Underwater | Segredos Revelados escrita por L Mota e D Oliv


Capítulo 6
Capítulo 5




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Aquele clichê me veio como um soco no estômago. Sim, eu queria que aquilo tudo fosse apenas um pesadelo, de onde eu iria acordar e voltar à minha vida normal.

— Não acredito em você – disse, minha voz saindo fraca e insegura demais.

— Oliv, sei que é difícil aceitar, mas é a verdade – ele deu um passo para frente, afim de pegar minha mão.

— Então minha vida toda... foi uma mentira? – Afastei-me mais, indo para a varanda que dava vista para a imensidão do mar.

  Alex foi logo depois, ficou ao meu lado em silêncio, apenas o som das ondas se chocando umas contra as outras.

— Você sempre se sentiu deslocada, não é? – Começou, sabia que ele me olhava, mas não o encarei. – Apesar de sua vida tranquila e feliz… havia algo dentro de si que incomodava, algo que não se encaixava.

  Tudo o que ele falava fazia sentido. Sim, desde criança eu me sentia diferente. Mamãe me dizia que era porque eu era a menina mais linda do mundo, mas eu sabia que era outra coisa. Uma inquietação que ficou maior na adolescência e havia piorado agora.

— Por que me deram para… - iria dizer “desconhecidos”, mas pensar aquilo doeu. – outra família? – encarei aqueles olhos incrivelmente azul acinzentados.

— Foi necessário – ele suspirou, parecia cansado.– Se eles não tivessem entregado você, você morreria.

Senti um torpor me envolver. Segurei na sacada de pedra. Eu não podia ser tão fraca assim.

— Você está fraca demais, Oliv – ele segurou meu braço. – Precisa descansar. Dormir lhe fará bem.

Abri um sorriso fraco.

— Você me diz que sou tipo um animal marinho e me pede pra descansar? – Endireitei-me, cruzando os braços. – Quero saber de tudo agora.

Alex riu. Uma risada baixa e grave.

— Realmente é uma de nós.

— Nós? – Indaguei. – Quem são vocês? Quem sou eu? – As palavras saíram desesperadas.

— Somos seres do mar. Como protetores de todo o campo aquático do mundo. Eu sou um tritão e você uma sereia.

Acordei com meu celular vibrando. Alex me emprestou um carregador, depois de se recusar a me contar tudo.

“Há coisas que requer tempo, Oliv” disse enquanto saia do quarto e me deixava sozinha com um turbilhão de pensamentos.

Para meu alívio, meu sono foi sem sonhos. Ainda me sentia anestesiada por tudo o que descobri. Então, eu era uma Sereia. Era algo surreal de se pensar. Meu celular vibrou novamente, fazendo-me sair de meus devaneios. Havia diversas mensagens e ligações. Senti-me culpada por não dar nenhuma satisfação para meus pais e para Ana.

— Liv? – Minha mãe atendeu ao primeiro toque, sua voz estava tensa. – Onde você está, Liv?!

Suspirei, me sentindo uma péssima pessoa. Eu não deveria ter fugido daquela forma.

— Eu estou bem, mãe. Só precisava pensar um pouco. Estou...com um amigo – tentei não transparecer em minha voz a insegurança.

— Que amigo? Por que não nos avisou? Seu pai está muito nervoso… eu estou!

Aquelas palavras foram como um tapa em meu rosto. Eles já tinham uma certa idade e não poderiam passar nenhum tipo de estresse. As lágrimas de culpa começaram a transbordar.

— Me desculpe, mamãe… - minha voz falhou. – Eu estou indo pra casa, ok?

     Não consegui ouvir o que ela respondeu. A porta foi escancarada por Alex que entrou correndo.

— O que...

— Precisamos ir, Oliv – ele pegou minha mochila e a abriu.

— O que houve? – perguntei assistindo ele pegar alguns lençóis no armário.

— Estamos sendo seguidos… você está – ele socou dois lençóis em minha mochila, indo para o banheiro.

— Como assim? – senti meu estômago embrulhar.

Alex pegou alguns itens de higiene e jogou em minha bolsa a fechando. Olhou pra mim e naquele segundo senti algo urgente queimando em meu peito.

— Confia em mim? – disse fixando bem seus olhos em mim.

Não, pensei prestes a dizer.

— Sim – vi-me falando com estranheza.

