Homecoming escrita por Kaya Minami


Capítulo 2
Parte II.




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Eles nunca deixam de se falar – eles, a Fukurodani, porque o contato entre Akaashi e Bokuto diminuiu tanto que chegava a ser bizarro. O chat do time nunca parava de vibrar o celular do levantador, que era agradecido por ninguém, absolutamente ninguém perguntar se houve alguma coisa entre eles... Apesar da suspeita de que esse era um dos principais tópicos de assunto quando ele não estava por perto.

Quando o ano acabou e a Fukurodani se tornou apenas Akaashi, Wataru e muitos novatos, tudo se tornou muito mais solitário. Solitário e silencioso.

É num dia no meio de agosto que ele decide mandar uma mensagem no privado do antigo capitão, atitude que não tinha desde junho. Detalhe que eram duas da manhã no Japão, com Akaashi levando em conta da aproximada diferença de três horas entre eles. Ele diz, simplesmente, “Boa noite, Bokuto-san. Como vai a universidade?”, e espera. Cinco minutos, e o nome do contato do mais velho saltava de sua tela.

Akaashi! – ele berra do outro lado da linha, a voz um pouco diferente. Mesmo assim, o coração do moreno aperta ao escutá-la. – Não esperava uma mensagem sua! – há uma pausa, mas Akaashi não diz nada. – Aqui as coisas vão super bem!! Eu estou jogando no time de vôlei deles, mas eu sinto falta do nosso...

Ele percebe pelo tom. Bokuto diz “time deles”, mas quando fala da Fukurodani, é o “nosso time”. Inconscientemente, Akaashi fica um pouco feliz.

— Meu novo levantador é exigente, mas não é nada como você. – Akaashi imagina se isso queria dizer que ele próprio era mais exigente ou, talvez, incomparável. – Nós vencemos muitos jogos..!! Mas eu sinto falta dos seus levantamentos... Ahh, queria que você estivesse aqui... Pra me ver jogar.

Foi um erro. Atender aquela ligação foi um erro.

— Ah. S-Sim, Bokuto-san, eu... – ele escuta, de maneira abafada, algumas vozes, risadas e palavras sendo ditas em inglês. – Sinto saudades também. Espero que tudo corra bem pra você, eu... E todo o resto, estamos na torcida.

Ne, ne, Akaashi...

— Ouça. Aqui já está tarde, e eu ainda preciso dormir antes de ir pro colégio. Tenho um longo dia pela frente com os calouros... Além do mais, ligações internacionais são muito caras. Tenha um bom resto de noite, Bokuto-san. Boa sorte com os futuros jogos.

Ele afasta o celular da orelha, mas hesita com o dedo pairando sobre a opção “Desligar”. Ele escuta, ainda, Bokuto fazendo alguns barulhos, como “ah, ok, hmm, oh” antes de, finalmente, um “Boa noite, Akaashi”. Ele soa triste. Akaashi não está tão contente assim também.

Depois daquele dia, Akaashi perdeu a coragem de chamá-lo em particular primeiro de novo. Eles ainda se mantinham em contato, é claro, mas de forma muito mais indireta. Conforme os meses passavam, pouco a pouco, Bokuto se tornava mais distante. Mais ocupado, Akaashi adivinhava, porque ele também estava, dada sua situação. Logo também estaria deixando a Fukurodani e ingressando em alguma Universidade.

A pior parte era que, por mais que a ausência do resto de seus companheiros de time havia o afetado consideravelmente, aquele não tinha sido um ano desprovido de boas memórias. Ele teve bons momentos com a família, ele fez novos amigos, ele teve oportunidade de fortalecer os laços com os antigos – Kenma, Kuroo, Tsukishima, Hinata, Kageyama. Os novatos do time não eram ruins, muitos tinham talento. Um deles, inclusive, era muito parecido com o antigo ace...

A bola cai, barulhenta, a seus pés.

Sozinho na quadra em pleno início do mês de dezembro, Akaashi estava tentando manter uma mentalidade otimista. Preparava-se para seus últimos dias como capitão do time, e havia sentido a necessidade de limpar a mente, mas as lembranças iam e vinham.

