistou um vulto lhe observando. Percebendo que havia sido encontrado, o vulto escondeu-se. Ela abriu um sorriso, toda nação tinha um submundo. Pondo a mochila nas costas, Vi começou uma caçada contra seu observador. Porém ao chegar no local, não havia mais vestígios dele.

Droga! Ela resmungou. De repente, sentiu um mau pressentimento. Seu rápido reflexo, adquirido com o tempo nas ruas, lhe fez levantar as mãos, bem a tempo de aparar pequenas shurikens.

— Isso que são shurikens? Que fofinho, tão pequenininho.

— O que falou de mim? — uma voz misteriosa vinha da escuridão. ­— Eu não sou pequeno!

— Quem tá falando? — Vi procurava o dono da voz com a visão.

— O vento — respondeu sereno.

— Que?

Eu sou o vento.

— Que brincadeira é essa, hein? De onde você está falando?

Das sombras.

— Ah não, você não ficar brincando comigo desse jeito. — Vi ficou em posição de luta, suas manoplas começavam a brilhar, prontas para acertar alguém — Vou esmurrar tua cara, seu otário!

Por Ionia — gritou o ninja, saindo da escuridão. Ele soltava duas shurikens contra Vi, que facilmente se defendeu. Os dois ficaram se encarando.

— Qual é? — Vi analisava o ninja, ou o que era aquilo? Seu traje era roxo, cobrindo todo o corpo. Poderia ser ameaçador, se não fosse tão pequeno. Talvez chegasse à altura da cintura de Vi, ou nem isso. Os olhos do ninja eram focados, mas não tinha como ter medo de uma coisinha daquelas. — Podemos fazer isso da maneira difícil ou... Ah não pera aí, só existe a maneira difícil.

— Não tenho medo de você — a voz do ninja era engraçada para Vi. — Alvos grandes são os melhores, tem mais espaço para acertar, principalmente nas costas.

— Ei! Nem é tão grande assim... Ou é?

Aproveitando o momento desatento da garota, o ninja lançou uma rápida shuriken trovejante, mas Vi rebateu com um soco. Uma segunda shuriken que ela defendeu facilmente, isso já estava irritando-a.

Vamos quebrar tudo — ela disse, dando um impulso com a perna direita e avançando com toda força. Porém com muita agilidade, o ninja deu um rolamento para a lateral. O soco de Vi atingiu uma parede, demolindo-a.

Usando suas habilidades, o ninja assumiu a forma de um relâmpago, ficando inalvejavel. Vi tentava acertá-lo em vão. Ela sentia uma corrente elétrica percorrer seu corpo, estava sendo eletrocutada aos poucos. Percebendo os choques que recebia do seu inimigo, tentou recuar para fora do alcance relâmpago do ninja, porém ela não conseguia se mover, está paralisada.

Sua vida está chegando ao fim — disse o ninja, voltando para sua forma normal. Repentinamente uma tempestade surgira no céu, bem acima de onde estavam. Vi só teve tempo para pôr as manoplas sobre a cabeça. Uma chuva de raios lhe alvejava, durando três segundos. O chão onde estavam teve grandes rachaduras e buracos, decorrentes aos raios. — Uma morte silenciosa — o ninja estava orgulhoso de ter derrotado a inimiga... ou pensou ter feito isso.

Se você bater num muro, bata com força — As manoplas de Vi brilhavam intensamente. Ela mostrava um sorriso malicioso enquanto baixava os braços, assustando o ninja.

— Quem é você? — perguntou o ninja abalado.

— Eu sou Vi — desferiu um olhar ameaçador, ficando em posição de luta.

— Vi?

— Sim... Vi, é de Vingativa — dito isso, ela avançou o arremessando para o ar, em seguida deu um salto e se preparando para golpear o ninja contra o chão, uma nova presença surgia salvando seu companheiro, antes de ele ser golpeado no ar.

Quando Vi aterrissou, avistou outra ninja ruma roupa cor verde, cabelos negros e pele morena. Sua altura não era baixa e suas pequenas mãos seguravam firmes as kamas gêmeas, muito similares a foices, só que com os cabos menores. Até que era bonitinha, pensou. Mas os olhos ameaçadores dela, diziam para não subestimá-la.

