Homecoming escrita por Kaya Minami


Capítulo 1
Parte I.


Notas iniciais do capítulo

essa história era originalmente uma oneshot, mas ficou meio grandinho e como eu (particularmente) não gosto de capítulos grandes, dividi em duas partes.



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A capacidade de se adaptar é um dos maiores talentos de Akaashi – em circunstâncias normais. Ficar sem Bokuto, em todos os sentidos possíveis, havia sido um das maiores reviravoltas em sua vida até então. Ele, que estava acostumado à presença do mais velho da forma que o nariz se acostuma com um odor desagradável.

Não que fosse uma boa comparação (estava longe de ser). Bokuto não era um incômodo, e essa era a pior parte. Como Akaashi poderia não encorajá-lo junto ao resto do time quando ele recebeu um convite para jogar vôlei no exterior?

Em primeiro lugar, era ciente do fato de que era um ano mais novo, e que Bokuto terminaria o Ensino Médio antes de si. Akaashi nunca havia apropriadamente pensado a respeito, mas o que naturalmente se esperava era que ambos continuariam a se ver... Frequentemente? De vez em quando? Talvez Bokuto fosse assistir a cada jogo da Fukurodani, torcendo com mais paixão do que qualquer um? Era bem a cara dele.

Mas ele iria para a América. Tinha de ir, era uma oportunidade de ouro.

A notícia veio em Outubro, e Akaashi teve praticamente dois meses inteiros para digerir aquilo tudo antes da real despedida. De todos os terceiranistas, não apenas de Bokuto, mas era o capitão deles que estava indo para outro continente.

Bokuto havia se animado mais do que qualquer um, mas também falava desde o início, “O que vocês acham?”, o tempo todo, “Eu nem sei inglês!!”, semanas de aparente incerteza e constantes questionamentos até aceitar aquela grande chance. Konoha havia lhe dito uma vez: “Se eu estivesse em seu lugar, não pensaria duas vezes. Deixar tudo pra trás é difícil, mas nós vamos estar bem aqui quando você sentir saudade!

Mas foi Akaashi, logo ao seu lado, que recebeu o olhar que buscava reafirmação. E tudo que ele foi capaz de fazer foi concordar silenciosamente, porque seus sentimentos confusos não chegavam perto de merecedores de causar a dúvida no ace. Era isso que ele também queria para Bokuto, que havia treinado mais que todos eles – ou pelo menos, era isso que dizia pra si mesmo.

Onze horas da noite e a maioria já estava bêbada, chorando, algo entre isso, ou os dois.

Menos o levantador. Quer dizer, ele havia virado um gole ou dois, mas seus instintos eram próximos aos maternais. Ele perdeu a conta de quantos tapinhas tranquilizadores nas costas havia dado ou de quantas pessoas havia auxiliado na ida ao banheiro.

Komi virava a terceira garrafa (enquanto Yukie o encorajava), Sarukui dava seu melhor para disfarçar as lágrimas que não cessavam de cair, Tatsuki dormia com a cabeça apoiada na mesa, Wataru brincava com os copos de vidro para não chorar também, Konoha que antes dialogava (ou tentava) com Akaashi agora parecia falar sozinho enquanto o último escutava, e Bokuto estava no banheiro há uns 15 minutos.

Akaashi chegou a se levantar para ir checar se ele não tinha se afogado na pia ou algo assim, mas quando se pôs de pé, a mágoa que parecia guardar fundo em seu coração explodiu de repente. Erguido daquele jeito, conseguia ver claramente o estado geral que os outros se encontravam e foi demais para ele. O moreno passou uma perna por cima de Tatsuki e procurou pela saída do estabelecimento.

O ar estava frio, neve cobrindo o chão. Akaashi estava sem o casaco mais pesado, ficar muito tempo fora não fazia parte de seus planos: só queria esfriar a cabeça. Ele se aproximou de um poste de iluminação e expirou, quente, contra as mãos geladas, as pálpebras se fechando. As mãos ao redor de sua boca migraram para seus olhos, e Akaashi deixou-se chorar. Pelo menos uma vez.

Ele não teria tempo, nem se pudesse, de se recuperar e esconder as bochechas vermelhas ou os olhos brilhantes de lágrimas antes de ouvi-lo gritar seu nome e os passos pesados contra a neve fofa. Quando percebeu, Bokuto já o puxava pelo pulso.

