Hollow escrita por Mileh Diamond


Capítulo 4
Capítulo IV


Notas iniciais do capítulo

I LIVE
Escrever isso foi bem chato, pois eu apaguei os arquivos quando já tava na metade. K. Mas ficou melhor, nem lembro mais o que tinha feito na outra versão. Esse capítulo é dedicado à Nat King, que numas jogadas do destino me fez chutar a preguiça e resgatar a fic em uma one shot dela. Sério, foi coisa tipo Black Mirror. Vão ler Pôster! É muito bom!!
Sinto muito pela demora, mas vejam pelo lado bom: meu outro fandom tá com fic atrasada há 9 meses, e vocês estão só há 6! -sorriso da Lava Jato- Heh, não colou, eu sei.
Bom, isso aqui são apenas um monte de cenas levemente interconectadas apenas pra eu dizer "olha, escrevi uma coisa, yay". Enquanto fiz o cap pensei em mais quatro AUs e comecei a escrever dois. É, não muito produtivo. Mas vamos lá.


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Ele não esperava que fosse fácil convencer Yakov a mudar o programa na última hora. Ainda assim, ele sentiu-se contrariado pelas palavras do homem.

 

— Esse programa, Yuri, - o treinador disse olhando para a tela do computador - É muito duro pra você no momento. Deveria esperar mais um ano antes de tentá-lo.

 

— Eu não posso esperar um ano. - ele repetiu pela quinta vez naquela tarde - Yuuri compôs pra mim. Assim como Victor fez o programa livre. Os dois têm que ser usados na mesma competição.

 

— Já sou contra você manter todos os saltos do programa original, agora você me aparece com essa composição insana. Katsuki não considerou que você usaria esse programa após uma fratura. - ele suspirou com a cara fechada, mas logo sua expressão suavizou - Eu lembro de Yuuri e Victor ficando até mais tarde no rinque para praticar algum programa secreto. Disseram que era uma surpresa pra você. Eu não dei muita atenção, aqueles dois eram o estereótipo de casal bobo apaixonado. Mas eles claramente se importavam com você, entendo a sua ânsia de participar com os programas que fizeram.

 

Yuri baixou o olhar para um porta-retrato na mesa de Yakov. Era do tempo em que Victor ainda era pouco conhecido no mundo da patinação, quando tinha talvez uns 12 anos. A imagem mostrava um pequeno Victor de cabelos longos mostrando orgulhosamente sua medalha de ouro, uma das primeiras de muitas que viriam. Yakov estava com ele, o cabelo menos branco e a cara menos mal-humorada. Não duvidava da hipótese da foto ter sido tirada por Lilia. Victor era como um filho para eles. Deveriam ter sentido a perda mais do que qualquer um.

 

E por ter uma consideração semelhante com Yuri, Yakov tinha que se opor a seu pedido.

 

— Mas não posso deixar você competir com um programa desse calibre. Alguns saltos terão que ser alterados e outros eliminados. Você teve um estirão há menos de um ano, não tem mais a flexibilidade e equilíbrio para todos esses giros. E estamos apenas começando a apontar as falhas.

 

Ele suspirou frustrado, retirando a franja loira de seus olhos. Como poderia agir como um adulto se o tratavam como criança?! Ele queria gritar, mas sabia que isso não ajudaria em nada. Ao invés disso, ele disse calmamente:

 

— Eu acredito que sou capaz de aprender essa composição e aperfeiçoá-la para o Campeonato Nacional. Eu sei que ela é difícil, o próprio Yuuri disse isso. Mas eu tenho que tentar. Não por mim, por eles, seja lá onde estiverem. É o mínimo que eu posso fazer. - havia uma súplica velada em sua voz - Por favor, Yakov.

 

Naquele momento o treinador parecia ser muito mais velho do que realmente era. Seus olhos demonstravam preocupação, mas compaixão também.

 

— Acho que você finalmente está crescendo, Yura. - ele murmurou olhando de relance para a imagem de Yuuri Katsuki no computador - Pode usar o programa e começar a treinar assim que melhorar. Mas se eu perceber algum sinal de fadiga ou joelhos fracos, trocamos os saltos imediatamente. Sem reclamações.

 

Yuri sorriu aliviado e a euforia do momento o fez se levantar e abraçar um Yakov que queixava-se energicamente, dizendo que preferia os xingamentos de quando era jovem às demonstrações de carinho.

 

A verdade é que o loiro estava muito grato por ter conseguido a permissão. Tudo que precisava agora era treinar para seu retorno ao gelo como nunca fizera antes. Mostraria ao mundo que não havia nada que ele não pudesse superar.

 

Mais do que tudo, poderia fazer uma despedida verdadeira após tanto tempo.

 

 

 

Dizer que voltar a rotina era fácil seria a maior mentira da história. Assim que pôde esticar seu braço sem sentir nenhuma grande dor, Yuri deslizou sobre o gelo como se o mundo fosse dele. Mas fazer os saltos novamente era uma situação mais complicada.