— Akali — disse o ninja ainda norteado.

— Estou aqui, vai ficar tudo bem, Kennen — ela disse, deitando-o no chão. Logo depois desferiu um olhar violento para Vi, ficou em posição de luta, pronta para avançar. — Mais um oponente desprezível.

— Aí, também não precisa falar assim — Vi também ficava em posição de luta. — Bem vinda a festa, uma rodada de socos para todo mundo.

Sugiro que você corra — disse Akali. — Eu quero saborear isto.

— Vai sonhando — respondeu. — Todos os ionianos são assim amigáveis? Eu tinha que vim aqui mais vezes.

— O que quis dizer com isso? — perguntou para ganhar tempo e saber como agir.

— Esse seu amiguinho nanico aí, me atacou do nada.

— O que? Kennen, você atacou alguém sem antes investigar de novo?

— Eu...

— Acho que alguém está numa enrascada — Vi baixava os punhos, vendo que não haveria mais batalha.

— De novo, Kennen? — Akali estava visivelmente irritada. — Quantas vezes isso aconteceu?

— Mas Akali — sua voz tremeluzia —, olha pra ela... É do mau.

— Ei! O que quer dizer com isso? — Vi se aproximava. — Foi você quem me atacou primeiro.

— Você quebra o equilíbrio, estava assustando todos na cidade.

— Assustando? Vou te mostrar o que é assustar — Vi pegava Kennen pela manga do quimono roxo.

— Me desculpe — dizia Akali, com um olhar decepcionado. — Kennen é muito... elétrico, até demais.

— Relaxa, ele até que é forte — Vi mostrava um sorriso jovial. — Mas agora eu perdi tempo.

— Meu nome é Akali, e esse é Kennen, somos da ordem Kinkou, de Ionia. E você?

— Sou a detetive Vi.

— Detetive?

— Sim, a melhor de Piltover — disse confiante, finalmente ela havia dito, e não a perfeitinha da Caitlyn.

— O que a melhor detetive de Piltover está fazendo em Ionia? — perguntou  Akali.

—Estou investigando sobre a morte de Zed.

— Zed — Kennen repetiu seu nome de forma áspera. Voltando seu olhar para Vi, ele ameaçou atacar com sua shuriken trovejante. — Qual sua relação com Zed?

— Calma aí, nanico. Estou procurando seu assassino, não apenas dele, também de outro dois demacianos.

— Não me chama de nanico, você que é muito grande... De todos os lados.

— Ei!

— Ignore-o, mas se você está procurando o assassino de Zed — dizia Akali, guardando suas kamas — Significa que percorremos o mesmo caminho, irei leva-la até nosso líder.

— Okay — respondeu Vi, seguindo os dois ninjas.

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“Departamento de policia de Piltover”, sem dúvidas é aqui. E olhe, não é nada do que eu esperava, havia poucas pessoas. Alguns bêbados outros aparentavam ser criminosos comuns, nada intimidadores.

No balcão havia um guarda qualquer, ele lia o jornal matinal. Eu já podia imaginar qual a manchete, seria sobre o desastre em Demacia, pelo jeito meu trabalho voltou para as capas dos jornais. Mas o nome do “Demônio Dourado” ainda não estava no mesmo ápice, no mesmo clímax, que tinha anos atrás.

Me aproximei, sem querer chamar atenção. Obviamente, estava sem minha máscara, não quero que me reconheçam. Já imaginou se um daqueles cartazes de Demacia estivesse marcado aqui? Seria uma tragédia. Devo tomar todas as precauções possíveis.

— Com licença — digo ao guarda no balcão —, estou procurando a detetive Vi.

— Ela destruiu outra propriedade privada? — o guarda nem olhou para mim. — Se sim, reclamações são feitas naquele formulário.

— Oh não, ela disse que iria me ajudar num caso, mas ainda não tive respostas.

— Sem reclamações sobre Vi? — ele me olhou surpreso e... suspeito — Isso é raro. Sinto informar, mas a detetive não se encontra.

— Sabe dizer se ela vai demorar?

— Desculpe, informação secreta.

— Entendo, mas é importante. Se meu problema não for resolvido logo, estarei encrencado.

— Se quiser posso chamar a xerife Caitlyn...

