As Crônicas de Reddie Hunter escrita por HunterPotterhead


Capítulo 7
Eu vou tentar




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Talvez, só talvez, Patrick tenha ficado furioso a respeito da minha saída e o modo como me recusei a falar. E talvez eu esteja sofrendo o inferno em forma de treinamento.

Patrick atirava facas sem parar em minha direção na maior tranqüilidade sentado numa cadeira enquanto eu desviava com velocidade, porém teve vezes que não fui tão rápida e por isso tinha um corte na bochecha e outros nos meus braços. Minha respiração estava entrecortada, isso já fazia horas. Mais precisamente a noite inteira. Pela tarde Patrick havia me obrigado a treinar pontaria por três horas até decidir que estava muito leve. Eu estava prestes a desabar e a cada seis facas que atirava com as duas mãos Patrick perguntava a mesma coisa.

— O que fazia ontem? – E eu simplesmente cerrava os dentes contendo minha vontade de mandá-lo pro inferno.

Até que ele se levantou e quando eu pensei que tinha acabado, quando estava já dando um suspiro de alívio, ele voltou com um sorriso cínico e dois sacos de areia unidos por uma corda. Fiz o possível pra não fazer uma expressão torturada. Eu sabia que se eu falasse, Patrick iria me proibir de todas as maneiras até de sair pra calçada, além de fazer algo contra o Nicho.

Ele não fez isso com a Sam porque meu irmão já tem 17 anos, ele sabe onde se mete, além de Patrick considerar que eles estavam somente num flerte. Porém eu, com meus 10 anos, estava na idade das “influências”. O que é uma grande merda porque não posso conversar com ninguém.

— Pra esteira. – Ele pendurou os sacos em volta do meu pescoço e eu senti minhas pernas fraquejarem.

— Eu não posso fazer isso. – Tentei falar, o cansaço devia estar estampado em meu rosto.

— Mas vai. A não ser que queira falar. – Eu o encarei friamente.

— Pode ligar aquela merda.

Patrick me empurrou até a esteira e quando eu estava em cima, ele ligou numa velocidade média, o que pra mim estava demais. Jacob só observava tudo, vendo até onde eu iria para encobrir Nicho. Passaram-se 30 minutos e eu mal conseguia respirar sentindo o peso dos sacos em meus ombros.

— Pai, acho que já chega.

— Sou eu quem diz isso.

— Ela tá pálida, vai cair a qualquer segundo!

Pelo menos era o que eu achava que eles estavam dizendo, suas vozes ecoavam distantes em meus ouvidos, porém meu raciocínio estava comprometido e não conseguia processar as palavras, me sentia tonta e minha visão estava turva.

 Até que eu não agüentei mais e desabei, minhas pernas cederam e eu bati de cara na esteira ainda em movimento e Jacob correu para desligá-la, senti suas mãos passarem pelos meus joelhos e pelas minhas costas, me colocando em seu colo e então minha visão escureceu e desmaiei.

Acordei numa superfície macia sentindo dedos passearem pelos meus cabelos. Abri os olhos piscando diversas vezes tentando me acostumar com a luz. Percebi que era Jacob a acariciar minha cabeça, embora minha visão ainda estivesse embaçada, tentei me levantar e meu corpo todo estremeceu de dor então desisti da ideia.

— Nem tenta. Você ficou apagada por 7 horas. – Ele disse e eu arregalei levemente os olhos.

— Que horas são? – Minha voz saiu um tanto rouca e senti minha garganta doer, mas me lembrei de Nicho.

— Cinco da tarde. – Me levantei ignorando as pontadas de dor em meu corpo. – Aonde pensa que vai?

— Ver o Nicho.

— Red, você tá maluca? Mal se agüenta em pé.

— Eu prometi. – Murmurei sôfrega. – Prometi que iria vir hoje.

Ele suspirou e passou os dedos entre os cabelos negros.

— Eu distraio eles por 20 minutos. Mais do que isso não dá.

Sorri embora os músculos do meu rosto doessem.

— Obrigada. – Falei transmitindo a sinceridade na minha voz.

Jacob sorriu e desceu na minha frente. Vou maneirar de agora em diante as vezes que eu chamo ele de praga.