Akaashi! O que está fazendo aí? Já estava indo embora?! Você esqueceu seu casaco, vamos, está congelando aqui fora...! – de frente para ele, Bokuto havia jogado a peça de roupa ao redor de seus ombros, meio desajeitado e com os dedos tremendo, efeito do frio e do álcool.

Foi só depois que ele percebeu as mãos do levantador ao redor do próprio rosto e a trilha úmida que o choro deixava embaixo de suas pálpebras inferiores. Com as próprias, Bokuto afastou as mãos do mais novo, os olhos arregalados e os lábios entreabertos; a expressão uma interrogação.

— ...Akaashi..? Por que você...

— Bokuto-san, por favor, retorne para o estabelecimento – cortou-o, dispensando explicações. – Seria muito ruim se viajasse estando doente.

Seu erro foi fungar, que apenas chamou mais a atenção do capitão para as lágrimas, que a esse ponto não desciam mais. Mas Akaashi devia ter previsto que Bokuto jamais viraria as costas para ele daquele jeito. Ele apenas aumentou o aperto nos braços de Akaashi, que suspeitava que também o fazia para sustentar o próprio equilíbrio, não apenas mantê-lo no lugar.

— Você não precisa fingir que está tudo bem! Não precisa tentar parecer forte, todos nós choramos! Vamos, vamos, pode colocar pra fora...

Ele pressiona os lábios juntos, os olhos fixos no de Bokuto. A sombra de um sorriso paira em seu rosto quando o ace abre um enorme, mas Bokuto não entende. Não é só isso, é mais, muito mais para Akaashi, e quando ele pensa sobre isso de novo, as lágrimas começam a brotar do canto de seus olhos sem aviso.

Por alguns segundos (que mais pareceram horas), ele apenas desiste de manter a fachada e aceita o abraço do mais alto, afundando o rosto no vão de seu pescoço e apenas respirando contra sua pele. Quando sente que é suficiente, Akaashi se afasta, limpa o nariz com a manga de sua blusa, e olha firme para Bokuto, que até parece apreensivo.

Bêbado ou não, esquecendo ou não esse momento, ele não veria Bokuto por muito, muito tempo.

— Bokuto-san, você precisa ir. Não hesite em sua escolha. Não olhe para trás.

O capitão parece, por um instante, confuso pela fala abrupta, já que Akaashi não havia dado um pio acerca de sua opinião a respeito, mas inclina o rosto para frente, atenção completa a ele.

— Eu... – Akaashi continua, vacilando discretamente. – Não quis que você fosse no começo... Mas é besteira. Eu não falei nada porque eu quero o que é melhor pra você, s-sem levar em conta meus... Sentimentos egoístas.

— Mas eu queria ouvir! – Bokuto exclama, abruptamente, antes mesmo que Akaashi terminasse sua fala anterior. – Akaashi, eu queria...

Ele levanta uma mão perto de seu rosto, e Bokuto se cala, mas seu olhar diz tudo. A impressão que Akaashi tem é que ele vai chorar também, os lábios tremendo como estavam.

Akaashi é incapaz. Ele dá um passo a frente, as mãos a arrumar o colarinho do mais velho, a vista em qualquer lugar menos contra as íris douradas de Bokuto.

— Todos nós sabemos o quanto você quer ir. Eu só quero que você prometa pra mim que dará seu melhor. – E então ele ergue o rosto, finalmente o fitando de volta. – Por favor.

Bokuto engole em seco. Sua expressão é perdida, as maçãs do rosto rosadas. Ele parece reunir toda a determinação que lhe restou para responder.

— Prometo.

O avião dele decola no dia seguinte.

Não há tempo a perder.

Akaashi envolve os ombros do mais velho com os braços, e de repente há lábios gelados contra os seus, mas o frio passa num segundo. Ele traça o contorno da mandíbula do capitão com dedos finos, um movimento inconsciente enquanto arrumava a posição de sua cabeça para poder deslizar os lábios sobre de Bokuto mais facilmente. Dura pouco. Pouco demais para Akaashi, mas é suficiente para deixar o ace uma bagunça de emoções, suficiente para tornar sua respiração irregular.

Quando o levantador sai de perto, ele olha uma última vez para o rosto do cortador que o acompanhou por tanto tempo.

— Até algum dia, Bokuto-san.

Ele não se vira para ver a reação do outro, e naquele momento, nem gostaria de saber qual teria sido. Entretanto, é essa reação não vista que assombraria praticamente o 3º ano inteiro de Akaashi.


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