— Vai chamar a chefia apenas por uma informação? — tentei usar uma tática de convencimento. — Certeza que isso não vai irritar ela?

— Falando assim — o guarda deu uma pausa. — A xerife é assustadora quando está irritada. Espere, do que estou falando? A xerife também está fora.

— Isso não é bom, vai entrar em contato apenas para resolver essa minha questão?

— Tudo bem. — ele não queria problemas — A detetive Vi está numa missão em Ionia, mas não sei mais detalhes.

— Obrigado — me retiro antes que ele pudesse fazer perguntas.

Isso aparenta ser mais fácil do que imaginei, de todos os lugares ela foi logo para Ionia que sorte a minha. Pelo jeito é inevitável nosso encontro, seria isso destino? Isso parece ficar interessante. Meu próximo destino está decidido.

— Ionia, não é? — uma voz surgia, como se tivesse lido minha mente.

— Você — me referia ao mesmo homem que salvara minha vida, e agora era meu cliente. — Por acaso pode ler mentes?

— Não, apenas ouvi parte da conversa — ele erguia um pedaço de papel, parecia ser um bilhete. — Os barcos de Piltover são mais desenvolvidos e velozes se comparados com os demais de Valoran. Você deve chegar a menos de um dia.

— Então, nos despedimos aqui. Você foi importante para minha apresentação, quem sabe um dia não lhe transformo num ator de capas de jornais.

— Vou negar a oferta, adeus.

Não trocamos mais palavras. Sem olhar para trás, ele confiava em mim para concluir meu serviço, e eu... bem, meus clientes esperam o melhor. Isso me faz imaginar, qual a probabilidade dessa tal Vi ser a quarta pessoa que devo salvar? Isso seria uma benção divina. De qual maneira, devo embarcar logo... Próximo destino, Ionia.

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— Que sono — bocejou Vi, seguindo os ninjas em direção ao líder deles, provavelmente iriam para o esconderijo.

O cenário de residências e comercio da capital Placidium havia mudado para altas florestas, montanhas colossais e cachoeiras cristalinas.  Vi não fazia ideia para onde estavam levando-a, mas toda aquela natureza lhe dava tédio, era tudo muito bonito, mas não fazia o estilo dela, ela preferia algo mais movimentado.

Depois de duas horas de caminhada exaustiva, sem nenhum dos dois guias terem soltado uma única palavra durante o percurso, Vi avistou um templo escondido entre as árvores. Não era muito grande, bem... é um esconderijo secreto, não era para chamar atenção.

Sua construção era completa de madeira, havia uns três andares com algumas janelas com visão para a floresta. Algumas pedras de decoração na entrada e pequenas torres  de rochas pelo caminho, “coisas de ninja”, pensou Vi.

Adentrando na residência, um corredor quase sem fim, com dificuldade Vi avistou uma porta mais ao fundo. As paredes brancas doíam os olhos, além da lanternas que aumentam o brilho daquela brancura.

Cuidado onde pisa — avisou Akali, deixando Vi preocupada.

Suas manoplas estavam preparadas para tudo, com o aviso de Akali, Vi só podia imaginar armadilhas no chão, e sendo ninjas... seria alguma armadilha estranha. Cada passo que dava, ela olhava para baixo. Não era medo, apenas precaução.

Contudo, não havia nada demais, talvez Akali só tenha dito aquilo para assusta-la. Deu para ver nos olhos da ninja que ela estava se divertindo. Vi deu um sorriso forçado, mas o que queria mesmo era esmurrar aquela cara lisa. Três corredores no caminho de Vi, cada qual uma sala diferente. O trio seguiu para o meio, onde havia uma porta enorme fechada.

Depois de abri-la, uma sala escura com, apenas o centro sendo iluminado com uma abertura para o céu. A tal residência era maior do que imaginava. Já era noite, a lua iluminava o centro com sua luz prateada. O topo dava a ilusão de ser uma torre, o círculo no topo fazia um encaixe perfeito com a lua, como se ela fosse o teto da torre... Era lindo.

— Voltamos — disse Akali sozinha.

— Trouxemos alguém — a voz de Kennen era séria, totalmente diferente de horas atrás.