As imagens do antigo time, completo, jogando naquela mesma quadra no ano anterior enchia-o de melancolia ao observar o outro lado da rede. As coisas não tinham que ser assim, pensou, mas era inútil. Incomovodava-o mais que tudo achar que todos, menos ele, tinham seguido em frente.

Ele se inclina e pega a bola com ambas as mãos, a cabeça ainda borbulhando em pensamentos. Um suspiro – porra, ele achava que Bokuto seria o que mais fosse sofrer e chorar e ele estava na América curtindo uma com seus novos amigos e novo time e...

Akaashi!!!

O levantador não precisa, em nenhum momento, se virar para saber de onde vinha aquela voz, ou quem era seu dono, porque aquele timbre e o barulho alto que os tênis faziam contra o chão enquanto corria deixavam isso claro. A mente de Akaashi fica em branco, e ele apenas segue seu instinto.

Ele ergue as mãos e levanta aquela bola.

A mão direita de Bokuto a acerta em cheio e Akaashi parece ver aquilo em câmera lenta. A forma do mais velho quando ele salta. A bola ganhando velocidade e cortando o ar em sua trajetória. O estrondo que ecoa pela quadra quando ela acerta o chão, a força com que ela quica e acerta a parede do outro lado.

A atmosfera que fica é como se eles tivessem feito um ponto. Os olhos de Akaashi chegam a se virar para o placar, mas não há ninguém para marcar, e dessa vez ele se vira para o lado. Bokuto já está olhando para ele, todo sorrisos e dentes brilhantes.

Ele está diferente – o cabelo que sempre usava para cima, que dava-lhe o marcante visual de coruja, encontrava-se para baixo, mas tinha as mesmas cores. Usava roupas novas, um casaco grande e calças largas, mas Akaashi conhecia aquele tênis e a antiga blusa da Fukurodani que ele tinha por baixo. Ele está suando também, pingando suor, ofegante, e por alguns segundos, o som daquela respiração pesada é tudo que se pode ouvir.

É real?

— B-Bokuto-san..?! Por que você...

Bokuto parecia estar esperando que Akaashi voltasse ao planeta Terra para poder se jogar sobre ele, envolvendo-o num dos maiores abraços de urso que o levantador já recebeu e que jamais esqueceria. Ele ainda está visivelmente surpreso, e mais ainda confuso, mas o abraça de volta, procurando desesperadamente colocar naquilo tanta emoção quanto sentia emanar do outro.

— Akaashi, eu vim o mais rápido que pude! – a voz dele falha no final, mas ele engole em seco. – Eu não aguentava mais ficar tanto tempo longe...

Bokuto quebra o abraço, mas ainda segura o moreno perto, e forte. Akaashi também não quer ser solto.

— O que você está fazendo aqui? – ele diz mesmo assim, porque ainda não faz sentido. – Não devia estar estudando? Eu duvido que tenha terminado seus estudos...

Provavelmente estaria dando-lhe um bom sermão agora, mas o olhar nas íris douradas do mais alto só transmitiam uma mensagem: “Não ligo.” E isso, para Akaashi, era péssimo. Bokuto ainda sorria grande.

— Eu cheguei hoje a tarde – explica. – Visitei todos do time! Deixei você por último porque queria mais tempo contigo, mas acabou que esqueci da hora e fiquei muito tempo com eles...

Akaashi ergue as sobrancelhas, e fica um pouco sem graça. O outro prossegue:

— Mesmo assim, não queria deixar pra te ver só amanhã, sabe? Por isso passei na sua casa agora pouco... E sua mãe disse que estaria aqui.

— E você veio correndo.

— Akaashi, eu tinha que correr! – Bokuto o balança, como se de fato não tivesse escolha. – E se eu perdesse a chance de te ver?

Akaashi sorri, e Bokuto também, e eles se encaram bastante. A velha memória dos dois, praticamente nessa mesma época do ano passado, formiga no pensamento de ambos. O levantador se afasta e dá um passo para trás, arrumando as roupas que se amassaram no abraço.

— Fico feliz – ele limpa a garganta – F-Fico feliz, Bokuto-san, mas temo por você que...