Ouvi ele conversando com Patrick e falando algo sobre achar que uma de suas armas no porão havia sumido. Óbvio que falando de seu xodó Patrick foi direto para o Porão com Jacob. Desci as escadas rapidamente, meu corpo doía e eu sentia pontadas de cansaço que me fariam desmaiar a qualquer momento novamente. Olhei para o relógio. Eu tinha 20 minutos contando agora.

Corri como nunca até o parque. Eu ofegava e tinha faltas de ar, mas continuei correndo.

“Nossa, esse parque é bem perto da sua casa, hein?”

Que nada. Andando normalmente dá 25 minutos de caminhada, porém correndo eu chegava em 10. Não daria tempo de falar com Nicho. Mas ele poderia ao menos ver que eu tentei como havia prometido. Cheguei ofegante e apoiando as mãos nos joelhos na entrada do parque. Mas fiquei atrás de uma árvore que tinha flores vermelhas em sua copa. Olhei por cima da cerca de folhas e ramos, Nicho estava no mesmo banco, cabisbaixo provavelmente por achar que eu não viria.

Meu coração se apertou, eu não tinha tempo nenhum. Peguei uma flor, coloquei na entrada do parque, onde estava tudo limpo. Assobiei e me escondi novamente. Vi Nicho levantar a cabeça e sua expressão era esperançosa em me encontrar lá. Ele fez uma expressão tristonha ao não ver ninguém. Mas ele notou a flor. E se levantou. Eu olhei pro relógio, 7 minutos.

Saí correndo e antes de virar o quarteirão olhei para trás, Nicho me olhava com um sorriso e eu retribui. Corri com todas as forças que me restavam. Cheguei em casa faltando um minuto. Entrei e assim que voltei para meu quarto ouvi Jacob voltar do porão com Patrick, se desculpando por achar que uma de suas armas houvesse desaparecido. Sorri por conseguir cumprir minha promessa. Desabei na cama mal agüentando respirar e sentindo pontadas por todo o corpo.

Patrick adentrou o quarto.

— Acordou? Excelente. – Ele disse e eu o encarei com ódio. Por causa dele eu estava um trapo. – Pode ir se levantando.

— Não.

Ele parou de andar e me encarou com o cenho franzido.

— O que disse?

— Eu falei não. Você é surdo? – Falei com a voz mais alta e me sentei na Cama ignorando meu abdômen revirando de dor – Eu não vou treinar. Eu não quero. Eu aceito ser caçadora, mas isso não te dá o direito de me explorar como se eu fosse um soldado. Eu vou tirar essa tarde de folga e não há nada que você possa fazer.

Ele me encarou friamente antes de ir em direção a porta.

— Só não se esqueça, você é uma Hunter. Não há nada que você possa fazer quanto á isso também.

UM DIA DE PRIMEIRAS EXPERIÊNCIAS – CAPÍTULO 08

Era uma tarde de sexta e Anne e Patrick iriam cuidar de um ninho de vampiros em Nashville. Patrick mandou Jacob ficar de olho em mim. Okay né.

Deu duas da tarde. Eles haviam saído pela manhã. Faz três dias que não me encontro com Nicho, mais precisamente desde o dia que eu corri feito uma louca e só consegui sorrir pra ele.

Saí de casa e quando olhei para a casa vizinha, lá estava Jacob e Sam conversando amigavelmente. Balancei a cabeça em descrença. Ela estava xingando ele ainda ontem. Nunca vou entender relacionamentos. Meu irmão me olhou por cima de mim e me deu um olhar do tipo “toma juízo”. Ele devia seguir o próprio conselho.

Fui para o parque tranquilamente, tinha tempo de sobra, quando cheguei, Nicho estava deitado no banco de sempre, olhando para o céu. Me aproximei sorrindo e ele me notou, sorriu, se levantou e me abraçou fortemente e eu retribui com a mesma intensidade.

— Senti saudade. – Ele murmurou, sua voz saindo abafada por seu rosto estar escondido na curva do meu pescoço.

— Eu também. – Respondi, não sabia que ficar longe de pessoas que você gosta era tão ruim.

Ele se afastou e seus olhos se arregalaram e seu sorriso sumiu dando lugar a uma expressão preocupada, eu fiquei confusa até me lembrar que estava com hematomas no rosto por conta da queda na esteira e a ferida do corte na bochecha.

— O que aconteceu com você?

— Nada de mais. – Dei de ombros.