Alex pegou em minha mão me guiando para o andar de baixo.

— Vai me dizer quem está me seguindo?

Ele virou a cabeça para me encarar, seus olhos cinzas estavam mais escuros.

— Pessoas não muito legais – explicou, indo mais rápido e apertando minha mão.

— Ok - me desvencilhei dele. – Posso andar sozinha – parei, fazendo-o parar.

— Não temos tempo para suas perguntas, Oliv. Precisamos sair daqui – a voz dele saiu baixa, eu diria que até um pouco ameaçadora.

— E os outros hóspedes? – Olhei em volta vendo todas as portas fechadas.

— Não existe outros… pode, por favor, perguntar e andar ao mesmo tempo?

— Eu só...

Não terminei a frase. Um estrondo no andar de baixo me fez pular. Alex bufou, pegando em minha mão novamente e correndo para o quarto. Ele fechou a porta atrás de si, seus cabelos loiríssimos estavam caindo para frente.

— Ok, vamos ter que sair por outro lado.

— Por onde?

Ele passou os olhos pelo cômodo, até para-los na varanda.

— Não tá pensando em… - Virei-me para a sacada já sentindo um frio na barriga.

— Isso mesmo. – afirmou correndo para a varanda.

— Isso não vai dar certo – avisei, olhando para baixo.

— Aquele pé da varanda era sustentado por vigas de madeira que estavam fincadas em rochas e areia. Não era tão alto, mas não era como se eu pudesse pular daquela distância do chão.

— Tem que ser mais otimista, Liv.

Aquilo me deixou desconfortável. Só quem me chamava de Liv era meus pais ou Ana, pessoas próximas. Perguntei-me a quanto tempo ele estava me vigiando...

— Eu vou pular e depois você pula – avisou, colocando uma perna para fora e depois a outra.

— Não posso… eu vou cair. Como quer que eu simplesmente pule? – Cerrei os punhos. – Eu não consigo.

Apesar de toda a adrenalina que parecia pulsar de Alex, ele sorriu, dizendo:

— Você é uma sereia. Pode conseguir tudo o que quiser.

Ele pulou, me fazendo arfar. Aterrissou graciosamente na areia.

— Vem. Não temos muito tempo! – Ele estendeu os braços. – Eu pego você.

Fechei os olhos, sentindo medo. Os sons estavam ficando mais próximos. Joguei minha mochila, ele a pegou. Respirei fundo, sentindo meu corpo todo se tencionar. Coloquei uma perna para fora, depois a outra.

— Muito bem...agora pule!

Olhei para baixo, ele parecia distante demais. Senti minha coragem sumir.

— Eu não… - um nó se formou em minha garganta, segurei mais na pilastra.

A porta do quarto se escancarou e eu quase cai. A queimação em meu peito aumentou, tomando conta de todo o meu corpo, parecia ser um alerta. Um homem parou na porta. Era negro e tinha incríveis olhos azuis. Vestia roupas estranhas que nunca vira na vida. Ele disse algo, mas eu não prestei atenção. Fechei os olhos, sentindo o vento em um rosto e me joguei.

Alex mal me deixou respirar me colocando no chão. Eu assenti com a cabeça, mostrando que estava bem. Corremos como loucos. Percebi que estávamos correndo, correndo muito, mais do que seria humanamente possível. Parecia que as vantagens de ser sereia não estavam atrelada somente ao mar. Percebi algo diferente em mim, como se pensar em mim como sereia tivesse aberto algo em minha mente, mais verdades que eu não podia encarar ainda por estar no meio de uma fulga.

Virei um pouco a cabeça para ver se eles estavam perto. Duas coisas pararam na sacada e logo depois o homem negro. Eles não vieram atrás, só ficaram observando e aquilo parecia mais assustador do que se eles estivessem em nosso encalço.

Alex continuou correndo. Uma parte de minha mente ainda se perguntava se eu não estava alucinando, um alerta me dizia para manter um pouco da guarda com Alex. Quem ele era? De onde era? O que o diferenciava dos caras grandões lá atrás? Afastei esses pensamentos, aliás naquele momento ele parecia estar salvando minha vida.

