Do You Hate Me? escrita por Srta Who


Capítulo 9
Você Me Odeia? - Amor ao Ódio! (Parte I)


Notas iniciais do capítulo

Desculpem, esse ficou meio grande, mas realmente não deu pra diminuir, toda vez que eu editava ele ficava maior kkkk. Desculpa, galera!



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Capítulo VIII –

Você Me Odeia?

Parte I – Amor ao Ódio!

            Já era noite quando Yukio voltou do enterro, ele se sentia exausto, impotente, precisava urgentemente de um banho e quem sabe de uma boa noite de sono, e embora parte dele soubesse que não pregaria o olho aquela noite, o rapaz preferia ignorar essa ideia enquanto subia as escadas do dormitório, assim como ignorava todas as ideias que o desagradavam.

            Normalmente ele teria ido até o quarto, dobrado o uniforme e só então seguiria para o banheiro, mas dessa vez, só dessa vez, o exorcista pegou algum plástico no qual enrolar o gesso na cozinha e foi direto para o chuveiro, talvez a água quente lavasse para longe dele aquela sensação de ter uma pedra de gelo bem em cima do coração a qual lhe fazia cocegas e resfriava lhe todo o peito e parte do estomago. Talvez se ficasse tempo o bastante ali, debaixo do chuveiro, aquele incomodo fosse embora junto com os vapores que rodeavam seu corpo, talvez... talvez se esperasse mais alguns minutos.

            Yukio esperou e esperou até seu braço engessado começar a ficar dormente por ter ficado apoiado na fria parede de azulejos a sua frente, e apesar de sua pele ter ficado vermelha por conta da água a sensação gelada continuava lá e o rapaz acabou desistindo de ficar parado ali, enrolou uma toalha na cintura, o que era um pouco difícil de se fazer com um braço quebrado, e andou em direção a seu quarto, que não via há tempo demais.

“Vai ser bom dormir na minha cama de novo, e não num hospital ou...” Yukio tentou pensar em alguma reclamação sobre o lugar onde passara a última noite, mas não havia uma, seria muita hipocrisia de sua parte mentir para si mesmo dizendo que não tinha gostado de acordar com Shura em seus braços. Ele balançou a cabeça tentando se livrar daqueles pensamentos quando chegou a porta do quarto que dividia com Rin, fazendo algumas das gostas de água que lhe encharcavam os cabelos negros, grudados na testa, se desprenderem e atingirem as lentes de seus fiéis óculos retangulares.

—Até quando não está por perto você me obriga a fazer coisas estupidas, Shura. – Ele sussurrou ao entrar com a cabeça baixa tentando limpar as lentes.

—Eu não te obrigo a fazer nada. – Uma voz feminina abafada disse na escuridão do quarto. Yukio deu um peque salto para trás e acendeu as luzes e pôs os óculos no lugar, alarmado. Quando todo o cômodo ficou claro ele pode ver a exorcista deitada em sua cama com seu travesseiro cobrindo-lhe a face. Shura tirou o travesseiro do rosto, mas colocou-o de volta quase instantaneamente depois de olhar para Yukio. – Por que não me disse que estava seminu? - O que estava acontecendo com ela? Por quê se importava e ficava envergonhada com aquilo? Era só o garoto que derrotara centenas de vezes no simulador. Era só Yukio, o quatro olhos medroso... por que se sentia envergonhada? Ele que ficava envergonhado vendo pele, não ela, nunca ela. –Coloque alguma roupa.

—Você me pedindo isso soa estranho. – O rapaz abriu o armário e tirou de lá o confortável pijama azul e branco que há dois meses não usava. – O que faz aqui? 

—Vim ver como vocês estavam.

—Hm.… por quê? - Shura ouviu algo cair no chão. Provavelmente a toalha.

—Ainda te devo por ontem. E odeio te dever.

—Se essa é a única razão pela qual está ocupando minha cama pode ir para casa. Você não me deve nada, eu fiz aquilo porque estava preocupado, não como um favor que cobraria depois. Pronto, já pode olhar. – Quando Shura destapou os olhos novamente Yukio punha os braços pelas mangas da camisa.  

—Eu estou preocupada com você e Rin. Por sinal, onde ele está? – Yukio sentou na cama vazia de seu irmão e forçou a memória tentando encontrar uma resposta para a pergunta da exorcista. Onde estava seu irmão? Ele disse que ia para algum lugar, mas o rapaz não lembrava. Tinha ido até... até... ah dane-se! Não conseguiria lembrar. Ela entendeu o silêncio e o cenho franzido. – Ah, não se preocupe, quatro olhos. Ele não vai causar problemas hoje.

