Do You Hate Me? escrita por Srta Who


Capítulo 10
Você Me Odeia? - Ódio ao Amor! (Parte II)




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Capítulo VIII –

Você Me Odeia?

Parte II – Ódio ao Amor!

            Yukio nunca tentou entender as mulheres, não tinha motivos para isso já que cresceu num lugar onde só havia homens e as garotas da nunca pareceram muito interessadas em falar com ele antes do ensino médio. É claro, haviam Shiemi, e Shura, mas a primeira era tímida demais para se interagir por mais de cinco minutos até alguns meses atrás, quando conheceu Rin, e quanto a Shura, bem, é complicado. Ele nunca gostou muito dela, então a evitava, mas para seu azar, a mulher sempre o encontrava para lhe roer a paciência até o garoto ter vontade de gritar. Mas dessa vez a situação parecia ter se invertido drasticamente.

            Há cerca de três dias Yukio não tinha um sinal sequer da exorcista. Ela não estava no curso de exorcistas, nem treinando Rin ou em casa e muito menos nos bares que frequentava! A última parte era a que mais o preocupava, Shura estava realmente há três dias sem beber? Estava em coma ou algo do tipo? Porque isso certamente não era normal... Yukio estava a ponto de enlouquecer procurando por ela, quando descobriu, através de seu irmão, que a mulher tinha sido mandada para uma missão, e que voltaria aquela tarde.

—Eu realmente deveria estar estudando... devo estar ridículo. – Murmurou para o corredor vazio. Yukio estava certo no que disse, realmente parecia cômico encostado na parede próximo a porta como um cão que espera pelo dono. – Eu realmente deveria ir embora. – Ele olhou o relógio novamente. Já estava lá há quase uma hora, mas apesar de suas palavras não pretendia sair de lá antes de poder falar com ela.

—O que você tá fazendo aqui, quatro olhos? – Yukio se assustou, mas logo depois reconheceu a voz.

—Finalmente! Onde você estava?

—Isso é da sua conta por acaso?! – Shura não precisou dizer uma palavra para que ele entendesse. A voz arrastada e lenta juntamente com os olhos baixos a denunciavam.

—Ah, a bebida estava boa?

—Estava. Mas não é da sua... sua... ah, vai embora, quatro olhos! – Ela esfregou a mão na cabeça parecendo, ou tentando parecer, irritada.

—Nós temos de conversar.

—Não temos não. Eu estou cansada. Agora saí da minha frente... Droga de chave! Vamos lá, abre! Eu quero entrar!  

—Me dá isso aqui. – Yukio tomou a chave das mãos dela e abriu a porta. Por mais engraçada que fosse a situação, ele sabia que Shura acabaria desmaiando se ficasse ali por muito mais tempo.

—Eu não pedi sua... – Ela disse já entrando no pequeno apartamento. Por um segundo a mulher ficou parada na entrada tentando decidir se deveria ir para o quarto. Por fim resolveu ficar no sofá. O quarto estava muito longe para ser alcançado por suas pernas que insistiam em tremer.

—Shura, por favor! Você sempre me manda falar com você, e ser honesto, bem, estou ouvindo seu conselho.

—Más notícias, não estou afim hoje. – Ela se jogou no sofá. – Me deixa dormir, eu tive três dias dos infernos!

—Eu deixo assim que conversarmos.

—Quem é você e o que fez com o medroso do Yukio? – Ela gemeu enterrando a cabeça numa almofada.

—Respondo se você me responder o que você fez com a Shura que me vê todos os dias só para me importunar.

—Ela está dormindo de bêbada, quer deixar recado?

—Diga a ela que se quer que eu tenha amnesia deveria me embebedar mais da próxima vez que decidir me beijar de volta.

—O que você quer? – Ela gemeu novamente. –Estou fazendo o que você sempre quis, te deixando em paz, vai correr atrás da loirinha e me deixa quieta por favor!

—Eu não quero isso. E não gosto da Shiemi. Eu não estava bêbado o bastante para ficar louco, só para conseguir pensar um pouco mais claramente, Shura eu gosto de...

—Não! Não se atreva a terminar essa frase ou vou quebrar seu outro braço! – Ela gritou ainda com a cabeça coberta e gesticulando comicamente com os braços. A voz abafada fez sua cabeça doer.