Percebi que estávamos caminhando para uma gruta que ficava em uma praia a alguns km da pousada. Sentia-me cansada pela corrida inumana mas não quis aparentar fraqueza perto dele.
Começamos a entrar na gruta, que era infestada de estalactites, logo a frente e se abria em um lago. Ele colocou a mochila sobre o tronco, entrando no lago, logo a água bateu em sua cintura.
— Pretende me afogar?- perguntei olhando ressabiada para a água.
— Isso é quase impossível, o máximo que vai acontecer é uma transformação forçada, antes da hora. Pode entrar sem medo, a água chegará no máximo em seu peito.
— Transformação? Por favor, não diga que tenho calda.
Alex me olhou com o canto do olho sorrindo, abriu minha mochila e pegou uma lanterna de dentro, acendeu-a quando a escuridão de dentro da gruta foi ficando mais densa. Entrei no lago, me retrai um pouco, a água estava geladíssima, mas para meu alívio meus pés tocavam o chão pedregoso. Logo estava ao lado de Alex que me olhava, mas eu não conseguia ver sua expressão devido a escuridão.
— Bom, eu ia te contar tudo com mais calma, eles estão atrás de você e eu não pretendo deixar eles te pegarem, mas eu devo te preparar caso isso aconteça. Você tem muitas perguntas, faça elas enquanto não chegamos a algum lugar seguro.
    Então era isso, ali minhas perguntas seriam respondidas, mas assim que ele falou sobre elas, foi como se elas tivessem fugido. Resgatei alguma antes que ela rastejasse sorrateiramente até os confins da minha mente.
— Por que eu morreria se eles não me entregassem para outra família? - Eu sabia que eles eram meus pais, mas isso ainda era muito surreal para mim.
Alex não hesitou antes de responder.

— Essa é uma boa primeira pergunta, fica bem no início de tudo. Muitas coisas que a mitologia conta sobre nós é real, isso quer dizer também as coisas más. Aquele negócio de atrair homens para morrer na praia é real, só que como quando se trata dos humanos, falar que todos nós fazemos isso é muito generalizador. Há muito tempo, éramos uma comunidade apenas, regida por uma monarquia que dava o poder da escolha a você. Vou dar um exemplo, tem o pessoal que defende o meio ambiente e o equilíbrio da natureza e o outro que não está nem aí, desmata mesmo, apoia aqueles que o fazem também e etc, mas o governo não se importava como isso funcionava ou como isso acontecia, até que eles foram atingidos por isso.

Ele deu um espaço, estávamos no meio do breu, não conseguia ver muito mais que um palmo a frente, que era onde a luz da lanterna iluminava.
— Eu entendi esse conceito. É como pessoas que lutam contra o fim das caçadas e aquelas que caçam, simples, mas eu não entendo o que as sereias que matam ganham matando.
— Nada. Diversão. Como quem caça por caçar.
— Há humanos feitos de tapete de onde você vem? - Pensar naquilo estava começando a me dar arrepios.
— Não! - Alex riu. - Ainda não descobrimos uma substância que protegesse o corpo da putrefação.
Aquele tipo de brincadeira era no mínimo mórbida. Alex não pareceu perceber.

— Naquela época não éramos acostumados a vir muito à terra, e quando vínhamos era por pouco tempo, mas em uma dessas vindas esporádicas uma princesa se apaixonou por um humano.
— Sabia, grandes histórias de amor sempre acabam em tragédias.
— Você pode ter razão, mas ainda assim eu gosto delas - Não pude deixar de pensar “Eu também”. - Ela ficou muito tempo em terra, algo que nunca havia sido feito e então ela começou a ficar fraca, muito doente, quase morreu. Como ela era da realeza, vieram buscá-la, mas ela tinha uma surpresa. Ela tinha tido uma criança, morava com seu companheiro e a criança em uma casa beira-mar, ninguém sabia se a criança era capaz de viver como nós, então a mãe a deixou com o pai e voltou com a família para o mar. De tempos em tempos ela ia visitar a família em terra, mas atividades burocráticas que seus familiares haviam imposto a ela para que ela não ficasse muito tempo aqui, prendiam ela lá. É importante dizer que ela  defendia os humanos, então foi chocante para ela encontrar o pai de seu filho morto, com o corpo apodrecido na praia, morto por uma sereia.
Arquejei chocada.
— Como? Ela era da realeza! Como tiveram coragem de matar o pai de seu filho, o seu amor? Que falta de respeito e...
Alex me olhou.
— Ia dizer humanidade? – ele arqueou uma sobrancelha, parecia se divertir com meus sentimentos aflorados.
Assenti. Ele balançou a cabeça.
— É exatamente por isso que ela fez o que fez.
— O que ela fez?
Nesse momento estávamos entrando em um tipo de câmara, a água começava a descer e batia em minhas canelas novamente, chegamos a um lugar seco e Alex se sentou em uma pedra. Abriu novamente minha mochila, pegou uma toalha e um lençol e jogou para mim. Eu ainda estava com o roupão, apenas de sutiã e calcinha. Não pude deixar de enrubescer.