—Espero que esteja certa...

—Pense um pouco em você mesmo, não vai matar fazer isso só uma vez, sabia?

—Eu já penso demais em mim mesmo, você que não sabe. – A resposta saiu automaticamente. Ele se arrependeu de ter aberto a boca. – Quer dizer... – Shura deu uma gargalhada.

—Isso não é vergonha nenhuma. Não tem de consertar o que disse, eu entendi. Mas ainda acho que não é o bastante então... – Ela levantou e tirou uma garrafa e dois copos que estavam escondidos debaixo da cama e sentou ao lado de Yukio que enterrou a cabeça entre as mãos em resposta ao copo com líquido incolor que foi estendido em sua direção.

—Por favor, Shura. Hoje não. Amanhã deixo você fazer o que quiser comigo, juro. Vai poder me embriagar até que eu não consiga me levantar, ou qualquer outra coisa. Não vou nem reclamar. Mas hoje não... não estou bem para suas brincadeiras.

—E quem disse que estou brincando? Pega logo isso! – Shura forçou-o a segurar o copo e encheu o outro para si mesma. – Quando Shirou morreu passei dois dias num maldito coma alcoólico no hospital da Vera Cruz. – Ambos sabiam que aquilo não era engraçado, mas Shura mantinha um sorriso no rosto enquanto falava. Yukio sabia que era falso. – Bebi cada garrafa e lata que encontrei pela frente quando voltei do funeral. Não vou te deixar chegar tão longe, mas beber vai te ajudar um pouco.

—Você não estava no enterro... – Ele cedeu e pôs para dentro o líquido incolor ainda odiando a forma como aquilo queimava por dentro e sem entender como ela aguentava beber aquilo todos os dias.

 -Estava, você que não me viu. – A mulher também bebeu, mas sem fazer careta.

—Por que não foi falar comigo? – Yukio também se arrependeu de ter dito aquilo e encheu outro copo para disfarçar a vergonha que sentiu.

—Não quis me intrometer. Aquele momento era seu e de Rin, e você ainda me detestava na época.

—Ora, ora... não sabia que podia pensar assim, Shura.

—É, nem eu. – Ela ergueu o pequenino copo que acabara de reencher. – Aos dias ruins que nos fazem ser outras pessoas. Tchin, Tchin, quatro olhos. – Ele sorriu amargamente e também ergueu o copo.

—Aos dias ruins. Tchin, Tchin, Shura.

            Por cerca de duas horas os dois continuaram a beber e a relembrar os velhos tempos, quando ambos treinavam para ser exorcistas. Alguns meses atrás ninguém em sã consciência apostaria que Yukio e Shura acabariam sentados lado a lado na cama de um dormitório vazio compartilhando uma garrafa de Whisky e que Yukio estaria secretamente grato por ela estar ali falando em voz baixa sobre fatos engraçados do passado em comum deles.

—Sabe por que eu te odeio? – Há essa altura as bochechas dele estavam completamente vermelhas, seu cérebro não raciocinava da maneira que deveria e tudo no quarto parecia estar girando. Ele deitou a cabeça no ombro de Shura tentando se sentir melhor. Os curtos cabelos meio ruivos e meio loiros agora lhe pareciam muito mais gritantes, como se a cabeça dela estivesse em chamas e ele largou o copo para os tocar e se certificar de que a exorcista estava bem.

—Ainda essa história?

—Porque você e eu somos parecidos.

—Não somos, não.

—Você é exatamente como eu, por dentro. E eu odeio... odeio mais do que tudo me ver em você. – Yukio falava em sussurros arrastados numa voz mais grossa e profunda do que um garoto naquela idade deveria ter, e seus dedos curiosos e meio trêmulos exploravam os tufos de cabelo vermelho em leves carícias. –Eu odeio saber que o que separa minhas atitudes das suas são uns copos de bebida, ou ver alguém que eu ame em perigo, graças a isso consegui esse braço quebrado. E eu te odeio por ser tão irresponsável mesmo parecendo comigo. Eu te odeio tanto... – Yukio não percebeu a contradição no que falava, estava bêbado demais para se dar conta que quebrou o braço e as costelas tentando salvar Shura, que se fez isso foi porque bem... não importa, ele estava bêbado demais para perceber o que disse. Pela primeira vez Shura se arrependeu de tê-lo feito beber, tinha de sair dali o mais rápido possível antes que... antes que... “vamos, tire ele daí! ” Seu cérebro comandava, mas o corpo desobediente permanecia imóvel sendo afagado docemente pelas mãos meio trêmulas de Yukio.

