Coroa de Vidro escrita por Sof1A


Capítulo 4
Quatro


Notas iniciais do capítulo

Oie! Mais um capítulo fresquinho para vocês!



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A antecâmara debaixo do Jardim está ligada a um corredor escuro e vazio. Corro como eu nunca corri na minha vida, diferente de Mare eu não cresci correndo pela floresta. Sou uma garota da cidade. Me esforço ao máximo para acompanhar a garota ao meu lado. Meu cabelo loiro balança completamente solto e bagunçado por causa da rajada de vento estranha. 

— Se chegarmos ao mercado talvez podemos ter uma chance. — Grita Mare. Talvez teremos uma chance. Subimos a primeira escada que nos levou a um corredor escuro cheio de espelhos, um tiro passa entre nós duas, nos obrigando a se jogar no chão. Dois sentinelas fecham o caminho a frente, Mare pensa mais rápido do que eu, escorregando entre eles, faço a mesma coisa segundos depois, antes que eles pudessem erguer as armas e atirar. 

Continuamos a corrida, um dos guardas parece gritar e um espelho se estilhaça — fazendo pequenos cortes no meu braço que não foi ferido no acidente com o ônibus da escola. A janela que nós finalmente encontramos no fim do corredor é uma grande decepção, feita de diamante. Deixando a floresta lá fora completamente fora do nosso alcance. Agora era uma boa hora para acontecer um let it go

Uma onda de calor surge repentinamente, me assustando. Olho para trás e vejo uma muralha vermelha brilhante. Fogo. Mare está assustada, assim como eu. 

— Mas que ótimo! — Mare solta tentando rir da situação. Não poderia concordar mais. Tento sair correndo mais uma vez, mas me choco contra um grande tecido preto. Braços fortes fecham-se ao meu redor e me seguram quando tento escapar. Let it go! Faz alguma coisa, eu não posso ficar aqui! Vou estragar tudo! Grito mentalmente, mas nada acontece. O calor aumenta tanto a ponto de me cozinhar. Não quero virar assadinho de Kenna

A fumaça preta começa a me sufocar. Mare, que está atrás de mim já está desmaiada no chão, logo minha visão começa a ficar turva. 

— Me desculpe. — Ecoa a voz de Cal em meus ouvidos. Em seguida eu desmaio. 

*****

Estou em minha cama do orfanato, meu celular vibra com uma mensagem estranha. "Me encontre no café da rua 8". E é lógico que eu não fui até lá, poderia ser um assassino de garotas. Logo chega Anna, uma garotinha ruiva que resolveu me chamar de irmã, porque segundo ela eu pareço a Elsa. Depois é como se o mundo girasse eu caio. 

Aterrisso no momento do acidente, meu livro A Prisão do Rei parece flutuar assim como todas as outras coisas, a janela se estilhaça novamente e tudo fica escuro. Sou arrastada por todas minhas lembranças. 

Elara, tenho certeza de que é ela. Mas nenhum outro detalhe do livro volta a aparecer. Ela ainda não sabe que é apenas uma personagem de onde venho, mas deve estar procurando por respostas. Momentos dos quais nem me lembro aparecem, até vejo minha mãe, loira de olhos azuis frios, assim como eu, ela morreu quando tinha dois anos. Como isso é possível? Diz uma sombra que até o momento não estava ali.

— Isso é impossível. — Diz novamente a sombra. Caio no chão, sinto a textura de concreto em minhas mãos. Minha cabeça dói. Tudo então desaparece, minha mãe, Anna, tudo. Elara não descobriu nenhum detalhe do livro, assim espero. Concreto e barras de metal me cercam, uma cela. Ao meu lado está Mare ajoelhada no chão, parecendo enjoada. Me levanto com muito esforço e me jogo em cima das barras. 

— O que você está fazendo com ela? — Digo preocupada com Mare. Chamo a atenção de Elara. Em seguida sinto náusea e caio de joelhos no chão, ao lado de Mare. Ela passa suas mãos pelas grades e toca minha têmpora fazendo o mesmo com Mare. 

— Não muita coisa. Mas isso... — Ela passa suas mãos pela grade e toca em minha têmpora, fazendo o mesmo com Mare. A dor triplica sob seu toque e eu tenho vontade de gritar. — É pra vocês duas não fazerem besteira.