— Parece que aqui não tem um banheiro. – disse, olhando para os lados.

— Não precisa se envergonhar… eu me viro de costas, ok? – Ele se virou.

Sequei-me rapidamente sentindo uma vergonha pungente . O roupão estava completamente encharcado e eu celular havia caído na corrida. Peguei o lençol e enrolei em meu corpo afim de fazer uma espécie de vestido. Ficou ridículo.

—Ok, pode se virar – pedi.

— Não ficou tão ruim – disse, me olhando de cima a baixo. – Parece as antigas mulheres gregas. - Ele bateu na pedra para que eu me sentasse ao seu lado, continuando a conversa. - Ela resolveu descobrir o que aconteceria com o filho se o levasse para o mar, ela tinha um impasse, não podia ficar em terra para cuidar do filho por muito tempo e não confiava mais em sua própria raça. Para seu acalento, o filho conseguia viver tão bem em terra quanto em mar. Ela voltou para casa com seu filho e começou a mexer o pauzinhos para frear a morte de humanos e punir os culpados. Isso causou um pandemônio, o reino se dividiu, houve revoltas, mais mortes e a princesa se enfureceu. Você é novata agora, mas uma coisa que você deve saber sobre seu povo é que temos um ditado: onde há fúria, há magia.
— Sério?
— Não, acabei de inventar.
Revirei os olhos. Ele sorriu.
— Ela usou magia para fazer sua justiça. Não conseguia aceitar a sua desgraça enquanto olhava famílias felizes pela janela, então transformou sua desgraça na desgraça dos outros, ela amaldiçoou seu povo. Passou três meses com sua família feliz antes que ela fosse destruída e seria o mesmo com todos. Os bebês nascem e podem ficar três meses com seus pais antes que comecem a adoecer como ela quando ficou em terra e então eles têm que confiar a vida de seus filhos àqueles que eles matam.
— E como ficamos em terra por tantos anos sem adoecer e morrer?
Ele me lançou um olhar sagaz.
— Você deve ser uma boa aluna.
— Costumava ser antes das vozes em minha cabeça.
Ele assentiu compreensivo.
— Ela criou uma nova raça ao nos amaldiçoar.
— Fácil assim?
— Não, Liv. Ela sacrificou o próprio filho para isso, para que recebêssemos um pouco de humanidade. Alguns a chamam de louca, nós a chamamos de salvadora.
— A dor deve ter enlouquecido ela, mas seu sacrifício trouxe algo, além de um castigo é uma lição, certo?
Eu consegui entender o sacrifício dela e sofria por ela.
— Qual era o nome dela, Alex?
— Não posso falar o nome dela aqui. Nomes são poderosos, Liv. O que posso dizer é que você é da família dela, ela era sua tia.
Eu demorei um pouco para entender o que aquilo queria dizer.
— Eu sou… da realeza?
    Alex abriu um leve sorriso em seu rosto cansado.