— Nada de mais? Seu rosto está horrível.

— Eu já sei disso. – Revirei os olhos. – Só me machuquei.

Ele alisou meus machucados no rosto com uma expressão triste e depois encostou os lábios na minha bochecha, onde estava o corte. Senti meu rosto esquentar.

— Minha mãe diz que um beijo sempre sara. – Ele deu um sorriso fofo e eu senti meu rosto esquentar ainda mais. Eu tinha certeza que estava parecendo um tomate.

Nos sentamos e ele estava falando um pouco sobre sua família até me perguntou da minha. Encolhi os ombros.

— Você disse que seus pais não querem que tenha amigos. Por quê?

— Eles acham que vou me distanciar do que escolheram pra mim.

— E o que eles escolheram?

Eu entreabri os lábios pensando em algo, eu não posso simplesmente falar “Caçar monstros”. Pelo menos pra isso eu tenho um filtro na boca.

— Uma coisa que eu não quero.

Ele baixou a cabeça, claramente insatisfeito com minha resposta e querendo indagar mais um pouco, porém acabou ficando calado e eu o agradeci mentalmente por isso.

— Você assiste animes?

— Não – Dei de ombros.

— Você parece com uma personagem de anime.

Dei uma risada, realmente minha aparência parece coisa de desenho. Nicho devolveu a risada e depois abriu um largo sorriso travesso.

— Hey! Quem chegar naquela árvore primeiro, ganha um sorvete do perdedor!

— Legal! Vou ganhar um sorvete!

Ele deu uma risada sarcástica.

— Vai sonhando.

Ele saiu do meu colo e começou a correr em disparada até o pinheiro que ele havia apontado. Me levantei e corri na minha velocidade média o ultrapassando num piscar de olhos enquanto ria de sua cara.

Corri ainda mais rápido e logo bati minha mão no tronco áspero da árvore. Depois de um minuto Nicho chegou ofegante, emburrado e me fuzilando.

— Mentiu pra mim!

— Quê?

— Você é o Flash! Minha melhor amiga é um super herói! Como pôde esconder isso?

Dei mais uma alta e sonora risada e depois coloquei uma mão em seu ombro o consolando.

— Só sou rápida. E não esqueça que você perdeu e me pague meu sorvete. – Sorri abertamente e Nicho cruzou os braços bufando.

Ele, relutante, me pagou um sorvete, e aproveitou e pegou um pra ele mesmo, ficamos conversando um tempo, até que uma mulher de traços asiáticos na face, com dóceis olhos castanhos e cabelos pretos apareceu sorrindo. Ela cutucou Nicho no ombro e ele se virou e abriu um sorriso ao vê-la.

— Mãe!

— Oi, filho! – Ela lhe deu um beijinho na bochecha – Então é essa a menina que você tanto fala? Reddie?

Nicho corou e eu tive certeza que também estava vermelha.

— Querida, é um prazer conhecê-la! Mas o que aconteceu com seu rosto? – Ela perguntou assustada ao me olhar mais atentamente.

— Só me machuquei, mas tô bem.- Sorri – É um prazer conhecer a senhora também.

Me levantei e estendi a mão sendo educada com a mãe de Nicho. Para minha surpresa ela me tomou num abraço e estalou os lábios na minha testa. Gente essa mulher me trata melhor que minha própria mãe.

— Ah, que amor! Bom saber que Nicho está em boa companhia! Mas, eu lamento dizer que vou ter que interromper a conversa de vocês. Filho, já tá na hora do seu médico.

Naquela hora senti como Nicho se sentia quando eu dizia que ia embora. Uma tremenda tristeza. Poxa, logo hoje que eu estava livre a tarde inteira ele vai embora? Não pude disfarçar uma careta de descontentamento.

— Mas mãe! Deixa eu ficar só mais um pouco! – Nicho exclamou e eu fiquei com uma centelha de esperança.

— Nicho, já está em cima da hora! Estamos praticamente atrasados.

Ele fez uma careta emburrada como se dissesse “E quem precisa de médico?”.

— Eu sinto muito querida – A mãe de Nicho percebeu que fiquei triste – Amanhã ele volta.

— Tudo bem, Sra... – Cruzei os braços cabisbaixa.

— Ah me chame de Naomi. – Ela deu um sorriso doce igual ao de Nicho.

