Viver rápido e morrer jovem escrita por Rafa


Capítulo 1
Viver rápido e morrer jovem, o grande começo


Notas iniciais do capítulo

Olá, esse é o meu primeiro capítulo e você, meu caro leitor (se é que você existe), não tem nem a vaga noção de como foi libertador escreve-lo. Espero que essa historia possa te ajudar como tem me ajudado e também espero que o modo vago que eu lido com as ideias não te incomode. Com amor, Rafa.



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Viver rápido e morrer jovem

Essa nunca foi minha praia, por mais que essa afirmação possa surpreender algumas pessoas. Talvez o cabelo azul, os piercings na orelha, as roupas pretas e o extenso vocabulário de palavrões que poderiam assustar até o mais experiente dos caminhoneiros passe uma impressão errônea de mim. Não digo que sou extremamente caseira (a pesar de ter se tornado uma meia verdade nos últimos tempos), muito menos que sou uma típica garota tímida que espera o príncipe encantado se escondendo por baixo de uma versão durona de mim mesma (outra nova meia verdade, eba!) mas... eu não sei, que tipo de garota eu sou? Talvez nunca consiga responder uma pergunta dessas.

Conversei um longo tempo com um “amigo” (a intenção nunca foi essa, mas foi nisso que ele acabou se tornando pra mim) que costumava dizer que eu sou uma caixa de surpresas: que tipo de garota destemida, sempre pronta pra enfrentar o maior dos ratos ou matar a mais medonha das aranhas passa extremamente mal só da menção mais detalhada de algum tipo de doença?

Você é tão incrível, tem uma maneira meio louca e diferente de ver o mundo” ele costumava dizer. Eu não me sinto assim. Não mais

Depois da Grande depressão (como eu apelidei carinhosamente a mão estranhamente parecida com a da minha mãe que vem me puxando cada vez mais para o fundo do poço) não me sobraram muitos amigos, não os que realmente estão corretos em dizer que me conhecem bem. E os que sobraram minha mãe teve o tocante cuidado de afasta-los de mim. “Eles não são bons exemplos, filha” e desde quando uma garota que só não cogita a possibilidade de suicídio porque se recusa a desistir da luta tão facilmente é um bom exemplo? Não que eu fosse antes, mas agora a versão “deprimida mas constantemente ilegal” me parece bem mais assustadora que a anterior.

Até ano passado eu era a mistura exatamente proporcional de “amargura e ironia” com “palhaçadas e alto-astral”. Não sei quando exatamente essa garota se perdeu, mas se tornou estranhamente complicado fazer coisas que eram naturais pra mim antes, como inventar piadas idiotas, porem engraçadas ou puxar assunto de forma espontânea. Agora eu me tornei o tipo de pessoa que os conhecidos encistem em puxar assunto pela memória da garota divertida e companheira que eles costumavam conhecer. Só me sobrou as memórias de como era estupidamente fácil ser ela.

Ontem li o livro de onde tirei a frase que citei inicialmente. Não é da autora dele, na verdade nem sei de onde vem. Aparentemente é uma frase popular e romantizada americana, típica de membros de bandas de Rock passageiras que acham divertido pegar o ônibus cedo. Superficialmente eu entendo: qual seria a maneira mais insana de partir dessa vida se não sem toda a bagagem da meia idade nas costas? Chegar sabe-se lá onde apenas com memórias de noites de bebedeiras compartilhadas com os amigos, sem responsabilidades ou arrependimentos? Talvez assim fosse até mais fácil encarar a dura realidade de que todos morremos um dia. Mas quando toda a pouca experiência que você teve como jovem não foi o mar de rosas esperado, como no meu caso, você chega a conclusão de que entregar os pontos agora seria um puto desperdício. Vejamos no meu caso: eu sou jovem (jovem até demais pra isso tudo), tenho coisas que ainda quero viver e que pretendo me permitir depois que isso passar. Tem que passar um dia, não tem? Nenhuma tempestade dura pra sempre, nem mesmo na fria e cheia de rapazes supernaturais gostodos Forks. Ainda espero por esse dia, por mais que ele custe mais algumas longas noites me perguntando “por que ser eu mesma poderia ser algo tão errado? Por que você só não entende que eu preciso de apoio?”, algumas ameaças de discar 100 e uma saída apressada.

Eu tenho gasto todos os momentos que eu posso me permitir distração pensando como será o dia em que eu deixar a Grande depressão para trás. Me imagino recebendo milhões de xingamentos diferentes, um tapa na cara ou dois, mas no final eu sempre arrumo minhas roupas, meus livros e meus pôsteres e a deixo pra trás. De uma maneira ou de outra. Mas será que eu vou ter coragem pra decidir esse dia ou vou esperar o mundo dar o famoso gancho de esquerda e gritar no meu rosto “É AGORA OU NUNCA, MULHER, VOCÊ QUE SABE”? Sempre gostei de me imaginar como as heroínas dos meus livros favoritos: Viana, de Onde as árvores cantam também enfrentou a repressão das pessoas “superiores” a ela, mas eram casos diferentes. Ela tinha uma motivação, ela era corajosa e, o mais importante de tudo, ela não tinha escolha.

Na minha nada humilde opinião ter escolha ou não é um fator incrivelmente relevante para as grandes tramas. Uma coisa é você se decidir se vai enfrentar sua mãe e ser honesta com ela e consigo mesma, outra coisa completamente diferente é se decidir se vai tentar fugir das garras de um homem horrível que você foi obrigada a se casar por conta de uma invasão barbara. Eu não corro risco de vida, mas tenho muitas coisas em jogo.

Talvez eu devesse apenas voltar a entorpecer minha mente de séries e livros, na tentativa de disfarçar a dor e a solidão com realidades que não são a minha. Tudo fica mais fácil quando faço, pensar demais sempre acaba me machucando desnecessariamente. Talvez eu devesse parar com isso também.


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Notas finais do capítulo

Eu não quero decepciona-los, mas não sei quando voltarei a postar. Eu escrevo quando parece necessário ou, as vezes, em madrugadas regradas de café e pensamentos demais. Talvez eu leve um dia, ou uma semana, mas garanto que é mais provável em madrugadas de finais de semanas, são meus momentos de liberdade de expressão. Sinceramente espero que tenham gostado. Com amor, Rafa



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