 

Ele caía mais que o normal em saltos que já deveria dominar, perdia o ritmo da música incontáveis vezes e por um segundo de puro terror ele pensou ter se esquecido de como se ficava em pé nos patins. Adicione isso a dores nos pés, pernas, no braço recém-melhorado e nas costas. É, resumidamente, tudo lhe causava dor. Mas ele ignorava tudo, se levantava e repetia desde o início até conseguir um bom resultado. Yakov observava seriamente, mas não se intrometia. Por enquanto, tinha a sua liberdade.

 

O maior desafio era ignorar a falta de dois patinadores em especial que costumavam ficar ao seu lado durante o treino.




 

Somente em agosto ele ficaria moderadamente satisfeito com seus dois programas. A questão da apresentação em "Somewhere in time" ainda é um problema e ele tem dificuldade em expressar o sentimento de culpa e nostalgia, mas ele vai chegar lá. Além disso, decidira o que faria na faculdade. E era isso que comunicava a Otabek pelo Skype, no momento.

Moda e Design? — o asiático perguntou com um sorriso divertido olhando para a câmera - Sério?

 

— Sim. Não sei se a carreira de estilista é a mais certa, mas o mundo realmente precisa da minha ajuda com roupas e imagem, no geral. - ele disse calmo e convicto de suas palavras - Por que o riso?

 

— Nada, apenas parece algo bem Plisetsky de se fazer. Não sei como não vi antes. Aquela exibição de gala em 2015 deveria deixar na cara. - ele disse com o sorriso aumentando.

 

Yuri sentiu seu rosto esquentar com a lembrança de "Welcome to the Madness". Certamente não se arrependera de fazer aquela exibição de um jeito tão chocante, isso incluía as roupas. Ele estava ótimo. Mas há coisas que você simplesmente não se orgulha quando olha para si mesmo com quinze anos. Uma delas era aquela jaqueta roxa.

 

— Ugh, por que você tem que lembrar disso? - ele disse com a mão sobre o rosto - Aquele blazer deveria ser queimado.

 

Desculpe, é mais forte do que eu.— o cazaque disse do outro lado da tela - Então está tudo bem com você? Os treinos estão bons?

 

— Estão melhores a cada dia. Você vai gostar quando nos vermos no Grand Prix. - ele disse sorrindo como se já fosse vitorioso.

 

Espero que nosso querido astro não esteja se esforçando demais e apenas ficando mais doente. - Otabek disse num tom leve, mas com a mesma seriedade do que sugeria.

 

— Eu não estou. - Yuri se defendeu revirando os olhos - Yakov e Lilia têm mantido uma vigilha sem descanso sobre o meu treinamento. Eu não poderia exagerar nem se quisesse. - ele fez uma pausa, sorrindo no final - Mas vale a pena, se for para um bom retorno.

 

E que bom retorno seria.

 

Hum. Ainda confio em você, então. Tome cuidado, ok? Não dá pra competir com patinadores quebrados. - ele disse com um sorriso.

 

— O único quebrado aqui será você, Beka. Apenas aguarde. - ele disse jogando a franja pro lado com ar desafiador.

 

O mundo esperaria sentado se quisesse vê-lo desistindo.

 

 

 

 

 

 

Em outubro, numa noite em que ele acabara de terminar o treino e estava se preparando para ir pra casa, uma foto no Instagram o fez parar o que estava fazendo. A legenda o fez prender a respiração.

 

Era uma foto de JJ e Isabella, cada um segurando um pequeno bebê. Isabelle segurava um que usava gorrinho com orelhas de urso, enquanto JJ segurava o que tinha orelhas de gato. Ambos os adultos pareciam cansados, mas a felicidade era clara em seus olhos.

 

A legenda da foto dizia:

"Na última terça, 17 de outubro, eu e Izzy recebemos os melhores presentes que podíamos imaginar: dois garotinhos que mal vieram a esse mundo e já recebem todo o amor que podemos dar e mais. Bem vindos, príncipes Winter e Yuri Yang-Leroy! Mamãe e papai amam muito vocês!!"

 

Ele poderia reclamar de muita coisa. O excesso de emojis, a clara evidência de que Jean-Jacques ainda se referia a si mesmo como rei quando chamava os filhos de príncipes e até o fato de que eles literalmente chamaram um dos bebês de "Inverno". JJ era patinador e Isabella, ex-jogadora de hóquei. Não poderia ser mais clichê.

 

Mas não. Ele não conseguia sentir nenhum sentimento de irritação. Nem conseguiu esconder o sorriso imenso que se formou quando leu que uma das crianças se chamava Yuri. Alguém havia sido batisado por causa dele. Jean cumpriu uma promessa que havia feito quando estava bêbado.

 

Havia muitos comentários e felicitações na foto. Havia inclusive alguns que questionavam o fato de um dos gêmeos se chamar Yuri.

 

"OMG, será que teremos mais um Yuri na patinação artística???"

 

"A nova moda deveria ser todos os filhos de patinadores se chamarem Yuri! ><"

 

"Mas em qual Yuri JJ se inspirou para dar o nome? Katsuki ou Plisetsky? #pensando"

 

Ele realmente não achava que todos os novos patinadores se chamariam Yuri dali em diante. Também não queria que sua mensagem ficasse perdida entre os milhares de comentários, então resolveu falar com Jean diretamente.