— Tipo ficar de pé? — Replica Mare. A dor é tanta que eu não consigo nem mesmo rir, quem dirá pensar, mas consigo segurar uma onda que xingamentos que eu sempre quis dizer para Elara. 

— Como eletrocutar alguma coisa — Ela dispara olhando com raiva para a garota ajoelhada ao meu lado. 

A dor diminui um pouco e consigo me arrastar até o banco de metal no fundo da cela, Mare demora um pouco mais para vir, mas consegue. Tudo o que aconteceu volta como uma onda de acontecimentos. Eu caindo logo atrás de Mare, a estranha corrente de ar que me impediu de cair. A parede de gelo que me salvou. Isso não pode estar acontecendo. Mare é a sangue-nova, não eu. 

— Vocês não são prateadas. Seus pais são vermelhos, vocês são vermelhas. — Resmunga Elara com seus saltos altos batendo contra o concreto. — Vocês são milagres, Kenna Flake e Mare Barrow, duas impossibilidades. Vocês são algo que nem eu consigo entender, e já vi vocês por inteiro.

— Era você? — Pergunta Mare. Nem me dou o trabalho de dizer nada já sei que é ela que invadiu meus pensamentos.

— Para conhecer alguém você tem que conhecer suas lembranças, seus medos, tudo. E eu precisava saber com que tipo de coisa estamos lidando.— Diz a rainha. Minha vontade de xingar ela só cresce.

— Não somos uma coisa. Somos pessoas. — Finalmente digo. Elara vira seu olhar a mim. 

— O que você é ainda não vem ao caso. Mas tem muito o que agradecer, garotinha gelada — zomba ela, com o rosto próximo às barras. 

De repente, perco o controle das pernas. Elas perdem a sensibilidade, como se eu tivesse sentado em cima delas. Como se eu estivesse paralisada. O pânico só aumenta quando percebo que sequer consigo mexer os dedos do pé. Droga! Não pense nada dos livros, não pense nada dos livros. Minhas pernas se movem sozinhas e me levam até as barras. Do lado de fora, a rainha observa. Meus passos seguem o piscar dos seus olhos. 

Elara é uma murmuradora e está brincando comigo como se fosse um brinquedo de controle remoto. Quando estou perto o bastante, ela agarra meu rosto. A dor na minha cabeça se multiplica, a sensação é de que meu cérebro vai explodir. Solto um grito.

— Você fez aquilo diante de centenas de prateados, pessoas que vão fazer perguntas, pessoas com poder — ela sibila em meu ouvido como a cobra que realmente é. — Esse é o único motivo para ainda estarem vivas. 

Desejo poder congelar a cara de metida de Elara, sem sucesso. Ela gargalha ao perceber o que estou tentando fazer. Eu já vi isso em algum lugar. Minha visão fica turva, mas ainda escuto Ela sair, seu salto fazendo barulho no concreto. Minha visão volta, mas eu não tenho forças para voltar para o banco. Mare se levanta e me segura pelos ombros, me ajudando a voltar para o banco. 

— Sinto muito, não consegui te defender. — Diz ela.

— Foi melhor assim, quem sabe o que ela teria lhe feito. — Mare parece cansada, eu também estou. Seus olhos se enchem de lágrimas mas não chora. Ela é orgulhosa assim como nos livros.

— O que isso quer dizer? — Ela pergunta, olhando para o punho que está nu. A fita vermelha foi retirada, percebo que a minha também não está mais ali. 

— Não faço a mínima ideia. — Minto. Sei o que vai acontecer, mas não tenho mais tanta certeza, no livro que eu li não existia uma garota chamada Kenna.

Um policial aparece encarando eu e Mare sentadas no banco de metal presente na cela. 

— Troquem de roupa. Preciso levar vocês lá pra cima. — Diz ele, mas sem ser grosso. 

O policial aponta para uma pilha de roupas limpas próxima da grade. Ele vira de costas, nos dando ao menos uma vaga privacidade.

As roupas são simples, porém finas e mais macias do que qualquer outra coisa que tenha vestido. Camisa branca e calça preta, ambas decoradas com uma solitária faixa prateada de cada lado. Há sapatos também: um par de botas engraxadas que vão até o joelho. Eu e Mare estamos com a mesma roupa novamente, mas nenhuma de nós tem sequer uma linha vermelha presente. 

— Tudo certo. — Diz Mare enquanto termina de calçar a segunda bota. Espero ela de pé, e assim que termina de fechar a bota o policial se vira, abrindo as grades com um acenar de mãos.