—Já que você finalmente foi sincero comigo... que saber por que eu te odeio? – Shura disse num impulso. Ele balançou a cabeça relutante, com medo do ela pudesse dizer. – Primeiro te odiei porque era um medroso, as mulheres Kirigakure sempre odiaram isso, principalmente em um homem. – Yukio sorriu. – Depois porque você tinha o que eu nunca teria, uma vida inteira pela frente. E agora... agora te odeio porque você me lembra Shirou. – Pronto, era isso. Depois de dizer aquilo não havia mais volta. Yukio faria a pergunta. A pergunta que ela sempre evitou responder a qualquer um.

—Sabe, eu nunca entendi isso. – Ele enterrou ainda mais a cabeça no ombro esquerdo dela, até que sua boca estivesse a menos de 2cm da pele de Shura.

—O que?

—Esse apego a meu pai. Mesmo o desrespeitando as vezes eu podia ver que você o admirava mais do que a qualquer um. Explique... me explique... – O sussurro quente e a proximidade da boca de Yukio com seu pescoço fez Shura se arrepiar.

—Com uma condição. Vamos fazer uma troca. Te respondo se você me responder uma pergunta de valor equivalente, sem mentiras. – Se estivesse sóbrio Yukio certamente teria recusado e ido embora, sabendo que única pergunta de valor equivalente a que ele fizera seria algo relacionado aos seus sumiços noturnos, o que o levaria a responder sobre o treinamento perigoso que fazia e por fim a seu olho, mas em seu estado atual ele apenas concordou com a cabeça não medindo as possíveis consequências daquela resposta. Realmente Yukio e Shura eram iguais quando ele estava bêbado. – Eu meio que era apaixonada por ele... – Shura não teve coragem de olhar para o rapaz enquanto falava isso. Ele deu uma gargalha histérica. – O que foi, seu moleque?!

—Achei que você estava falando sério. – Yukio deitou na cama ainda rindo dela.

—Eu estou!

—Por que se apaixonaria por meu pai? Não faz sentido.

—Eu nasci naquele lago em Aomori, nunca conheci meu pai, devia ser só um desavisado que foi hipnotizado por Hachiro. Assim que consegui ficar em pé e andar começaram meus treinamentos da técnica Kirigakure. Dormia no chão no verão e nas arvores no inverno, comia o que roubava na cidade. Eu era realmente um demônio.

—Já sei a história. Li tudo nos registros da Vera Cruz.

—Resumindo, ele era forte, e não posso fugir do gosto das Kirigakure por homens. Eu pensava que fosse para ter um filho e depois morrer... que ao menos fosse com algum que eu gostasse, mas ele nunca aceitou isso. Aquele velho... me mandou viver a vida e quando ele morreu... – Shura suspirou como sempre suspirava ao pensar em Shirou. O coração de Yukio apertou e ele a puxou para que também se deitasse.

—Desculpe. Eu não sabia que... desculpe. – O rapaz mais uma vez a abraçou, passando o braço engessado pela cintura de Shura que não estava coberta por um tecido grosso de moletom como estivera na noite anterior.

—É. Sem problemas. – Dessa vez ela conseguiu retribuir o gesto mesmo que ainda não entendesse ao certo desde quando o corpo dele lhe causava tanto conforto. – Mas você não devia me abraçar assim.

—Estou bêbado, de luto, e te odeio, então não me diga o que fazer, sua exorcista maluca.

—Não fale assim comigo, quatro olhos fracote. – Fez-se um momento de silêncio entre eles antes que ambos começassem a rir.

—Obrigado. Obrigado por estar aqui.

—Sempre que precisar.