 

> Parabéns pelos gêmeos.

> Não acredito que Isabella deixou você escolher o nome enquanto estava sob efeito de álcool.

 

Não demorou para obter uma resposta, deveria ser de dia em Quebéc.

 

> > Minhas promessas são sérias, ok?? E ela gostou do nome.

> > Advinha qual dos bebês estava usando as orelhas de gato?

 

Ele rolou os olhos. Era tão óbvio.

 

> Seria Yuri?

> > Sim! Sabia que você ia entender. Izzy disse que era tolice minha, mas tudo saiu como planejado. O rei sempre está certo!

> > Bem, quase sempre. Winter parece ser mais difícil de agradar e Yuri é bem mais calmo.

> > Talvez Winter seja o verdadeiro punk nessa história e eu confundi as coisas...

 

Yuri fechou os olhos e respirou fundo. Algumas pessoas eram tão... extras? Era essa a palavra que usavam para descrever Victor. O tipo de gente que quer fazer de tudo algo perfeito sem necessidade.

 

> São bebês, JJ. Você não pode determinar a personalidade deles pelo nome.

 

> > Eu sei, mas seria legal!

...

> > Quando descobrimos que seriam dois meninos, "Yuri" já era uma decisão certa. Mas ficamos muito tempo pensando no segundo nome.

> > Por meses pensamos em colocar "Victor".

 

Yuri mordeu o lábio. Onde aquela conversa pretendia ir? Não sabia o que fazer com a confissão do canadense. Por mais que ele não tivesse nada a ver com a decisão de nomes das crianças, a ideia de eles compartilharem o nome de duas pessoas que se foram há pouco tempo era... perturbadora pra ele.

 

> Por que não colocaram?

...

> > Porque parecia errado. Estávamos pensando no nome em si, mas após analisar o cenário por inteiro, percebemos o quanto seria problemático.

> > Sabe como a mídia é. Eles nos incomodariam até o fim dos tempos. Já é difícil conciliar faculdade, treino e banda. Eu e Izzy não precisamos de mais repórteres se achando no direito de opinar sobre as nossas vidas, muito menos como criaremos nossos filhos.

> > Além disso, acho que devemos deixar a memória deles em paz.

 

Aquela fora uma das conversas mais longas que tivera com Jean, e a com mais significado. Ver como ele, que parecia carecer de atenção quase tanto quanto de água, se preocupava com o que a mídia diria com uma suposta homenagem era algo novo. Fazia o patinador parecer mais humano, menos astro.

 

E após ver o nome de seus falecidos mentores ser usado inúmeras vezes da boca pra fora, Yuri se sentiu grato.

> Obrigado, JJ.

>Significa muito pra mim saber que há pessoas que não querem apenas ganhar em cima do nome deles.

...

> > Sem problemas, Yuri. Temos que proteger os amigos nesse meio, mais que tudo.

> > Boa sorte na sua volta às competições!

 

O loiro sorriu com a animação repentina.

> Obrigado, mas você vai precisar mais do que eu. Como pretende treinar e trocar fraldas ao mesmo tempo?

> > Isso não é nada para o rei! Não conte com isso para me derrotar no Grand Prix.

Não vou precisar, Leroy, ele pensou guardando o celular.

 

 

 

 

Três semanas antes do Campeonato Nacional, Yuri embarcou em um voo para Tóquio. "Para esfriar a cabeça", ele tinha dito a Yakov. Seu treinador não parecia muito contente com a data, visto que estava muito próximo das competições. Mas Yuri havia se comportado bem todos esses meses, ele merecia um descanso. Além do mais, sentia que aquela viagem não era apenas para férias.

 

A verdade é que seu verdadeiro destino não era Tóquio. Certamente havia roupas muito interessantes na capital japonesa, mas seu interesse real estava em uma certa cidade interiorana à beira mar.

 

A estação de trem de Hasetsu parecia não ter mudado em nada desde a primeira vez em que esteve ali há quatro anos. A única diferença era que ele entendia o básico das placas agora e não havia tantos pôsteres de Yuuri Katsuki.

 

Bem, havia um pôster. O mesmo estava rodeado de flores, incensos e presentes diversos. Constatou que ali era o lugar onde os turistas prestavam suas homenagens. Provavelmente a família de Yuuri não teria um dia de descanso se todos viessem prestar condolências à sua porta.

 

Mas Yuri não era um turista normal, ele não se contentaria com um altar de ferroviária. Seus planos eram ligeiramente diferentes.

 

O táxi não demorou para deixá-lo em frente à conhecida Yutopia. Parecia que por um momento ele tinha 15 anos e a missão de arrastar Victor Nikiforov de volta para Rússia novamente. Eram tempos bons aqueles, mais simples.

 

Yuri respirou fundo antes de entrar na estalagem, a recepção familiar e acolhedora como sempre. O cheiro de comida caseira, alguns homens de idade assistindo TV sobre o tatami e, é claro, Hiroko Katsuki vindo recebê-lo com aquela energia e gentileza de sempre.