— Magnetron, caso estejam se perguntando. — Diz ele mexendo os dedos. — E sim, a moça que você quase fritou é minha prima. 

— Desculpe. — Diz Mare soando quase como uma pergunta.

— Peça desculpas por ter errado a mira — ele responde sem qualquer tom de ironia. — Evangeline é uma vaca.

Levo uma mão à boca segurando uma risada, me lembro dessa parte do livro, eu ri muito com essa fala.

— É de família? 

— Acho que você vai descobrir — ele diz, com seus olhos pretos e suaves e um sorriso contorcido em seus lábios. — Meu nome é Lucas Samos. Sigam-me.

Ele nos conduz por uma escada em espiral até nada menos de doze agentes que nos cercaram numa formação previamente ensaiada. Lucas está no meio de nós duas, caminhando conosco. Quando chegamos aos andares de cima as paredes vão se escurecendo, para que ninguém veja o que não deve. Com certeza eu e Mare estamos nessa categoria.

Uma agente prateada ruiva é a responsável pelo escurecimento das janelas e não algum tipo de mecanismo. Ela faz um gesto com a mão, dobrando a luz ao seu redor e assim sombreia os vidros.

— Ela é uma sombria, manipuladora de luz — cochicha Lucas para nós duas.

Mare deve estar sentindo cada câmera presente nestes corredores, tanto as que eu posso ver como aquelas que estão escondidas. Passamos por uma porta monstruosamente grande, que revelou um cômodo muito maior do que elas. E, diante de nós duas, está o rei, sentado num trono de cristais de diamante esculpidos num inferno de chamas. Atrás dele, uma janela cheia de luz do dia que rapidamente escurece. Lucas e os outros guardas nos fazem avançar, mas logo depois saem com um simples aceno de cabeça.

Mare permanece olhando para baixo, mas eu mantenho meu olhar erguido. Vejo Cal ao lado direito do rei, ele me olha pasmo com o que viu no Jardim. Eu também estou

— De joelhos. — Diz a rainha, sua voz suave como veludo. Até penso em me ajoelhar, mas sigo o exemplo de Mare, que agora está com a cabeça erguida.

— Não — Contesta ela, olhando diretamente para o rei e a rainha. Ela é mais orgulhosa do que eu imaginava. Passo meu olhar do rei para a rainha e até para Maven, mas evito encarar os olhos em chamas de Cal. 

— Gostam de sua cela, meninas? — A voz do rei ecoa por todo o salão, a ameaça é tão clara como o Sol. Continuo seguindo o exemplo de Mare e permanecemos de pé. O rei nos olha como se fossemos um experimento. 

— O que querem de nós? — Digo, reunindo qualquer coragem que exista em mim nesse momento. Elara se aproxima do ouvido do rei Tiberias.

— Já falei, elas são vermelhas dos pés à cabeça... — O rei, porém, faz ela se calar a espantando como uma mosca. Ela merece. Bem feito

— O que quero de vocês é impossível — dispara Tiberias. Um ardor tênue em seu olhar revela o desejo de nos incinerar. Ele não pode, faria os prateados fazerem muitas perguntas.

— Eu não me importo de não ser executada. Você se importa Mare? — Digo olhando de leve para Mare que balança a cabeça. O rei ri.

— Não me disseram que você é esperta.

Mare parece aliviada, eu também. Baguncei muito a história e cheguei até a pensar que eles nos matariam por não poderem acolher duas garotas. Ele lança em nossa frente duas pilhas de papeis, a primeira folha de cada uma contem nossas informações básicas. Nome, aniversário, tem até mesmo nossa foto da carteira de identidade. Até agora não entendi como conseguiram fazer uma identidade minha, eu não sou daqui. Mas aparentemente eles tem todo um histórico da minha vida mesmo sendo de outra dimensão. Um histórico falso, com certeza, feito pela mesma pessoa desconhecida que fez minha identidade.

— Mare Molly Barrow, nascida em 17 de novembro de 302 da Nova Era, filha de Daniel e Ruth Barrow — Tiberias começa a recitar de cor. Me pergunto o que deve estar escrito em minha ficha. — Desempregada, será recrutada no próximo aniversário. De vez em quando vai à escola, suas notas são baixas, e tem uma lista de infrações que levariam à cadeia na maioria das cidades. Kenna Flake, nascida em 7 de agosto de 302 da Nova Era, filha de Clara Flake e pai desconhecido. Desempregada, sem nem mesmo um teto sobre a cabeça, mas sempre procurou ir à escola, notas medianas. Nenhuma infração. Será recrutada no próximo aniversário.