Vi avistou uma luz roxoa surgir da escuridão, junto de uma voz masculina recitando um mantra que ela não conseguia entender o significado. Akali e Kennen se ajoelharam, mas uma voz mandou eles se levantarem. Das sombras, uma silhueta masculina se revelava. O homem vestia uma roupa azul metálica junto de uma mascara que cobria totalmente seus olhos, diferente dos outros dois. Em suas costas, estavam embainhadas duas espadas, que Vi não queria conhecer. Ela sentiu algo diferente vindo dele, algo sinistro, que não conseguiria descrever. Era como se ele não estivesse ali, mesmo estando na sua frente. “Sinistro”, ela pensou.

— Ela diz está procurando pelo assassino de Zed — falou Akali. — Assim como nós.

Com o equilíbrio nos passos, nossas vontades caminham juntas — disse o homem.

— Com o que? — repetiu Vi sem entender nada.

— Cuidado como fala, grandona — disse Kennen. — Esse é o líder da ordem kinkou, Shen, o olho do crepúsculo.

— Olho do que? Vocês ninjas são tudo mistério e suspense. Saí da frente — empurrou Kennen que manteve a postura, sem dizer algo. — Aí, entendi que vocês tem uma treta com o tal Zed e tals, mas é que eu já perdi muito tempo, sabe? Então, vocês vão me ajudar ou vai ficar difícil?

Farei o que precisa ser feito — disse Shen.

— Então vai me ajudar? — perguntou Vi, vendo que a resposta anterior não ajudou muito.

Com toda honra — respondeu. — Deixo meus amigos disponíveis para ajudar também.

O que for necessário — concordou Akali.

Sim, sim, sim — disse Kennen animado.

— Ótimo, é assim que eu gosto ­— Vi suspirava aliviada.

— Temos muito que conversar — disse Shen, guiando-a para uma sala.

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O sol já raiava quando acordei do meu cochilo. Sim, cochilo. Não consegui dormir direito, talvez só duas ou três horas de sono. Eu estava ansioso para a apresentação, pensei em várias performances diferentes, sons ambientes, que tipo de palco eu usaria? Quantos atores eu iria pôr no palco? Meu coração acelerava com a imaginação.

Eu já podia ver as montanhas de Ionia no horizonte, não iria demorar muito para desembarcar. Era um tanto nostálgico, me pergunto por quanto tempo fiquei fora? Certamente, desde minha viagem para Demacia. Não importa quanto tempo passasse, observar o nascer do sol atrás das montanhas continuava sendo belo. Pena que é uma beleza que não consigo reproduzir.

Algumas horas depois, o barco atraca no porto de Ionia, mais especificamente na capital Placidium. Local cheio de espiritualidade e passividade. Aprendem a entender apenas sobre harmonia, eles não tem mais salvação. A invasão noxiana deveria ser um alerta. Precisamos de produções mais complexas. Mas não percebem isso e colocam o peso de toda a produção em meus ombros. Eu não quero ficar aqui, vou para onde me sinto em casa.

Eu estava sem minha máscara, o que me permitia andar pelas ruas, da cidade de Zhyun, livremente. Aqui, me lembro desse lugar, “La fuente de las piedras”, um bar para aventureiros. Foi aqui onde recomecei minha apresentação. Tem alguém que eu não me esqueceria, ela foi muito importante para minha volta. Ainda lembro-me dos seus olhos verdes e cabelos loiros lisos, que caiam sobre os ombros... Amanda. Sua vida teve grande valor no final, e agora eles fazem poesia sobre você. Poemas sobre uma dama e um demônio... que patético. Nenhuma poesia poderia equiparar-se ao meu oficio.

Enfim, tenho que procurar a tal Vi. Ionia é tão grande, por onde devo começar? Pensarei nisso depois, vou procurar um local para me acomodar, e só então planejar uma boa peça ou talvez uma ópera. Amanhã, pela manhã, darei uma volta na cidade.

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“— Então o Demônio Dourado atacou a nação demaciana — dizia Shen, pondo a mão no queixo. — Senti um desequilíbrio na região. Não previ que ele estaria de volta.

— Esse tal Demônio Dourado aí, parece ter dado trabalho antes hein — Vi tentava sentar igual os ninjas, sobre as pernas. Mas ela não conseguia manter o equilíbrio, ficando cambaleando de um lado ao outro.