 

— Yurio! Não sabia que viria tão cedo! - a mulher já se ocupava em ajudá-lo com a escaça bagagem - Não precisava avisar, na verdade, mas ficamos tão felizes quando você ligou! Seu quarto ainda é o mesmo. E olha como cresceu! Se tornou um rapaz tão bonito. - o sorriso dela era tão parecido com o de Yuuri que por um momento o russo ficou sem ar com toda a atenção.

 

Yuri sorriu sinceramente enquanto seguia a mulher até o quarto.

 

— Obrigado, Sra. Katsuki. Estava com muita saudade daqui. - confessou, afinal.

 

— Oh, que doce de menino você é. Está com fome? Certamente está cansado pela viagem. Eu posso preparar algo especial para o jantar. - o sorriso em seus lábios não sumiu, mas algo em seus olhos esfaleceu repentinamente - Quem sabe katsudon?

 

Deus sabe o quanto ele sentia falta do famoso prato japonês, mas ele não pretendia perder tempo agora. Havia muitos dias para banalidades, mas também uma obrigação em Hasetsu. Isso não podia esperar.

 

— Eu adoraria, senhora, mas no momento eu apenas preciso de uma informação, se não for incômodo. - ele fez uma pausa, olhando para um pacote especial entre suas bagagens - Onde posso visitar Yuuri?



 

 

O cemitério ficava quase nos limites da cidade, mas ele não teve dificuldades em encontrá-lo, com as direções certas. Assegurou Hiroko de que poderia ir sozinho e que na volta descansaria adequadamente. Só então ela o deixou ir em paz.

 

Ter um guia poderia ser bem útil, mas ele precisava de um tempo sozinho ali. Era algo que estava esperando há meses.

 

O cemitério de Hasetsu era pequeno, como esperado de uma cidade do interior. Também não era sufocado de lápides como outros que já visitou, então foi relativamente fácil encontrar o jazigo da família de Yuuri. Os símbolos em kanji para "Katsuki" foram um dos primeiros que ele realmente aprendeu.

 

Ele estava sozinho ali. Apenas ele, o vento, a lápide e o embrulho nas mãos. Ainda assim, ele sentiu a necessidade de dizer algo em voz alta:

 

— Oi. - ele falou para o nada, abaixando o olhar - Desculpe não ter vindo mais cedo. Estive ocupado.

 

A única resposta foi o vento soprando melancolicamente as folhas que ainda estavam no chão. Logo aquele cenário seria substituído por neve.

 

Yuri ajoelhou-se e depositou o buquê ao pé da lápide. Milagrosamente as flores sobreviveram à viagem.

 

— São girassóis russos. Como os do seu casamento, lembra? - ele sorriu triste - Victor tem um gosto péssimo pra flores, mas naquela única vez ele acertou.

 

Muitas coisas vinham a sua cabeça, várias coisas que ele queria dizer, mas que sabia que seriam perdidas tendo como ouvinte uma sepultura. Mas havia tanta coisa que queria colocar pra fora, pensamentos que o estavam torturando desde a noite do acidente.

 

— Eu estou com medo, Yuuri. - ele murmurou olhando para a fria e imponente pedra - Estou com medo de não ser o suficiente, de não conseguir fazer jus ao seu nome e ao de Victor. Vocês me ajudaram tanto e agora eu não sei se posso retribuir.

 

Sentia sua garganta fechar e os olhos arderem, sinais claros de lágrimas à caminho. Ele respirou fundo e cerrou os punhos.

 

— Eu sinto sua falta, Yuuri. Já disse isso dezenas de vezes a Victor, mas é a primeira pra você. Essa coisa de distância é uma droga. - ele disse limpando uma lágrima teimosa no canto do olho - Sinto falta de você aprimorando aqueles saltos vergonhosos, da sua sequência de passos invejável, da gente ensaiando no estúdio com a Lilia. Sério, ela gostava mais de você, certeza. - uma risada entre soluços - Sinto falta... de você me abraçando quando sabia que eu estava triste, mas não queria admitir. Então eu fingia odiar, mas na verdade rezava para aquilo não acabar nunca mais, pois é tão bom se sentir amado, Yuuri. E eu fui muito idiota em perceber isso depois de vocês partirem. - ele já era uma bagunça de soluços e lágrimas agora.

 

Essa era mais uma das razões para ele ter preferido vir sozinho. Sabia que não conseguiria manter o controle após começar a falar. Ele precisava disso. Todas as vezes que chorou naquele ano, fez isso em silêncio, com apenas seus pensamentos. As únicas vezes que havia dito suas angústias em voz alta foi no túmulo de Victor. Ainda assim, estava incompleto. Ele precisava daquele momento com Yuuri, o japonês sempre foi melhor ouvindo do que o russo mais velho.

 

— Queria que vocês estivessem aqui para ver o que eu estou preparando. - ele disse limpando o rosto com a manga do casaco - Eu posso não ter deixado claro nesses anos, mas eu realmente amava vocês. - ele sorriu sentindo suas bochechas esquentarem - Talvez vocês fossem meu Ágape.