— Como se fosse difícil perceber.
Abaixei o rosto sem graça.
— É por isso que estão atrás de mim?
— Preparada para mais uma revelação?
    Assenti.
— Você é a próxima na sucessão do trono, te convencer de que eles estão certos é unificar o reino e voltar aos velhos costumes.
— Mesmo com a nossa humanidade, ainda há alguns de nós que matam?
Alex percebeu que eu havia empregado nós e sorriu, mas ao pensar em minha pergunta voltou ao olhar sério.
— Sim, a maldade não é exclusiva dos humanos.
Ficamos quietos por alguns minutos, toda aquela verdade caindo sobre mim como uma segunda pele.
— Alex? - Chamei baixo.
— Sim?
— Meus pais estão vivos? - Falar aquilo tornava tudo mais real.
— Sim, eles são reis.
Ouvir aquilo era esquisito para alguém que vivia em uma democracia.
— E como é o outro reino? Quem os governa?
— O outro reino é um reino quebrado, com sereias e tritões que concordam que seres humanos são seus brinquedos, marionetes que não merecem a vida. São governado pela Rainha Scarlate, e acredite em mim, Liv, não vai querer conhecê-la.
Eu acreditei nele, a sua voz expressava que ele já havia a conhecido e não havia sido uma experiência lá muito boa.
— Ela também é da minha família?
— Sim, irmã de sua mãe, sua outra tia. Eram três irmãs princesas. Uma se sacrificou, outra se rebelou e sua mãe foi a que assumiu o trono oficial.
— Parece ser uma família acolhedora.
Ele riu.
— Nenhuma família é fácil.
— E meus pais? – perguntei.
    Pelo tom, ele sabia de quem eu estava falando.
— O encanto vai acabar, Liv.
— Por que ele só dura alguns anos?
— Nenhuma magia é para sempre.
    Fazia sentido.
— Eles vão...me desprezar?
    Ele me olhou com pena.
— Cada um tem uma reação diferente, não sabemos.
— Eu preciso vê-los, Alex.
    Vi relutância em seus olhos.
— É muito perigoso.
— Mas eu preciso! – Cerrei os punhos.
Eu não sabia o que fazer se ele dissesse não, eu seria capaz de me arriscar?
— Tudo bem - ele pareceu derrotado. - Vamos durante a noite.
— Obrigada.
— Seu desejo é uma ordem, vossa alteza.   

Ri balançando a cabeça.
— Sem piadinhas, por favor.
— Não é piada. – ele arqueou uma sobrancelha. – Você é tecnicamente minha futura rainha.
    Soltei uma gargalhada sem perceber que talvez aquilo fosse um flerte.
— Quantos anos você tem, afinal? – Perguntei, querendo descontrair o clima.
— 22 anos bem vividos.
O rosto dele revelava que ele sabia a pergunta que viria a seguir.
— Você também cresceu fora do mar.
Foi uma constatação mais que uma pergunta.
— Sim e meus pais me rejeitaram, tive que enfeitiçá-los para acharem que morri. Para eles isso era menos doloroso que saber que eu não era seu filho de verdade e o que eu era de verdade – senti uma pontada de tristeza em sua voz.
— Sinto muito – queria fazer algo para reconforta-lo talvez abraçá-lo, mas esse gesto me parecia íntimo demais.
— Eu também – ele deu um pequeno suspiro, mas logo se levantou. – Melhor descansarmos – disse, enquanto pegava o último lençol e cobria o chão.
    Nos deitamos virados para o teto de rochas da gruta. Eu queria meu celular, queria ligar para meus pais, queria explicar… mas sabia que agora estávamos impossibilitados de colocar o pé para fora dali.

— Por que eles não vieram atrás de nós? – Perguntei, virando a cabeça para encará-lo.

— Também queria saber – sua testa se enrugou. – Essa caverna tem um pequeno encantamento contra eles, mas...eles não vão desistir facilmente. – Senti uma pontada de irritação em sua voz.

— Me desculpe por te meter nessa encrenca – falei.

Alex se virou para mim. Seus olhos cinzas estavam mais escuros. De perto conseguia ver seu rosto com mais detalhes. Ele tinha uma barba para fazer, e uma cicatriz na têmpora.

— Essa guerra começou a muito tempo, Oliv. Era como uma guerra fria… mas agora ela está prestes a explodir.

Engoli em seco, sentindo de repente fome.

— Está com fome? – perguntou, como se lesse meus pensamentos.

— Não – menti, mas meu estômago roncou me entregando.

Alex sorriu, tirando do bolso de sua jaqueta um pacote de amendoins.

— Então é isso que tem para oferecer a sua rainha? – Provoquei, pegando o pacote.

Ele riu.

— São os melhores amendoins do hotel – explicou.

Eu sorri, passando o restante do pacote para ele que comeu tudo em uma bocada. Apesar das inúmeras perguntas, eu apenas fechei os olhos. Queria adormecer e ficar um tempo fora de órbita onde não existia nada para me preocupar.


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Notas finais do capítulo

Olá, pessoal. Tudo bem com vocês? O que acharam? Contem-nos! Deixem comentários se acharem que merecemos! Beijos
Até o próximo capítulo!



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