007 Contra o Fim do Mundo escrita por Junovic


Capítulo 8
Negócios, negócios, guerras, negócios — Parte I


Notas iniciais do capítulo

O esconderijo de Q finalmente é revelado. O grupo disseca os negócios que envolvem a guerra da Síria.



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Bond recebera através de seu relógio um alerta de M pedindo para encontrá-lo, juntamente com Moneypenny, em um pub frequentado por irlandeses, nos arredores de Westminster. De lá, M receberia as coordenadas no visor de seu Hublot, indicando a localização exata de Q.

Quando se encontraram, foram a pé até o local informado, sem chamar atenção. Bond e Moneypenny assumiram um ar formal na frente de M, que não sentia a tensão causada pelos dois.

Enquanto afastavam-se do centro, o relógio de M vibrou em seu pulso, brilhando intensamente uma coordenada geográfica.

51°41′24″N 0°25′08″W

 Ele apertou um botão lateral e o relógio silenciou; seguiram por uma rua escura em um bairro pouco conhecido, até pararem na casa que a coordenada indicava.

Era um prédio decrépito, onde no térreo funcionava uma pizzaria com aspecto sujo. M foi o primeiro a entrar no estabelecimento, decidido. Ignorando um recepcionista que encaravam-nos, ele acessou os fundos, onde, jogadas em um canto, havia embalagens de pizza e uma pilha de lenhas.

M, como se conhecesse o local, afastou as embalagens, revelando um compartimento no chão.

— James, ajude-me aqui — M e Bond agacharam-se forçando a alça do alçapão. Quando finalmente conseguiram abri-lo, um brilho fraco saia do buraco recém-liberado, iluminando os degraus e os rostos dos visitantes.

Moneypenny foi a primeira a descer, seguida por M e Bond.

***

Q parecia mais pálido do que de costume. Seus óculos de grau intensificavam seus olhos fundos e as luz do monitor lhe dava um aspecto fantasmagórico. Seus cabelos estavam despenteados e Bond até começara a acreditar que o cheiro um tanto ácido que sentia vinha de seu amigo nerd.

O local era amplo, mais parecia um estacionamento subterrâneo. O mínimo de barulho e ecos eram produzidos, camada após camada, até morrer na parede mais distante.

Q reuniu todo seu material e trouxera ali para baixo: um notebook e um switch, que ficavam em cima de uma mesinha. Além de sua cadeira giratória, fazia parte do seu equipamento alguns pedaços de pizza gelados e um copo de refrigerante vazio.

Bond ainda pôde ver uma mala jogada a um canto, cheia de roupas desdobradas. Era algo completamente diferente dos monitores e equipamentos de Moses, não havia dúvidas.

— Lamento não haver lugar para sentar. Não recebo muitas visitas — falou Q, ainda digitando freneticamente no teclado.

— Acredito — comentou Bond.

— Q? Onde você dorme? — perguntou Moneypenny, olhando ao redor do calabouço de Q.

— Ah, não se preocupe, Moneypenny — disse, desinteressado — Haj levou meu colchão para pegar um sol. E antes que você pergunte, e espero que não seja informação demais, ele também me deixa tomar banho no apartamento dele, quando necessário.

— Quando necessário? — perguntou Bond, malicioso.

— Lamento que tenha que sobreviver nessas condições, Q — disse M, com sinceridade — Mas, espero que você nos traga novidades para acabar com toda essa situação logo.

Q, pela primeira vez, olhara para os três convidados, confuso.

— Não sei o que quer dizer, M, mas eu estou ótimo.

— Verdade? — espantou-se M.

— E por que não estaria? Tenho tudo o que é necessário para sobreviver e ainda posso evitar situações desnecessárias.

M, Moneypenny e Bond entreolharam-se, curiosos.

— Quem é Raj? — indagou James, ainda em seu tom mordaz.

— Bem, James, ele é sócio do dono da pizzaria. Provavelmente vocês o viram na recepção.

— Sim, muito simpático — interrompeu M, sem emoção — Que tal irmos ao que interessa?

Antes mesmo de M terminar a frase, o alçapão fora aberto novamente, fazendo o barulho que vinha da pizzaria ecoar no salão quase vazio. Eles viram as pernas de Tanner surgirem na escada, que após atravessar o portal por completo, fechou-o. O alçapão trancou-se com um baque, dando aos presentes a sensação que submergiram nas águas, tragados pelo silêncio que seguiu-se após os ecos morreram ao longe. Um calafrio percorreu a espinha de Bond naquele exato momento.

— Boa noite, senhores... senhora — falou, aproximando-se do semicírculo criado ao redor de Q — Espero não ter perdido nada importante.

— Falávamos dos hábitos de higiene inconstantes de Q — anunciou Bond, recebendo de Q um olhar gélido.

— Mas já finalizamos o debate, nos perdoe — concluiu M, seu tom de voz flertava com a irritação — E espero que tenhamos um assunto mais importante do que esse.

Q virou-se para eles, deixando, finalmente, seu computador em segundo plano.

— Bem, estamos entrando em um terreno perigoso, M — começou Q — nosso contingente não é grande suficiente para abarcar todos os aspectos que vão se formando nessa situação.

— Continue — encorajou M, de braços cruzados, refletindo cada palavra de Q.

— Continuei a pesquisa sobre a Heydrich Corporate Industries e além do que eu já te adiantei, descobri alguns outros aspectos interessantes desse grupo.