 

O silêncio continuava a ser sua única resposta, mas agora Yuri sentia-se como se um grande peso tivesse sido retirado de seus ombros. Ele havia dito coisas que o estavam destruindo por dentro, o ingrediente principal em cada uma delas era culpa. Mas agora sentia que um pouco do estrago fora consertado. Em algum lugar sentia que Yuuri e Victor o haviam perdoado.

 

Mas ele só ficaria satisfeito com uma medalha de ouro.

 

Respirando fundo e ficando em pé, ele deu um último adeus a seu antigo companheiro de rinque.

 

— Vou fazer história na minha volta ao gelo, Yuuri. Sei que vai gostar. - ele disse ao vento com um sorriso convicto, sabendo que sua mensagem não fora em vão.


 

 

 

Ele planejava ficar poucos dias em Hasetsu, fazendo absolutamente nada. Apenas relaxar nas termas, sair da dieta, ir à praia. Era uma despedida do ano sem competições que ele passou e que acabaria dali a poucas semanas.

 

Ele só apareceu no rinque do Castelo de Gelo no último dia antes de sua partida. Ele nunca se perdoaria por ir a Hasetsu e não visitar Yuuko e sua família.

 

Ele encontrou a mulher na recepção do lugar. Yuuko levantou o olhar do computador já preparando boas-vindas a um cliente comum, mas seu rosto se iluminou ao reconhecer o mais novo.

— Yuri! Eu não sabia que você estava na cidade! - ela disse saindo de trás do balcão e o surpreendendo com um abraço. Ok, afeto físico era uma coisa com a qual ainda estava se acostumando.

 

— Oi, Yuuko. - ele disse correspondendo ao abraço com certa reserva, mas com um sorriso - Desculpe, eu deveria ter vindo mais cedo. Estou em Hasetsu desde sábado.

 

— Oh, não faz mal, pelo menos está aqui agora! - ela disse sem perder a expressão contente, mas logo pareceu um tanto preocupada - O seu braço melhorou, não? Ficamos com medo de que precisasse de mais tempo para se recuperar.

 

— Sim, está muito melhor, obrigado. - ele disse balançando o braço que antes estava fraturado - Ainda tenho que tomar alguns cuidados, mas não será um problema para a patinação. Volto ao gelo no final do mês.

 

— Isso é bom, eu fico feliz. - seu sorriso se entristeceu - Sabe, é estranho assistir às competições e não ter ninguém por quem torcer. Mas acima de tudo, queremos que nossos amigos estejam bem. Não importa se for no gelo, ou em qualquer outro lugar.

 

Yuri observou a mais velha com empatia.

 

— Entendo. - foi tudo o que conseguiu dizer.

 

Yuuri voltou poucas vezes a Hasetsu desde que passou a morar com Victor, mas nem todas as visitas do mundo deveriam apagar a saudade que ela sentia de seu amigo de infância. Então, num dia qualquer, você descobre que seu melhor amigo, aquele com quem você compartilhava o amor pela patinação entre outras coisas, morreu em um acidente do outro lado do mundo. E você nem estava lá para se despedir. Ele sabia como era aquela dor.

 

O clima ali continuaria pesado se não fosse Yuuko balançar a cabeça com um sorriso maior que o anterior e o puxar pelo braço.

 

— Eu sei que você quer patinar, então não vamos perder tempo. Em duas horas o rinque é ocupado pela aula das crianças, então você só terá esse tempo livre.

 

— Obrigado. - ele disse se divertindo com a animação sem fim da mulher. Algumas coisas nunca mudam.

 

O lugar continuava o mesmo que Yuri se lembrava, com algumas poucas diferenças. As paredes haviam sido recentemente pintadas e haviam mais troféus à mostra. Estavam sozinhos no momento, mas o espaço tinha ares de que costumava ser movimentado.

 

— Você já tem os patins, eu suponho. Tem todo o rinque pra você, então. As crianças chegam da escola em duas horas, espero que seja o suficiente. - ela parou no meio do caminho e olhou para trás acusatoriamente - Yuri Plisetsky, quando foi a última vez que você patinou?

 

Foi como ser pego roubando biscoitos antes do almoço: irrelevante, mas vergonhoso mesmo assim. E Yuuko era uma mãe, era especialista em dar sermões. Olhando para os lados constrangido ele murmurou uma resposta:

 

— Uns quatro dias atrás.

 

— Em época de competição? Não devia negligenciar seu treinamento agora. - ela disse cruzando os braços.

 

— Eu não negligenciei nada, ok? - ele disse quase ofendido com a acusação - Só precisava de um tempo longe dos patins. Pensar em outras coisas. Senão esquecemos que tem algo além de patinação, treinamento e medalhas.

 

Era algo que ele havia concluído nos últimos meses. Patinar era maravilhoso? Sem dúvida, mas sua vida não podia se resumir àquilo. Do contrário, um dia perderia o brilho. Ele se recusava a se deixar sentir-se indiferente sobre patinação em algum momento de sua vida. Victor quase fez isso uma vez e precisou de um ano treinando algum patinador japonês para se dar conta de que não estava vivendo.