            E então, ali, abraçando-a, Yukio entendeu por que não pode deixa-la morrer em Aomori. Shura era a única pessoa que sobreviveu a prova do tempo, o último pedaço de seu passado, quando Shirou ainda estava vivo e Rin não sabia nada sobre os exorcistas ou ser filho de satã, quando ele ainda podia protege seu irmão mais velho desse mundo assustador do qual fora obrigado a fazer parte. E agora que tudo havia enlouquecido a vida do rapaz caia em pedaços com tantas dúvidas, segredos e problemas ela era a única coisa que restava dos treinamentos, quando ele se preparava para se tornar um Exwire, a única coisa que restava da antiga felicidade da vida pouco complexa que levara antes de seu pai morrer. Shura era uma forma de alcançar o tempo inalcançável que Yukio tanto ama e ao mesmo tempo odeia com uma ferocidade incomparável. Se ela tivesse morrido em Aomori... isso significaria deixar tudo o que ainda o restava morrer.

            Shura olhou no fundo dos olhos azuis do rapaz e sorriu. Então era por isso... por isso que ele a odiava tanto e ao mesmo tempo sentia como se... Como se a amasse de todo o coração. Ela era seu passado. Além do mais, como ela se atrevia a ter um sorriso tão bonito? Como ele podia amar e odiar Shura Kirigakure ao mesmo tempo? E agora que entendia toda a situação, como lidaria com isso? Seria esmagador para qualquer um se sentir dessa forma! É fácil desgostar de alguém, porque podemos evitar a pessoa em questão, mas querer alguém é problemático e confuso. Principalmente quando se conhece essa pessoa a vida inteira e a vida inteira ela te tratou como uma criança fraca. O que Yukio faria com esse sentimento? Shura o destroçaria com os dentes se ele dissesse qualquer coisa sobre isso? Ou será que ela também...? A exorcista falou que ele lhe lembra Shirou, e ela amava Shirou então talvez... só talvez...

            Nesse momento ele sentiu um impulso tomar conta de sua mente. Eles sempre brigavam, gritavam, e competiam um com o outro. Mas havia uma coisa que Yukio nunca tinha experimentado. Como seria amá-la? Que tipo de gosto ela tinha? Sua mente bêbada queria saber.

O rapaz pôs a mão na nuca de Shura que instantaneamente parou de sorrir.

—O que foi?

—Você me odeia? Realmente me odeia? – O azul nos olhos dele ficou reduzido a uma pequena faixa que rodeava as pupilas extremamente dilatadas.  

—Bem... eu... eu não estaria aqui se... – O coração de Yukio palpitou. Então Shura era tão fracassada em seu ódio quanto ele. O resto da frase não importava, contanto que não o odiasse completamente...

            Estavam deitados olhando um para o outro, na pequena cama de Rin então foi fácil para Yukio acabar com o pouco espaço que havia entre suas bocas. A sensação era muito melhor do que ele imaginava que seria, a boca de Shura era macia, nem é preciso dizer que ela estava com gosto de bebida. Ele tinha fechado os olhos, então não sabia quão arregalados estavam os da exorcista.

Ela não se moveu um único centímetro quando os lábios dele tocaram os seus. Aquele... aquele... Argh! Quem aquele quatro olhos pensa que é para fazer isso?! Como ele pôde... como pôde... como ela pode ficar parada com Yukio sendo tão... tão... supreendentemente bom beijando? Ei! Espera! Ela não devia estar pensando assim! Ela devia estar empurrando esse pirralho atrevido e não... não pondo as mãos nas costas dele, amarrotando sua camisa de tanto puxa-lo contra si mesma e o beijando de volta... Droga! Por que esse maldito estava fazendo isso? E por que ela não estava quebrando seus óculos para lhe dar uma lição? Se continuasse assim Yukio ia pensar que ela estava gostando! Bom talvez.... Não! Definitivamente não! Quem em sã consciência gostaria de ser beijada por Yukio? Quem gostaria tanto ao ponto de beija-lo de volta? Ou morde-lo... ou... ah, ele devia estar muito bêbado para fazer aquilo, e ela mais ainda para não o matar ali mesmo.

—O que você... o que você pensa que tá fazendo? Por que você... por que você...? – Ambos estavam vermelhos quando Yukio finalmente se afastou desesperado por ar. –Você está ficando... ficando... – Ele baixou os olhos azuis, desorientado com as ações e palavras de Shura que pareciam conflitantes entre si. Ela tinha o beijado de volta! Por que agora parecia zangada? É claro que estava confuso. Yukio não a via da mesma forma que ela o enxergava. Shura ainda não tinha se livrado completamente da imagem de um Yukio de oito anos de idade que tinha o irritante habito de olha-la com desaprovação e até algumas notas de desdém. E definitivamente ela nunca beijaria aquele Yukio irritante de sete anos atrás! Mas esse vermelho, tanto com vergonha quanto com falta de ar, e com os olhos despidos de qualquer arrogância que pudessem ter tido... esse rapaz desnorteado era tão... tão fofo! Tão fofo que... –Ah, dane-se! – Shura puxou o exorcista pela camisa e o beijou não tendo mais certeza se estava arrependida ou não de tê-lo feito beber aquela noite.

