007 Contra o Fim do Mundo escrita por Junovic


Capítulo 2
O despertar de um rato


Notas iniciais do capítulo

James Bond participa de uma reunião secreta bem debaixo do nariz do Primeiro Ministro: na sede da quase desativada MI6. Informações cruciais lhe serão dadas, além de finalmente ele partir para ação.



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James Bond acordara de um sono pesado, regado a pesadelos confusos que pareciam ter se estendido por toda a noite.

Ele não sabia muito bem do que se tratava. Na realidade, achava que poderia ser fragmentos de acontecimentos passados, pois uma sensação de déjà-vu tomava seu peito sempre que acordava no meio da noite, atordoado pelas últimas imagens que iam esvaindo-se de sua cabeça até ele voltar a cochilar.

A última semana fora regada de bebidas e mulheres – duas delas, aliás, dormiam ao seu lado naquele exato momento. O seio de uma delas revelava-se por detrás das cobertas.

Sua última missão, onde ele deveria seguir furtivamente oito suspeitos que se reuniam há semanas em casas noturnas na West End, acabara em um apoteótico desabamento após ele reconhecer o chefe de uma vasta rede de prostituição – que deveria cumprir uma pena de oito anos na cadeia, mas acabara inocentado, pelo que o juiz definira como “falta de prova” – e passar a segui-lo, descobrindo sua estratégia para trazer garotas menores de idade do Mediterrâneo para a costa Francesa, de onde elas seriam levadas e distribuídas por toda capital inglesa ao cruzarem o Canal da Mancha.

Após uma intensa troca de tiros, Bond descobriu está encurralado por cerca de treze capangas do tal chefão e com pouca munição. Sua única saída fora jogar um artefato produzido por Q, ainda em fase de testes, que teria como objetivo produzir uma cortina de fumaça, enquanto ele usaria óculos capazes de ver através da espessa nuvem de vapor.

Q mais tarde explicara que o produto utilizado mostrou-se inflamável e o atrito com os disparos ocasionou a explosão. Q, displicentemente, justificou que o incidente não fora mais que um erro de cálculo na junção dos ingredientes utilizados para formar a fumaça.

O fato de Bond descumprir as orientações de manter-se no anonimato causou uma grave crise no MI6, que passara a ser atacado pelo Parlamento. Para Bond, eles ignoravam por completo o fato mais importante – o desmantelamento de uma vasta rede de prostituição, que escancarava a pouca eficácia, ou a ausência, de leis sobre aliciamento de menores, que colocaria a opinião pública contra o Parlamento – e concentrava-se em detalhes insignificantes com o único intuito de atacar o serviço secreto.

M, na noite anterior, fora chamado na Sala Silenciosa do Primeiro Ministro (que de silenciosa não tinha nada, pensava Bond: todo o Reino Unido sabia exatamente o que era discutido naquela sala, principalmente os tabloides) e, pela seriedade que tal chamado urgente fora recebido pela cúpula do MI6, a resolução dos fatos traria consequência irreversíveis, como bem pontuou Tanner após M sair para se encontrar o insosso líder do Partido Conservador. O Rei Bolacha, como ficara conhecido nos corredores da inteligência britânica.

James Bond levantou-se da cama e pela janela vira que a chuva continuava castigando Londres. Nem chegou na cozinha, com o intuito de preparar um café, seu celular tocou. Era Moneypenny, braço direito de Gareth Mallory, o M.

— Sim. – disse, ao atender o celular.

Bond, livre-se dessas duas garotas e venha agora mesmo ao QG do MI6!— falou Moneypenny, com urgência.

— E quem disse que há duas garotas comigo?

Bem... Ultimamente uma só não te satisfaz e pela quantidade de álcool que você vem ingerindo, três não seria um número muito realista. Duas está na média.  

Bond estava pronto para replicar, mas Moneypenny levantou a voz do outro lado da linha e com a voz firme vociferou:

Bond! Não perca tempo. É algo extremamente importante.

E dito isso, ela desligou.