Yuuko compreendeu e sua expressão suavizou.

 

— Oh, Yuri, todo atleta passa por isso alguma vez. - ela disse com uma mão em seu ombro - Fico feliz que notou isso mais cedo que a maioria. Você era um tipo difícil há alguns anos.

 

Ele ainda é um tipo difícil para os padrões, ele queria comentar, mas deixou assim.

 

— Vou te deixar em paz agora, tenho que cuidar de umas coisas no balcão. - ela disse se afastando - Sinta-se em casa, Yuri.

 

De certa forma, era bem possível.

 

Lâminas prontas, alongamento feito, finalmente pôs os pés na superfície polida do rinque. Mesmo após poucos dias, era como voltar depois de meses. Ele conhecia muito bem aquela sensação.

 

Não podia fazer nenhum salto imediatamente sem aquecimento, a menos que quisesse um tendão rompido a poucos dias das competições. Assim, contentou-se em deslizar em círculos no início, saboreando o ar gelado artificialmente da pista.

 

Não podia evitar a lembrança de incertos olhos castanhos pedindo ajuda com o quad salchow antes que o namorado (ou quase, na época) chegasse no rinque e treinasse os dois.

 

Ás vezes, em momentos silenciosos como esses, ele não consegue afastar a fantasia venenosa de como seriam as coisas se não tivessem saído daquela festa em Zurique. Um minuto, a mais ou a menos. Uma taça de champanhe a menos. Um pingo de juízo a mais. Tudo isso faria a diferença.

 

Tivesse Yuri deixado de beber, Yuuri não teria se preocupado. Eles ficariam mais um tempo. O único com uma ressaca no dia seguinte seria Victor e teria que conviver com isso durante a viagem de volta a Rússia. Eles voltariam a rotina. Yuuri se preparando para as Olimpíadas e ele também. Um dos dois ganharia o ouro. Provavelmente Yuri, modéstia à parte. E assim iria mais um ano, e mais um, e mais um. Até Yuuri se aposentar. Ele usaria seu diploma de Dança da Wayne University de Detroit para abrir um estúdio próprio em São Petersburgo. Ou em Hasetsu. Poderia ser numa vila remota na Mongólia, mas Victor estaria lá com ele. Eles até comentaram a possibilidade de adotarem uma criança um dia. Que bebê mimado seria, sinceramente. Eles estariam juntos, felizes e, acima de tudo, vivos.

 

Yuri parou com a mão na barreira de contenção. Sua psicóloga já havia alertado sobre os pensamentos intrusivos e como lidar com eles. E sempre voltavam.

"— Você se sente culpado pelo acidente e fica pensando sobre como poderia ter mudado tudo. - a jovem Dra. Medvedeva dizia enquanto fazia anotações no tablet - Mas não foi culpa sua, não foi culpa de ninguém. Não há como mudar o passado, Sr. Plisetsky. Então, meu conselho pra você é tentar concentrar-se em outras coisas quando essas ideias aparecerem."

 

Não foi culpa sua. Não foi.

 

Ele repetia isso como um mantra mental enquanto inconscientemente se perdia nos movimentos de "Song for the little sparrow". Era um ótimo programa para quem queria se distrair, visto que precisava do dobro de concentração para os elementos técnicos. É com leve irritação que Yuri se lembra de que um dos saltos fora eliminado nesses meses, porque o jovem simplesmente via tudo em dobro após a sequência de giros que precedia o quad flip. Yakov nem piscou enquanto anunciava a modificação.

 

Mas não faz mal, iria melhorar a apresentação até o Grand Prix. Até lá, tinha uma composição que era sobre ele e para ele. Estava em seu elemento. Força incontida, perseverança, mostrar ao mundo o que tem de melhor, levantar-se após uma queda. Ele podia fazer isso.

 

Não sabia há quanto tempo estava ali, mas logo percebeu Yuuko observando-o do alambrado. Ela parecia contente, senão um pouco nostálgica.

 

— Espero que não esteja atrapalhando. - ela disse logo - É que faz um tempo desde que tive campeões mundiais no meu rinque. Devia aproveitar.

Ele riu, refazendo o rabo de cavalo em seu cabelo.

— Tem algum pedido especial? Posso mostrar os programas que vou usar na temporada, ou alguns que usei antes, tanto faz. - ele disse dando de ombros.

— Já que você diz... - ela brincou com uma mecha solta de seu cabelo, antes de levantar o olhar - Poderia reproduzir "Stammi Vicino"?

Ele franziu o cenho. Aquela música era uma especialidade de Victor e Yuuri, mas ele nunca havia usado o programa em público. Talvez uma ou duas vezes nos treinos só para tirar uma com a cara de Victor. Após tantas vezes vendo o casal repetir a composição, ele acabou por memorizar algumas partes. Continuava a ser um pedido incomum.

— Eu nunca realmente tentei algo com "Stammi Vicino". Não me lembro de tudo, não chegaria nem perto do que Victor e Yuuri fizeram. - ele disse pendendo levemente a cabeça para o lado.