— Ok, Sra. Naomi! – Ela riu com minha formalidade, sou educada com gente mais velha, que seja legal, ou seja, minha família não conta.

— Eu estou esperando no carro, Nicho, se despeça da Red. – Nicho ainda estava de braços cruzados. Ela me deu mais um abraço – Apareça um dia desses lá em casa!

E saiu em direção a um veículo estacionado na entrada do parque.

— Eu não quero ir. – Ele resmunga.

— Mas vai ter, saúde em primeiro lugar – Dei de ombros, mas eu queria que ele ficasse. – Desce logo daí, molenga.

— Nossa, quanto amor – Nicho disse sarcástico e desceu do banco. Então se aproximou e me deu um abraço.

— Eu vou sentir sua falta. – Murmurei contra seu pescoço.

— Também. – Ele se afastou um pouco. – Eu gosto muito de você.

Quando pensei que ele se viraria e iria para o carro de sua mãe, Nicho encosta seus lábios aos meus, sinto meu rosto corar e meu coração falhar algumas batidas. Ele se afasta tão rápido quanto se aproximou e vermelho como um pimentão. Eu não deveria estar diferente.

 - Desculpa. – Ele saiu correndo e eu continuo estacada no mesmo lugar, com o cenho franzido, confusa e tentando identificar o que aquele beijo significou. Se bem que só durou uns 5 segundos. Vejo o carro de Naomi arrancar da entrada do parque e Nicho me encarando ainda vermelho pela janela. Ele levanta a mão timidamente e eu faço o mesmo.

Continuei parada feito uma anta nos próximos minutos até perceber que não tinha mais motivo para eu ficar ali então voltei andando normalmente pra casa, embora na minha cabeça passasse um turbilhão de pensamentos. Não gosto da minha mente bagunçada. Gosto dela organizada e muito bem resolvida. Olhei para a casa de Sam, ela e Jacob tinham sumido, ele deve estar em casa.

Entrei e chamei por Jacob, mas ele não respondeu, procurei pela casa toda, mas ele não estava. Ué, será que ele está na casa da Sam? Dei de ombros, e é comigo que reclamam tanto.   

Fui para o meu quarto a fim de por meus pensamentos em ordem. Primeira conclusão, eu só vejo Nicho como um amigo. Segunda conclusão: E além disso sou muito nova pra namorar. Terceira conclusão: Eu preciso saber o que ele está pensando. Quarta conclusão: Ainda assim estou com vergonha de encará-lo novamente. Quinta conclusão: Caramba, esse foi meu primeiro beijo.

Bom, pelo menos essa parte foi fácil. Não sei como aqueles romances água com açúcar rendem tantas páginas. Amanhã irei perguntar ao Nicho o que ele sente por mim e pronto. Não é tão complicado. Desci para comer algo na cozinha e Jacob ainda não havia chegado.

Peguei uma maçã e fiquei mordiscando ela refletindo uma única coisa “Quê que tá acontecendo na minha vida pelo amor de Deus?”.

Custava tanto assim eu nascer numa família normal, com uma mãe que tacasse chinelos e não facas, com um pai que não me fizesse treinar feito um soldado de exército? Jacob poderia até continuar sendo o mesmo chato. Mas talvez se fosse assim eu não conheceria Nicho. Ele é algo que faz sentido nessa minha vida surrealista. Mas é só eu ir pra o porão e encarar aquela cabeça de um lobisomem no último estágio de transformação que eu me lembro que simplesmente não dá pra escapar por muito tempo.

Anoiteceu e Jacob não chegou em casa, então é isso? Eu vou morrer de fome sem janta? Viu o que dá não me ensinar a cozinhar? Peguei uma nota de 20 dólares em sua carteira e liguei pra pizzaria. Não é porque ele ta lá se divertindo com a Sam que eu vou ficar sofrendo com a barriga roncando. Esperei e depois de meia hora a campainha tocou e eu fui atender, abri a porta e o homem com um uniforme me entregou a pizza.

— Posso usar o banheiro? – Ele perguntou e franzi o cenho, mas ele atravessou o portal quando ouviu a palavra “Entra”.