— Seu nome é Jhin. Khada Jhin, um psicopata, e mercenário, que vê beleza ao matar inocentes — revelava. — Eu, meu pai e... Zed, conseguimos captura-lo em Zhyun, e leva-lo para a prisão de Tuula, pensamos que seria seu fim. Estávamos enganados, talvez devêssemos ter seguido a atitude de Zed e mata-lo.

— Que tenso — Vi decidiu sentar de qualquer jeito mesmo, ela se perguntava como não tinham caiãmbras? Ficar sentado desse jeito era desconfortável, deixar as pernas livres era mais o estilo dela. — Então eu devo ir para Zhyun, onde ele começou tudo.

— Iremos para Demacia, talvez possamos encontra-lo, antes que faça outra vítima — Shen se levantavam, os demais o seguiram. — Chame reforços e...

Eu sou meu próprio reforço.

— Você já tem algum plano? — Shen perguntou já imaginando a resposta.

Planos? Para que planos? — ela mostrava o punho das manoplas. — Gosto de partir para as partes mais legais.

— Entendo — Shen percebeu que ela era do tipo que não se resolve na conversa. — Vi, não é? Que o equilíbrio esteja com você.

— Ah, claro... que o equilíbrio esteja com você também — foram as últimas ditas.

Depois da conversa, se separam, cada qual apara uma nação. Shen ia para Demacia, Akali e Kennen investigariam na capital e outras cidades de Ionia, enquanto Vi ia para Zhyun, cidade onde tudo começou”.

Vi ainda tinha a conversa da noite anterior na cabeça, coisas de ninja, equilíbrio... bem que podiam ser mais simples. Não é o primeiro psicopata que ela perseguia. Na verdade, já tinha um conhecimento de uma garotinha de cabelos azuis chata, tão irritante quanto esse Khada Jhin. Só de lembrar-se dela, Vi já ficava com mal humor. Desatenta enquanto andava, esbarrou num homem, quase derrubando-o.

— Me desculpe — ela disse, recolhendo a bengala do homem, que era relativamente pesada. O que lhe trouxe desconfiança.

— Tudo... bem — o homem lhe encarou maravilhado.

Era a primeira vez que ele via alguém como ela. Sua fisionomia esbelta, o estilo rebelde punk e único, e as manoplas enormes lhe transmitindo uma aura brutal, uma aura violenta. Tudo de diferente que ele havia visto em Ionia, ele queria conhece-la... queria performar-la.

— Senhor — chamou Vi—, sua bengala. Foi mal aí por derrubar, se machucou não, neh?

— Estou... Estou bem — sua voz tremeluzia. — Me desculpe, você não é daqui, é?

— Ah não, estou de férias, apreciando as terras ionianas — ela não podia dizer para qualquer um seu motivo de está ali.

— Uma pessoa como você vinda para uma terra tão calma.

— Pois é — ela também estranhava. — Recomendação da minha chefia. Mas aí, tá machucado não, neh? Já vou indo então. Se cuida.

— Cuide-se você também — disse Jhin, encarando-a de costas. Seu coração acelerava igual quando performou seus atores principais, era um sentimento maravilhoso. Enquanto observava a garota se afastar, ele pressentiu que algo de bom estava por vim, não havia dúvidas — É ela.

Virando a rua, ficando encostada na esquina. Vi cerrava os punhos como se estivesse se segurando para não fazer uma besteira, tinha que recolher mais informações, não queria cometer o mesmo erro quando chegou à capital ioniana: ter interrogado um civil qualquer. Dessa vez teria que agir com uma, leve, cautela. Era como se Caitlyn estivesse do seu lado dizendo: Pronto para um duelo? Não! Não era isso, seria algo para: Estou com uma pista quente. Agora sim, era isso que ela tinha costume de dizer.

Vi tinha um mau pressentimento sobre aqueles olhos castanhos que havia lhe encarado mais cedo, ela sentiu uma pressão lhe sugando, algo sinistro. Não sabia se era intuição de detetive, que havia adquirido depois de um tempo trabalhando no ramo, ou seria apenas instinto feminino. De um jeito ou outro, ela já estava decidida.

— É ele — disse, se preparando para reiniciar sua investigação, agora com um suspeito.