— Eu sei, ninguém pode fazer uma reprodução idêntica. Eu só imaginei como seria se fosse feita por você. - ela deu de ombros - É uma canção tão poderosa, cada um tem uma interpretação diferente.

"Cada um" poderia se referir às centenas de patinadores mundo afora que se inspiraram na música para fazerem suas próprias versões, mas Yuri sabia inconscientemente que ela se referia a dois atletas em especial. E, por tradição, era a música dos melhores patinadores do mundo. Yuri ainda fazia parte daquele grupo.

— Não tenho a música aqui comigo. - ele disse, afinal.

Yuuko abriu o maior dos sorrisos enquanto retirava o celular do bolso.

— Sem problema!

Não demorou muito para que as velhas caixas de som estivessem preparadas para tocar a música. As mesmas que presenciaram a infame disputa de On Love: Eros e Agape.

Yuri deslizou em círculos por algum tempo, tentando recordar a maior parte da coreografia. "Stammi Vicino". Fique comigo. Um pedido para que não fosse abandonado, direcionado a qualquer um que entendesse a angústia do patinador. Ele entendia de abandono muito bem.

Logo parou no centro do gelo, e, com um aceno para Yuuko, assumiu a posição inicial fechando os olhos.

A ária começa. Mãos para o céu, em busca de um amor perdido. Um pedido de socorro. Desespero, mas há a esperança de que alguém te ouça. Não me deixe.

Yuri tenta pensar em Victor enquanto dança, nas centenas de vezes que o viu ensaiando a composição após aquele fatídico banquete. Havia dor, delicadeza e beleza na apresentação. Não era isso que Yuri estava conseguindo aqui.

Certamente havia a mesma leveza do programa original, mas essa era uma performance mais agressiva. Chega de esperar melancolicamente por um amor que não viria, Yuri era o amante ressentido por ter sido deixado pra trás. Agora embarcaria em uma jornada para reencontrar sua outra metade.

Impulso para o salto. O clássico quadruple flip aterrissou bem, considerando que ele não tentava o salto há semanas. A partir daqui, todas as memórias do programa eram mais nubladas, de forma que ele decidiu improvisar com partes de outras de suas apresentações. Firebird, Grand Prix 2016; Dance of the Knights, Mundial de 2017; On Love: Agape, Grand Prix 2015. E pensar que havia jurado nunca mais patinar ao som daquela música tediosa.

Era um novo "Stammi Vicino". Emocionante o suficiente para dizer que eram a mesma peça, furioso o bastante para dizer que eram bem diferentes. Era o que Yuri sentia, a imagem que queria passar. Alguns choram ao serem abandonados, outros procuram formas de sair da solidão.

Parou na pose final quase ao mesmo tempo que a música terminava. Os únicos sons no lugar eram da respiração ligeiramente ofegante de Yuri. Então vieram os aplausos.

Não só de Yuuko, completamente extasiada, mas também da classe de pequenos patinadores que pareceu surgir do nada. Eles deviam ter chegado e mantido silêncio durante todo o show. Ás vezes japoneses e suas boas maneiras assustavam o russo.

Acenando para os mais novos, Yuri saiu do gelo. A mulher não parava de tecer comentários sobre sua performance:

— Foi maravilhoso! Muito melhor do que eu esperava, Yuri! Eu me sinto muito grata por ter assistido isso em primeira mão. - ela disse ainda batendo palmas e curvando-se ligeiramente com a última frase, apenas para voltar a fazer elogios sobre o mais novo.

— Eu que agradeço, foi um treinamento diferente. - ele disse pouco antes de ser cercado por uma horda de pequenos patinadores animados por conhecerem O Yuri Plisetsky, lenda viva por conseguir ouro em sua primeira competição sênior.

Ele escolheu fazer vista grossa para as risadinhas das trigêmeas e o fato de que a do meio (Loop?) segurava o celular como se fosse o Santo Graal. Eram crianças, no lugar delas faria exatamente o que ele sabia que elas fizeram.


Mais tarde, quando centenas de notificações o marcavam nas postagens de um vídeo intitulado "Yuri Plisetsky cria sua própria versão de 'Stay Close To Me'", ele tentou parecer surpreso para que parecesse um acidente. Yakov não acreditou.

Oops.

 

 

 

O campeonato era em três dias. E aqui estava Yuri treinando na noite gelada do inverno russo enquanto todos estavam em casa aproveitando o final de ano.

Yakov já havia desligado as luzes do rinque principal como forma de expulsá-lo dali, mas ele podia patinar apenas com as luzes das janelas. Iria embora quando o treinador fosse, estando o mesmo ocupado com alguns papeis no escritório.

Assim estava Yuri deslizando sobre o gelo tendo como pano de fundo uma pista escura, salvo pelas janelas que mostravam a luz azulada da noite com os flocos de neve caindo lentamente. É, ele deveria ter ido mais cedo e evitado a tempestade.

Mas tudo parecia um sonho tão bonito. Os movimentos singelos de "Somewhere in time" já estavam gravados em sua memória corporal, ele poderia dançar aquilo inúmeras vezes sem precisar da música. Em algum momento o coque de seu cabelo havia desmanchado, de forma que as mechas loiras agora dançavam junto com ele sobre a superfície gélida. Ugh, por que usava cabelo longo mesmo? Era tão pouco prático.