Bond suspirou e olhou para a jarra da cafeteira vazia. Dalí, ele foi até o quarto e, da porta, observou as duas garotas dormindo e como suas respirações eram lentas e constantes.

Decidiu deixa-las dormindo. Tomou um banho rápido e vestiu o seu terno; desceu até a garagem e saiu pelas molhadas ruas de Londres dirigindo seu Jaguar C-X75.

***

Bond desceu até o subterrâneo, onde acessou uma entrada secreta que ele nunca ouvira falar. Ele segurou a maçaneta e sentiu um leve puxão em seu braço, como se uma corrente elétrica percorresse seu membro. Um segundo tempo, um estalo indicou que a porta fora aberta.

A sala não tinha janelas e todas as paredes eram de blocos cinzas expostos, sem pintura. O teto era muito baixo e quase obrigou Bond a abaixar a cabeça. O único móvel do ambiente era uma mesa de ferro com aspecto pesado e várias cadeiras; naquele momento, elas eram ocupadas por M, Moneypenny e Tanner, que olhavam em direção à porta enquanto Bond esquadrinhava o lugar com forte cheiro de mofo.

— Alguns quadros e uma boa pintura revitalizaria esse mausoléu, M. – A porta trancou-se em suas costas e Bond assumiu seu lugar na única cadeira vaga.

— Bem, tenho certeza que seu bom gosto será útil, James. A partir de hoje, com o fim do MI6, você poderá ocupar seu tempo decorando casas de senhoras no subúrbio – M levantou-se e com as mãos nos bolsos pusera-se a andar de um lado para o outro, enquanto falava – A essa hora você já deve saber que é o fim do serviço secreto britânico.

— Não. Na verdade eu não sei nada.

— Pois bem, é exatamente isso. O Primeiro Ministro diluiu o MI6 e uma nova sessão de inteligência foi criada, integrando a inteligência americana e francesa. Equipe essa que terei de apresentar aos “meandros do ofício”.  Mas, nos poupe de suas lágrimas pela grande novidade, o nosso trabalho continua.

M, Bond percebera, tentava disfarçar sua frustração agindo, ironizando. Não havia dúvida para ninguém ali presente que ele se sentia traído pela política que ele ajudou criar nesses anos de serviço. O chamado “crescimento em bloco” que o Ministro se referia, não era mais do que isso: política. Uma forma de substituir o que já não satisfazia os interesses de meia-dúzia de poderosos.

— Estamos com uma equipe reduzida, como podem perceber e a partir de agora, mais do que nunca, deveremos ser furtivos. E esse recado é principalmente para você, James.

— Sim. Serei silencioso como um rato.

— Um rato morto, de preferência. Postura como essa, não será mais tolerada.

James Bond entendera muito bem a que se referia M. O que ele não entendera era de onde Moneypenny tirara aquele jornal, a edição do dia do The Guardian, com sua foto ocupando a primeira página inteira, e jogara em seu colo.

Sobrepondo-se à foto, o título mais do que chamativo dizia: MI6 – POUCO SECRETO E NADA INTELIGENTE.

Seguia-se uma longa reportagem a respeito do desabamento da casa noturna no West End, pontuado com críticas ácidas sobre o serviço prestado pelo MI6 nos últimos anos. Além de uma sessão especial sobre os agentes, que incluía uma cobertura maior para 007, M tinha só para ele uma página onde listava-se seus erros cometidos e as atitudes pouco “éticas” – segundo especialistas – que ele praticará nesses anos à frente do MI6.

Em nenhum momento, porém, a cobertura citava a rede de prostituição que fora desmantelada, nem mesmo as brechas que os mafiosos achavam nas leis para entrar com garotas no país.

— Isso tudo é merda – disse Bond.

— Merda que se tornou verdade nas mãos desses vermes – falou Tanner.

— Não deixemos isso machucar nosso ego, senhores. A solução que proponho é continuar nossa investigação sobre a relação entre terroristas e a SPECTRE.

— Relação essa que está bem clara, a propósito – completou Moneypenny – Mas suas intenções é que não sabemos exatamente qual é.

— Matar pessoas, é claro – replicou Bond, com a voz fria, como se a resposta fosse realmente óbvia.