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Tinha que polir quatro vezes, esse era meu segredo. Tinha que polir sussurro quatro vezes, não duas, nem três... Sempre quatro vezes. Sentir a coronha encaixar perfeitamente em minha mão me dava uma excitação maravilhosa, não importava quantas vezes já tivesse usada, a sensação é a mesma... Deliciosa.

Vou para frente do espelho, minha aparência envelhecera bastante. Meus olhos castanhos já não era como antes, eu sentia que tinha uma escuridão neles. “A escuridão também residem em você”, por alguma razão lembrei-me das palavras de Zed. Besteira, eu não posso estar nas trevas, sinto os holofotes sobre mim.

Vesti meu manto como de costume, já havia me acostumado com o braço, esquerdo, metálico. Pus minha sussurro com cuidado dentro do coldre. Uma última respiração profunda, antes de vestir minha máscara perfeccionada. A partir de agora minha respiração seria suprimida pelo couro... Sublime.  Os complementos de sussurro já estavam preparados. Minha atora principal já estava decidida. O cenário está aquém do meu talento, irei elevá-lo. E o palco? Dessa vez meu palco é a mente. Agora, estou pronto... O que foi isso?

Sou surpreendido com a parede do outro vão do meu quarto sendo destruída. Uma cortina de poeira se alastrava pelo corredor, dificultando minha visão. Avistei uma silhueta formosa, feminina, de mãos gigantes.

Grupo de demolição... uma garota — disse Vi, invadindo o quarto de Jhin. — Foi mal, fiquei cansada de esperar.

— Podia ter batido na porta — essa garota é absurda, chega a ser engraçado.

Às vezes é necessário fazer uma porta — respondeu, estrando os dedos, e aquecendo suas manoplas. — E agora, um pouquinho de agarra e esmaga.

— Você sabia que a essência de algo é encontrada em sua ausência?

— Quer conversar com uma xícara de chá... ou talvez um chá com porradas?

— Acho que não. — sorri sabendo que estaria em desvantagem num local fechado, tinha que sair fora. Peguei uma das minhas granadas dançantes e arremessei, mas ela se defendeu apenas mexendo a mão, mudando a direção do cartucho mágico. Contudo, nesse meio tempo eu pulava da janela, caindo sobre uma tenda e fugindo entre a multidão.

Qual é? Que tal resistir um pouco? — ela gritou, depois mostrou um sorriso enquanto começava a me perseguir.

Aproveitei para deixar armadilhas no chão, prontas para serem ativadas. Mas quando olhei para trás, ela já estava poucos metros de mim, antes mesmo das armadilhas caírem no chão. Dei um disparo para tentar ganhar distância, acertei seu ombro de raspão.

Awwn, isso era pra doer? — ela debochava.

Dei outro disparo, mas ela aparou com a manopla. Pude ouvir um estralo, minha armadilha foi acionada. Porém foi por algum civil que havia pisado nela, uma explosão carmesim decorava as paredes ao redor. Vi virou sua atenção para saber o que havia acontecido, acabando por me dar mais espaço e tempo para as armadilhas serem preparadas.

Parai... — gritou ela ao perceber que eu me distanciava. — ou não, nem ligo.

Voltei meu corpo para ela, repentinamente. Ela estava numa distância segura para eu usar minha melhor cartada. Aqui vai, minha aclamação! Acoplando minha sussurro na bengala, que era um complemento de sussurro, transformo minha arma de mão num mega-canhão de ombro. A rua estava movimentada de civis que não entendiam o que acontecia, mas toda minha concentração estava numa única garota de cabelos rosa.

O terceiro disparo foi liberado, voando contra a garota que dando um único soco conseguiu aparar o projétil. Tais manoplas deviam ser bem resistentes para segurar meus tiros, era de se esperar de armas hextec, magia com tecnologia, minha sussurro também era do mesmo desenvolvimento. Consigo compreender o quão temível eram aquelas luvas.

E aí, quem precisa de uma surra? — ela se aproximava mais.

Não me divertia assim desde meu confronto com Garen, porém essa garota me dava mais medo. Eu via no seu rosto uma vontade enorme de acabar comigo, se ela me pegasse seria meu fim, sem dúvidas. Impaciente, Vi começou a correr na minha direção com o punho armado.