— Eu nunca parei de pensar em você – Bokuto diz, rápido, tudo junto, e os olhos do outro se abrem mais. – Todos os dias, Akaashi..! Juro pra ti, todos os dias eu lembrava de você de alguma maneira... Os seus levantamentos, os seus esporros, a sua voz, o seu beijo...

Ah.

O rosto de Akaashi fica um pouco mais vermelho.

— Eu... Parecia um filme que rodava na minha cabeça sem parar, aquela noite... – Bokuto leva uma mão ao rosto, e faz uma careta. – O jeito que eu deixei você ir embora... Argh! Se arrependimento matasse!!

Ele dá um passo a frente, e Akaashi dá outro pra trás. O moreno não sabe muito bem porque está fazendo isso, mas seu coração está na boca. As pontas de seus dedos estão tremendo.

— Bokuto-san, sinto muito por ter te deixado assi...

— Não, não!! – o outro balança as mãos na frente do corpo, como se não fosse nada de mais. – Naquele dia que me mandou mensagem, eu estava pensando nisso e quase deixei o celular cair da cama quando vi que era você! Aí eu precisei ligar, mas então... Eu percebi que as coisas não estavam indo muito bem, e só falar daquele jeito não era suficiente.

Akaashi fica boquiaberto.

— Você passou a querer voltar depois daquela ligação?

— Eu sempre estive com saudade! – Bokuto replica. – Mas, é... Também vim pela minha família e pelos outros, mas o principal motivo... – ele está olhando pra baixo, girando os dedos nas próprias mãos, visivelmente ansioso.

Os olhos de Akaashi chegam a arder, mas ele não chora em nenhum momento dessa vez. É quando ele se aproxima e segura o rosto do mais velho entre as mãos que nota que, na verdade, ele que tem os olhos marejados. O levantador balança a cabeça de forma negativa.

— Você é inconsequente – começa, forçando Bokuto a olhar para si. – Aposto que estava atarefado e mesmo assim gastou tempo e dinheiro para voltar pro Japão. Bokuto-san, você não pode fazer isso sempre que sente saudade. Tem que aprender a lidar com isso.

Sua expressão é firme, e Bokuto funga.

— Mas eu estou realmente... – Akaashi aproxima o rosto, e beija-o na bochecha. – Muito, – a outra bochecha – muito, – a têmpora – muito, – o nariz – muito feliz que esteja aqui. – As testas estão encostadas uma na outra. – Falava sério.

Os olhos de Bokuto brilham, ele sorri no meio de seu semblante de choro, e então cola Akaashi contra si ao puxá-lo pela cintura.

— Eu também... Falava sério quando disse que senti falta do seu esporro.

É Bokuto quem toma a iniciativa do beijo dessa vez, mas é só um, dois, três selinhos primeiramente, e ele consegue sentir o sorriso pequeno nos lábios de Akaashi antes de se inclinar na busca de algo mais profundo.

Akaashi sente como se fosse dezembro do ano anterior novamente, mas menos frio, menos triste e mais familiar. Ele, assim como Bokuto, reviveu aquele momento de novo e de novo que era como se tivesse memorizado aquela sensação, como se sentir aquele calor fosse habitual.

O fervor e a nostalgia no beijo do ex-capitão é tão presente que faz sua mente girar, assim como a maneira que seus lábios se encaixam, como Bokuto desliza-os um pouco mais para baixo para o inferior de Akaashi, como as mãos insistentes estreitam ainda mais a distância entre eles. As do levantador descem um pouco mais, ao passo que seus polegadores tocam a mandíbula do outro, dedos apoiados em seu pescoço.

Ele não quer que acabe. Ele não quer que Bokuto vá embora novamente, e que o espaço entre os dois, de inexistente, fique do tamanho de um oceano.

Merda, desculpe,— Bokuto murmura contra seus lábios, afastando o rosto o mínimo – Eu...

Nem chega a terminar a frase, desiste no meio do caminho, e Akaashi também não quer saber. As mãos do ace envolvem mais a cintura do moreno, uma se arrastando costas acima e enterrando-se nos cabelos escuros, a língua quente e lasciva dentro da boca do levantador, e Akaashi suspira.

