Cléo escrita por gabriela rodrigues


Capítulo 1
Prólogo




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Ao trancar a porta da frente, ela terminou de vestir o casaco de botão xadrez grande demais para seu corpo e chamou o elevador. Morar no último andar tem suas vantagens, nenhum vizinho para encher sua cabeça com passos pesados de madrugada, por exemplo. No entanto, esses minutinhos de espera pelo elevador suscitavam por vezes em momentos infinitos de ansiedades breves, ainda mais quando se estava com pressa.
O elevador chegou, finalmente, e ela desejou na mesma hora que houvesse um espelho ali dentro para que pudesse ajeitar seu coque todo desfiado. Ao surgir na portaria lançou um sorriso breve ao porteiro, que já se tornara seu amigo nesse curto ano no qual estava morando ali.
Ao cruzar a porta de correr automática, o vento gélido encontrou seu rosto e ela seguiu, de braços cruzados para se proteger do frio, quarteirão acima até o mercadinho vinte e quatro horas do bairro.
Suas botinhas pretas estilo militar faziam um barulhinho ritmado enquanto ela caminhava pela calçada quase vazia. Haviam poucas pessoas do lado de fora dos restaurantes e bares, por conta dos poucos graus que faziam naquela noite. Sentiu pena ao passar por uma fila de jovens na porta de uma boate esperando para entrar.
Finalmente, ela virou a esquina e entrou em um mercado de fachada toda envidraçada que iluminava a rua num tom azulado. Ao empurrar a porta, soou um tilintar avisando o estabelecimento que ela estava ali agora. Algumas das poucas pessoas, que ali se estavam comprando bebidas ou fazendo compras de última hora, se viraram para dar uma olhada e mantiveram o olhar por alguns segundos. Não era nenhuma novidade para ela tal cena, ela era bonita e sabia, tinha suas crises de baixa autoestima vez ou outra como qualquer outra garota, mas ela sabia.
Foi direto ao balcão do caixa e pediu uma carteira de cigarro mentolado. Viu a sua direita saquinhos de jujubas e comprou um também. Não era sua guloseima preferida mas era a da sua mãe, e ela gostava de como a fazia lembrar dela.
Logo que saiu pela mesma porta que entrou acendeu um cigarro, agora que conseguiu o que tanto queria voltou pra casa a passos mais lentos. Não pensava em coisa alguma, apenas se concentrou nas tragadas enquanto ouvia o batuque de suas botinhas marchando pela calçada.


Naquela mesma noite ela se jogou no sofá, descalçou as botinhas e, deitada ali mesmo, acendeu outro cigarro. Ligou a televisão e o som do noticiário preencheu a minúscula sala de estar do flat. À direita do velho repórter que contava sobre os últimos ocorridos desta sexta-feira, a tela indicava o horário local. Já passava da meia noite. 

Foi quando o interfone tocou.

 


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