Tola! Era agora onde tudo acabava! Ela só estava abraçando a morte certa, meu coração acelerava enquanto meu sangue fervia. Não conseguia tirar o sorriso da minha cara, mesmo que ela não pudesse ver. A felicidade só vinha no instante anterior ao meu disparo, depois disso apenas a beleza. O quarto disparou rugiu como um trovão, um projétil vermelho dançante que cortava o próprio vento.

As manoplas de Vi soltavam uma fumaça, branca, contínua. Ainda com o soco armado, antes do meu projétil se aproximar, ela esmurrou o ar soltando um espécime de aura azulada, diminuindo a força do meu projétil. Rapidamente, ela deu outro soco, com o outro braço, reduzindo, quase que por completo, o impacto do disparo de sussurro. Uma cortina de fumaça subiu com a explosão, ainda que não afetasse muito.

Belo tiro, docinho — Vi mostrava alguns ferimentos pelo corpo, mas nada que a impossibilitasse de lutar. Porém, os danos temporários não permitiam que ela agisse tão rápido, por enquanto. Ela podia imaginar minha expressão agora que a feri — Adoro seu sorriso, ele dar um belo alvo. E essa sua arminha, vou quebrar toda.

— Que tentador, mas prefiro quando minha arma faz bang — respondi, desacoplando sussurro da bengala e recarregando, logo em seguida. — Estive procurando por você, tem algo que me deixou com dúvida. Uma pessoa não pode ter um nome tão simples como Vi, de onde você veio?

Vi, é de Viciante — ela estralava os ombros e me ameaçava com um olhar ameaçador.

— Eu não acho que seja isso.

Se eu quisesse sua opinião, eu tirava na porrada.

— Você é sempre simpática assim? — mostrei o cano de minha sussurro, já carregada.

— Me desculpe, acho que me apresentei errado — ela se colocava em posição de ataque. – Vi, é de Violência.

Ela avançou numa velocidade absurda, dei um disparo que passou em branco, ela deu um soco no meu queixo, me erguendo para o ar. Se eu não tivesse cerrado meus dentes bem na hora, teria sido meu fim. Quando olhei para cima, onde devia haver estrelas brilhando, avistei a manopla de Vi vindo em minha direção.

Saque e enterrada! — ela vociferou dando um soco no meu estomago, me jogando violentamente contra o chão.

Uma pequena cortina de poeira subia, me escondendo dos olhos de civis, que torciam pela Vi. Uma coisa que eu não tinha percebido ainda, sorrisos e gritos proporciono ambos em minhas apresentações teatrais. Minha respiração estava pesada, com certeza devo ter quebrado três ou quatro costelas. Contudo ainda estou vivo. O que me salvou? A resistência do braço metálico que aparou o dano direto, porém eu só tinha meu braço natural agora.

— Ainda tá vivo? — ela perguntou cautelosa.

— As pessoas de Piltover... são tão... violentas assim? — eu falava com dificuldade.

Eu faço isso do meu jeito.

— Sei — não resisti numa risada, que me custou mais dores. — Até que eu gosto de você, é durona.

— É? Pois eu só gosto de você todo quebrado. Você está preso.

Juro que cada performance é minha última, mas sempre minto — me levantava, com muita dificuldade. — Que tal conversamos?

Deixo que meus punhos falem por mim — disse ela se aproximando.

Essa arte é uma obsessão, não consigo resistir.

Eu tenho cinco motivos para você calar a boca.

Eu quero sentir tudo, a arma me assegura disso.

— O que?

— Sabe como comecei tudo isso? — Eu erguia meu corpo, junto de sussurro. — Uma fantasia, uma maquiagem... Uma borrifada de sangue.

— Quer saber? Chega, acabou...

— Você havia me perguntado se eu ainda estava vivo, pois bem me deixe lhe responder — interrompendo ela, dei um disparo numa construção de rochas, iniciando uma sequência de avalanches de pedra, que ameaçava a vida dos civis próximos. — Sinto-me vivo apenas quando a arma é disparada.

— O que está fazendo?! — ela perguntou surpresa, sem sabe se me algemava ou ia salvar os civis.

