Câmera Lenta
É assim que eu tenho estado nos últimos tempos. Eu vejo as coisas, os relacionamentos, o tempo, tudo passando por mim rápido demais, enquanto eu estou desacelerando e desacelerando. Eu não vejo graça mais nas pequenas coisas que antes me faziam feliz, quando finalmente me distraio com algo leva apenas alguns minutos para que eu note e volte a me sentir péssima. Alguns amigos tem me ajudado, mas nem eles conseguem me manter em pé 100%. Sinto que tem se tornado maçante para eles me escutar falar sempre dos mesmos problemas. Não os culpo, os seus problemas mudam e evoluem enquanto eu continuo parada no mesmo lugar de sempre, perdendo a cada instante mais a vontade e a capacidade de me locomover.
Eles sorriem pra mim, dizem que daqui a 3 anos não me lembrarei mais disso tudo que eu tenho passado e eu torço para ser verdade. Acordo todos os dias e torço para que eu esteja errada e realmente exista um Deus, alguém que realmente ama e torce por mim. Seria injusto da minha parte dizer que ninguém me ama, mas nem um pouco equivocada dizer que ninguém sabe exatamente o que tenho passado. Uns sabem mais que outros, mas ninguém sabe quão difícil tem sido nos últimos meses. No início eu me esforçava pra tentar integrar as pessoas que se importavam o suficiente na minha dor, mas com o tempo parei de tentar. Quando se tem 15 anos tudo que você sente deixa de ter um significado e se torna “uma faze que logo vai passar”.
Tenho tido ataques de pânico. No começo eram pequenos, eu me sentava, me distraia com algo e logo passava, até a algumas semanas atrás: eu estava em um dos meus raros momentos em que eu estou 95% bem até que comecei a sentir um aperto no peito, o ar ficar rarefeito, meu corpo se recusar a parar de tremer e meus olhos se rebelarem contra a minha vontade de não chorar. Eu me tornei maricas ao ponto de me desesperar sem motivo.
Nesse dia eu liguei para minha avó e ela falou sobre minha família até eu me acalmar. Aparentemente minha tia está com a barriga muito grande para os poucos meses de gestação, mas alega veementemente que é culpa de ser o segundo filho. Meu tio está bem e sente minha falta. Todos eles sentem minha falta. Isso fez eu me sentir melhor.
Eu não tenho dormido bem, sempre acordando no meio da noite e perdendo o sono. Também enfiei na minha cabeça que gostava de um colega de sala, mas a cada momento eu me sinto mais ridícula por esse pensamento. Tenho estado sobrecarregada emocionalmente demais para conseguir puxar assunto ou rir de verdade de piadas, como pediria para qualquer pessoa embarcar em um relacionamento com alguém assim? Se alguém está lendo isso e tem esperanças de uma pessoa especial entrar na sua vida para tornar o principal objetivo curar sua depressão: desista logo dessa ideia, não acontece. Quando a depressão entra em pauta a maioria das pessoas se afasta de você, mesmo que isso não signifique que elas não te amem. Só é complicado demais se manter perto de alguém que está tão cansado que tenta se isolar. Não é para qualquer um.
Eu tenho gastado momentos pensando em memórias feliz da minha infância, tentando me lembrar da sensação, mas não sinto nada. A muito tempo não sinto nada. As vezes penso como seria me jogar de um lugar alto só pela sensação de sentir meu coração bater rápido. A sensação de realmente sentir alguma coisa. Também tenho pensado em conseguir cigarros de menta, daqueles que minha tia avó fumava e me acalmava quando era mais nova. Talvez ainda funcione. Talvez realmente exista alguma coisa que possa me fazer sentir melhor, como alegam ser verdade.
Mas eu não vejo mais cura pra isso. Não vejo mais a luz no fim do túnel como eu costumava ver a tão pouco tempo. A depressão é uma areia movediça. No início você se debate e implora por ajuda, até que percebe que isso só faz você se afundar mais rápido. Não consigo mais escrever, meus olhos mal ficam abertos mais. Eu só quero fechar os olhos até isso passar. Avicii é um grande filho da puta por me fazer acreditar que o lance de So wake me up when it's all over realmente funciona.