Fico em choque ao perceber que metade daquilo era realmente verdade, a parte da escola. Eu realmente quase nunca faltava pois a segunda opção era ficar no orfanato aturando várias crianças chatas ou até mesmo ajudando a limpar. Seja lá quem fez esse histórico meio falso me conhece da outra dimensão. 

O rei levanta, caminhando até nós duas. Posso ver de perto o belo trabalho da coroa, tão afiada que poderia matar.

— Mas, vocês são algo mais. Algo que não posso compreender. Vocês são tanto vermelhas quanto prateadas, uma peculiaridade com consequências fatais que é incapaz de entender. Então, o que faço com vocês? 

Se ele estivesse realmente me perguntando eu responderia para me deixar ir embora e ficar apenas com Mare, para ver se a história volta para seu curso natural.

— Deixe-nos ir embora. Não diremos nada a ninguém. — Elara começa a rir com a fala de Mare.

—E as Grandes Casas? Também farão silêncio? Vão esquecer as menininhas elétrica e  gelada de uniforme vermelho? — Lógico que não. Eles não deixariam algo tão grande passar.

— Você sabe qual é meu conselho, Tiberias — a rainha acrescenta. — Resolve nossos dois problemas.

Deve ser um conselho horrível, pelo menos para nós duas, pois Cal cerra o punho. É quando o encaro pela primeira vez desde que entrei aqui. Nossos olhares se encontram por um momento mas logo volto a encarar o Rei de pé em minha frente.

— Sim, Elara — diz o rei, assentindo. — Não podemos matá-las. 

Ainda não pelo menos. O rei continua seu raciocínio.

— Portanto, vamos escondê-las à vista de todos, onde poderemos observá-las, protegê-las e tentar entendê-las. 

— Pai! — Cal estoura. Maven o segura pelo braço evitando assim novos protestos.

— Vocês não são mais Mare Barrow e Kenna Flake. 

— Então quem nós somos? — Pergunta Mare. 

— Seu pai é Ethan Titanos, general da Legião de Ferro, morto em batalha quando você era bebê. — Diz o rei olhando para Mare. E continua olhando para mim. — E seu pai é Grant Laris, capitão da força aérea de Norta, morto numa queda de avião. Um soldado vermelho as tomou para si e as criou como irmãs na lama, sem jamais revelar de onde vocês vieram. Vocês cresceram acreditando não serem nada, e agora, por acaso, assumiram seu verdadeiro lugar. Vocês são prateadas. Uma de vocês se casará com meu filho Maven e a outra será nomeada como princesa protegida da família. 

— Princesa? — Pergunto, segurando uma gargalhada. Tudo isso está me deixando louca. Até três dias atrás esse mundo era apenas um livro para mim, agora além de estar aqui, eu estraguei a história e ainda descobri que sou uma sangue-nova. Mare parece tão chocada quanto eu, ela tenta falar alguma coisa mas apenas um som baixo sai de sua boca. Maven se levanta e esbraveja alto, sua voz ecoando por toda a sala. Cal deveria ter o segurado, mas ele apenas me olhava. 

—  Não entendo — dispara, caminhando na direção do pai. — Elas são… por quê? 

Deveria ter me ofendido com isso, mas não podia concordar mais, até porque apenas Mare deveria estar passando por isso, e não eu junto com ela. Se as outras fãs ficassem sabendo, provavelmente iriam fazer de tudo para estar em meu lugar. 

— Quieto — sua mãe corta. — Você vai obedecer. 

Eu quase sinto pena de Maven por ter uma mãe daquelas, quase. Maven encara a mãe, dando uma de filho rebelde, mas Elara endurece e ele recua. Me pergunto se ela já chegou a usar os poderes no filho. Ou se ainda os usa. Mare começa a falar, sua voz tão baixa que quase não consigo ouvir.

— Isso parece um pouco… demais. Você não quer fazer de mim uma nobre, quanto mais uma princesa.

A expressão de Tiberias se abre num sorriso malicioso. Como sua mulher, tem dentes estonteantemente brancos.