            Aquela situação não era nada, nada normal. Shura só queria que tudo aquilo fosse um dos seus delírios de quando bebia o bastante para desmaiar na mesa do bar. Como aquele medroso tinha... tinha se apai.… não! Era piada! Ele estava brincando com ela! Só podia ser isso! “Por favor! Que isso seja apenas uma piada! ”

—Alguns meses atrás você me pagaria para dizer isso, só para poder rir de mim... – Ele se ajoelhou no chão ficando frente a frente com a cabeça que ainda era oculta pela almofada. – Eu não sei o que deu em mim. Provavelmente estou louco. Então te deixo me mandar para um manicômio assim que eu terminar de falar.

—Por que não fica quieto como sempre faz sobre tudo? Você é bom nisso... – Yukio pode vê-la fincando as unhas na pobre almofada lilás.

—Se você tivesse estado aqui nos últimos dias eu teria feito isso. Mas... eu senti sua falta. – Shura tirou a almofada do rosto. Para seu azar, a não ser que tivesse se tornado o melhor ator do mundo em três dias, ele não estava mentindo. Pelo contrário, estava tão sério como estaria se estivesse trabalhando. E embora carregasse um brilho de divertimento obsceno nos olhos azuis, ela sabia que Yukio não iria tão longe por uma simples piada, o que, na verdade, deixava tudo ainda pior. Ela podia lidar com um Yukio que repentinamente decidiu fazer uma brincadeira de mal gosto. Mas não com aquele Yukio a sua frente ou com qualquer outra pessoa que a olhasse daquela forma! Ela lançava aquele tipo de olhar, não recebia! E principalmente, não o recebia do medroso Okumura!

—Eu sou dez anos mais velha do que você.

—Jura?! Por que não me avisou antes? Achei que você tinha dezoito! – Não é preciso dizer que ele estava sendo mais do que irônico. Irônico o bastante para arrancar risadinhas dela.

—Seu idiota.

—Quando eu tinha oito anos te vi sair com caras que pareciam ter no mínimo quarenta. Aquilo não parecia te incomodar nem um pouco e tenho certeza que fazia isso antes de eu te conhecer, então por que nem me ouve? Qual é a diferença?

— Eu só estava tentando irritar o velho. Ele queria que eu tivesse uma “vida”, e se recusava a me dar um filho para que eu pudesse cumprir o contrato morrer de uma vez. Aqueles caras não gostavam de mim, e nem eu gostava deles. Essa é a diferença. – Ela proferiu sem perceber o que dizia. Mais uma coisa a ser adicionada à sua lista de má sortes daquela tarde, Yukio percebeu, e sorriu vitorioso quando o fez.

—Isso quer dizer que gosta de mim, Shura?

—Eu... eu não disse isso! Não ponha palavras na minha boca! Vá embora, Yukio... – Ela implorou fazendo biquinho.

—Você não acredita em mim... O que quer que eu diga, falo qualquer coisa! Juro!

—Talvez se parasse de soar tento como... como...

—Como você? E você está falando como eu. Loucura, não é? – Shura não conseguiu evitar de sorrir. Yukio suspirou. Por mais que quisesse acabar de uma vez com aquela situação e matar a sensação que o incomodava desde aquela noite, o rapaz percebeu que eles estavam apenas andando em círculos e que não chegariam a lugar nenhum naquele ritmo, só acabariam com mais uma briga para adicionar em sua longa lista. – Tudo bem, acho que você precisa dormir. Quer ajuda pra chegar até a cama?

—Pra você me agarrar de novo? Não, obrigada, seu quatro olhos tarado. – Yukio riu.

—Vou deixar passar essa porque você está bêbada, mas que fique bem claro...

—Eu sei o que aconteceu. Eu estava lá.

—É melhor eu ir. – Ele sorriu uma última vez e deu a volta no sofá, que ficava de costas para a porta de entrada.

—Espere aí, medroso. – Shura queria ter ficado quieta, mas seu coração, que parecia estar batendo no vácuo dado o frio que lhe tomou repentinamente o peito ao ouvir o som da maçaneta sendo girada, explodiria em mil pedaços ou encolheria à proporções microscópicas se tivesse feito isso.

—O que foi?