— A SPECTRE não pode ser confundida com um grupo fundamentalista, James – interpôs M – Pode, e há, muitos interesses envolvidos em acordos como esse. Inclusive comercial.

— Armas?

— Também. De qualquer tipo que possa desmobilizar os inimigos.

— E como seguimos, então? – perguntou Tanner – Colhemos provas, reunimos evidencias e depois? A mídia e o Parlamento começaram uma caça às bruxas contra o MI6.

— O Ministro não poderá ignorar provar concretas dessa vez, Tanner – respondeu M – Isso é colocar a prova uma eventual reeleição e, como bem sabemos, não é isso que o nosso Rei Bolacha quer.

Todos riem da piada de M, mas voltaram sua atenção para ele quando ele sentou-se muito sério.

— Por isso peço mais uma vez. Tomem cuidado. Sejam cautelosos, mas não covardes. Somos os únicos aqui que estamos seguindo um rastro que talvez não nos leve a nada, mas, se tratando da SPECTRE, nada pode ser bem perigoso, às vezes.

— E como começamos? – perguntou James, após um breve minuto de silêncio.

— Já começamos, Bond.

— Como.

M levantou-se mais uma vez e concentrou-se na parede suja à sua frente.

— Aceitei integrar a nova equipe no serviço secreto para conseguir algum tipo de informação extra que ligue a SPECTRE a grupos terroristas... e para provar uma hipótese.

— Que seria...

O silêncio volta a reinar na sala. James olha de um para outro sem obter qualquer resposta.

M aproxima-se de Bond e ainda com as mãos nos bolsos e sem alterar a expressão no rosto diz:

— Que um atentado terrorista está sendo planejado e que sua execução é questão de tempo. Com a SPECTRE no controle da operação, não saberia lhe dizer qual seria a proporção do ato.

— É uma hipótese, como você mesmo disse, não? — perguntou Tanner, apreensivo.

— Noventa por cento de acerto segundo nossa fonte.

— Fonte? – seguiu Bond.

— Q, é claro.

— Então, finalmente poderemos saber de seu paradeiro?

M hesitou, ainda assim tentara passar firmeza em sua postura. James dera uma risadinha.

— Não, ainda não.

— Você não sabe onde ele está.

— Não, ainda não.

James continuou encarando M com um sorriso no canto da boca, cruzando os dedos.

— Isso não é exatamente uma má notícia, Bond. Ele é um hacker que trabalhava para o governo. A guarda real inteira está a sua procura, precisamos dele a salvo.

— Nesse caso no que o rato morto lhe pode ser útil?

— Q entrou em contato com um outro hacker, famoso por invadir o serviço secreto francês, anos atrás. Ele fez um acordo com o governo da França e nunca foi preso. Hoje em dia ele não fica mais do que um mês em algum país.

— Ele está na Inglaterra.

— E só ficará até o fim da noite.

— Farei uma visita lhe desejando uma boa viagem.

— É bom o que o faça. Se possível, leve-o ao aeroporto e mantenha-o vivo!

Todos se levantaram de suas cadeiras. Era chegado a hora de agir.

— Daqui para frente nos veremos pouco, somente em uma urgência. Lembre-se, vocês estão aproveitando suas aposentadorias na Riviera Francesa ou nas Ilhas Canárias, nada de espionagem. Vamos dá um jeito de sair daqui sem sermos vistos.

M e os demais saíram da sala, Bond deixou-se ficar para trás, ficando, assim, lado a lado com Moneypenny. Seu olhar indicava que ela esperava algum comentário de sua parte.

— Adoraria te ver tomando sol na Riviera Francesa.

— Sinta-se convidado.

Ela acelerou o passo e foi parar ao lado de M, no fim do corredor, deixando Bond sozinho.

Era tentador para ele pensar em Moneypenny só de biquíni e mais tentador ainda imaginar que havia duas belas mulheres em sua cama a sua espera. E mesmo com tantas alternativas, ele estava a caminho de uma conversa nada agradável com algum hacker antissocial cheio de espinhas.


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