— Ah, claro que quero, minha cara. Pela primeira vez na sua vida rudimentar, você tem um propósito. Aqui estamos — prossegue o rei — nos primeiros estágios de uma rebelião inoportuna, com grupos terroristas ou exércitos libertadores ou seja lá como aqueles vermelhos imbecis chamam a si próprios, explodindo tudo em nome da igualdade.

— A Guarda Escarlate — Suspira Mare. Shade, Farley e vários outros vieram em minha mente. Eu espero que Elara esteja fora de meus pensamentos. — Eles bombearam...

— A Capital, sim — interrompe o rei. Ele teme a Guarda, o modo como ele tenta fingir desdém mostra isso. Outras pessoas podem até acreditar, mas eu tenho a pequena vantagem de conhecer essa história como a palma da minha mão. Mare também parece perceber, anos de roubas pessoas a tornou muito esperta. 

— E vocês — retoma — podem nos ajudar a acabar com isso de vez. 

Vai sonhando. Acho que eu estaria rindo se não fosse tanta a pressão nessa sala. 

— Fazendo com que uma de nós nos case com...  Perdão, qual é seu nome mesmo? — Mare diz e Maven fica com as bochechas brancas, é muito estranho esse jeito dos prateados corarem.

— Meu nome é Maven — diz ele com calma e suavidade. Seu cabelo é preto e brilhante, assim como o de Cal mas seus olhos são azuis, tão claros quanto a água. Ele é magro e um tanto mais baixo do que Cal, ele é bonito mas não maravilhoso. — E ainda não entendo. 

— O que nosso pai quer dizer é que elas representam uma oportunidade para nós — Cal intervém para explicar. Diferente do irmão, sua voz é forte e impõe respeito. É a voz de um rei. — Se os vermelhos as virem elevadas ao nosso patamar, prateadas de sangue, mas vermelhas de criação, talvez se acalmem. É como nos antigos contos de fadas: uma plebeia que se torna princesa. Elas são as campeãs dos plebeus. Os vermelhos podem se espelhar nelas, e não nos terroristas. Elas são uma distração. 

Só que isso não é um conto de fadas, era pra ser um livro, mas não mais, pelo menos não para mim. Essa é minha nova realidade. Me lembro de como Mare estava no livro, assustada. Eu também estou. Qualquer deslize e eles me matam, qualquer erro e a rainha pode me torturar de novo. 

— E, se criarmos uma boa história, as Grandes Casas também ficarão satisfeitas. Vocês são filhas perdida de heróis de guerra. Que honra maior poderíamos lhe dar? — Termina Cal. Eu o encaro nos olhos, sei que não posso escapar disso. 

— Isto não é um pedido, Lady Titanos, Lady Laris — avisa Tiberias, usando meu novo nome e meu novo título. — Vocês vão levar a farsa adiante e vão fazer direito

Elara volta seus olhos azuis para nós duas. 

— Moraram aqui, como princesas que agora são. Sua agenda diária será feita de acordo com minha vontade, e vocês serão instruídas em toda e qualquer coisa que possa lhes tornar… — ela umedece os lábios enquanto procura a palavra — … apropriadas.  Vocês serão constantemente avaliadas.  A partir de agora vocês vivem no fio da navalha. Um passo em falso e sofrerão as consequências.

Sinto minha garganta fechar, sabia o que me aconteceria se cometesse algum erro, mas ouvir isso de Elara torna tudo, real

— E a minha vida…? — Pergunta Mare.

— Que vida? — grasna Elara. — Menina, você tirou a sorte grande. 

Cal parece se incomodar com a situação da garota, mas não tira os olhos de mim.

— Ela se refere à família dela. Mare… A garota tem uma família.

— Ah, isso — bufa o rei. — Suponho que vamos pagar uma pensão para ficarem calados.

— Quero que meus irmãos sejam dispensados da guerra. — Mare soa com mais certeza do que em qualquer outro momento desse dia.

— E meu amigo Kilorn Warren. Não deixe os legionários o levarem.

— Feito — Tiberias responde em meio segundo, sua resposta soando mais como uma sentença do que um acordo. Um punhado de soldados vermelhos não significa nada para ele.

Resumo de hoje: estraguei toda a história de um dos meus livros favoritos. Sou uma sangue-nova. Agora sou uma princesa. Felizmente não estou noiva de ninguém. Tenho uma outra identidade agora, onde Mare é minha irmã. Estou frita.


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Notas finais do capítulo

Muito obrigada por lerem! Não esqueçam de deixar seu comentário. Só assim eu sei que vale a pena continuar...



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