— Não pude falar a respeito de nosso assunto de hoje mais cedo com os nossos colegas, Q — observou M.

— Bem, eu posso resumir as novidades, então — disse Q, com um gesto pomposo para os demais — O informante de M era C, que parece tão descontente em ser jogado a segundo plano que decidiu fazer a sessão de terapia completa no Hyde Park.

“Confesso que esperava mais detalhes, mas o fato de ele indicar o envolvimento da Heydrich Corporate Industries nas ações do governo já nos ajuda a dar um grande passo. Para quem não sabe a Heydrich não tem uma sede própria ou um país de atuação para administrar suas ramificações. Por outro lado, ela atua através de suas centenas de milhares subsidiárias, que vão desde empreiteiras focadas na construção civil a instituições financeiras. A Heydrich em si não tem um rosto, mas funciona como um chamariz para os negócios, uma vez que os milhares de nomes que entram em uma negociação representando os acionistas da Heydrich, digamos que isso lhe dá uma ligeira vantagem em um possível acordo”.

— Então uma dessas subsidiárias está envolvida com o governo? — perguntou Moneypenny.

— Na verdade, na gestão do atual Primeiro Ministro, os contratos com subsidiárias da Heydrich duplicaram de dois anos para cá. É o mesmo esquema de truste que eles foram inocentados há alguns anos.

Bond, que até agora mantinha-se calado, se atentou mais ao fato da conversa ter dado uma guinada para a parte burocrática da coisa, sendo impedido, assim, de arquitetar um plano em sua mente, visando o futuro ataque.

— Certo — interrompeu ele —, até agora não há nada que não faça parte dos negócios desses caras; negócios sujos por natureza, não tenhamos dúvidas. Onde entramos exatamente?

Q respirou fundo e retomou.

— A Heydrich acabou de fechar seu contrato mais importante no Reino Unido. Ela, através de sua subsidiária, a Monitor Air, será a responsável pelos radares aéreos de todos os voos que cruzam o céu britânico ou que tenham como destino o Reino Unido.

— Nesse caso, ela poderá monitorar naves que não estão necessariamente nos céus britânicos, mas que tem como destino alguma de nossas cidades? — questionou Moneypenny.

— Exatamente — confirmou Q —, voos de todas as partes do mundo que têm a intenção de pousar em solo inglês e etc... Faz parte de um acordo com a OTAN, que permite essa “intromissão” dos países membros, mesmo se o voo não partir de um desses países.

— Política — simplificou Bond.

— O mais interessante, James, é que a Monitor Air é representada por um velho conhecido nosso — falou M, em seu rosto uma expressão insinuativa, fomentando a curiosidade de Bond.

— Um amigo, eu espero — falou Bond, com uma sobrancelha arqueada.

— Não tenha dúvidas... Mr. White.

— Da finada Quantum — divertiu-se Bond.

— Nosso desafio é descobrir se White andou movimentando-se na tentativa de reunir seu antigo círculo de amizade ou se simplesmente descobriu que suas tramoias são bem vistas no meio corporativo — explicou Q.

— Tramoias protegidas pelas leis — riu Tanner em seu canto.

M tomou a frente. Sua expressão tornou-se macabra debaixo da luz fraca que iluminada o ambiente.

— Não seria um caso para se preocupar inicialmente se não fossem outros fatores, não é Q?

— Entendeu bem, M — antecipou-se Q — O segundo entrave é um pouco mais grave, eu admito. Descobri que outra subsidiária da Heydrich está bem atarefada na Síria. A Warlike Inc. é responsável pela distribuição de armamento aos soldados britânicos no Oriente Médio.

— Os negócios vão bem, obrigado — observou Tanner.

— Porém há outro fato interessante: A Warlike também fornece armas para a Rússia, que como vocês bem sabem, ao contrário do Reino Unido e dos EUA, apoia o regime do Bashar al-Assad e consequentemente os rebeldes em prol do governo.

— A Warlike, então, é a patrocinadora oficial da guerra? — ironizou Moneypenny.

Bond estava pronto para argumentar, mas M, ao perceber, fizera um sinal discreto, pontuando mais algumas observações.

— Sim, Bond. Negócios, política e etc. Eles têm o direito de vender armas para quem quer que seja, o importante será o lucro. Mas há um novo detalhe, não é Q?

— Assim não posso fazer suspense, M — retomou Q — Acontece que, já não bastava a Warlike ter o monopólio do fornecimento de armas na Síria, essas mesmas armas, seja de forma contrabandeada ou não, estão também em mãos dos terroristas do ISIS.

— A Rússia está entregando armas para eles — concluiu Bond.

— Não tão rápido, James — advertiu Moneypenny — A Rússia apoia o governo do Bashar al-Assad e os rebeldes que lutam pela libertação da Síria das mãos do ISIS. Por outro lado, Reino Unido e seus aliados, como EUA e França, lutam pelo fim do domínio do ISIS no país e também pelo fim do regime do Assad. Em tese lutam todos contra o mesmo inimigo, mas o lado que derrotar o ISIS conseguirá influencia política na região. Se o Reino Unido vencer, o Assad cai e reúne parceiros no Oriente Médio; se a Rússia ganhar a disputa, Assad fica e ganha poder em uma região estratégica, isolando, inclusive, Israel, parceiro dos EUA.

— Em outras palavras — seguiu Tanner —, será o início da Segunda Guerra Fria.


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