            Ela sabia que estava errada continuando com aquilo, principalmente porque o tinha embebedado, Yukio provavelmente nem sabia o que estava fazendo, e se sabia não entendia, ela tinha certeza de que ambos se arrependeriam amargamente disso no dia seguinte e que passariam dias, talvez semanas, sem conseguirem se falar, e para seu próprio desespero, Shura tinha perdido todo e qualquer direito de fazer piadas sobre ele ser um tarado quando teve a chance de ir embora e ao invés disso o beijou. Droga! Droga! Por que tinha feito aquilo? Por que puxava os cabelos negros dele?

            Cinco minutos mais tarde ela sentia que estava a ponto de enlouquecer com a pequena guerra civil que era travada em sua mente. Metade dela adorava quase insuportavelmente ser beijada com tal intensidade e delicadeza, e se sentia quase adorada diante daquele gesto. Mas a metade restante a dizia para correr dali o mais rápido que suas pernas bambas permitissem. Shura já estava indo a loucura quando a voz de Rin foi ouvida no corredor, alertando os dois.  

—Yukio! Cadê você?

            Shura rapidamente se afastou dele quando o medo e a surpresa tomaram o rosto do rapaz.

—Eu... é melhor eu... tchau! – Ela empurrou o corpo de Yukio e sem esperar por qualquer resposta cruzou a porta.

            “Droga... “ Ele pensou. “Amanhã vai ser um inferno. ” Aquela ideia, juntamente com a bebida que lhe aquecia o sangue renderiam a Yukio uma bela dor de cabeça essa noite. “Ela vai me comer vivo amanhã... “ Ele se encolheu na cama e puxou o cobertor de Rin sobre si.

            Já no corredor Shura cruzou com Rin ainda vestido no uniforme escolar e um pouco abatido.

—Shura? Não sabia que estava aqui... viu o meu irmão? Ah, que burrice, ele estava com você, não é? Você tá vermelha. O que aconteceu?

—Vermelha? Eu? Eu não... quer dizer... eu estava bebendo! É isso. Bebendo.

—Você não fica vermelha desse jeito quando tá bêbada...

—Você não devia estar dormindo? Não tem treinamento ou outra coisa assim amanhã?!
—Treinamento?

—Ah, é verdade. E agora que o Yukio voltou pra o dormitório não posso mais atrasar! Boa noite, Shura. – Quando Rin deu as costas ela lembrou de algo.

—Ah, Rin!

—O que foi?

—Não... não pergunte ao seu irmão por que eu estava aqui. Eu meio que o irritei, e acho que ele vai ficar com muita raiva de você também se o fizer explicar, na verdade, não pergunte nada, não fale nada, finja que não me viu. Sabe como é aquele quatro olhos... – Shura só esperava que isso fosse o bastante para Rin não falar nada sobre ela. Yukio podia ser um ótimo mentiroso sóbrio, mas bêbado... ia acabar contando tudo e aquele moleque nunca mais ia respeitá-la durante os treinos!

—Ah, cara! Vocês dois me confundem! – Ele coçou a parte de trás da cabeça como sempre fazia quando não entendia algo. – Meu irmão gosta muito de você, sabe? Até a Shiemi percebeu que ele só consegue agir como uma pessoa normal quando você está por perto, até comigo o Yukio vem agindo meio... bom, sabe como é. Vocês vivem brigando, mas mesmo assim não saem do pé um do outro, e isso me deixa muito confuso. Pra ser sincero não sei como ele te suporta e vice versa. O que eu tô querendo dizer é: só resolvam isso de uma vez. Que droga!

            Yukio não foi o único a ter dor de cabeça aquela noite. “Meu irmão gosta muito de você, sabe? ” “Okumuras idiotas...” ela pensava enquanto se revirava na cama “Yukio idiota, com seus beijos idiotas, e sua confusão idiota! Rin idiota com suas palavras idiotas! Idiotas! Idiotas! Idiotas! Okumuras malditos...”.

“Só resolvam isso de uma vez...”

—Como se fosse fácil resolver qualquer coisa com aquele idiota de quatro olhos...


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