Isso fazia pouco para distraí-lo. No momento, via-se no campeonato, contando uma história de amor perdido em sua volta às competições. O público, então, veria que nem um ano longe os jogos poderia deixá-lo mais fraco. Não, aquilo era apenas um sinal de que ele poderia se reerguer mais forte.

— Yuri. - uma voz à beira da pista o tirou de seus devaneios.

 

Ele parou e distinguiu a forma elegante de Lilia Baranovskaya apenas iluminada pela luz do corredor externo. Ela já devia estar ali há um tempo, segurava algo em seus braços. Yuri moveu-se em direção ao alambrado. Já pretendia sair, de qualquer maneira.

— Sim? - ele disse quando estava próximo o suficiente, já retirando os patins.

Havia algo diferente em sua tutora. Um ar de... tristeza? Melancolia? Era algo novo de se ver. Justo ela que caminhava com a confidência de uma rainha, não era comum vê-la expressando um sentimento diferente de desinteresse ou crítica. Mas aqui estavam, com uma antiga estrela do Bolshoi em dúvida sobre o que falar.


— Seus trajes ficaram prontos. - Lilia disse finalmente, entregando os embrulhos que segurava. Seu olhar altivo de sempre pareceu suavizar naquele momento - Quando eu te vi patinando, por um momento...

Ela parou de falar. Yuri esperou que terminasse.

A ex-bailarina suspirou e o mais novo pensou ter visto seus olhos brilharem um pouco mais na luz fraca do rinque. Ela, então, finalmente completou:

— Por um momento, pensei que estivesse vendo Victor novamente.

Os olhos do loiro arregalaram-se em entendimento, senão um pouco de surpresa. Então, veio a gratidão. Após anos sentindo-se contrariado pela constante comparação com Victor, ele não tinha mais problemas agora. Tinha a segurança de que podia fazer o melhor por si mesmo, sem a necessidade de validação alheia. E se sua imagem lembrava Victor, apenas queria dizer que ele lembrava o melhor patinador que já pisara naquele gelo. Por isso, Yuri sentia-se muito grato.

— Obrigado, Lilia. - ele disse com um pequeno sorriso.

A mulher pendeu a cabeça levemente para o lado, um ar de curiosidade e satisfação em seus olhos.

— Que jovem peculiar você se tornou, Yuri Plisetsky. A maioria sorri menos à medida que cresce, mas olhe pra você, fazendo tudo ao contrário.

O aluno sorriu de lado de uma forma que certamente lhe renderia minutos extras de punição quando mais novo, mas agora apenas fazia a bailarina arquear a sobrancelha.

— Nunca fui bom com regras, Lilia, você sabe.

Foi o suficiente para desfazer qualquer resto de suavidade que sobrou no rosto da mais velha, fazendo com que semicerrasse os olhos com aquele jeito amedrontador típico.

— Não, eu não sei, Sr. Plisetsky. E é melhor que você vá logo pra casa, assim não terá desculpas quando chegar cansado no estúdio amanhã. Sua coreografia ainda precisa de leveza e consistência.

— Sim, sim, claro, Lilia. Você que manda. - ele disse arrumando sua mochila, pronto para ir embora - Mais alguma coisa?

— Não, isso é tudo. Boa noite, Yuri. - ela disse fazendo menção de sair do lugar.

O garoto seguiria suas ações, mas chegou a conclusão de que queria fazer mais uma loucura naquele dia. Foi assim que acabou abraçando uma Lilia muito confusa que não tinha nenhuma ideia do que acontecera ali. Muito tempo com Yuuri fizera isso, agora ele podia abraçar pessoas aleatoriamente.

— De novo, obrigado, Lilia. - ele disse antes de colocar sua mochila nos ombros e sair pelo corredor.

A mais velha continuou ali por um minuto ou dois, acabando por suspirar com um sorriso. Sinceramente, as crianças que Yakov arranjava ficavam mais estranhas a cada geração.


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Notas finais do capítulo

Éééé, isso que tem pra hoje.
Algumas notas: pra falar a verdade, eu não acho que o que o Yuri sentia aqui pelo Victor e pelo Yuuri era Ágape. Não, Ágape é amor incondicional sem esperar receber nada em troca. De certa forma ele esperava atenção e perdão. Por outro lado, o Yuri pode ser o Ágape do Victor e do Yuuri, pois eles se preocupavam com ele sem necessariamente esperar uma reciprocidade. O que o Yuri deve sentir é Storge (amor entre familiares, mas não necessariamente).
E eu ODEIO o blazer do Yuri em Welcome to the Madness. Queima, doido, queima.
E eu amo meu headcanon de que a Isabella é/era jogadora de hóquei. Eu consigo imaginar ela e o JJ brigando quando crianças pra usar o rinque de patinação local, ao mesmo tempo que defendendo um ao outro dos idiotas que falam "Hóquei é coisa de menino" ou "Patinação é pra meninas", things like that.
O que acharam? Deixem seus comentários!
XOXO



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