Quando ele seguiu minhas instruções para chegar ao banheiro, eu fechei meus dedos em punho numa faca de prata que tinha ali próxima. A bainha da calça dele estava levemente suja de sangue. Poderia ser um ferimento qualquer, ou poderia ser um monstro. Ele voltou e tive certeza de minhas expectativas, seus olhos estavam injetados de sangue e veias vermelhas surgiam em sua face, ele arreganhava a boca mostrando seus dentes pontiagudos. Não me assustei, simplesmente me levantei e fui em sua direção calmamente, porém ele usou super velocidade e numa fração de segundos estava em minha frente e suas mãos agarraram meus ombros enquanto eu sentia o hálito podre e seus olhos me encarando.

— O QUE FIZERAM COM ELA? – Ele perguntou desesperado – VOCÊS A LEVARAM! DIGA-ME O QUE FIZERAM COM ELA OU EU TE MATO AGORA MESMO!

— Desculpe. – Foi a única palavra que fui capaz de falar antes de passar a faca em sua pescoço o decepando. Ele estava tão cego de desespero que mal pôde se desviar, sua cabeça estava unida ao corpo apenas por um pedaço da garganta. Meu coração bateu acelerado pela adrenalina, eu nunca tinha visto um monstro de verdade, nunca tinha matado um monstro. O corpo do vampiro tombou no chão, sujando o tapete de sangue.

Desci ao porão e peguei um grande saco preto, dava para colocar o corpo ali, porém quando tentei arrastar o vampiro até ali dentro, tive que dar um gemido de frustração, ele era pesado demais pra mim.

Sai de casa e bati algumas vezes na porta do vizinho, me certificando antes que não estava suja de sangue. A porta se abriu e Sam apareceu descabelada.

— Red?  O que faz aqui? – Ela indagou. A ignorei e adentrei na casa, logo avistando meu irmão deitado sem camisa no sofá. Encarei ele e a garota, e logo me veio uma ânsia de vômito ao perceber que estavam se agarrando.

— Eca. Você não tem vergonha na cara? – Perguntei a Jacob que deu de ombros. – Eu preciso de ajuda.

— Com o quê? Não me diga que é porque está com fome.

Revirei os olhos.

— Não. Pra isso peguei sua carteira. Preciso de ajuda com um lance. Um rato gordo e miserável lá em casa. – Arqueei as sobrancelhas e ele entendeu meu ênfase na palavra “rato” como algo a mais.

— Ah. Sam, eu vou ter que ajudar minha irmãzinha com uma coisa, depois eu volto, okay?

— Ahn... Okay. – Ela murmurou confusa. Assim que saímos ele indagou o que tinha acontecido e eu apenas levantei a mão como sinal para ele calar a boca.

Abri a porta e ele fez uma careta ao ver o entregador morto com uma poça de sangue ao seu redor, a boca ainda aberta com as presas à mostra.

— Eu até deixaria você se divertir com a Sam, mas não consigo carregar esse corpo sozinha e eu não tô a fim de dormir com o fedor de um cadáver. Então se puder me ajudar... – Arqueei as sobrancelhas novamente de modo sugestivo e apontei para o vampiro com o polegar.

— Você realmente tem jeito pra coisa. Parabéns. – Ele deu de ombros e deu leves palmadas em minhas costas, pegou o corpo pelos braços inertes e arrastou até o saco o fechando. Depois o levou pro porão – Quando papai voltar ele queima. Agora vou voltar pra casa da Sam.

— Vai passar a noite lá? Fazendo o quê?

— Hm... A gente vai jogar videogame. – Porque ele falou isso de um jeito estranho?

— Tá bom.

Subi para o meu quarto, deitei em minha cama fitando o teto de madeira e assim que meu coração parou de bater rapidamente a ficha caiu. Matei meu primeiro monstro. Nossa, a vida não pega leve mesmo. Primeiro beijo, primeiro monstro, que tal eu saber como é ser rica pela primeira vez hoje também?

A sensação que se assolou no meu peito era desconfortável. Aquele vampiro estava procurando alguém. Provavelmente meus pais haviam a matado. Ele parecia amá-la, quem quer que fosse. Mas agora talvez se encontrassem do outro lado. Então por que eu não me sentia bem? Vitoriosa e poderosa como tantas vezes Patrick havia descrito? Aquele sentimento de superioridade, que havia se livrado de uma criatura ruim para o mundo? Sem eu perceber, uma pequena lágrima desceu pelo canto do meu olho. Eu não quero essa vida.


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