—Ainda tenho direito a minha pergunta de ontem.

—Sim, o quer saber? – Ele estava mais do que pronto para responder qualquer assunto, não importava se fosse sobre seu olho, seus treinamentos ou qualquer outra coisa, porque agora, olhando tudo desse novo ângulo de mundo que foi descortinado diante de Yukio desde o enterro de três dias atrás, todos seus segredos pareciam pesos mortos que ele impôs a si mesmo como uma punição desnecessária a um pecado inexistente. Queria ser mais forte, é verdade, mas não é isso o que Rin, Shiemi, Bon e todos os outros também queriam? Então porque só ele tinha de carregar esse desejo como uma responsabilidade a mais, sendo que, Yukio só queria ser forte o bastante para ser normal, para proteger seu irmão, para não depender dos outros. Não. Não fazia sentido esconder isso, ao menos não dela, de Rin e dos outros sim, porque esses provavelmente não o entenderiam por não serem como ele, mas Shura sim. Shura sempre o entendia. E agora seu coração almejava tanto por essa compreensão que ele não ligava se ela ficasse com raiva por ter passado tanto tempo lhe escondendo isso.  

—Por que quis ser exorcista? Quer dizer, você é melhor dor que isso. É melhor do que as missões perigosas, os treinamentos rigorosos e com certeza melhor do que se submeter a alguém como Mephisto. Então por quê? – Não há sinônimos, antônimos, subjetivos, adjetivos ou verbos suficientes no mundo para descrever a surpresa de Yukio. Então era isso? De todas as perguntas no mundo, Shura estava lhe fazendo a mais idiota de todas? Por quê?

—O que? Eu não... tem certeza que quer saber isso?

—Não sei o que mais eu poderia perguntar. Mas se você tem mais para me contar, tenho certeza de que vai falar mais cedo ou mais tarde, ou eu vou descobrir. Mas tenho certeza de que morreria sem nunca me dizer porque fez a escolha imbecil de seguir os passos de Shirou, nesse... hm.… ramo. – Ele pensou retrucar, reclamar, espernear, divagar e gritar diante das palavras dela, porém, Yukio não fez nada disso. Com aquela frase o rapaz foi capaz de entender outra coisa sobre Shura Kirigakure. E essa descoberta entrava em conflito com tudo aquilo que pensou dela desde que a conheceu, mas até mesmo um confuso Yukio era obrigado a admitir que Shura não era criança. Se fosse, não teria perguntado isso, aquela era a pergunta que só um adulto faria, porque só adultos procuram entender a essência do ser ao invés da sombra embaçada que este projeta na famosa caverna de Platão. Pois bem, Ele também seria adulto e cumpriria sua promessa sem qualquer reação infantil, já que também não era nenhuma criança.  

—Estava com medo. Medo do escuro, dos valentões da escola e de tudo mais. Fui a criança mais chorona de todas. Acho que tinha medo até da minha sombra. Meu pai perguntou se eu queria ser forte, e era exatamente o que eu queria ser, e eu faria de tudo para conseguir. Mas sei que ainda estou longe de ser como sonhava quando era uma criança assustada. É o bastante para você?  

—Sabe, Yukio. Não é mais tão medroso quanto quando te conheci.

—Você por outro lado...

—Ainda posso quebrar seu braço... – Ela cantarolou. Ele sorriu de canto.

—Volto aqui a noite para terminarmos a conversa.

—Quem disse que quero falar com você?

—Você não quer que eu responda isso, quer? Está toda vermelha, Shura.

            Antes que pudesse responder ela ouviu a porta bater. Yukio tinha ido embora. Talvez tivesse realmente sido melhor dessa forma, já que Shura não tinha a mínima ideia de como retrucar a última coisa que ele disse, pelo menos não agora. Pensaria em algo depois que acordasse. Naquele segundo sua cabeça doía muito para focar em qualquer coisa que não fosse descansar.

            Shura pensaria nisso depois... depois que acordasse, depois que seu coração se acalmasse, depois que suas bochechas parasses de arder contra o estofado do sofá. Felizmente ainda eram 14:00 da tarde. A noite e a estranha conversa que teria com Yukio Okumura, a quem ela tanto amava odiar, ainda estavam há horas de distância.

Fim...?


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