Ele nunca foi beijado assim em nenhum momento de sua vida, e é muita coisa. Mas Akaashi está tão desesperado por mais, é difícil até de respirar. Seus joelhos estão fracos, mas ele ainda curva as costas contra o toque de Bokuto, pressiona-se contra ele além do que poderiam chegar, e Bokuto simplesmente geme em sua boca.

Akaashi já o ouviu fazer muitos barulhos, porque Bokuto está sempre fazendo algum; mas nunca algo assim. É tão suave, mas profundo, intenso, focado. E Akaashi precisa ouví-lo novamente.

Em algum momento eles tem de se afastar, e quando isso acontece, ambos estão praticamente tão ofegantes quanto Bokuto estava quando havia chegado.

Os olhos dele estão perdidos sobre os lábios rosados de Akaashi, e as maçãs do rosto do levantador se enrubecem quando ele percebe isso. Bokuto ergue o rosto, o olhar agora no mesmo nível do outro.

Eu preciso te levar pra casa.

O rosto chocado e extremamente vermelho de Akaashi fica imortalizado nas memórias dos dois, e Bokuto ri, alto.

— Eu quis dizer..!! ‘Kaashi, eu disse pra sua mãe que eu iria te acompanhar até sua casa. O que você estava...

— Por favor não pergunte. – ele resmunga ao se afastar, arrumando as roupas e colocando a bola que tinha pego junto às outras. – Vamos antes que fique muito tarde.

Após apagar as luzes e puxar as chaves do bolso, Akaashi sai na frente e Bokuto o segue, mas quando eles estão quase na porta, o mais velho o puxa pelo braço, impedindo-o de sair. Akaashi vira o tronco na direção dele, abrindo a boca para perguntar.

— Eu amo você, Akaashi – Bokuto solta, como se tivesse esquecido de falar – e se você disser que me ama também, eu não vou conseguir ir embora mais.

Seria fácil para o levantador dizer que não, que foi tudo no calor do momento, que ele se enganou e que não era nada disso. Mas ele pensou em como havia sido o ano sem Bokuto, e além de todos aqueles bons momentos, foi de fato... Bem ruim. Era claro para ele o que era melhor para o futuro do outro, mas mesmo assim... Uma vozinha no fundo de sua mente resolveu se pronunciar.

Akaashi Keiji, viva uma vida mais egoísta.

— A escolha é sua – deixa claro, – e a verdade é que eu amo você também. Eu... Jamais conseguiria mentir sobre isso de novo.

A sinceridade em seu tom faz com que Bokuto chore, chore muito dessa vez, e ele tenta beijar Akaashi de novo mas tem lágrimas e meleca escorrendo por seus lábios e o levantador faz de tudo para afastar o rosto. Eles acabam brincando e rindo, Bokuto limpa o rosto e consegue seu beijo.

O moreno tranca as portas e ambos deixam a quadra, ar gelado esfriando suas bochechas durante a caminhada.

— Sua família vai te matar – Akaashi comenta, mas Bokuto só dá uma risada e aperta mais a mão dele entre seus dedos. Ele vira o rosto na direção de Bokuto, num tom mais sério agora. – Passe a noite comigo hoje.

Os lábios dele estremecem, e Akaashi sabe que não é por causa do tempo.

U-Uh... Akaashi..?! – Bokuto pisca, e o outro abre um sorrisinho.

— Ora essa, você já dormiu na minha casa várias vezes. Estava pensando no quê?

O antigo capitão parece não acreditar que Akaashi tinha feito aquilo com ele. Bokuto também fica muito vermelho, rindo de nervoso e escondendo o rosto com uma mão.

D-Droga, Akaashi...

Ele ri também, mas sabia bem que havia a possibilidade de seu tiro sair pela culatra. Mas se fosse com Bokuto, Akaashi pensa, perder talvez não fosse tão ruim quanto realmente era.


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Notas finais do capítulo

essa é a primeira vez que eu escrevo eles, peço perdão se algo ficou ooc ou coisa parecida... obrigada por ler! :) ♥