Eventualmente minha genialidade será ser compreendida — eu me afastava, em pequenos passos. — Vivo pelos aplausos, você morrerá por eles.

Decidida, Vi correu para salvar os civis que estavam indefesos contra as pedras. A fumaça voltou a ser expelida das manoplas, dando um soco nas pedras a aura azulada se manifestou destruindo a maioria dos pedregulhos.

Uma cidade de rochas, tão perto da montanha... Quem diria que esse cenário me seria útil algum dia. Vi com muita força de vontade e brutalidade conseguia interceptar todas enquanto os civis fugiam. Um dos cidadãos ionianos, vendo o que eu estava fazendo, tentou me atacar. Acho que ele queria ser algum tipo de herói, ele avançava com um pedaço de madeira, em gritos e fúria.

— O que está fazendo?! — Vociferou Vi, percebendo o que o homem ia fazer.

Sou puro... Meu trabalho é puro — o terceiro disparo lhe atingiu o coração antes mesmo dele se aproximar. Ele caiu no chão, criando uma poça de sangue.

— NÃO! —gritou, ela estava pronta para me atacar e acabar com tudo de uma vez. Mas sua agressividade descontrolada, lhe fez perder a concentração. Ainda tinha uma criança, que admirada pela beleza de Vi, não entendia o que estava acontecendo. Os outros que fugiram, estavam mais preocupados com as próprias vidas. Ela voltou a atenção para a criança, salvando-a no momento que o último pedregulho quase lhe atingia.

Vi sentiu um desconfortável ardor repentino em suas costas, Uma queimação que lhe invadia o corpo, lhe aquecendo como a chama da vida, os primeiros raios de sol. Um fogo libertador, seu corpo exalou uma aura avermelhada que foi percorrendo seu corpo. O quarto disparou lhe atingiu as costas, meu disparo mais poderoso libertava ela dos pesos que era obrigada a carregar. Seus braços brilhavam fortemente, iluminando toda a rua, uma leve explosão que destruía as manoplas, de dentro para fora. Vi inclinou seu corpo para frente a cada pedaço da manopla que caía no chão.

Dar-te-ei a fama, detetive.

Ela provavelmente nem soube o que aconteceu, sua expressão era de surpresa quando me aproximei do seu corpo. Ela não reagia mais, estava morta. Não consigo resistir, começo a gargalhar. A última pessoa que eu tinha que salvar, agora estava livre. Completei minha missão, a visão que tive enquanto preso foi realizada. Consegui! Finalmente! Acabou... Meu serviço acabou... Minha apresentação acabou... Meus maiores objetivos acabaram... Acabou? As cortinas seriam fechadas e então... Fim.

Não! Esse não é o fim!

Não se assuste quando a vida se esgotar — no momento que recarregava minha sussurro, ouvi uma voz suave em minha cabeça.

Todos os que correm, são meus! — a segunda voz era mais grave e assustadora, porém eu as ignorava.

Apontando minha sussurro pro primeiro cidadão que encontrei, uma mulher com olhos assustados e rezando para que tudo acabasse. O primeiro tiro lhe atingiu a cabeça, agora tudo acabou... Para ela. Desesperados, os civis fizeram algo que deviam ter feito muito tempo antes... Fugir. O segundo disparo atingiu um velho, que inutilmente tentava correr. De relance, vi algo brilha num pequeno garotinho chorão. Uma luz prateada em seu peito, vi aquilo como alvo. Quando dei meu terceiro disparo, o garoto parou de chorar... Para sempre.

Que insensatez é essa de roubar nossas marcas? — ouvi a voz suave novamente.

Só então percebi que todos tinham uma marca prateada brilhando em seus corpos. Nunca havia visto aquilo antes, era como a luz da lua emanando deles... Inspirador. O quarto disparo atravessou o peito de duas mulheres até explodir nas costas de um homem, liberando uma luz avermelhada assim como de Vi.

Todas as coisas grandes e pequenas... — disse a voz suave.

Morrem — completou a voz mais agressiva.

— Sim! — concordei. — Eles viverão... Até que morram.


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Notas finais do capítulo

Aqui encerro este conto.
Vejo em você uma beleza artística única.
Devo lhe proporcionar uma ópera de morte ou preferirá uma peça melodramática?

“— Vou continuar até ser impedido”.



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